sábado, 29 de janeiro de 2011

ROSAS

Rosa cor-de-rosa, bonita e viçosa foi colocada sobre a mesa do quarto que ia ser ocupado pela hóspede amiga que ia chegar. E a ela não passou despercebida.

Uma rosa recém destacada do ramo que a concebera, gestara e dera vida. Tinha mesmo essa finalidade, testemunhar à pessoa o afeto com que era recebida e um augúrio de que ali pudesse passar bem os dias.

Mas ainda não se completaram setenta e duas horas, ou três dias e a rosa jaz murcha, as pétalas longe estão de exibirem o viço esbanjado do enquanto se abriam.

É efêmera a vida das flores, tanto quanto é intensa a mensagem que deixam, inicialmente extasiando ante o fulgor de uma vida que nasce e pelo perfume que exalam são bem vindas, encantam pela beleza e pelo fulgor, resplandecem. São acolhidas e colhidas enfeitam os ambientes em que são colocadas, ainda que por muito pouco tempo.

Sua efemeridade constrange as mesmas mãos que as colheram e depondo em jarras para ornamento, depois prescindem de igual cuidado ao pegá-las de uma só vez, atentando para que não percam as pétalas sujando o ambiente e as destinam ao lixo.

Mas a contemplação dessa rosa me rediz que não é o tempo que conta ou a quantidade dos dias que se vive para viver intensamente e ser o que desejamos. O que realmente importa é viver cada instante com se fosse o primeiro, o único o último

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

POEMA DO MENINO JESUS

                                                               Fernando Pessoa
Num meio-dia de fim de primavera
eu tive um sonho como
uma fotografia: eu vi Jesus Cristo descer à Terra.
Ele veio pela encosta de um monte, mas era outra vez
menino, a correr e a rolar-se pela erva
A arrancar flores para deitar fora, e a rir de modo a
ouvir-se de longe.
Ele tinha fugido do céu. Era nosso demais pra
fingir-se de Segunda pessoa da Trindade.
Um dia que DEUS estava dormindo e o Espírito Santo
andava a voar, Ele foi até a caixa dos milagres e
roubou três.
Com o primeiro Ele fez com que ninguém soubesse que
Ele tinha fugido; com o segundo Ele se criou
eternamente humano e menino; e com o terceiro Ele
criou um Cristo eternamente na cruz e deixou-o pregado
na cruz que há no céu e serve de modelo às outras.
Depois Ele fugiu para o Sol e desceu pelo primeiro
raio que apanhou.
Hoje Ele vive na minha aldeia, comigo. É uma criança
bonita, de riso natural.
Limpa o nariz com o braço direito, chapinha nas poças
d'água, colhe as flores, gosta delas, esquece.
Atira pedras aos burros, colhe as frutas nos pomares,
e foge a chorar e a gritar dos cães.
Só porque sabe que elas não gostam, e toda gente acha
graça, Ele corre atrás das raparigas que levam as
bilhas na cabeça e levanta-lhes a saia.
A mim, Ele me ensinou tudo. Ele me ensinou a olhar
para as coisas. Ele me aponta todas as cores que há
nas flores e me mostra como as pedras são engraçadas
quando a gente as tem na mão e olha devagar para elas.
Damo-nos tão bem um com o outro na companhia de tudo
que nunca pensamos um no outro. Vivemos juntos os dois
com um acordo íntimo, como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer nós brincamos as cinco pedrinhas no
degrau da porta de casa. Graves, como convém a um DEUS
e a um poeta. Como se cada pedra fosse todo o Universo
e fosse por isso um perigo muito grande deixá-la cair  no chão.
Depois eu lhe conto histórias das coisas só dos  homens.
E Ele sorri, porque tudo é incrível. Ele ri
dos reis e dos que não são reis. E tem pena de ouvir
falar das guerras e dos comércios.
Depois Ele adormece e eu o levo no colo para dentro da
minha casa, deito-o na minha cama, despindo-o
lentamente, como seguindo um ritual todo humano e todo
materno até Ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma. Às vezes Ele acorda de
noite, brinca com meus sonhos. Vira uns de pena pro ar,
põe uns por cima dos outros, e bate palmas, sozinho,
sorrindo para os meus sonhos.
Quando eu morrer, Filhinho, seja eu a criança, o mais
pequeno, pega-me Tu ao colo, leva-me para dentro a Tua
casa. Deita-me na tua cama.
Despe o meu ser, cansado e humano.
Conta-me histórias caso eu acorde para eu
tornar a adormecer, e dá-me sonhos Teus para eu brincar.

Veja a interpretação de Bethania no YouTube.

sábado, 22 de janeiro de 2011

DEVOÇÃO ACESA

É sempre uma emoção grande evocar Nossa Senhora, cantando como RC cantava (ouvi dizer que essa ele não canta mais...): Cubra-me com seu manto de amor, guarde-me na paz desse olhar...

Pedimos, porque Jesus mesmo aconselhou: pedi e recebereis, mas é certo que Maria não espera que peçamos, ela nos precede, prevenindo as necessidades que temos. Foi assim em Caná da Galileia. Percebeu o constrangimento pelo qual iam passar os noivos com a falta do vinho e se antecipa aproximando-se do Filho ao qual avisa: eles não teem mais vinho...

Maria é verdadeiramente por vontade expressamente manifestada por Jesus nossa mãe e também por isto ela cuida de nós, qualquer que seja a nossa idade, o lugar onde estamos o tempo em que vivemos.

Em nossas casas, haja sempre um lugar para Maria. Que ela seja membro da família, partilhe de tudo quanto nos acontece. Seja a estrela que nos guia, o farol que ilumina nossas vidas, nosso pensar, nosso decidir e nosso agir.

Tenhamos particular atenção para as festas que lhe dizem respeito que a põem em evidência e sua figura singular nos convença sempre mais de que é o verdadeiro modelo para nossas vidas.

É dela a recomendação: rezai o terço todos os dias. É bom saber que existem pessoas que acordam mais cedo e se dirigem à Igreja para a reza do terço. Em Jardim da Penha, reza-se “O Terço na Praça”. Muitos terços são vistos em retrovisores de carros. É considerado como uma coisa boa, carregado no bolso ou na bolsa.

Que ao menos uma dezena seja desfiada por dia. E a bem da verdade, não tanto como deveria, mas é certo que a devoção está acesa.

Maria, Mãe de Deus e Mãe dos pobres, continue intercedendo por nós para que sejamos seus verdadeiros devotos e façamos sempre tudo aquilo que Jesus mandar.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

MÚSICA ANTIGA

                                                                                                    Ana Célia Dias Curtinhas


Na Academia Popular da Pessoa Idosa, na Praia do Canto.
-Dona, o dia está lindo. Agora, vou fazer hidroginástica.
-Você faz todos os dias?
-Não. São três vezes por semana, mas a nossa turma faz cinco. Com três anos, sabemos tudo de cor e salteado. Vem, também.
-Obrigada. Um dia eu irei.
Alonguei-me e comecei a caminhada, agradecendo a Deus por estar naquele pedacinho do céu. Louvei ao Senhor pelo Convento, de onde Nossa Senhora da Penha nos acompanha com olhar materno e pela alegria dos garis.  Um deles fez da vassoura uma guitarra e acompanhou a música do seu celular cantando e dançando. Louvei-O pelos guardas, que nos protegem abaixo de Deus; pelos ciclistas e banhistas; pelos velejadores, nadadores, pescadores e vendedores ambulantes. Pela imensidão do mar com seus diversos peixes e simpáticas tartarugas, tirando a cabeça da água como se nos dessem ‘bom dia’; pelos pássaros, acostumados com os caminhantes e pelo colorido das flores. Pelo vai e vem de veículos na terceira ponte: pelos veranistas lotando o Shopping Vitória; pelos coqueiros e castanheiras.
Pensei: quantas castanhas no chão! Umas pisadas e outras comidas. É o ‘maná’ enganando a fome dos nossos irmãos sem norte, que dormem na praia debaixo das árvores, marquises...
Chutei as castanhas, como fazia em criança; as cascas de abricós e os caroços dos coquinhos das palmeiras. Após esta safra, amadurecem as pitangas e os ingás, ou não. São colhidos antes.
-Bom dia! Você está bem?
-Estou ótima, graças a Deus, e você?
-Ontem, antes de entrar no mar, minha pressão subiu.  Por que você não faz hidroginástica conosco? É bom e é de graça. Só precisa trazer o laudo médico.
-Este é o segundo convite de hoje. Como é o seu nome?
- Maria Amélia.
-Aquela da música antiga que diz: ‘Amélia que era mulher de verdade’?
-A própria.
-Tenho dúvida se a sua xará existiu. E, se existiu, ela não era boa da cabeça. Onde já se viu achar bonito não ter o que comer? Os moradores de rua que o digam.
Amanhã eu voltarei, se Deus quiser. Com certeza, Ele quer e eu também. Amo este lugar. É maravilhoso! É di-vi-no!!
Até lá, Maria Amélia.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A FÚRIA DAS ÁGUAS

                                                                                                                                               Jô Drumond

No pluvioso janeiro de 2011, com tantas tragédias causadas por inundações em Minas e em São Paulo, assim como por deslizamentos das encostas na região serrana do RJ, os mortos se multiplicam a cada dia. Muitos corpos são encontrados, a cada instante, afogados ou soterrados sob toneladas de lama e de escombros. A ira das águas arrasta e submerge cidades inteiras, incluindo casas sólidas, prédios, hospitais, supermercados, postos de abastecimento e meios de transporte. Diversas pontes e estradas de rodagem estão totalmente destruídas.  Em menos de uma semana já foram encontrados mais de 600 corpos sob os escombros. Esse número não pára de crescer. A mídia mundial e nacional amplia a cada instante as proporções da tragédia. Na busca aflita por parentes e amigos desaparecidos, vêem-se, estampados nas fisionomias focalizadas pelas reportagens, o desespero de alguns e a esperança de outros. Nas cidades e lugarejos ilhados, tudo é feito precariamente por meio de helicópteros, único meio de transporte possível. Pessoas localizadas no alto das vertentes não conseguem descer a pé, nem podem ser resgatadas por via aérea.  Ao avistarem alguma máquina voadora, fazem gestos aflitos demonstrando sede e fome. Cenas inesquecíveis são registradas a todo o momento: famílias inteiras soterradas sob monturos de entulhos e lamaçal; dos escombros extraem-se crianças assustadas, às vezes incólumes, algumas feridas e muitas já sem vida.  Vêem-se, a cada instante, casas, carros, seres humanos e animais domésticos arrastados pelas águas barrentas. A negra dama da foice, afoita, “singing in the rain” vai ceifando o que bem lhe convém. No entanto, em meio a tanta desgraça, uma imagem amena: uma jovem dá à luz a um novo ser. É a eclosão da vida desdenhando da morte.
Sinto-me numa situação extremamente incômoda pelo fato de não poder ajudar nas buscas aos desaparecidos, no alento aos feridos e aos enlutados, nem na distribuição de víveres. Ao abrigo das chuvas, assentada confortavelmente num sofá, diante do televisor, vejo o noticiário diário. Sob o ritmo intermitente da chuva entrecortado pelo ribombar de trovões, sinto-me impotente, pequena, cada vez mais diminuta diante da catástrofe. Pior que isso, sinto-me culpada pelo fato de ter casa sólida, fora das zonas de risco, de estar rodeada pela família e de ter mesa farta. À noite, deito-me pensando naqueles que estão ao relento ou amontoados em abrigos improvisados. Durante as refeições, penso nos famintos e sedentos. Minha culpa cresce proporcionalmente à tragédia. Pergunto-me a razão de ser da própria sorte, que me é madrinha, mas madrasta a tantos outros.
A exaustiva repetição das cenas, no jornal televisivo e na Internet, assim como a inclusão de notícias aterradoras, causam-me um efeito de entorpecimento.  Fortes emoções e lágrimas cedem lugar a uma espécie de distanciamento ou torpor. Distante da zona de risco, sem nenhum parente ou conhecido radicado na região serrana, sinto-me afortunada pelo fato de me encontrar incólume. As cenas vistas, revistas e “trevistas” passam a ter uma conotação ficcional, diante de meus olhos. Habituada às tragédias noticiadas cotidianamente, passo a encarar esse evento como um a mais nas estatísticas mundiais de cataclismos. A meu ver, o excesso de informação tem o poder de enrijecer a sensibilidade do espectador, que só entra em desespero ao se dar conta de que algum parente, amigo ou colega, por desventura, passa férias ou faz turismo na região afetada. Nesse caso, o que está distante entra abruptamente em sua casa e em sua vida. A desgraça alheia é bem menos impactante do que a desgraça de pessoas queridas. Foi o que aconteceu comigo. Óbitos oriundos dos deslizamentos de Nova Friburgo, que apenas figurariam nas estatísticas anuais, estão cravados em mim, como desoladoras lanças pontiagudas. 



16/01/2011

domingo, 16 de janeiro de 2011

ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS


2011 ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS.

As florestas cobrem 31% de toda a área terrestre do planeta e têm responsabilidade direta na garantia da sobrevivência de 1,6 bilhões de pessoas e de 80% da biodiversidade terrestre. Pela importância que têm para o planeta, elas merecem ser mais preservadas e valorizadas e, por isso, a ONU declarou que 2011 será o Ano Internacional das Florestas

A ideia é promover durante os próximos 12 meses ações que incentivem a conservação e a gestão sustentável de todos os tipos de floresta do planeta, mostrando a todos que a exploração das matas sem um manejo sustentável pode causar uma série de prejuízos para o planeta. Entre eles:
– a perda da biodiversidade;
– o agravamento das mudanças climáticas;
– o incentivo a atividades econômicas ilegais, como a caça de animais;
– o estímulo a assentamentos clandestinos e
– a ameaça à própria vida humana.

Para saber a respeito dos eventos que serão realizados durante 2011, em homenagem ao Ano Internacional das Florestas, acesse o site oficial da iniciativa. No portal, ainda é possível divulgar as ações que você pretende promover nos próximos 12 meses em homenagem à causa.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Querida gente,

é com sentimento de gratidão e alegria que acolho cada pessoa que publica o seu seguimento expresso no nosso blog.
Já houve quem me dissesse que gostaria de incluir-se e ainda não sabe como. É assim,  depois a gente descobre.  Foi  sem querer que me inclui e agora não sei como me eliminar.  Um dia descubro.

Saiba cada um que está no meu coração.

Marlusse

CINCO MINUT0S COM MARIA

A Virgem do Sim. 


" Nossa Senhora é citada dezenove vezes no Novo Testamento, entre elas: «A virgem engravidará e dará à luz um filho ... Mas José não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz um filho. E ele lhe pôs o nome de Jesus.» (Mateus 1:23-25), "Você ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus. ... será chamado Filho do Altíssimo." Maria pergunta ao anjo Gabriel: "Como acontecerá isso, se sou virgem [literalmente: se não conheço homem]?" O anjo respondeu: «O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Assim, aquele que nascer será chamado santo, Filho de Deus.» (Lucas 1:26-35)."

No dia 03 de agosto deste ano, o Programa
CINCO MINUTOS COM MARIA
contará 17 anos. Tem produção e apresentação minhas.

P O D E  O U V I R.

15 horas - Rádio América 690 AM
15 h
segunda-feira a sábado

Rádio América é um dos instrumentos de evangelização da
Arquidiocese de Vitória - ES

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A ESCRAVA QUE NÃO SORRIA

            Vó Zica costumava sentar-se à beira do fogão de barro de sua casa, para “quentar fogo”, como ela dizia. Será que vó Zica  “quentava o fog o” ou  era o calor do fogo que a “quentava”?
            Alegre, depois de saborear com boa disposição o prato de comida que a filha lhe preparava, estava sempre disposta a repetir velhas histórias. Principalmente, do tempo da escravidão. Entre tantas que ouvi, guardei bem a da preta Zuma.
            Era uma negra muito bem traçada, rosto de Sinhá em cara de escrava. Um nariz afiladíssimo... E como tinha graça no andar! Tudo que botava em cima, nela resplandecia. Muito asseada, cheirava que nem flor.
            Zuma acordava sempre antes do sol, vestia-se como princesa nos seus andrajos de mucama, dirigia-se à cozinha. Não se passava muito tempo e o cheiro do café e do pão fresquinho se espalhava pelo casarão. Tinha uma mão de fada.
Era também a preferida de Sinhá, que a solicitava para todo serviço. Nunca se viu Zuma resmungar, nem muito menos sorrir.
            Foi exatamente Sinhá quem resolveu a perguntar-lhe um  dia:
- Zuma, vejo-a sempre ocupada nos diversos afazeres. Tudo seu é muito bem feito! Mas por que nunca sorri?
Com um olhar amigo e doce, envolveu a Senhora, mas não lhe deu resposta. Havia tanta  grandeza naquela atitude, que nem mesmo o fato de se tratar de uma escrava diante de sua Senhora, fez com que Sinhá se ofendesse. Respeitou aquele silêncio, como quem compreendera que eram muitas e sólidas as razões.
Zulu, filho do escravo Dundi, enamorou-se de Zuma com quem pretendeu casar-se. Era um negro alto, corpo de atleta. Bem olhado por todas as negras casamenteiras da senzala.
Havia outros pretos que muito gostariam de casar com ela. Zulu, no entanto, se destacava, porque tinha grandeza de alma e era muito respeitoso. Se a moça reunia todas as qualidades para ser uma boa mulher, não faltavam ao rapaz, as de um bom marido.
Ao se aproximar, assim que pode, da escolhida e pedir-lhe a mão em casamento, ouviu como resposta:
- Não. Não quero me casar. Não quero ser mãe de outros escravos que devam viver a vida como nós. Aprendi no catecismo que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança e que todos somos seus filhos. Ou surge o dia da liberdade e todos seremos mesmo iguais, ou, pelo menos, eu não gerarei escravos.
Os dias passaram-se. Certa manhã, não se espalhou pela casa, o cheiro do café e do pão fresquinho de Zuma que também não era vista em qualquer outro lugar.
Procurada na velha cama, num canto da senzala, a escrava  ardia em febre, pronunciando palavras que ninguém pôde entender.
Avisada, Sinhá mandou que lhe chamassem um médico. Antes que ele chegasse, a alma de Zuma voou para Deus no céu.  Exalava o último suspiro, enquanto um negrinho  que surgiu correndo, anunciava a boa notícia: Somos livres, somos livres, acabou a escravidão!!!
Zuma não viu despontar a aurora da liberdade física na terra, mas viu-a em grandeza sem fim, nascendo para a vida eterna ao chegar ao céu.

Marlusse Pestana Daher
em homenagem aos que continuam na luta...

sábado, 8 de janeiro de 2011

EU CONTO DE PALMARES

Zumbi dos Palmares
          
 
            Zumbi  e seus amigos iam em direção à terra prometida de Palmares.  No meio da floresta, os passos eram tudo quanto se ouvia. Ora apressados, ora cautelosos, para ver se algum perigo os rondava. Só as palavras absolutamente necessárias eram trocadas. O silêncio no entanto, era verdadeira comunicação.

            De repente, ouvem-se passos pisando folhas de quem corre velozmente. Todos se põem a esperar, dispostos a se defenderem,  "num um por todos e todos por um". 
            Quando o suposto inimigo surge um suspiro de alívio brota de cada peito. Não era inimigo, era um irmão de raça que como  heroi, se coloca a frente de Zumbi. Olham-se imensamente. As palavras  são dispensadas, quando as esperanças de liberdade e o desejo de lutar por ela unem ideais e corações. 

            Zumbi ergue o bordão e com um aceno de cabeça o integra ao grupo. Um sorriso de felicidade brota nos lábios imensos de Zoloá. O grupo retoma a caminhada. Com ele, atrás de todos, mas muito unido a todos, vai o seu novo membro.
           
           Dias depois da caminhada, surge Palmares e um imenso grito nasce no coração dos negros que correm ainda mais, para mais cedo alcançá-la. Começa a construção das novas senzalas, sem casas de senhores por perto. Com a cooperação de todos, em pouco tempo, todos estão acomodados. Tem início uma vida de certa forma nova. Há festa e alegria.

            Vez por outra, os corações batem mais forte no peito. É quando qualquer ruído diferente faz temer a chegada de brancos.
           
              Zoloá é sempre altivo. Bom guerreiro, bom dançarino, bom caçador, bom camarada. Mas como todos os seus irmãos, tem a alma marcada pela opressão que se abateu sobre seu povo. Seu pai contou-lhe as histórias do avô que ele um dia contaria aos próprios filhos. Tudo lhe doía muito, mas ao mesmo tempo, dava forças para lutar. Lutar pela sua gente e pela liberdade.

            Certa tarde, como outras tantas vezes, após a busca de alimento, quando seu cesto sempre vinha cheio das mais diversas especialidades que por ali havia e que era para toda a comunidade, porque nunca se esquecia de "que a terra é dom de Deus e os frutos que ela produz são de todos". Foi ao montinho onde sempre subia e ficava cismando...      
 
            Ali, o pensamento de Zoloá atravessava o oceano, chegava às plagas  da África para
 vir voltando na viagem dos seus irmãos escravizados lá. Acompanhando os gemidos, as agonias, as dores, a morte, até o desembarque nas terras do Brasil.

            Por isto, foi o primeiro a ver que brancos se aproximavam, vinham armados, eram certo número, menos porém que os guerreiros em Palmares. Correu para avisá-los. Foi fácil pegarem as armas que estavam sempre de prontidão. Como conheciam todos os caminhos, entraram floresta adentro, cercando os opressores que em pouco tempo tombavam, sem atingir sequer  um negro.                        
 
             Ao final, a mesma comunicação de olhares, a volta às senzalas, sem comemorações.

            Zoloá retorna ao montinho de seus pensamentos, ergue os braços ao céu e agradece a Deus. Não foi ainda daquela vez que Palmares desapareceria.           


 

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

...MENOS A DE TE SERVIR

Durante o Mestrado, vivenciei que é de certa forma proibido citar passagens bíblicas em respaldo do que se escreve como forma de satisfazer os requisitos inerentes à sua consluão.
Foi assim que me deparei com uma situação outras vezes vivenciada, na oportunidade em que houve quem dissesse que tudo que escrevo, mesmo que não sejam os meus programas de rádio, assume uma conotação religiosa. Acrescentou-se que eu deveria evitar isso.
Até cogitei no sentido de verificar se algo podia ser feito. Depois de longamente considerar, confesso que a conclusão a qual cheguei, é: nada!
É que não consigo pensar, como é que alguma coisa neste mundão - que é grande mesmo - possa ser feita, sem que Deus esteja incluído. Aliás, e não é que nós O incluamos, é Ele que já faz parte de tudo.
E também, nem sou eu quem o diz. Consta por exemplo, do salmo 138, que lhe sugiro ler depois na íntegra. Aqui vai a transcrição de apenas alguns versículos:
Tu me cercaste... para onde me irei do teu espírito ou como me ocultarei da tua face...
Se subo ao céu, se me prostro no abismo te encontro lá...
Os teus olhos viram meu corpo ainda disforme...
Sonda-me ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos...
Se acreditamos assim, se estas são as nossas verdades, então como nos comportarmos diferente, como fazer alguma coisa sem pensar que Deus nos vê? E tem mais, “se sequer o nome de Jesus podemos pronunciar sem a ajuda do Espírito Santo”! (Paulo).
Como prescindir da presença de Deus ou do que lhe diz respeito, como fazer exceção?
Isto posto, decidi que com humildade e sem arrogância, por não vislumbrar como acatar as sugestões que me foram dadas no sentido, deixo-as onde estiverem.
E acho que bem finalizo com  Tagore: “Abandonarei todas as honras, ó Senhor,  menos a de Te servir!

Mas juro que não sou santa!

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

JUQUITA E INÁ

            Iná pousara o crochê nos joelhos e deitou o olhar através da janela a contemplar no fundo do vale, a cachoeira que rumorejava e deslizava incansavelmente por anos sem fim . Mais além, balouçavam os galhos  das roseiras, cobertas de  flores  que se desgarravam ao vento e deixavam o chão como um tapete imenso, todo matizado... Ao longe, pastavam alguns bois e por já ser tarde, os passarinhos antes de se recolherem aos ninhos, trinavam melodiosos cantos que espargiam na amplidão.
           
            Era uma tarde assim, aquela em que Iná viu Juquita pela primeira vez, ele tinha 20 anos, ela 16. E o amor nasceu. A princípio, consistia na passagem cotidiana dele, frente a sua porta, ela naturalmente, lá estava feliz, desde antes, como a Raposa do Pequeno Príncipe, porque ele ia passar. Sorriam um para o outro, olhavam-se, era tudo, eram felizes.

            Numa tarde de domingo, à saída da igreja, se encontraram, quase não falaram, a presença recíproca bastava.  O amor botão desabrochou, fez-se forte e quatro anos depois se concretizava num sim.

             E como este sim os levou longe!

            As finanças nunca eram bastante, veio o primeiro filho e foi uma alegria imensa. Apesar de pobres... bem, pobreza não impede o nascimento de frutos do amor. E apesar de tudo eram felizes; veio o segundo filho, o terceiro veio, outros também vieram. A vida interiorana produzia pouco e as dificuldades não eram compreensíveis, abatiam-se implacavelmente. Mas Juquita foi sempre um folgazão, alegre, brincalhão, sempre a gozar de tudo e de todos e tristeza com ele não tinha vez.

            Os meninos cresciam, precisavam ir para a escola, começaram a frequentar a mais próxima. E todos os dias as mesmas coisas aconteciam. Carinhosamente preparados pela mãe, estavam sempre limpas suas roupinhas ainda que de gente pobre.

            Iná via-os sair, continuava depois a cuidar dos menores que não estavam em idade escolar e naqueles tempos, não havia este luxo de jardim de infância.

            Na volta da escola, o Maurílio sempre apanhava do seu predecessor na família, o Marcelo.  Mas também, com vontade ou sem ela, chorava até chegar a casa, só para ver o outro levar uns petelecos do pai.

            O tempo passou. Os meninos se tornaram homens, cada qual foi-se colocando, os mais velhos ajudando os mais novos, todos se formaram e os velhos pais que também não eram tão velhos, chegados ao ápice de sua missão, rendiam graças a Deus, pelos netos que vinham, pela família que se reunia e enchia a casa com os risos das crianças, as gargalhadas  dos rapazes.

            Mas a saúde do Juquita debilitou e foi descendo sempre mais. Inspirava cuidados, muitas proibições lhe foram feitas e exatamente das coisas que mais gostava, o cigarro, uma gostosa polenta prá comer prá valer...
            Um dia, num gesto muito seu, sobe numa goiabeira, ao vê-lo, a boa Iná o repreende:

            - Juquita, você não tem juízo não?

            - É que eu fui tirar esta goiaba prá você.

            E quem podia dizer mais alguma coisa?

            Solicitados pelos filhos, cada qual em cidades distantes, vão os dois passar dias aqui, recepcionar netinhos ali, visitar F. que quebrou o braço... E foi exatamente numa dessas visitas, São Mateus, onde mora Maurílio, que depois de ter conversado com tanta gente, de ter sido visto na janela por outros tantos, ele a chama:

            - Iná, vem cá.

            Pressurosa, ela corre e o encontra com aquelas características que o médico prevenira antecipar-lhe o fim.  Apela para a mãe da nora, pessoa que lhe estava mais perto, o médico é chamado, vem rapidamente, tudo se fez, mas aquele era o dia em que o Senhor o elegera.

            Que pena! Ela fica em pranto, choram todos, os amigos a cercam.  Será que é possível continuar vivendo, voltar àquela casa... como sobreviver se ele já não existe? Como ...?

            Eram estas as lembranças que aquela tarde, já quase absorvida pela noite, lhe trazia.  De fato, era duro demais!
           
            Contudo, como ensinara o Pajé a Tibicuera, os pais não morrem nunca. Eles continuam a viver nos filhos... é quando a pequenina Danielle, netinha de três anos, achegando-se a ela, toma-lhe as mãos e convida:

            - Vovó, vem jantar vem!

            Ela se deixa conduzir, uma estrela despontara no céu e dava-lhe impressão de falar-lhe como se fosse ele:  A frente, Iná, a vida continua, no dia do Senhor, nós ressuscitaremos.

            No coração de Iná reacende-se a fé que sempre a sustentara nos dias difíceis de outrora, quando nem tudo eram flores. Na igrejinha pequenina da cidade, os sinos dobravam, do seu coração brotou a prece do Angelus e  em tempo algum foi mais intenso o seu ardor ao repetir : “faça-se em mim segundo a vossa vontade”.

Um conto de 1976.

domingo, 2 de janeiro de 2011

FELIZ ANIVERSÁRIO, WANDA ALKCMIN!

 Conversa com Ailse.
 Com Maria do Carmo, parceira das "Ave Marias"!
Como nos outros, cena de almoço de fim de ano.

Cidade Sol de um céu sempre azul, 2 de janeiro de 2011.

Querida Wanda,

        Pelo fato de hoje ser seu aniversário dou prosseguimento a estas mal traçadas linhas que iniciei a escrever-lhe no dia 11 de dezembro passado, quando ia dizendo:
        Saiba que foi motivada pela sensibilidade que exala sua presença que lhe enviei o texto “Imaculada”. Sei que você ama a Mãe querida de todos e lhe tem a devoção merecida.     Não me surpreendeu a recepção calorosa que deu, o fato de não ter poupado palavras ao manifestar o quanto lhe agradou, ao pedir para lhe mandar em arquivo que pudesse copiar, ao imprimir e mandar para Minas, para que fosse lido para sua mãe, ao levar e ler na ocorrência do círculo preparatório da Novena de Natal.
        Você é assim, Wanda, toda receptividade e ternura, leveza, como leve é sua silhueta que permite imaginar que flutua, ao invés de simplesmente andar.
        É certo que sua atitude me alegrou, me enlevou, me gratificou. Você não tem medo de perder o que doa
        Quando provo um momento assim, sempre avalio que os outros teem a mesma sensibilidade tal qual ensina essa regra de ouro do cristianismo: faça com o outro o que queres que seja feito a ti. Pena que sempre por um motivo ou outro, sempre adiamos ser ternos.
        Sendo dia do seu aniversário precisa ser tratada com especial carinho. Acho que é em sua homenagem, para comemorar seu aniversário, que as chuvas torrenciais que caem nesse tempo fazem trégua e dão lugar ao Sol esplendido que brilha intensamente sobre a Cidade Luz, nesta manhã.
        Parabéns, querida amiga e colega de Academia. Chovam bênçãos de Deus sobre você e Nossa Senhora, Mãe, Protetora e Guia, caminhe ao seu lado, dê-lhe a mão, conduza-a onde quer que vá.
        Feliz Ano Novo! Grande abraço!

Marlusse

MINHA HOMENAGEM À PRESIDENTA


"Sou a Presidente de todos os brasileiros"!

Aqui está minha homenagem a Dilma Rousseff (em quem não votei) considerando ser ela a primeira mulher Presidente da República Federativa do Brasil.

Rendo-lhe homenagem porque é a Presidente e se a todos se deve desejar sucesso no que faz, quanto mais a quem assume o cargo de maior relevância da Nação.

E ainda mais porque, ela reiterou seu compromisso com a erradicação da pobreza, como manda a Constituição Federal que jurou cumprir.

   Porque assegurou que cuidará dos pobres e pretende banir a miséria.

Por tudo que disse em seu discurso que nos cumpre ler pausadamente e refletir, até como forma de acompanhar democraticamente o que é feito com o que é nosso.

DEUS LHE CONCEDA TODAS AS GRAÇAS, EXCELÊNCIA, E QUE EM CADA BRASILEIRO TENHA UM COLABORADOR RESPONSÁVEL.

sábado, 1 de janeiro de 2011

FELIZ ANO NOVO

            Estou aqui pensando, porque fazemos tanta festa com a chegada de um novo ano. Qual é de fato determinante ou  a motivação que se tem.
            O encerramento com celebração de Santa Missa ou Culto para louvar a Deus, que é o Senhor, para agradecer as graças recebidas é no mínimo ser educado, agir com ética e reconhecer que tudo que recebemos vem Dele. O ano transcorrido é situação já vivenciada, trata-se assim, de não poder deixar de admitir o inegável, testemunhamos e/ou protagonizamos.
            Mas fazer tanta festa com a chegada de um Ano Novo, verdadeira incógnita do que virá a ser, por que festejar?
            Posso analisar os acontecimentos, ante milhares de pessoas que acorrem às praias. É de se questionar se seria para ombrear-se ao irmão Mar que com sua grandeza, ainda que inconscientemente, nos proporciona complementação do que psicologicamente nos possa faltar?
            A maioria se veste de branco. Ritual ou crença de que a cor da roupa possa influenciar o curso dos acontecimentos pelos quais passaremos ou circunstâncias que vivenciaremos. Alguns já terão ido à Igreja do credo que professam e ali, na praia,  quem sabe estejam prestes a fazer uma segunda oferenda.
            Despojam-se dos calçados, a maioria simples sandálias. Caminhar na areia pode representar, conforme o ponto, em alguma dificuldade. Podem ter flores nas mãos, muitas já bailam ao sabor das ondas que pode levá-las mar adentro, ou deixar na areia, ou pela projeção avançada da onda, ou pela falta de força com que a mesma onda, volta a integrar o volume intenso das águas oceânicas.
            Grande parte, meros curiosos, se detém no calçadão contemplando embevecida o entusiasmo dos que caminham pra lá e prá cá. Além é claro, daqueles que se postam nos umbrais de suas janelas ou nas varandas envidraçadas dos apartamentos de luxo, ao longo da orla.
            Em determinado ponto, é o frenesi que impera. Em imensos palcos exibem-se intérpretes musicais, os que tocam, os que cantam. Conforme os acordes da melodia que determinam ser projetada no ar, embalsamam a massa, a enlevam, transportam ao infinito, identificam-na com as próprias almas e lhe proporcionam intimidade com as essências das quais se forma ou lhe provocam gestos e expressões enlouquecidas em que predomina o vale tudo, onde a concentração se desfaz e o que importa é delirar.
            E ali, de pé, passam horas a fio aos gritos de saudação idólatra, festejando o que não sabem nem menos o quê. Não se cansam, não veem o tempo passar e permaneceriam ainda mais tempo se as cortinas dos palcos não se fechassem ocultando inclusive, o lucro proporcionado pelo real de tantos – num gesto inverso ao da viúva que despojou-se da única moeda que tinha – que constituiu mais uma vez a riqueza de alguns poucos.
            E autorizo-me a dizer que o paganismo ainda está por ai.
            Feliz Ano Novo foi assim que precedentemente as saudações foram feitas. E ao dizer Feliz Ano Novo cada lábio estava cheio de amor, fora feito intérprete de augúrio profundo e sincero do que se deseja para o próximo, ou seja, que se dê bem, que quem não tem, encontre trabalho, que haja pão em cada mesa e que se tenha onde colocar a mesa ou seja uma casa, mesmo que simples, que as pessoas se respeitem, que, em síntese: viva-se em Paz.
            E 1º de janeiro não é o Dia Internacional da Paz? Pois bem!
            Depois do sobredito, só posso concluir que é preciso reinventar as comemorações da forma com que as fazemos. É preciso colocar cada coisa em seu lugar. Nós mesmos no nosso lugar. Onde colocaremos Deus?
            Na liturgia da Missa de ontem, 31 de dezembro, o Evangelho segundo João voltou a lembrar: No princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus ...     Encerro, não por já ter dito tudo. Prefiro não apresentar formas, cada um tem a sua, mas com a mesma alma que descrevi o momento em que dizemos Feliz Ano Novo, desejo que de nós não se diga que Ele veio para os que eram seus e os seus não o receberam.
Marlusse Pestana Daher
1º de janeiro de 2011 – 9 h 26 m