sexta-feira, 24 de agosto de 2012


REVITALIZAÇÃO DA AMALETRAS 


POSSE DE NOVOS ACADÊMICOS
 
Eliezer Ortolani Nardoto, Marlusse Pestana Daher, Antonio Eduardo Barbosa,
Jonas Bonomo, Sebastião Pereira, Iluzinilda Neves Martins, Beatriz Barbosa Pirola, Eliane Queiroz Auer e Luiz Costa 
 
No dia 22 de agosto, como previsto, entre familiares e alguns amigos,  ocorreu a solenidade de revitalização da Academia Mateense de Letras e posse de seis novos acadêmicos.

Eliezer, Marlusse,Antonio Eduardo
A mesa foi composta pela Presidente e fundadora da Academia Mateense de Letras, Acadêmica Marlusse Pestana Daher, pelos Acadêmicos Fundadores Antonio Eduardo Barbosa e Eliezer Ortolani Nardoto. Presente a mesa ainda, o Vereador Carlos Alberto Barbosa  Alves, presidente da Câmara Municipal,  o advogado, José Antonio de Souza Mathias e a oradora oficial da solenidade, Acadêmica  Karina de Rezende Tavares Fleury, da Academia Feminina Espirito-santense de Letras.

Composta a mesa, acompanhados dos Acadêmicos Fundadores Antonio Eduardo Barbosa e Eliezer Ortolani Nardoto os empossandos foram trazidos aos lugares a eles destinados.


Os acadêmicos fundadores recebem as insígnias respectivas.

Iniciou-se a cerimônia de posse dos novos Acadêmicos. A Presidente convidou-os a se colocarem a frente: Poetisa, Beatriz Barbosa Pirola, poetisa Eliane Queiroz Auer; poetisa e declamadora Iluzinilda Neves Martins; escritor e teatrólogo Jonas Bonomo; poeta e ator Luiz Costa e o romancista, escritor Sebastião Pereira, interrogando-os:

1. As senhoras e os senhores pretendem pertencer  como membros efetivos da Academia Mateense de Letras. Foi-lhes dado a conhecer as finalidades que estão postas no Estatuto da AMALETRAS, para sua vitalidade e o serviço que deve prestar à sociedade.

2. Vossas Senhorias declaram conhecer o Estatuto da AMALETRAS E SUAS FINALIDADES?

 3. Vossas Senhorias prometem cumprir com fidelidade o Estatuto envidando todo esforço possível  no sentido que se cumpram?

Concluiu: ante suas respostas afirmativas, na condição de Presidente da Academia Mateense de Letras, declaro-os empossados como membros efetivos e no sentido que nas academias é dado ao termo, declaro-os também imortais.

O empossados receberam suas insígnias das pessoas pelos mesmos escolhidas, receberam o diploma e assinaram o termo de posse

Cadeira nº  3  -   Luiz Costa                   -    Graciano Santos Neves

Cadeira nº  4 -   Iluzinilda  Neves Martins -    Elza Cunha

Cadeira nº  5 -   Eliane Queiroz Auer            -               Mesquita Neto

Cadeira nº  7  -   Sebastião Pereira         -    Clarice Lispector

Cadeira nº  8 -  Beatriz Barbosa Pirola   -       Bartolomeu Campos Queirós

Cadeira nº   9 -  Jonas Bonomo              -      Castro Alves

Feita a leitura do currículo da Acadêmica Karina de Rezende Tavares Fleury pronunciou-se com extrema propriedade ao momento.

O terceiro momento foi marcado por entrega de títulos como membros honorários, segundo o art. 15 do Estatuto da AMALETRAS: receberam seus títulos: Iosana Fundão Azevedo, professora e diretora de escola, pessoa comprometida com os problemas sociais do município, atualmente alegrando o grupo da melhor idade; o advogado José Antonio de Souza Mathias, pelo seu compromisso com sua cidade, sendo pessoa prestigiada e querida pela sociedade; Karina de Rezende Tavares Fleury, sendo pouco, pelo muito que trouxe ao momento; o Professor da UFES, Renato Pirola, que dirigiu a entidade em São Mateus, finalizando sua carreira com o legado de uma magnífica biblioteca; a  Professora Vera Fundão Maciel Altoé, cujo entusiasmo e apoio a AMALETRAS cumpre ser reconhecido, o Vereador e Presidente da Câmara Municipal, Carlos Alberto Barbosa Alves que   ostentava seu título de Membro Honorário,  deixando  palavra de gratidão e apoio a toda iniciativa de igual porte. Outros agraciados não compareceram.

 
Pronunciou-se também o Dr. José A. S. Mathias que se demonstrou entusiasmado pelo que ouvira e exortou os jovens a seguirem os passos dos acadêmicos.

Encerrada a solenidade os presentes se dirigiram a um salão local para a comemoração de estilo.
 

  Saudação da Acadêmica Karina de Rezende Tavares Fleury

 UM PAUZINHO, DOIS ‘PAUZINHO’ 

Acadêmica Karina Fleury
De acordo com a tese aristotélica, “O homem é um animal social”. Ele tem a absoluta necessidade de agrupar-se, de unir-se a seus semelhantes não só para satisfazer aos seus desejos, mas também para satisfazer as suas necessidades materiais e de cultura, buscando, assim, alcançar a realização de um bem melhor.
Daí a constituição das comunidades em geral que compõem a estrutura de toda sociedade, tais como: as famílias, as igrejas, as escolas, as ONGs, as polícias, as redes sociais e, como não poderia deixar de ser, as Academias, sejam elas “mistas” (de Letras e de Artes, de Letras e de Música) ou “categorizadas” (de Médicos, de Maçons, de Letras Jurídicas).

O termo Academia remonta ao ano 387 a.C.. É que Platão fundou aquela que consideramos a primeira Academia da história: tratava-se de uma escola filosófica situada junto das muralhas de Atenas, no bosque Heros AKademos (daí o nome Academia). Naquela época, academia era, segundo o conceito dicionarizado, o “lugar aprazível e solitário em que Platão ensinava filosofia”, onde se buscava o conhecimento e o saber, pelo questionamento e pelo debate. Esse, como se sabe, é objetivo que movimenta os homens em todo tempo e lugar.

Ainda hoje, embora o formato da Academia, e aqui, por razões obvias, refiro-me às Academias de Letras, tenha se modificado ao longo dos séculos, tais objetivos não só não se perderam, mas também a eles foram somados outros tantos, como: incentivar, propor e desenvolver projetos e programas que despertem o gosto pelas letras, o aprimoramento da língua portuguesa e a elevação à cultura; pugnar pelo incentivo à literatura, principalmente no âmbito de sua atuação, em todo o território nacional e no exterior; promover cursos e concursos, seminários e conferências, debates e recitais; promover, desenvolver e divulgar a pesquisa nos diversos campos culturais. Como se pode perceber, não é pouco o trabalho, nem é inconsistente a responsabilidade de quem se propõe a ocupar um lugar no panteão da história. Filiar-se a uma Academia de Letras requer, acima de tudo, comprometimento.

Antes mesmo da fundação da matriarca de todas as agremiações literárias como conhecemos hoje, L’Académie Francaise, organizada pelo Cardeal Richelieu, em 1635, muitas surgiram e desapareceram; outras se reestruturaram e se renovaram. No Brasil, no fim do século XIX, alguns intelectuais começaram a se manifestar a favor da criação de uma academia literária nacional, nos moldes da Academia Francesa. O movimento tomou corpo e, em 20 de julho de 1897, realizou-se, no Rio de Janeiro, a sessão inaugural da Academia Brasileira de Letras, tendo como presidente Machado de Assis.

No Espírito Santo, o Bispo Dom Benedito foi quem primeiro presidiu a Academia Espírito-Santense de Letras, que é a nossa segunda entidade cultural mais antiga, antecedida pelo Instituto Histórico e Geográfico do ES e precedida pela Academia Feminina Espírito-Santense de Letras. Fundada em 04 de setembro de 1921, a AESL manteve, durante cerca de 60 anos, as suas portas fechadas para as mulheres intelectuais do Estado, sendo Judith Leão Castello Ribeiro a primeira mulher a tomar posse em 10 de setembro de 1981 (na ABL, Raquel de Queiroz foi a pioneira, eleita em 1977. E na Academia Francesa? Ah, lá a escritora belga Marguerite Yourcenar foi quem conseguiu transpor a barreira, em 1980, 345 anos depois da fundação da entidade). Porém, somente em 2002 é que veio o reconhecimento e a valorização da participação ativa da mulher escritora capixaba no espaço público: foi quando Maria Helena Teixeira de Siqueira sagrou-se a presidente da AESL (na ABL, foi Nélida Piñon, a primeira mulher, em 100 anos, a presidir a referida Academia).

Talvez vocês estejam se perguntando por que eu abri tantos parênteses em minha fala, nesse último parágrafo; por que acentuei as informações sobre a presença da mulher nas Academias. Afinal, não estamos aqui hoje testemunhando a revitalização de uma Academia Feminina, não é mesmo? Sendo assim, seguem minhas explicações.

Como vimos, as Academias de Letras que até agora citei neste breve estudo foram idealizadas e fundadas pelos homens. As mulheres só foram aceitas décadas, ou mesmo, séculos depois. Valeram-se das mais diversas estratégias para escapar das amarras falocêntricas e, assim, ascender em sua condição social, econômica e cultural. Já vai longe o tempo em que as mulheres escritoras eram mal vistas e que seus escritos, constantemente desprestigiados. Quando muito, eram tidos como “literatura de moça”, inofensiva, inocente e sem qualidade literária.

No entanto, e graças a Deus por isso, já vai longe este tempo amargo. E a comprovação dessa minha assertiva está na história da Academia Mateense de Letras e na realização deste evento. A AMALETRAS, desde a sua fundação, em 16 de fevereiro de 2001, sob a presidência de Marlusse Pestana Daher, mostrou-se moderna no seu modo de ver, de pensar, de estar no mundo. Mesmo tendo passado por um período de inatividade, a AMALETRAS tem em sua gênese a voz da mulher ecoando entre a voz de seus pares. O que estamos presenciando aqui, nesta noite, é a reorganização e a posse de sete novos membros de uma instituição cultural que, agregando os mais nobres valores humanos universais, recupera o lema dos ideais iluministas que visa a liberdade, a igualdade e a fraternidade.

Isso é o bastante para me fazer lembrar uma das histórias contadas por Clarissa Pinkola Éstes, em Mulheres que correm com lobos (Rocco, 1994). O tema é a transmissão ancestral de valores. Um costume dos antigos reis africanos, escreve a autora. Chama-se “Um pauzinho, dois pauzinho” (p. 154) que aqui cito um excerto:

Na história, um velho está à morte, e chama a família para perto de si. Ele dá um pauzinho curto e resistente a cada um dos seus muitos rebentos, esposas e parentes. “Quebrem o pauzinho”, determina ele. Com algum esforço, todos conseguem quebrar seus pauzinhos ao meio.

“É isso o que acontece quando uma pessoa está só e sem ninguém. Ela pode ser quebrada com facilidade”.

Em seguida, o velho dá a cada parente mais um pauzinho.

“É assim que eu gostaria que vocês vivessem depois que eu me for. Juntem seus pauzinhos em feixes de dois ou três. Agora, partam esses feixes ao meio”.

Ninguém consegue quebrar os pauzinhos quando eles estão em feixes de dois ou mais. O velho sorri.

“Temos força quando nos juntamos a outra pessoa. Quando estamos juntos, não podemos ser quebrados” (ÉSTES, 1994, p. 154).

A lição de vida que o moribundo africano nos dá é aquela que, no senso comum, dizemos: a união faz a força! No entanto, chamo a atenção para o caráter antissexista, uma vez que as esposas são parte ativa do grupo (vale lembrar que, neste caso, o plural desse substantivo tem conotações culturais que não serão discutidas neste ensaio), e não segregário no que se refere à inclusão das crianças (“rebentos”) e às demais pessoas que fazem parte da “família” (“parentes”).

Juntos, todos são igualmente importantes para a manutenção da harmonia e do sucesso em prol de um bem comum. Reparemos que o título da história é “um pauzinho, dois pauzinho”, assim mesmo, no diminutivo. O desfecho da narrativa nos leva a entender que para se alcançar o sucesso, a coletividade (“dois”) tem de se perceber como um só corpo (“pauzinho”). Ressoa novamente a máxima de Platão de que o homem, este ser político, social, ancora-se em grupos para viver melhor: “Quando estamos juntos, não podemos ser quebrados”. É nesse sentido que justifico minhas reflexões sobre a AMALETRAS que, nesta noite, ao reinscreve seu nome na história da sociedade mateense, é por esta acolhida como parte fundamental de um todo que trabalha pela elevação da tradição literária e cultural da cidade de São Mateus.

E para finalizar, dedico-lhes, caros Acadêmicos da AMALETRAS, um trecho da mensagem proferida por Machado de Assis, na abertura da memorável sessão de fundação da ABL: “Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles o transmitam aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira”.


 

QUADRAS


havia mais que poesia,
havia sonho,
havia amor e havia
alegria como condimento.

o tempo não passava
congelara-se
quem disse que o tempo para,
tempo como vento sempre vai.

da vida que se leva,
é o que se leva da vida.
não se deixe levar pela vida.
leve a vida, você.

nem aos trancos e barrancos,
nem menos entre tapas e beijos
aprume-se olhar pra frente
é assim a vida da gente.

há enorme diferença
entre quem diz e não faz
entre quem cala e não consente
e te desconserta. simplesmente.