sábado, 30 de abril de 2011

Sobre o Lago


Veja, veja quanta luz
no espaço,
quanta cor,
quanta beleza,
quanta certeza
de grandes encontros
sem desencontros,
sem bruma
e lampejam
                       pirilampos entre flores,
                       colibris que beijam cores,
                       passarada em revoada,
                       em descompasso
                       no espaço,
                       ecoando, esvoaçando.

Sou componente nesta vertente,
sou parte deste todo,
sou nascente, sem poente,
sou plenitude na limitação.

                       Ah,a vida,
                       grande ou dura,
                       contida ou plenificada
                       seja qual  for,
                       ou em que estrada deslize.

Há ressonância de infinito
que enche a amplidão,
que ressoa na alma,
                  no chão,
                 no coração.

Marlusse Pestana Daher
16/06/01 – l8 hs 28 m
 Cometida ao som do “Lago de Come”
Pianista Fanny Lowenstain


terça-feira, 26 de abril de 2011

BELEZA NÃO É FUNDAMENTAL

Na prática do vale tudo para sobreviver, naquela megalópole, reparei que ninguém buscou o belo no que se quis transformar.
São Paulo é um vai e vem sem trégua, cada um vai onde pretende, desvia-se daqui e dali, corre para pegar o ônibus, para não perder o metrô que passa, mas precisa chegar inteiro lá. Pode ter que esperar a passagem de dezenas de carros antes de poder atravessar uma rua e nesse ínterim, a condução que podia fazer chegar mais cedo à casa, não espera e a frustração acontece. Algum tempo passará antes que surja igual oportunidade.
São executivos, operários, de toda ocupação, gente de qualquer raça, desempregados, gente de qualquer casta, religiosos e gnósticos, gente de toda procedência, de todas as idades, de todas as culturas, ambiciosa ou indiferente.
Há ruas que, além do comércio no interior das construções, estão tomadas de vendedores ambulantes que aos gritos oferecem seus produtos, testam em você o aparelho que vendem para provar eficiência. Fico pensando o que seria da gente, se de repente, fizessem o mesmo com depiladores de nariz e orelha.
É enfeiando-se como iniciei dizendo, que se encontra aqui: a estátua viva de um frade imensamente gordo, cabelo à franciscano que retribui com uma mensagem a quem fizer “um depósito no seu chapéu”; ali, um rapaz que colocou seios, bumbum, barriga, todos exuberantes (exuberantíssimos) peruca  embaraçada, alta e carapinha, dentes que impedem os lábios se encostarem, quanto mais a boca se fechar.
No largo de São Bento, um homem travestido, vestido de um azul intenso, seios grandes e pontiagudos, ponchete na barriga (onde guarda o cachê), sapatos pretos, meia soquete branca. Celular na mão, fala frequentemente com alguém da sua terra. Enquanto ouve, faz caretas incríveis, tremula os lábios superiores, bochecha e toda a face, como só ele(a) sabe fazer. A certa altura dispara: Cara, estou em São Paulo há trinta anos, uma maravilha, tudo o que não presta no nordeste está aqui! E na praça ecoam em coro estrondosas gargalhadas.
Todos têm o mesmo objetivo “ganhar a vida”, mesmo à custa de serem ridículos e se tornarem tremendamente feios.
É o vale tudo também pela falta de trabalho digno para todos, é o embrear-se pela primeira saída que encontram na luta pela sobrevivência e pela vida.
Serão artistas? Pode ser. Divertem não se pode negar, ao redor deles onde quer que estejam, há sempre bem mais que uma dezena de quem assiste. O círculo pode ser tão denso que o curioso que passa terá que se aproximar para ver entre ombros o que acontece.  Sem esquecer que não  falta quem queira fotografar-se ao lado deles, claro, para levar para casa como lembrança.
Eu também me diverti e refletia. E surge meu não temor de discordar e se quiser, até pedindo desculpas ao Poetinha, inverto o que ele disse, para afirmar que nesse jogo de luta pelo vale tudo para viver: beleza não é fundamental!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

ALVÍSSARAS MARIA HELENA!

Maria Helena Teixeira de Siqueira voltará a ser foco de homenagens na Academia Feminina Espírito-santense  de Letras, depois de o seu nome ter sido dado à Cadeira 40, pois, além de ficar imortalizado, como literariamente se diz, significa que toda mulher que vier a ocupá-la como Acadêmica titular a terá como Patrona. Desta feita, por ocasião do II Encontro Capixaba de Escritoras (12 a 14 de maio deste ano), quando o jovem Acadêmico Anaximandro Amorim apresentará faces de Maria Helena discorrendo sobre o tema que intitulou: As várias frentes de Maria Helena Teixeira de Siqueira: Escritora, Mãe, Mulher.
Não tive oportunidade de conhecer Maria Helena mais a fundo. É verdade que tivemos uma convivência acadêmica em que nunca lhe neguei o que foi merecendo: estive em sua posse como Presidente da Academia Espírito-Santense de Letras a qual ela pertencia também, inclusive elogiei o seu discurso de posse com o que se demonstrou lisonjeada. Compareci ao lançamento do seu último livro “Janelas Abertas”. Sempre comentei, quando gostava, seus artigos publicados semanalmente no jornal A GAZETA. Mandei-lhe mensagens de aniversário e por ocasião do Natal. Dela recebi um cartão de bons augúrios quando assumi função particular na AFESL.
De colegas-amigas mais próximas dela, ouvi maravilhas a respeito de sua generosidade, mas Maria Helena não tinha a mesma facilidade de permitir à maioria ter igual sorte, podendo melhor conhecê-la e ainda mais amá-la.
Aqueles olhos verdes cintilantes podiam passar do derretimento em ternura que testemunhei diante de uma sua neta, à improvisa incógnita mesmo de como abordá-la.
Não tenho dúvidas, se tratava de uma mulher virtuosa e sensível como expressam seus versos, a cadência melódica de sua prosa, a capacidade de fotografar com palavras o frescor de sua terra de nascimento, os Pampas e sua terra de eleição, a Capixaba.
Como na última reunião da Academia falamos do II Encontro, falamos dos temas que seriam abordados e de Maria Helena. Diversas Acadêmicas tiveram palavras elogiosas em homenagem à sua lembrança, coisas que para ela não teem mais nenhuma importância. Poderiam tê-la feito sentir-se amada e dar-lhe até mais desenvoltura no estar entre nós e outras gentes, se tivessem sido ditas enquanto ela ainda estava aqui.
Não digo que não é válido prestar homenagens póstumas, mas por que calamos elogios aos vivos? Por que não homenageamos em vida, quem merece? Por que não adotamos a moderna “terapia do elogio” que deve ser praticada de um forma muito sincera, jamais se nossos motivos se traduzem no alcance de uma meta pessoal, algum título, um certo status...
Por outro lado quem recebe o elogio, não é para emproar-se ou se colocar num pedestal, acima de tudo e de todos, pensar que é mais. Há muita gente inteligente, ótima. Cada um tem um pouco e nos completamos. Depois, como bem diziam os antigos, “o fim de todos são iguais sete palmos”.
O elogio constrói, o elogio ajuda a produzir, o elogio anima a caminhada, auxilia na obtenção de forças. É aplauso. O elogio chama para perto.  Curiosamente, as pessoas calam. Talvez até reconheçam o brilho, o mérito, o arrojo do seu semelhante, mas não dizem. Seria medo de perder? O quê? Seria obstinação de não ser o primeiro, ter a iniciativa, dar o primeiro passo? Que pena!
Já li muitas coisas ditas e sobre a Madre Teresa de Calcutá, mas de tudo que li “guardo e sei de cor” um trecho de uma sua fala numa oportunidade de recebimento de uma das tantas homenagens que lhe foram prestadas: “Durante todo esse tempo em que trabalho com os mais pobres, tenho entendido sempre mais que o pior dos males, não é a lepra, nem a tuberculose, mas a sensação de não ser querido, de não ser amado”.
É o amor: “love is a many splendored thing”, “que mexe com a minha cabeça e me deixa assim”, “o amor é tudo que eu sonhei”, etc.
E viva Maria Helena! E vivam todas as Marias Helenas! E se preste homenagem a Maria Helena Teixeira de Siqueira, seus filhos talvez venham a conhecer na oportunidade, um aspecto de sua vida que só quem perscrutou descobriu e dirão: obrigado.
Eis o que pensei dizer quando escrevi “Maria Helena”. Comecei, tive que fazer outras abordagens, preferi deixar essa parte para depois, quando disse: voltarei ao tema. Ele aqui está.
Finalizando, formulo votos, antes a mim mesma e só depois a quem espontaneamente, quiser ser destinatário: façamos ao outro, tudo o que quisermos que a nós seja feito, em síntese: amemos o outro, como amamos nós mesmos. (JC).

segunda-feira, 18 de abril de 2011

SEM POR VIR

Diariamente ele era visto por aquelas cercanias, sem perspectiva, sem objetivo que não fosse perturbar quem passava, turbar a tranquilidade dos moradores, apoderar-se do que fosse alheio, de qualquer valor, embora para frente, passasse simplesmente por quanto lhe quisessem pagar.

Havia quatro anos deixara o barraco em que morava, onde dividia espaço mesmo inexistente com mais quatro irmãos, três meninos e uma menina. Presenciara quando o primeiro dos irmãos foi arrebatado do canto em que ainda dormia exprimido entre os demais, não obstante seu protesto, da mãe que formulou súplica sentida: deixem meu filho viver, do pai que ousando o uso da força ao se interpor aos três algozes, ainda levou “um murro na cara”, caindo em cima dele mesmo desmaiado. 

À perplexidade que se fez, sucedeu estremecimento indizível com a oitiva de tiros. Com exceção do pai que ainda restava desacordado, com um impulso gerado da mesma fonte, projetaram-se todos porta a fora em direção ao patíbulo, espaço único disponível naquela “realidade”  que servia para tudo, campo de futebol, recreação de qualquer sorte, momentos de hipocrisia, quando enganadores por ali apareciam em busca de voto por exemplo e tornou-se certeza o que supunham.

No chão, jazia sem vida e já abandonado o corpo do irmão. Desespero, gritos e pranto despertaram a vizinhança.

O quase líder comunitário tomou-lhes as dores e foi quem fez os contatos de praxe que lograram a chegada da polícia e de peritos, umas quatro horas depois. E o corpo foi levado para o IML (Instituto Médico Legal).

Desde os dias em que deixara a família, juntara-se a outros garotos mais ou menos de sua idade, encontrados na rua vítimas da mesma sorte. E conheceu a violência. Sentimento ainda que inconsciente de não ser nada, gera reações e entrega-se a tudo que encontra, desde a promiscuidade, às drogas, a todos os vícios, à vida sem perspectiva que goza com qualquer apelo negativo dos sentidos e suga até as extremidades e sorve até a última gota, indiferente a quem passa e assiste e atônito meneia a cabeça ante a impotência de fazer qualquer coisa ou simplesmente segue indiferente naquela atitude acomodada equivalente ao “nun tô nem ai”.

Viciou e o vício acaba por cumprir sua parte e surge aquele dia em que procura forças para se levantar e não tem mais forças, pelo que só lhe resta quedar-se, permanecer onde está, entregar-se à impotência e esperar pelo que nem sabe o quê.

A imobilidade é cada vez maior e de tal forma que a pomba branca que no bando ciscava por ali, não se sente ameaçada e acaba presa por mãos ressequidas que não obstante a retêm e pelo calor que emanam como se se apercebesse da carência extrema sentida, não se opõe e fica fazendo companhia a quem nenhuma outra tem. Nem tem dias por vir.

É assim que é visto pelos piedosos devotos que no interior da Catedral, celebram o Natal entoando glórias ao Filho de Deus.

Mas não tarda o instante em que Jesus Menino que nascia, compadecendo-se dos seus ais, abre-lhe as portas em direção à eternidade, única solução que ainda lhe restava depois de consumido por inteiro pelo vírus HIV.

São Paulo, 18 de abril de 2011.

sábado, 16 de abril de 2011

MONTADO NUM JUMENTINHO, O MESSIAS POBRE E DESARMADO

                                                                       Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Orofino
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 Introdução
                                    
   Jesus termina a viagem e chega em Jesuralém, onde se darão os acontecimentos  mais importantes da sua vida. Ao entrar na cidade, ele realiza três gestos simbólicos que revelam sua identidade messiânica:
1 . Entra montado num jumentinho que, conforme as profecias, era a característica do rei justo, pobre e desarmado (Mt 21,1-11).
2. Entra no Templo, expulsa os vendedores e denuncia a hipocrisia do comércio dos animais para os sacrifícios (Mt 21,12-17).
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Conheça o livro!
3. Amaldiçoa a figueira para expressar sua crítica contra o povo de Israel, por ele não ter produzido frutos de justiça (Mt 21,18-22). Quando Jesus entra em Jerusalém, a cidade fica agitada e se pergunta: "Quem é este?" (Mt 21,10). A multidão respondia: "E o profeta Jesus de Nazaré, da Galiléia" (Mt 21 , 11).
A palavra usada por Mateus para descrever a reação da cidade era usada também para descrever os tremores de terra. Esta reação da cidade e da multidão nos dá urna chave para entender o que estava acontecendo nas comunidades para as quais Mateus escrevia o seu evangelho. Os fariseus e os chefes da sinagoga se agitavam, reagiam contra os seguidores de Jesus e se recusavam a aceitá-lo como Messias. No entanto, a multidão, as pessoas simples o identificavam como o profeta anunciado por Moisés (Dt 18,15.18), em total continuidade com a história e as esperanças de Israel.

Comentando o texto

1 . Mateus 21,1-5: O messias pobre e desarmado.
A cena da entrada de Jesus em Jerusalém revela a sua identidade como Messias pobre e desarmado. Jesus mesmo toma as providências para entrar na cidade montado num jumentinhho, o transporte dos pobres daquela época. Ao narrar este episódio, Mateus se inspira na tradição profética. Para dar à cena o sentido do cumprimento da profecia, ele cita literalmente o texto de Zacarias 9,9: "Dizei à Filha de Sião: eis que o teu rei vem a ti. Ele é manso e está montado num jumento, num jumentinho, cria de um animal de carga!"
2. Mateus 21,6-7: Acolher Jesus tal como ele se revela e se apresenta
Os discípulos são encarregados de preparar o animal para a entrada de Jesus na cidade. Eles vão e fazem exatamente como Jesus mandou. Por trás desta narração tem um recado para as comunidades: verdadeiro discípulo é aquele que aceita Jesus do jeito que ele é e quer ser, e não do jeito que elas gostariam que ele fosse. Se Jesus se fez Messias pobre e desarmado, não podem fazer dele um messias glorioso e poderoso.
3. Mateus 21,8-9: Eles queriam um grande rei
A multidão reage entusiasmada, estendendo seus mantos no chão para Jesus passar, e grita: "Hosana ao Filho de Davi !" Eles reconhecem em Jesus o Messias, o descendente do rei Davi. "Eles queriam um grande rei, que fosse forte e dominador!" Jesus não apreciava muito este título de "Filho de Davi" e chegou a questio¬ná-lo (Mt 22,41-46). Pelo seu jeito de entrar na cidade sentado num jumentinho, ele estava dizendo que a sua maneira de ser rei era diferente.
4. Mateus 21,10-11: Quem é este?
A entrada de Jesus em Jerusalém questiona o povo da cidade. Ela fica abalada, agitada e se pergunta: "Afinal, quem é este que a multidão acolhe como rei messiâ¬nico? Por que ele vem como um pobre?"

Alargando o texto
1. As várias imagens de Messias
A causa do desencontro entre Jesus e o povo tinha a ver com a esperança messiânica. Havia entre os judeus uma grande variedade de expectativas. De acordo com as diferentes interpretações das profecias, havia gente que esperava um Messias Rei (Mt 27,11). Outros, um Messias Santo ou Sacerdote (Mc 1,24). Outros, um Messias Guerrilheiro subversivo (Lc 23,5; Mc 15,6; 13,6-8). Outros, um Messias Doutor (Jo 4,25). Outros, um Messias Juiz (Lc 3,5-9; Mc 1,8;). Outros, um Messias Profeta (Mt 21,11). Ao que parece, ninguém esperava o Messias Servo, anunciado pelo profeta Isaías (Is 42,1 ; 49,3; 52, 13). Eles não se lembraram de valorizar a esperança messiâ¬nica como serviço do povo de Deus à humanidade. Cada um, conforme os seus próprios interesses e conforme a sua classe social, aguardava o Messias, livrinho na mão, querendo encaixá-lo na sua própria esperança. Por isso, o título Messias, dependendo da pessoa ou da posição social, podia significar coisas bem diferentes. Havia muita mistura de idéias!
2. Os ramos na festa da entrada de Jesus
Hoje celebramos a entrada de Jesus em Jerusalém com ramos. A origem desta aclamação vem da Festa das Tendas, que era realizada no outono, depois da colheita (Dt 16, 13; Lv 23,34). Ela lembrava o tempo em que o povo israelita fazia sua caminhada pelo deserto (Lv 23,43), morando em tendas. Por isso, durante uma semana, eles recolhiam ramagens e formavam tendas por toda parte (Ne 8, 14-17). O povo agitava os ramos e dizia: "Bendito o que vem em nome do Senhor" . E os sacerdotes respondiam: "Da casa de Javé nós vos abençoamos" (Sl 118,25-27). A Festa das Tendas era um momento de alegria e de louvor, que mantinha a identidade do povo e lhe dava resistência.

                                    Disponível em: http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=21&noticiaId=1911

quinta-feira, 14 de abril de 2011

MARIA HELENA

Motivação é o melhor impulso que nos pode possuir. Motivada é a pessoa que tem razões para se entregar a uma tarefa, o que faz com gosto e dali certamente deriva satisfação pessoal. Infelizmente, pode-se tratar também de satisfação negativa. Já foi provado que de tudo que fazemos recavamos um acalentado interesse. Não me estendo, não é o caso de fazê-lo aqui.

Supostamente motivada por ter que cantar os versos antigos de Lorenzo Barcelata, Russel e Haroldo Barbosa, busquei na intenet onde encontrei, como sempre se encontra tudo o que se procura, a canção de nome: Maria Helena.

Ouvi algumas, agradou-me particularmente uma interpretação maviosa em voz feminina, acompanhada de um Regional. Ah os regionais!

Maria Helena, és tu a minha inspiração.
Maria Helena, vem ouvir meu coração.
Na minha melodia, ouço tua voz
A mesma lua cheia há de esperar por nós.

Maria Helena, lembra o tempo que passou,
Maria Helena, o meu amor não se acabou
Das flores que guardei, uma secou,
Maria Helena, és a verbena, que murchou.

Que melodia! que letra! que harmonia! quanta musicalidade em poucos versos independente da música real a qual se associa. E chama-me atenção para o que comunica.
Primeiro a revelação que o amante faz a “sua” Maria Helena, quando invocando-a confessa: és minha inspiração. Inspirar é ser musa, musa na mitologia é: “divindade inspiradora de poesia”. Ela é responsável pelo que sente, pelo momento de êxtase e beleza esperimentada. Portanto que lhe venha fazer companhia, “vem ouvir a minha voz” de onde vai emanar tudo que sente e que a tem como beneficiária.
Acrescenta razões para tudo que diz: “na minha melodia, ouço tua voz”. Não se trata de uma voz simplesmente mas a dela, dai revestir-se de outros atributos capazes de fazer o amante inebriar-se e distingui-la entre tantas e não obstante outros murmúrios ou outros ruídos dos quais se possa rodear, sua voz, Maria Helena, que se confunde com a própria melodia.
Para iluminar o grande momento nada menos que a luz cheia que quando era contemplada inspirou poetas e compositores, que nos legaram versos imortais. Ela estará ai: “há de esperar por nós” .
Na segunda estrofe, o canto do desencanto: ele quer que Maria Helena se lembre de outro tempo, aquele em que se completavam, “o tempo que passou” e que não obstante ou apesar dos pesares e de tudo: “o meu amor não se acabou”.
Para finalizar o amante(?) atesta o conceito que predomina, ou de que um homem dificilmente terá cultivado em seu jardim, uma única flor. Foi pela vida cultivando flores que guardou, no entanto Maria Helena, exaltada em verso e canto, é a única verbena (= a flor dele) que murchou.
Não é raro nos acontecerem sentimentos contraditórios pelo que é difícil saber onde está a verdade. Em se tratando de amor no entanto, não pode traduzir sentimentos opostos, traduzir mentiras: ...és minha inspiração, ouço tua voz, não se distorce o papel da lua cheia. ...vem, ouvir meu coração, ...na minha melodia, ouço tua voz. Ao menos é realista pois lembra, o tempo que passou. E o tempo faz passar com ele muitas coisas. É possivel dizer o meu amor não se acabou: quando se acrescenta em seguida: Das flores que guardei, uma secou, Maria Helena, és a verbena, que murchou.
Acredito que ninguém nunca disse que não gosta de música. Quanto mais um tipo assim que enleva e transporta ao sonho. As letras resultam de penas rabiscadas por mãos humanas, é comum traduzirem o que sentem ou pensam inúmeras pessoas, dai falar-se em melodia preferida.
Quanto aos aspectos aqui abordados podem ficar por conta de quem quer pensar.
Ainda não disse o porquê comecei a escrever, voltarei ao tema.

Marlusse Pestana Daher
14 de Abril de 2011 11:06

Para ouvir MH, acesse: http://letras.terra.com.br/altermar-dutra/615833/

quarta-feira, 13 de abril de 2011

TEM ABRAÇO E BOTAFUMEIRO

Muito se fala em Santiago de Compostela, cidade situada na Região da Galícia, na Espanha. Mais precisamente, fala-se da caminhada feita por alguns milhares de peregrinos que com mochilas nas costas, calçando botinas ou até simples sandálias, um cajado na mão, oriundos de diversos pontos, alguns fincados em países vizinhos, por dias entre subidas e descidas, paisagens bonitas, encontros, pousadas rumam à meta: a basílica de Santiago no Campo das Estrelas.
Tive oportunidade de ver vários deles chegando. Todos me causaram profundo respeito e admiração. Abracei uma moça que dava sinais de imenso cansaço, comunguei com um outro chegando solitário. O movimento dos lábios denotava murmúrio de orações e ao mesmo tempo esboçava um indizível sorriso de alegria, certamente, pela caminhada, pelo alcance da meta. Uma imagem de um momento que jamais esquecerei.
Descobri que há outras curiosidades e devocionais por lá! Eu mesma não sabia, nunca tinha ouvido falar. Uma é o ‘ABRAÇO DO SANTO’. Sobe-se por uma escadinha, passando por trás do altar; chega-se ao ponto central, onde então se pode dar um abraço em São Tiago, (na imagem, claro). Desce-se e sai-se pela outra parte. Logo abaixo está o túmulo dele. Ai é que enquanto estava sentada esperando a hora da Missa, vi um braço que se mexia. Uai, São Tiago está se mexendo? Claro que não, era o braço de alguém que passava, mais um abraço que estava ganhando.
A outra novidade é o “Botafumeiro”. Na realidade, um turíbulo enorme que resta pairando acima do altar. Remonta ao início das peregrinações a Santiago. Consistiu de um grande vaso de prata presenteado pelo Rei Luiz XI da França e roubado pelas tropas napoleônicas. O atual foi fundido em 1851. É de latão banhado de prata.
No momento de sua função, é descido até a altura do altar mediante cordas que o prendem. Ali o Sacerdote que motiva a Assembléia para mais que um ver, transformar o que vê em oração, deposita no seu interior uma quantidade de incenso. Um grupo de homens, os “tiraboleiros”, vestidos a caráter, mediante gestos precisos e concertados, imprimem-lhe movimento balanceado de um lado para o outro até se aproximar muito do teto do templo. É um espetáculo, fotografado e filmado por inúmeras máquinas dos que fazem questão de, mediante ação própria, levar para casa lembrança tão bonita. Chega a uma altura de 22 m e a velocidade equivalente a 70 km.
Se originalmente, o fumeiro era destinado a dissipar os odores desprendidos dos corpos suados dos peregrinos que chegavam da caminhada e deviam, conforme ritual que permanece assistir a Missa do Peregrino, (muitos sem ter onde se hospedar, faziam da Catedral também dormitório), hoje o sentido é outro. Tem seis datas fixas para acontecer, excepcionalmente, a pedido e mediante paga. Foi nessa circunstância que se deu a oportunidade que tive.
Há quatro registros de queda do grande turíbulo, sem consequências graves. Registros bem humorados também, como aquele que narra que o turíbulo destacando-se da corda, sai pela janela da catedral e cai exatamente em cima de uma pequena banca onde alguém vendia castanhas. “Aconteceu uma castanhada”.


A ORIGEM DE SANTIAGO DE COMPOSTELA

O nome de Santiago de Compostela compõe-se de duas partes, São Tiago - o apóstolo, e Compostela - Campus stellae, cuja tradução quer dizer "Campo de estrelas". Este Campo de estrelas refere-se à lenda da origem desta cidade. Reza a referida lenda que, no ano 813, um habitante, de nome Pelayo, estando no local em que hoje se encontra a cidade, viu luzes e sinais no céu. Seguiu as pistas sugeridas pelos sinais e encontrou o túmulo e os restos mortais de São Tiago e dos seus discípulos. Relatou o sucedido ao Bispo Teodomiro de Iria Flavia, localidade situada a 20 km de Santiago de Compostela. O bispo mudou a sede do bispado para Compostela e informou o Rei Alfonso II daquilo que tinha sucedido. O Rei chegou ao lugar e ordenou a construção da primeira capela de Santiago de Compostela, para proteção do apóstolo e para que o recordassem.
Assim foi sendo edificada, passo a passo, a cidade atual, que ainda encerra um centro muito antigo.

terça-feira, 12 de abril de 2011

POR SOBRE AS NUVENS BRILHA SEMPRE O SOL

No lugar em que mais fico no meu apartamento, quando estou ao computador, a janela por onde a luz entra, fica à direta. Errado, deveria ser à esquerda. Em compensação quando estou à mesa, fico de costas. Tudo bem, isto só para dizer da surpresa que acabo de provar.
De repente o clarão era mais forte, olhei pela janela e vi que as nuvens densas que impediam a passagem da luz do sol se dissiparam e dai esse brilho intenso e esplendoroso que com a mesma intensidade com que surgiu, me despertou.
São 7 h e 14 m, acordei hoje, bem mais cedo.
... tudo na vida é quase sempre assim. Há momentos em que as coisas nos parecem estranhas, outras absurdas e ainda outras inacreditáveis e nos deixamos levar pela impressão que nos causam e como resultado vem abatimento, melancolia, desânimo, quem sabe uma vontade de enfiar a cabeça numa carapuça e mergulhar ali.
É quando a gente se esquece que "tudo passa, tudo passará, que nada fica nada ficará", a não ser o amor é claro; esquecemos que a vida é feita de momentos, tais quais estações, que carregam energias de uns para os outros e que dependem do nosso saber administrar, do nosso saber entrelaçar sentimentos com fatos, realidades com quimeras, sensatez com esperança, fé com equilíbrio e tudo com tudo isso e ainda com o que mais em volta houver.
A bipolaridade só afeta como patologia, portando é questão de crenças e certezas manter a estabilidade do humor.
O dia estava fechado, a luz era turbada por nuvens escuras bastou que elas se dissipassem para quem estava por trás demonstrar que desde o nascer do dia estava ali.
Não estamos sós, no plano humano, há sempre alguém que nos quer bem compartilhando conosco todo afeto de que é capaz, espreitando e assim que divisa, tantas vezes mesmo sem divisar, o sinal verde da reciprocidade acorre para nos cobrir de atenções e demonstrar gratuitamente o quanto somos importantes; no plano espiritual ou divino um Deus que ama de amor incansável, nos ama eternamente.
Por tudo isso, eu que sempre ouço sorrindo, não incrédula, mas de certa forma complacente, pela repetição com a qual acontece a Luisa dizer: "por sobre as nuvens brilha sempre o sol", vou repetir-lhe que tem toda razão.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

PAI NOSSO

Como é bom rezar o Pai Nosso! como esta oração é profunda! Ela contém tudo que precisamos pedir, e uma grande síntese do que devemos esperar, no que devemos fazer consistir nossa própria vida. Não poderia ser diferente é a oração que o próprio Jesus nos ensinou.
Procuremos entender a fundo cada palavra que pronunciamos. E já começamos a dizer, Pai Nosso!
Quem diz Pai Nosso, sabe que não O tem exclusivamente como pode ter um objeto ou mesmo uma pessoa, comum como somos.
Pai Nosso! Nosso, de todos que fomos chamados a vida, não a uma vida qualquer, mas em plenitude. Dizer Pai Nosso é também ou sobretudo comprometedor. Reconhecemos que somos irmãos. E até que reconhecer que somos irmãos não chega a ser um problema, qualquer pessoa poderá, se questionada a respeito, nos responder: “eu sei que somos todos irmãos”. Acho que o problema ou a colocação exata, colocação ou contradição, sei lá, e o que ficará por conta do poder responder afirmativamente, se nos for perguntado: vivemos como irmãos?
Muitas vezes me pergunto se de fato me considero e sou irmã de todos, se tenho com as pessoas a mesma afeição que pelos meus irmãos de sangue.
E... esses laços são particulares, são mesmo como fui levada invariavelmente a dizer: de sangue.
“Para dizer Pai Nosso devemos viver como irmãos”, não só nos dando as mãos para cantá-lo na celebração da S. Missa, mas lembrando, por exemplo, que na sociedade em que vivemos são muitas as situações de injustiça com as quais somos constrangidos a viver por nem sempre fazermos a melhor escolha ...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

AMAI-VOS UNS AOS OUTROS...

O AMOR não e coisa que se possa ver, ao contrário podemos ver as pessoas amorosas, podemos ver os gestos realizados com amor, podemos ver os projetos comunitários que visam o amor prestado aos mais carentes. Mas será que essa é a prática de nossa vida, de nossas comunidades? Será que é isso que se vê no mundo de hoje? Para refletir sobre o amor cristão é preciso questionar nossos preconceitos, nossas desigualdades, nossos egoísmos, questionar como estamos cuidando do mundo e de seus habitantes, porque amar, é cuidar.

O livro dos Atos nos revela que Deus “não faz distinção entre pessoas, pelo contrário, Ele aceita quem o teme e pratica a justiça”. Nossas comunidades devem, portanto, ser abertas a todos: aos não cristãos, aos poucos convictos, aos indiferentes, àqueles que estão em situação de busca...

Cornélio e sua família receberam o Espírito Santo antes mesmo de serem batizados, ou seja, ao ouvir a Palavra. O anúncio central da leitura está na expressão “Deus é amor”, e nesta outra “o amor vem de Deus”; a preocupação de João em sua carta era que a caridade reinasse entre seus vários membros, para que fosse conhecido de todos o amor que Deus manifestou ao enviar seu Filho amado. O Evangelho emprega nove vezes a palavra amor.

É o amor do Pai pelo Filho e do Filho por nós comunicados pelo Espírito Santo. Isso gera relacionamento fraterno e solidário. Mandamento maior; é uma postura dinâmica da vida no cuidado pelo outro. “Se obedecerem aos mandamentos permanecerão no meu amor”.

Cumprir os mandamentos é viver um projeto de vida e de liberdade como o Pai manda. Não é um romantismo, mas um serviço de entrega da vida. É permanecer na alegria plena. É esse amor que cuida do mundo para que ele seja sempre novo. É viver o mais profundo da relação humana, a amizade, para que o amor permaneça, e sejamos atendidos pelo Pai. Mas o amor não pode vir de um lado só. Se Deus tanto nos amou em Cristo, nós também devemos corresponder.

Ora, Deus não precisa do nosso amor para si. Ele quer que amemos os seus filhos, nossos irmãos. Jesus nos chama de amigos, mas se queremos ser seus amigos de verdade, devemos observar o que Ele nos pede: “que amemos uns aos outros como Ele nos amou”. Tendo como prática pessoal e comunitária o diálogo, a partilha, o acolhimento, a compreensão, o interesse mútuo, a verdade, as boas obras e ações para a construção da paz verdadeira.

Que o Espírito Santo de Deus ilumine nossas comunidades, superando todas as divisões para que prevaleça o amor!

Disponível em: http://www.cnbbo2.org.br/index2.php?system=news&action=read&id=7245&eid=326

terça-feira, 5 de abril de 2011

Nossa Senhora da Penha

Para ela é que se voltam todos os olhares, Nossa Senhora da Penha!
É sempre uma renovada demonstração de amor, visitar o nosso Convento da Penha. Constatar a fé que leva todas aquelas pessoas a desafiarem muitas vezes a pé, a subida da íngreme ladeira, para ir rezar aos pés da Virgem Maria.
E ante a imagem se postam e os olhares têm mais do que uma simples contemplação de um conjunto em louça. Quem fita a imagem, faz isto de forma transcendental, sabe que está frente a uma realidade maior, a da mulher vestida de sol tendo na cabeça uma coroa de doze estrelas, que por sua condição de co-redentora e pela adesão plena à vontade de Deus, se tornou em modelo para nossas vidas, modelo de santidade, de quem foi capaz de esquecer-se e dizer em plenitude: sou a serva do Senhor, faça-se em mim, segundo a Sua Palavra.
Sim, são estes os sentimentos que nos possuem, quando visitamos a Virgem da Penha.
Vemos mãos estendidas em oferta. Olhares suplicantes de quem passa por algum momento difícil e implora o auxílio da Mãe; o casal que vai agradecer cinquenta ou mais anos de união, apesar dos descompassos em que se envolvem os passos da vida no tantas vezes enfadonho dia-a-dia. Há também o jovem que visita o santuário pela primeira vez como o turista irreverente que não obstante a sacralidade do lugar, em trajes reduzidos ou poses incompatíveis, fotografam para a posteridade; além do casal que com os filhos, tem naquela ocorrência, o grande momento das férias anuais.
Santa Maria, Virgem da Penha, com certeza olhas compassiva e boa, com ternura e benignidade estas tão variadas expressões com que nós a visitamos, consagra tudo isto, Mãe querida, e transforma por teu favor, tanta pobreza, em oferta perfeita a Deus, pois o que passa pelas tuas mãos se engrandece e aperfeiçoa.
Nossa Senhora, este nosso mundo é um caos, mas ainda existem justos e até mais de um que podem tornar propícia a salvação necessária. Por isto, mãe... “cubra-nos com teu manto de amor, guarda-nos na paz deste olhar...”.

Do Programa Cinco Minutos com Maria.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

É SEMPRE MAIS FELIZ QUEM MAIS AMOU

“É sempre mais feliz, quem mais amou, e este sempre fui eu...
Estes versos fazem parte de uma canção na voz maravilhosa de Júlio Iglesias. Encerram verdade indiscutível, você não acha?
Repito: “é sempre mais feliz quem mais amou”.
O próprio Deus é definido AMOR. Deus é Amor!
Ah se o mundo se movesse no amor! já pensou? Quando se fala em Amor, só se pode associá-lo a Jesus que deu a maior prova de amor no gesto de dar a vida. Ele deu a vida por nós. Deu tudo, até a última gota de sangue; na cruz, ainda nos deu Maria como Mãe.
Pensando na cruz para mim, neste dias, fica difícil não ter em mente aquele crucificado sem braços que está na capela da penitência, do Convento da Penha.
E quer saber de uma coisa? Pensando bem, estou achando que aquele Cristo sem braços tem mais sentido do que se possa imaginar. Com seu gesto redentor, Jesus já nos salvou, mas a salvação operada por Ele precisa ser confirmada (ratificada) por nós, pois, Ele quer precisar de nós para continuar salvando o mundo. Aqueles braços que faltam naquele corpo na cruz, devem ser os nossos braços, os quais devemos colocar à disposição e a serviço da divulgação da mensagem para que o Reino de Deus venha a nós.
Portanto, cada um deve dizer: no lugar dos braços que faltam a Cristo, naquela cruz, devem ser colocados os meus braços. E que ninguém fique pensando que não faz parte “desta”, pois, “ninguém é tão pobre a ponto de não ter o que oferecer”.
Santa Maria, mãe de Deus e mãe dos pobres, que te fizeste co-redentora, faz a todos saberem desde aquela dona-de-casa cujos serviços domésticos lhe absorvem todo o tempo, ao taxista, ao médico, ao carpinteiro, ao comerciante, ao promotor de justiça, ao gari, a todos enfim, que neste sentido devem oferecer todos os trabalhos, com a fadiga que deles decorre; que tudo que fazem deve ser feito, como se seus braços fossem os de Jesus Cristo na hora do calvário e suas ações concorram para que possa ser provado o quanto é mais feliz, quem mais amou.

Do Programa CINCO MINUTOS COM MARIA.