terça-feira, 20 de agosto de 2013

1° ANIVERSÁRIO DE REVITALIZAÇÃO DA AMALETRAS

MEDALHA COMEMORATIVA


Com nove acadêmicos e duas correspondentes, neste 22 de agosto, precisamente, amanhã, a ACADEMIA MATEENSE DE LETRAS - AMALETRAS - comemora seu 1° aniversário de revitalização.

A solenidade comemorativa acontece no próximo dia 31 de agosto, quando serão empossados novos correspondentes:

1.   ANDRA VALADARES – Vila Velha – presidente da Academia Humberto de Campos . Cadeira 10 –
2.   BARBARA PERES – Marataízes – presidente da Academia  Marataizense  de Letras, Grã Mestra da Poesia, membro da Academia Serrana de Letras,     Cadeira 03 - Rachel de Queiroz
3.   CESAR DOMICIANO– São Mateus – Músico, educador (Araçá), ativista cultural, músico, cordelista.   Cadeira 06
4.   CLÉRIO JOSÉ BORGES SANT’ANNA. Presidente da Academia Serrana de Letras, detentor de muitas condecorações.  Cadeira 12:  Affonso Cláudio
5.   ELZA LIMA – São Mateus – Professora,  Poetisa com dois livros publicados. Cadeira 09:  Maria Beatriz de Figueiredo  Abaurre
6.   FABIANI RODRIGUES TAYLOR COSTA – Piúma - Educadora, diretora escolar, vencedora do concurso Cora Coralina, do concurso Anette  Mattos - Cadeira 08 Cecilia Meirelles
7.   HELIANA MARA SOARES – Presidente da Academia Guaçuiense de Letras, membro da Academia Marataizense de Letras.  Cadeira 04: Mario Quintana.
8.   MARIA DOLORES PIMENTEL DE REZENDE – tem um título de Condessa  (na literatura), intensa militância acadêmica inclusive fora do Brasil .
Cadeira 05 Maria Antonietta Tatagiba
9.   VERA FUNDÃO ALTOÉ – São Mateus – Professora aposentada, militante cultural, desde o primeiro momento presente na AMALETRAS Cadeira 7:  Antonio Coelho Sampaio
10.               Gilcea Rosa, poetisa, escritora, membro da Academia Feminina Espirito-santense de Letras. Cadeira 11: Henriqueta Lisboa
11.               Wanda Maria Bernardi Capistrano Alckmin - poetisa, artista plástica, membro da Academia Feminina Espirito antense de Letras. Cadeira 13 .
Foram confeccionadas quarenta medalhas com as quais serão agraciadas pessoas de destaque no mundo literário e social.



Frente e verso da medalha.

A AMALETRAS adotou o chafariz do Porto de São Mateus como sua  marca. O slogan: "Como as fontes". O chafariz era alimentado por seis fontes que partiam da chama "BIQUINHA" e dessedentava os mateenses.
Eram seis os primeiros acadêmicos: Eduardo Durão Cunha, Herinéa Lima de Oliveira, Roberto de Souza Le, que já retornaram à casa do Pai. Antônio Eduardo Barbosa, Eliezer Ortolani Nardoto e Marlusse Pestana Daher.



HENRIQUETA LISBOA, UM ESBOÇO EM CLARO/ESCURO



                                        Marilena Soneghet

 “Com minhas frágeis / e frias mãos cavei um poço / no fundo do horto / da solidão”  - HL

 
Henriqueta Lisboa

       Anos atrás, debrucei-me a conhecer as obras de algumas figuras feminis que se destacaram no século XX: Florbela Espanca, de Portugal, Gabriela Mistral do Chile, a uruguaia Juana de Ibarbouru - “Juana de América” -, Cecília Meirelles e Henriqueta Lisboa, do Brasil – todas “sacerdotisas do inexplicável” como as define o crítico Paschoal Rangel.

        Tocada pela densidade da lírica henriqueteana, passei a vasculhar livrarias e sebos em busca do ouro de sua lavra. “Lavra”, sim. Como boa mineradora, ela faz das indagações uma ferramenta ao “escavar” os mais ricos filões. Segundo o crítico Fabio Lucas, é bem “típica de HL essa índole meio barroca, com retorcimentos de consciência, a espiritualidade, os grandes silêncios e a surdina.” Contemplativa, observadora, ela transforma a vida em força criadora, extrai-lhe o sumo e a torna poesia. Uma poesia que,  ao fundir elementos do Simbolismo, do Classicismo e do Modernismo, os transcende, tornando-se única!

       Henriqueta nasceu aos 15 de julho de 1901, na aurora desse “século de assombro”. Lambari, a estância das “águas virtuosas” ao sul de Minas, foi seu berço. Seus pais, João de Almeida Lisboa e Maria Rita de Vilhena Lisboa, deram-lhe família numerosa. Educada nos moldes da tradicional família mineira, estudou no Colégio Sion, frequentado por moças da elite, onde aprendeu fluentemente o francês. Mal compreendendo seu jeito reservado, a diretora do colégio a alcunhava: “la petite orgueilleuse”. Mas era por extrema sensibilidade que se recolhia à solitude. Plateias a constrangiam, e justificava-se dizendo “ter feito do silêncio e da sombra sua morada”.

       Em seu perfil, nota-se, desde logo, a suavidade do caráter sobre o qual Afonso Romano de Sant’Anna escreveria: “ela passa por nós como uma brisa,[...] com o rumor branco da poesia”. Sua postura digna e a frágil silhueta despertam brandos sentimentos. Termos como brisa, anjo, asas vestem a persona da poeta.

        “HL vive sempre esvoaçando em meus pensamentos, feito um passarinho”; comenta Mario de Andrade, que divisa em seu lirismo: “uma carícia simples, dor recôndita em sorriso leve e frase contida.” Grandes amigos, mantiveram entre si, por vários anos, assídua correspondência.

           Aos 21 anos HL publica Fogo fátuo. Mas é com Enternecimento (1930) , sua primeira obra considerada de fato, que se projeta no panorama literário, ao conquistar o Prêmio Olavo Bilac da Acad. Brasileira de Letras! Seguem-lhe Velário”(1936), e Prisioneira da Noite (1941) que, juntos, marcam a primeira fase de sua poesia, a do “penumbrismo” - dos poetas fascinados pela sombra, e pelo mistério :

“Ó noite, ensina-me / o teu magno segredo: iluminar da sombra.”

       Talvez esse paradoxal desejo seja um reflexo de uma vida ascética, condicionada à ideia, predominante na época, de poetisa e mulher.

       Seria por demais extenso traçar um panorama de sua obra que abrange dos temas infantis à tradução de grandes poetas, a temas reflexivos, recorrentes (como o da morte), que se adensam a cada novo livro. A descoberta da vida e seus valores em Azul Profundo e O Alvo Humano  são, no seu dizer, “incursões em busca das causas primeiras” [...] “a observação do ser enquanto ser, sem a ilusão das aparências”. Essas palavras e uma profunda religiosidade atestam estar em Alvo Humano o leit motiv de sua poesia.

       Se indagar é um fenômeno inerente ao Ser, a poética de HL explora, inquieta, os sombrios esconsos dos enigmas humanos:  - “De onde veio/ Quem é?/ Para onde vai quando se for?” ou “Que poder obscuro/ governa teu povo, ó Deus?” e ainda “Ó vida, ó morte entrelaçadas /fibras da humana tessitura,/ onde findais ou começais,/ nesses crepúsculos de aurora/ em que a luz exsurge da sombra/ numa sucessão conivente?”

       Sua obra completa-se com Miradouro (“um livro difícil com grossas franjas de silêncio” PR), Celebração dos Elementos (1977), sobre o cosmos e o mundo espiritual, e Pousada do Ser  (1982), com o qual encerra sua carreira literária aos quase 80 anos de idade. HL vem a falecer em BH aos 9 de outubro de 1985.

       Sobre sua poesia disse Drummond: “Não haverá, em nosso acervo poético, instantes mais altos do que os atingidos por este tímido e esquivo poeta.”

       Entre o efêmero e o eterno HL viveu a poesia em sua essência;  “tocou as fímbrias do Absoluto ao tentar desvendar o sublime que se encontra em cada gesto, em cada sentimento, em cada palavra”.

 
 “Há de chegar o dia em que em todo o universo, não restará de mim nem uma poeira de ossos. E como hoje, tal qual, haverá noite de lua, e um vulto a uma janela e um sofrimento e um verso”...