quinta-feira, 28 de julho de 2011

HAITI NÃO SAI DAS RUÍNAS

Enquanto o Haiti continua lutando para se recuperar do terremoto de janeiro de 2010, que matou mais de 200 mil pessoas e obrigou cerca de 1,5 milhões a viverem em acampamentos, o financiamento internacional ainda não atingiu as generosas promessas feitas no ano passado. Além disso, os problemas dentro [...]


Escrevi este artigo em fevereiro de 2010.


HAITI, DO POVO MAIS POBRE E MAIS MARTIRIZADO DO PLANETA

Já era o mais pobre país do planeta, de gente martirizada, à margem da cultura, do desenvolvimento, da história. Mas um terremoto se abateu sobre ele, fez ainda mais estragos e roubou mais de 200 mil vidas. Então virou manchete de todos os jornais do mundo. Agora todos falam do Haiti.  

Situa-se num conjunto de arquipélagos entre as duas Américas, ocupa o terço ocidental da Ilha de São Domingos, possuindo uma das duas fronteiras terrestres da região, a que faz a leste com a República Dominicana. A capital é Porto Príncipe.

95% da população é negra, 4,9% mulata e tão somente 0,1%, branca. 80,3% dos haitianos professam a religião católica. Não se negue contudo a forte influência africana com suas práticas religiosas semelhantes a dos denominados cadomblés. Foi o primeiro território americano a ser descoberto por Cristóvão Colombo, cedido à França pela Espanha em 1697. No século XVIII, chegou a ser a mais próspera colônia francesa na América, com a exportação de açúcar, cacau e café. Trata-se da  primeira colônia de maioria negra, mediante revolta de escravos, a conquistar a libertação, em 1794. Mas no mesmo ano, a França dominou a ilha. Um ex escravo Tousasaint Louverture tornou-se Governador Geral em 1801, redigiu uma Constituição para o país em cujo artigo 1º esculpiu o comando: “A escravatura está para sempre abolida, não podem existir escravos sobre este território.” Mas não durou, foi deposto e morto pelos franceses. Em 1803, outro líder, Jacques Dessalines, organiza o exército e derrota os franceses. Declarada a independência, o próprio Dessalines proclamou-se Imperador.

Tamanha coragem valeu ao Haiti 60 anos de bloqueio comercial imposto pelos escravistas europeus e estadunidenses. No governo de Jean Pierre Boyer, cercado pela frota da ex-metrópole, constrangido, assinou tratado pelo desbloqueio, sendo imposto ao país a título de indenização à França, a quantia de 150 milhões de francos, reduzidos para 90 milhões, o que não impediu nada menos que, o exaurimento da economia do país.

Depois do terremoto as Nações se mobilizam e centenas de aviões carregados de alimentos, roupa e água foram mandados para o Haiti, de todas as partes do mundo.

Além do que já foi, o governo brasileiro prometeu doar US$ 15 milhões ao Haiti, 14 toneladas de produtos alimentícios, entre sardinha, leite em pó, açúcar cristal e água.

Releva ser dito que a precariedade do país, máxime pela destruição sofrida, dificulta a chegada das próprias ajudas. Não há estradas, aeroporto destruído, linhas telefônicas interrompidas, ainda é precário o contato pela internet.

Órgãos governamentais e ONGs disponibilizaram contas bancárias para receber doações. O Banco do Brasil abriu uma conta (SOS Haiti - agência 1606-3, c/c 91.000-7) para o recebimento dos recursos que serão administrados diretamente pela Embaixada do Haiti no país.

Entretanto, o Haiti não precisa só de pão e água. Clama por desenvolvimento, clama por ser capaz de superar suas dificuldades e se tornar deveras uma Nação Soberana, mediante a liberdade merecida pelo seu povo, gente como qualquer outra, todos filhos de Deus, igualmente feitos á sua imagem e semelhança. 

Em artigo intitulado: “Lamento junto a Deus pelo Haiti”, desabafa Leonardo Boff: “Em cada haitiano que sofre soterrado ou que morre de sede e de fome, morremos um pouco também todos nós junto com eles. Finalmente somos irmãos e irmãs da única e mesma família humana. Como não sofrer?”

Ante a indigência haitiana o Prof. Ricardo A. S. Setenfus que integrou a missão da ONU/OEA no Haiti em 1993 afirmara: “A idéia de que cada sociedade deva resolver de forma autônoma seus dilemas nacionais – sustentáculo do princípio da não intervenção – é absolutamente inaplicável em certas situações como, por exemplo, no caso haitiano. Jamais este país conheceu ao longo de sua história sequer vestígios de democracia. A vontade da maioria sempre foi esmagada pela força. ... uma cruel realidade. ... Nada é mais desumano que a demonstração de indiferença frente ao sofrimento de outrem.”

Ante o sobredito,  importa que as Nações – seu povo - se predisponham a ajudar o Haiti, de mãos dadas com sua gente, atentas aos seus grandes anseios, até porque o país que não tem nada para dar,  precisa tudo receber. Que se entenda isso. Que o Haiti se inclua nos projetos desenvolvimentistas nacionais.

Nada mais soa atual no momento, que proêmio da Constituição Gaudium et Spes,  (Vaticano II): “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração”.

“Eles sofrem, nós sofremos”. “Guiados pelo Espírito Santo.  Eco no coração. A Igreja sente-se real e intimamente ligada ao gênero humano e à sua história”.

Cada um cumpra seu dever.