sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Carta a Sonia Lora.

Querida Sonia,

As palavras são palavras e nem sempre traduzem o que desejamos dizer, ou melhor,  comunicar. Às vezes irritam, quantas vezes alguém nos está falando e preferiríamos que calasse, quantas vezes o que ouvimos não é exatamente o que precisamos ouvir, quantas e quantas vezes gostaríamos de ouvir o que ninguém nos diz.
Assim é que ao tomar essa iniciativa, não me falta a certeza de que posso dizer, mas devo estar ciente, absoltamente consciente de que entre a teoria e a prática a distância que existe pode ser abissal.
Ontem, você provou aquela sensação que muitos milhões de outros nossos semelhantes já provaram com bem maiores (e bota maior nisso) consequências. Em plena luz do dia, sol a pino,  um marginalizado (não disse marginal), nada menos,  ordena-lhe que saia do seu carro, entra e o leva com muitos pertences que lhe farão falta e outros que obter segundas vias lhe consumirão energias, gastos...
Certamente, a sensação é de perplexidade: aconteceu comigo!
Dir-lhe-á alguém: "vão-se os anéis, ficam os dedos". É verdade. Mas hoje o que você está a provar, turba o entendimento perfeito, rouba o brilho das ações e dos olhos, confunde a mente.
"Há coisas piores"...  gostaria que soubesse que compartilho sua decepção, ou não entender e faço minhas as suas orações ao rezar pelo que a feriu na alma. É o melhor a ser feito.
Lembre que já passou por momentos diversos cujo quilate era bem mais alto e que a consumiram um pouco, porém, decorrido certo tempo, não passam de lembranças que esmaecem sempre mais.
É assim, tal qual afirmou Teresa, a grande: ... tudo passa só o amor fica.
Se não puder ser diferente, acolha todos os sentimentos que os puder provar, transforma-os em rosas, margaridas, violetas, orquídeas. Na próxima quarta-feira, dia do seu encontro semanal com Nossa Senhora lá no Convento da Penha, leva o imenso masso perfumado, deponha no altar da Mãe. Ela que já está ao seu lado, prevenindo suas necessidades, com os mesmos sentimentos que a moveram em Caná, dissipará as nuvens e fará brilhar o sol do perdão, do acolhimeto e da graça conduzindo-a ao amor do Filho.
Na porta da casa, inverta os papéis e batendo, diga a Ele: eis que estou à sua porta e bato.  (Ap. 3,19)     

Aquele abraço

Marlusse