sábado, 8 de janeiro de 2011

EU CONTO DE PALMARES

Zumbi dos Palmares
          
 
            Zumbi  e seus amigos iam em direção à terra prometida de Palmares.  No meio da floresta, os passos eram tudo quanto se ouvia. Ora apressados, ora cautelosos, para ver se algum perigo os rondava. Só as palavras absolutamente necessárias eram trocadas. O silêncio no entanto, era verdadeira comunicação.

            De repente, ouvem-se passos pisando folhas de quem corre velozmente. Todos se põem a esperar, dispostos a se defenderem,  "num um por todos e todos por um". 
            Quando o suposto inimigo surge um suspiro de alívio brota de cada peito. Não era inimigo, era um irmão de raça que como  heroi, se coloca a frente de Zumbi. Olham-se imensamente. As palavras  são dispensadas, quando as esperanças de liberdade e o desejo de lutar por ela unem ideais e corações. 

            Zumbi ergue o bordão e com um aceno de cabeça o integra ao grupo. Um sorriso de felicidade brota nos lábios imensos de Zoloá. O grupo retoma a caminhada. Com ele, atrás de todos, mas muito unido a todos, vai o seu novo membro.
           
           Dias depois da caminhada, surge Palmares e um imenso grito nasce no coração dos negros que correm ainda mais, para mais cedo alcançá-la. Começa a construção das novas senzalas, sem casas de senhores por perto. Com a cooperação de todos, em pouco tempo, todos estão acomodados. Tem início uma vida de certa forma nova. Há festa e alegria.

            Vez por outra, os corações batem mais forte no peito. É quando qualquer ruído diferente faz temer a chegada de brancos.
           
              Zoloá é sempre altivo. Bom guerreiro, bom dançarino, bom caçador, bom camarada. Mas como todos os seus irmãos, tem a alma marcada pela opressão que se abateu sobre seu povo. Seu pai contou-lhe as histórias do avô que ele um dia contaria aos próprios filhos. Tudo lhe doía muito, mas ao mesmo tempo, dava forças para lutar. Lutar pela sua gente e pela liberdade.

            Certa tarde, como outras tantas vezes, após a busca de alimento, quando seu cesto sempre vinha cheio das mais diversas especialidades que por ali havia e que era para toda a comunidade, porque nunca se esquecia de "que a terra é dom de Deus e os frutos que ela produz são de todos". Foi ao montinho onde sempre subia e ficava cismando...      
 
            Ali, o pensamento de Zoloá atravessava o oceano, chegava às plagas  da África para
 vir voltando na viagem dos seus irmãos escravizados lá. Acompanhando os gemidos, as agonias, as dores, a morte, até o desembarque nas terras do Brasil.

            Por isto, foi o primeiro a ver que brancos se aproximavam, vinham armados, eram certo número, menos porém que os guerreiros em Palmares. Correu para avisá-los. Foi fácil pegarem as armas que estavam sempre de prontidão. Como conheciam todos os caminhos, entraram floresta adentro, cercando os opressores que em pouco tempo tombavam, sem atingir sequer  um negro.                        
 
             Ao final, a mesma comunicação de olhares, a volta às senzalas, sem comemorações.

            Zoloá retorna ao montinho de seus pensamentos, ergue os braços ao céu e agradece a Deus. Não foi ainda daquela vez que Palmares desapareceria.