sábado, 17 de agosto de 2013

SEMANA DA FAMÍLIA


Nesta semana, de 11 a 17 de agosto, com início no dia dos pais, celebramos a Semana Nacional da Família, cujo tema este ano é: “A transmissão e educação da fé cristã na família”.“A família é base da sociedade e o lugar onde as pessoas aprendem pela primeira vez os valores que os guiarão durante toda a vida", dizia o saudoso Papa João Paulo II. “Na medida em que a família cristã acolhe o Evangelho e amadurece na fé torna-se comunidade evangelizadora. A família, como a Igreja, deve ser um lugar onde se transmite o Evangelho e donde o Evangelho irradia. Portanto no interior de uma família consciente desta missão, todos os componentes evangelizam e são evangelizados... Tal família torna-se, então, evangelizadora de muitas outras famílias e do ambiente no qual está inserida” (Familiaris Consortio, 52).

O Papa Bento XVI nos ensinava que “esta é uma instituição insubstituível, segundo os planos de Deus, e cujo valor fundamental a Igreja não pode deixar de anunciar e promover, para que seja vivido sempre com sentido de responsabilidade e alegria”.

Em sua mensagem especial para esta semana, o Santo Padre o Papa Francisco encoraja “os pais nessa nobre e exigente missão que possuem de serem os primeiros colaboradores de Deus na orientação fundamental da existência e a segurança de um bom futuro. Para isso, ‘é importante que os pais cultivem as práticas comuns de fé na família, que acompanhem o amadurecimento da fé dos filhos’ (Carta Enc. Lumem Fidei, 53). E o Papa volta a falar contra “a cultura do descartável”, hoje em voga, caminho para o aborto e para o desprezo dos idosos, lembrando aos pais que eles “são chamados a transmitir, tanto por palavras como, sobretudo, pelas obras, as verdades fundamentais sobre a vida e o amor humano, que recebem uma nova luz da Revelação de Deus. De modo particular, diante da cultura do descartável, que relativiza o valor da vida humana, os pais são chamados a transmitir aos seus filhos a consciência de que esta deva sempre ser defendida, já desde o ventre materno, reconhecendo ali um dom de Deus e garantia do futuro da humanidade, mas também na atenção aos mais velhos, especialmente aos avós, que são a memória viva de um povo e transmissores da sabedoria da vida”.  

Na JMJ, durante a oração do Angelus, no dia 26 de julho último, dia dos avós de Jesus, São Joaquim e Sant’Ana, o Papa Francisco já tinha lembrado a importância dos mais velhos: “Olhando para o ambiente familiar, queria destacar uma coisa: hoje, na festa de São Joaquim e Sant’Ana, no Brasil como em outros países, se celebra a festa dos avós. Como os avós são importantes na vida da família, para comunicar o patrimônio de humanidade e de fé que é essencial para qualquer sociedade! E como é importante o encontro e o diálogo entre as gerações, principalmente dentro da família. O Documento de Aparecida nos recorda: ‘Crianças e anciãos constroem o futuro dos povos; as crianças porque levarão por adiante a história, os anciãos porque transmitem a experiência e a sabedoria de suas vidas’ (DAp 447). Esta relação, este diálogo entre as gerações é um tesouro que deve ser conservado e alimentado!”.

O LEGADO DO PAPA FRANCISCO


Leonardo Boff, teólogo, filósofo e escritor.

Não é fácil em poucas palavras resumir os pontos relevantes das intervenções do papa Francisco no Brasil. Enfatizo alguns, com o risco de omitir outros importantes. O legado maior foi a figura do papa Francisco: um humilde servidor da fé, despojado de todo aparato, tocando e deixando-se tocar, falando a linguagem dos jovens e as verdades com sinceridade. Representou o mais nobre dos líderes, o líder servidor que não faz referência a si mesmo, mas aos outros com carinho e cuidado, evocando esperança e confiança no futuro

No campo político encontrou um país conturbado pelas multitudinárias manifestações dos jovens. Defendeu sua utopia e o direito de serem ouvidos. Apresentou uma visão humanística na política, na economia e na erradicação da pobreza. Criticou duramente um sistema financeiro que descarta os dois polos: os idosos, porque não produzem, e os jovens não criando-lhes postos de trabalho. Os idosos deixam de repassar sua experiência, e os jovens são privados de construir o futuro. Uma sociedade assim pode desabar.

O tema da ética foi recorrente: ética fundada na dignidade transcendente da pessoa. Com referência à democracia cunhou a expressão “humildade social”, que é falar olho a olho, entre iguais, e não de cima para baixo. Entre a indiferença egoísta e o protesto violento apontou uma opção sempre possível: o diálogo construtivo. Três categorias sempre voltavam: o diálogo como mediação para os conflitos, a proximidade para com as pessoas para além de todas as burocracias e a cultura do encontro. Todos têm algo a dar e algo a receber. “Hoje ou se aposta na cultura do encontro, ou todos perdem”.

No campo religioso foi mais fecundo e direto. Reconheceu que ”jovens perderam a fé na Igreja e até mesmo em Deus pela incoerência de cristãos e de ministros do evangelho”. O discurso mais severo reservou-o para os bispos e cardeais latino-americanos (Celam). Reconheceu que a Igreja, e ele mesmo se incluiu, está atrasada em suas formas de presença no mundo. Conclamou não apenas a abrir as portas para todos, mas a sair em direção ao mundo e para as “periferias existenciais”. Criticou a “psicologia principesca” de membros da hierarquia. Eles têm que ser pobres interior e exteriormente. Dois eixos devem estruturar a pastoral: a proximidade do povo, para além das preocupações organizativas, e o encontro marcado de carinho e ternura. Fala até da necessária “revolução da ternura”, coisa que ele mostrou viver pessoalmente. Entende a Igreja como mãe que abraça, acaricia e beija. Essa atitude materna os pastores devem cultivar para com os fiéis. A Igreja não pode ser controladora e administradora, mas servidora e facilitadora. Enfaticamente, afirma que a posição do pastor não é a posição do centro, mas a das periferias. Deu centralidade aos leigos para junto com os pastores decidirem os caminhos da comunidade.

O diálogo com o mundo moderno e a diversidade religiosa: o papa Francisco não mostrou nenhum medo face ao mundo moderno; quer trocar e inserir-se num profundo sentido de solidariedade para com os privados de comida e de educação. Todas as confissões devem trabalhar juntas em favor das vítimas. Pouco importa se o atendimento é feito por um cristão, um judeu, um muçulmano ou outro. O decisivo é que o pobre tenha acesso à comida e à educação. Nenhuma confissão pode  dormir tranquila enquanto os deserdados deste mundo estiverem gritando. Aqui vige um ecumenismo de missão: todos juntos, a serviço dos outros.

Aos jovens dedicou palavras de entusiasmo e de esperança. Contra uma cultura do consumismo e da desumanização convocou-os a serem “revolucionários” e  “rebeldes”. É pela janela dos jovens que entra o futuro. Criticou o restauracionismo de alguns grupos e o utopismo de outros. Colocou o acento no hoje: ”no hoje se joga a vida eterna”. Sempre os desafiou para o entusiasmo, para a criatividade e para irem pelo mundo espalhando a mensagem generosa e humanitária de Jesus, o Deus que realizou a proximidade e marcou encontro com os seres humanos.

Na celebração final havia mais de três milhões de pessoas, alegres, festivas e na mais absoluta ordem. Desceu uma aura de benquerença, de paz e de felicidade sobre o Rio de Janeiro e sobre o Brasil, que só podia ser a irradiação do terno e fraterno  papa Francisco e do Sentimento Divino que ele soube transmitir.

 Leonardo Boff escreveu 'Francisco de Assis e Francisco de Roma: Uma nova primavera na Igreja?' (Editora Mar de Ideias, Rio, 2013).