terça-feira, 25 de dezembro de 2012

CENAS DE VIDAS SANTAS

Vitória, que se tornou frenética mesmo em dias de sábado e domingo, sob céu azul e esparsas nuvens muito brancas e calmas está silenciosa.

11 da manhã. Olho pela janela para confirmar o silêncio que ouço. Ninguém passa pela rua, vejo alguns carros, todos parados, certamente, desde ontem, porque é Natal!

Mesmo os que não creem se contagiam com o clima que invade a alma de todos. Sem poder fazer diferente, automaticamente, acabam por se deixar invadir pelos anelos natalinos e provam da mesma harmonia, da mesma paz, enfim, encontram-se com as próprias origens e assim vão estar.

Enquanto assistia a Santa Missa na igreja de São Francisco, ontem, deixei-me possuir por um pensar em Maria, sobre quais eram seus sentimentos, como terá vivenciado aquelas horas até os momentos mais próximos, os que precederam o nascimento do Filho de Deus sim, mas humano e portanto fruto de sua carne, de seu sangue, da sua vida. Se os filhos têm semelhança física com os pais, Jesus só tinha da parte de Maria.

Fixo o semblante doce da Nazarena e deduzo que aquelas expressões afogadas por antecipação no sacrifício redentor do Filho, ainda assim, traduzem um misto de decepção ou tristeza santa, pois, pelas atitudes com que seus concidadãos se conduziam era fácil não esperar eloquência ou boas vindas ao “Verbo de Deus que se fez carne e estava prestes a habitar no meio de nós”.

Ainda assim, era também muito de Maria a expressão “eu sei em quem confiei e estou certa” dai tantas vezes se repetir a seu respeito que “guardava todas as coisas em sem seu coração”.

Contemplo-a ao dizer sim até à vontade prepotente do governante. Toma o caminho de Jerusalém em companhia de José, já lemos muitas vezes, mas poucas vezes teremos ficado analisando quais eram os pensamentos que passavam por sua cabeça, ainda que dessa profunda função litúrgica, participasse apenas o silêncio.

Encostam a porta da casa, saem, o sol ainda não despontara e a caminhada inicia. Havia gente falando alto e até dando risadas, numa tentativa de amenizar os inconvenientes e o cansaço inevitável que a ninguém excluiria. Não era o caso de Maria, silenciosa e disposta a sempre ouvir, mas a igualmente praticar o gesto simples de quando ao passarem por algum regato de águas cristalinas, ela também se inclina para matar a sede.

Naquela manhã, por estas exatas horas, estava ocupada com o recém-nascido, procurava proporcionar-lhe todo carinho que um serzinho requer apenas chegado a luz. Tinha satisfeito sua expectativa de ver aquele rosto do Deus-criatura que se fizera carne e se desenvolveu no seu ventre.

Os pastores que a convite dos anjos foram ver o menino, fascinados, alguns ficaram por ali mesmo enquanto outros terão voltado às próprias casas, para avisar aos familiares e aos vizinhos o que aconteceu e viram, pelo que é fácil deduzir que terão dito do quanto eram pobres e não tinham alimentos. Cada família acorreu às despensas, recolheu o que tinha, preparou como melhor foi possível, embalou e ainda mais numerosos chegaram à gruta de Belém.

Maria e José recepcionam todos com o melhor dos sentimentos. Única a sensação que a todos envolve, são muito benvindos.

Certamente, depois dos primeiros gestos, das saudações, começa a ser posta a grande refeição. Não havia mesa onde sentarem em torno, tudo era servido de forma mais que simples, coletivamente, em comum. Cada simples pirão tinha a diversidade dos sabores de todas as iguarias, todos se fartaram em alegria.

Maria e José agradecem e não obstante a pequenez do recém-nascido, paira uma sensação de que ele também se tenha manifestado de forma a que todos percebessem, mas ninguém falou. Afinal de contas, uma criança que acaba de nascer só faz dormir.

Regressar se tornou difícil, melhor que pudessem ficar ali para sempre, mas tinham que retornar à casa, ao pastoreio, ao dia-a-dia que lhes era peculiar.

Foram narradas coisas que dos Evangelhos não constam? que importa, são cenas humanas como era humana em todos os aspectos a Família de Nazaré, que nossa devoção denomina Sagrada Família.