sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

TEATRO NO PORTO, SIM OU NÃO.


Imagem do que foi. 
Fiquei sabendo que o Secretário de Cultura, Maurício Silva, pretende deixar em São Mateus um marco de sua passagem pelo honroso cargo. Para   tanto, ele tem não uma única, mas também outra razão, sua amada nasceu naquela terra. Ele mesmo tem seu nome escrito nas páginas da vida cultural mateense.

O local seria o casarão (onde S. Dodo Rios teve uma venda) ao lado daquele, da esquina, (dos Jogaib) já reconstruído. Mas só resta a fachada e fundos para o Rio Cricaré.

Eu sei porquê. O Porto? Há um misticismo que envolve aquela terra... um rio que corre para cima... e quando o vento sopra desenha velhas figuras na sua superfície espelhada. Ao passar por entre as folhas das árvores, canta um canto, inaudível embora.

À espera de navio. 
O velho Porto continua sendo envolvido de sacrossanto misticismo ou mistério, pela prosperidade que assegurou à região, no tempo em que navios como o Lóid, aportavam ali. Tempo em que sua chegada levava toda uma comitiva de gente bem vestida à espera.

Ao lado disto, quem não sente ternura pela lembrança daquele mercado onde havia algumas vendas, açougue e malandragem, onde se bebia muita “pinga”, conversava-se alto e se dizia... cada palavrão!

A sua frente, eternizava-se o Menino com lata d’água na cabeça, o chafariz, cuja generosidade era devida às seis fontes de água nascidas lá na Biquinha.

Mas há quem prefira do Porto, a lembrança de uma constelação de mulheres prostituídas às quais se deve agradecer a ainda que precária, conservação dos casarões. É o que acham. Depois que elas espontaneamente ou constrangidas se foram, os casarões tombaram e veio o Patrimônio Histórico e Artístico Nacional que o restante tombou, isto é, declarou o conjunto como sendo: patrimônio cultural.

O mercado.
Sou capaz de dizer nome por nome dos comerciantes que tinham lojas diversas no andar térreo dos casarões, viro a esquina e encontro o Banco Agrícola do Espírito Santo, onde tio Othovarino trabalhava para um outro banco, era um agente.

A casa da esquina seguinte, ora, era a venda do tio Zé Daher, no cruzamento das Ladeiras de São Mateus, mais íngreme e que na extensão, passava a se chamar Rua Sete, com a ladeira de São Benedito, mais extensa e mais transitada, de onde se contemplava o serpentear do rio e onde cegos – dos piores porque não quiseram ver – permitiram construções e nunca mais uma criança desceu por ali fazendo a descida de escorregador, sentado numa folha de coqueiro.

Gente de posses morava no Porto, havendo quem de tal forma teria pressionado um Prefeito da época que o mesmo cometeu o crime do qual ficaria sem perdão por todas as gerações. Por ouvirem falar das palmeiras imperiais que margeavam o cais e da beleza que tinham e que foram cortadas, sentem de tal forma a prepotência daquela lembrança e se indignam que ainda visualizam os grandes troncos que jogados no rio para serem levados pela correnteza, resistiam em se apartar do solo onde haviam crescido.

No porto, uma garotada traquinas encontrava o lugar dos banhos de rio. Deliciava-se com saltos incríveis do trampolim do trapiche de S. Ermelindo. Infelizmente, dessas oportunidades há registro de quem não voltou. Terá sentido câimbra ouvia-se dizer e o fato é que “no verde dos anos” se foram dessa vida.

O Porto foi berço da cidade de São Mateus, os primeiros palpitares da vida mateense aconteceram no Porto. A palavra é dura, mas é verdadeira, foi quando se deu a decadência portuária que as famílias foram subindo e acabou que “lá em baixo” só ficou, quem não tinha outra opção.

A certa altura, tudo despencava. Foi conseguida uma verba federal para proceder à revitalização do Porto. Alguma coisa foi feita, mas de tudo que o Porto foi, agora é apenas um lugar que luta em busca de recuperação não se diga de todo apogeu de um tempo, mas ao menos, relativamente.

Vez ou outra, os tambores de congo ainda se ouvem por lá, um artista sonhador daqui e dali refugia-se nas lembranças e onde encontra um espaço, abriga-se, como pode. Sente como que obrigação de cantar loas aos casarões, num faz de conta que tudo ainda é igual como fora antes.

Visitantes que descem a ladeira, continuam se deslumbrando, afinal de contas, por ali, um rio de águas mansas continua passando rumo ao mar, não sem dar uma certa impressão de que vez ou outra,  talvez para se juntar ao contingente das águas que caminham atrás, como que volta.

Há quem por alguma mágoa desvinculou-se do velho Porto. Sem desvalorizar suas realidades, mas também sem ver razão para “mover uma única palha” que seja, pró recuperação ou para lhe assegurar atualidade.

Se emparelhado, você caminhar com o rio, chegará no Vale do Cricaré, de uma vegetação de verde verdíssimo, beleza de se ver. Por ai, vai ficar mais longe, mas se continuar caminhando, chegará à Barra Nova, onde o rio se entrega ao mar.

Eis, são argumentos num intervalo de tempo, digamos de sessenta minutos. Pinceladas entre encantos que não só geram, mas se fazem a própria poesia.
Entendo quem em São Mateus, quer sempre colocar algo que diga respeito à cultura no velho Porto, em uma das casas que existem ou que ainda possam ser reerguidas, mas, permitam-me que diga ou sugira: quer fazer faça, mas não se esqueça que os tempos passaram e mudaram tudo.

Um teatro, por exemplo? Então antes, torne o lugar mais atraente e mais frequentado, não só por quem quer ver, mas por muitos que caminhem pra cá e para lá, que se mexem, que circulam por um objetivo, que trabalham, produzem, vivem e convivem.

Mais gente, mais infraestrutura, saúde e educação. Teatro é representação do dia a dia, sem dia a dia, como ter teatro? Representar o quê,  por que questionar.

Um teatro novinho, no meio de quase tudo velho no entorno, acabará  por não ser usado e se terá feito um gasto inútil, só porque se deu ouvido apenas à voz do coração.

Marlusse Pestana Daher
Vitória, 12 de dezembro de 2013

22:55