terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A SÃO JOSÉ DO CALÇADO

Bárbara Pérez
“Poesia á São José do Calçado”
Resta uma linda tarde de maio...
Em que é o dia de exaltação á ti,
Eu quase desmaio - é maio!
Mês das flores, das mães, dos casamentos!
E não te desarmo, e não te desmancho,
Ouço entre as montanhas o som do mar...
O sol nas flores da Praça Pedro Vieira;
O perfume e o barulho das crianças comendo pipocas...
- Será que eu poderia te propor um renascer na historia?
Com São José no sangue,
Com São José no coração,
No frio, na chuva fininha sorrateira,
Sobre os cerrados dos pontões.
Nas montanhas, nas flores... Na simpatia!
Ah! Na paixão, Ou - no cobertor de orelhas.
Com São José no pulso, a pulsar eternamente...
Ternamente, amorosamente...
Com São José no peito
Ouvindo o sino da matriz com sua cor original
De cinza esplendoroso!
Badalando... Badalando,
Ouvindo no setembro:
Os sons dos velhos carros de bois,
Os chiados das rodas apertadas
Empreitada do senhor José Benedito!
Ouvindo no maio - As aves Maria das procissões...
Entoando uma prece ao “Patrono São José”
Com são José nas lembranças.
Poesia esparsa... Contempla as rosas;
Vislumbrando “Montanha Clube” dos velhos carnavais,
Dos badalados bailes dos anos 70,
Que ainda parece-nos tão presente, 
Ouvimos pelas noites calorosas a felicidade estonteante
Das moças e rapazes, naturalidade de coisas que, de tão boas:
São perpetuadas em nossas mentes.
Vejo as chuvas de junho caindo mansas como preces,
Elas não apagam a memória das estórias...
“Do cine São Jose”, hoje tão mais triste e vago:
Aconchego de materiais públicos.
Mas tudo resiste ao tempo, como as raízes,
Como a esperança do seu povo hospitaleiro.
Oh! Meu São José!
Das árvores centenárias 
E o verde que sabe ir, vir e esperar em pose majestosa.
Renovando... Revivendo
A verde alma da cidade. 
E a mocidade bonita há de ser mais forte e esperançosa,
Possui a solidariedade, a vivacidade das flores e calor das montanhas...
Dos meus versos dedicados a "esta paixão" que se tivesse poder de cura: 
Daria vitalidade aos antigos casarões,
Na memória que se perde e, aos que fizeram a historia em plenitude de vida...
Estes meus versos que se tivesse poder de cura daria vida a tantos que,
Prematuramente fizeram a passagem em pleno auge de vida, 
Homens cheios de projetos valiosos a serem realizados aqui 
- na linda São José do Calçado!
Cidade pintada de cor e de vida!
Cidade das montanhas e das flores
Situada onde não mora ninguém tão especial e saudoso, bem aqui:
Dentro deste coração cheio de esperança e poesia.
 
 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

6 DE MARÇO - PRIMEIRA EDIÇÃO DO ANO DE 2014 QUINTACULT

A QUINTA CULT DE MARÇO VAI HOMENAGEAR O POETA MANUEL BANDEIRA, OS ESCRITORES TEODORICO BOA MORTE E MATUSALÉM DIAS DE MOURA E O MÚSICO JAILTON FRANCISCO

         Com uma programação bastante variada, com apresentação musical, declamação de poesias e exibição de vídeo sobre o Congo da Serra, bem como homenagens aos poetas Manuel Bandeira, Escritores Teodorico Boa Morte e Matusalém Dias de Moura e homenagem ao músico Jailton Francisco será realizada no próximo dia 6 de março a primeira edição de 2014 da Quinta Cult, evento cultural da Academia de Letras e Artes da Serra, ALEAS e do Clube dos Poetas Trovadores Capixabas, CTC, tendo como objetivo estimular o aprimoramento da produção literária e  valorizar a produção cultural do Espírito Santo. “Nosso objetivo é fazer com que as pessoas aprendam e possam se divertir ao mesmo tempo, por isso as atividades da programação conciliam o lúdico com o pedagógico, com muita música, poesia e prosa”, explica o escritor capixaba Clério José Borges, um dos idealizadores e fundador da Quinta Cult. Clério esclarece ainda que o evento é totalmente gratuito e aberto a participação popular e será realizado na Praça de Alimentação do Shopping Mont Serrat, no bairro de Colina de Laranjeiras, Serra, ES.
        Nesta primeira edição de 2014 será agraciado com a comenda Mestre Álvaro, além do músico Jailton Francisco que realiza um trabalho social ministrando aulas de violão no Centro Comunitário de Parque Residencial Laranjeiras, o escritor Teodorico Boa Morte, que é também poeta, compositor e folclorista e membro da Academia de Artes e Letras da Serra, onde ocupa a cadeira de número 15, cujo patrono é Manoel Cardoso Castello. Teodorico é músico fundador da Banda de Música Estrela dos Artistas e publicou diversos livros, entre os quais, "Insurreição do Queimado" em poesia - 2 edições 1999/2000 e Borbulhar de Cantares, obra editada em 2010, com recursos oriundo da Lei Chico Prego, de Incentivo a Cultura da Serra. Também será homenageado o Acadêmico Matusalém Dias de Moura, da Academia Espírito Santense de Letras e Correspondente da ALEAS. Iniciando a programação haverá uma performance do DJ Sávio Andrade, bem como do cantor convidado  Pedro Monteiro, conhecido como o Emílio de Nova Almeida e a exibição do Vídeo "No ritmo do Congo", de Suzi Nunes.

        A Quinta Cult de 2014 será realizada todas as quintas feiras de cada mês, no período de março a Julho, com eventos a serem realizados além do Shopping Mont Serrat, em Nova Almeida no Restaurante Arte do Churrasco e Ninho da Roxinha e no Restaurante "Muqueca Cultural", em Barcelona. Além de Clério José Borges também coordenam a Quinta Cult os também escritores Marcos Arrébola, Levi Basílio, Albércio Nunes, Edilson Celestino Ferreira, Paulo Negreiros, Teodorico Boa Morte e a Cineasta Suzi Nunes. O evento tem o apoio do Conselho Municipal de Cultura da Serra e da Secretaria Municipal de Turismo Cultura e Esporte e Lazer da Prefeitura Municipal da Serra; Loja BISS, de Porto Canoa, Serra, ES e dos Jornais Tempo Novo e Jornal da Serra. Patrocínio do DJ Sávio Andrade, da Cantora Angela Assis e Apoio Integral do Shopping Mont Serrat.

 PROGRAMAÇÃO

19 horas - Abertura com performance especial do DJ Sávio Andrade.

19h10m - Exibição do Vídeo "No Ritmo do Congo" da cineasta Suzi Nunes

19h30m - Show do Cantor Teodorico Boa Morte.

20,00 - Homenagem ao Escritor do Mês, Manuel Bandeira. Leitura de Biografia e Poemas, com coordenação dos Escritores Gabriel Bittencourt e Marcos Arrébola.

20h15m - Homenagem Especial:  Comenda Mestre Álvaro será entregue ao Músico do mês, Jailton Francisco e aos Escritores do Mês, Teodorico Boa Monte e Matusalém Dias de Moura.

20h40m - Show do Cantor Convidado, Pedro Monteiro, conhecido como o Emílio, de Nova Almeida.
21,00 - Rodada de Poesias. Declamação de Poesias pelos Poetas da Academia de Letras e Artes da Serra e do Clube dos Poetas Trovadores Capixabas, CTC, Clério José Borges que declamará o seu poema SERRA. Também farão leitura de Poesias, os Escritores da Academia de Letras e Artes da Serra, ALEAS e do Clube dos Trovadores Capixabas, CTC, Marcos Arrébola, Levi Basílio, Albércio Nunes, Maria Immaculada, Dinair Surdine, Edilson Celestino e Paulo Negreiros.

21h20m - Performance do DJ Sávio Andrade.
21h30m - Encerramento 

MANUEL BANDEIRA

Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu no Recife no dia 19 de abril de 1886, na Rua da Ventura, atual Joaquim Nabuco, filho de Manuel Carneiro de Souza Bandeira e Francelina Ribeiro de Souza Bandeira.

 Em 1916 falece sua mãe, Francelina. No ano seguinte publica seu primeiro livro: A cinza das horas, numa edição de 200 exemplares custeada pelo autor. João Ribeiro escreve um artigo elogioso sobre o livro. Por causa de um hiato num verso do poeta mineiro Mário Mendes Campos, Manuel Bandeira desenvolve com o crítico Machado Sobrinho uma polêmica nas páginas do Correio de Minas, de Juiz de Fora.

Em 1924 publica, às suas expensas, Poesias, que reúne A Cinza das Horas, Carnaval e um novo livro, O Ritmo Dissoluto. Colabora no "Mês Modernista", série de trabalhos de modernistas publicado pelo jornal A Noite, em 1925. Escreve crítica musical para a revista A Idéia Ilustrada. Escreve também sobre música para Ariel, de São Paulo.

 Em 1940 é eleito para a Academia Brasileira de Letras, na vaga de Luís Guimarães Filho. Toma posse em 30 de novembro, sendo saudado por Ribeiro Couto. Publica Poesias Completas, com a inclusão da Lira dos Cinqüent'Anos (também esta edição foi custeada pelo autor). Publica ainda Noções de História das Literaturas e, em separata da Revista do Brasil, A Autoria das Cartas Chilenas.

 Em 1948 são reeditados três de seus livros: Poesias Completas, com acréscimo de Belo Belo; Poesias Escolhidas e Poemas Traduzidos. Publica Mafuá do Malungo (impresso em Barcelona por João Cabral de Melo Neto) e organiza uma edição crítica das Rimas de João Albano. No ano seguinte publica Literatura Hispano-Americana e traduz O Auto Sacramental do Divino Narciso de Sóror Juana Inés de la Cruz.

 Comemora 80 anos, em 1966, recebendo muitas homenagens. A Editora José Olympio realiza em sua sede uma festa de que participam mais de mil pessoas e lança os volumes Estrela da Vida Inteira (poesias completas e traduções de poesia) e Andorinha (seleção de textos em prosa, organizada por Carlos Drummond de Andrade). Compra uma casa em Teresópolis, a única de sua propriedade ao longo de toda sua vida.

 Com problemas de saúde, Manuel Bandeira deixa seu apartamento da Avenida Beira-Mar e se transfere para o apartamento da Rua Aires Saldanha, em Copacabana, de Maria de Lourdes Heitor de Souza, sua companheira dos últimos anos.

 No dia 13 de outubro de 1968, às 12 horas e 50 minutos, morre o poeta Manuel Bandeira, no Hospital Samaritano, em Botafogo, sendo sepultado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista.

Teodorico Boa Morte nasceu no município de Aracruz, no Estado do Espírito Santo, em 28/06/1950, filho de pais lavradores. Sua família residiu posteriormente em Linhares e depois na Serra, também municípios do Espírito Santo. Poeta, compositor e folclorista. Membro da Academia de Artes e Letras da Serra, onde ocupa a cadeira n.15, cujo patrono é Manoel Cardoso Castello. Músico fundador da Banda de Música Estrela dos Artistas. Membro do Conselho Cultura da Serra. Participação no Teatro Insurreição do Queimado - 1986. Participação na coletânea do livro "Poetas Brasileiros", de 1986, com a poesia Fatalidade. Compositor do samba-enredo "Serra de Cabral a Vidigal", representando a Escola Rosas de Ouro, Carnaval de 2000. Participação em Festivais Estaduais de Músicas, na década de 1980. Participação no XIV Seminário Nacional de Trovas, representando o Clube dos Trovadores Capixabas, em Linhares - 1994. Participação no XIV Seminário de Neotrovadorismo - 1994. Publicou: "Insurreição do Queimado" em poesia - 2 edições 1999/2000 - lançado nos 150 anos de aniversário da Insurreição do Quemado, Distrito da Serra, Espírito Santo - Brasil

Matusalém Dias de Moura nasceu no Córrego dos Coelhos, zona rural de Urupi, município de Iúna, no Estado do Espírito Santo, em 05/06/1959 onde passou a sua infância, Em Urupi cursou o primeiro grau na Escola Bernardo Horta e logo após o falecimento de seu pai, transferiu-se juntamente com sua mãe e irmãos para Iuna, onde continuou os estudos e começou a trabalhar. Cursou Contabilidade nas Escolas de Comércio Pedro José de Souza (1o ano) e Escola Henrique Coutinho ( anos restantes). Formou-se em Direito, em 1989, pela Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim. Enquanto publica suas poesias e crônicas nos jornais do Estado, exerce intensamente a sua profissão de advogado, passando pelas funções de Assessor Jurídico das prefeituras municipais de Ibatiba-ES, Lajinha-MG. Além de ter sido vereador, líder da oposição e presidente da Câmara Municipal de Iuna, depois de uma viagem pela Alemanha, exerceu ainda as funções de Secretário Particular do Presidente da Assembléia Legislativa do Espírito Santo e de Escrivão Judiciário (designado) da 4a. Vara Criminal de Cariacica-ES .

 Obras: "Menino de Cachoeirinha" – (Prefácio de Luiz Sérgio Guaro), Vitória, 1993 "Varal Partido" – (Prefácio de Marien Calixte), Vitória, 1998 Vento rasteiro - haikais, 1999 "O silêncio dos sinos" - Vitória - Ed. do Autor, 2000 - Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Participou das Antologias Escritos entre dois séculos, 2000 e Alguns de nós, 2001. É cronista do Jornal A Notícia, de Iuna, município do Espírito Santo. Fonte : Antologia A Poesia Espírito-santense no século XX, organização, introdução e notas de Assis Brasil – 1998

È Acadêmico Correspondente da ALEAS - Academia de Letras e Artes da Serra.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

PATRONA DA CADEIRA 11 AMALETRAS

Quando morre uma pessoa, para onde vai tudo que ela sabe? Esta frase ouvida de um personagem de novela, cujo título não me lembro, propicia-me refletir, quando é o caso, como o caso é, o da morte de Beatriz.

Quando a chamava não só Beatriz, mas Beatriz Abaurre, ela ria divertida, porque o nome de família, por positiva gozação, eu o pronunciava bem cheio e mais compassadamente. Na escrita, não dá para traduzir, só imaginar. Ria sempre, aquele riso que a caracterizava, sorriso bem largo, igualmente divertido, cujo ressoar ainda repercutirá  por muito tempo aos meus ouvidos.
Com a familia no dia do lançamento
de sua biografia
Obstinada, esguia, inteligente, destacou-se sempre, não só pela projeção social alcançada, mas pelos dotes musicais e artísticos dos quais era dotada; quando por mais de uma vez presidiu o “Conselho Estadual de Cultura”, função que levou às últimas consequências, lutando por manter íntegro o entorno do “Penedo” na Baia de Vitória e dos diversos monumentos tombados em todo o Estado. Foi nesse tempo que nos aproximamos, visto que eu dirigia o Centro de Apoio do Ministério Público que trata do ambiente natural, do patrimônio histórico e artístico. Lá, chegou a passar longas horas de diversas tardes, trocando ideia e valendo-se do mesmo apoio que lhe podia dar, nas lutas que abraçava.

A perda do único filho varão causou-lhe aquele baque terrível que provam todas as mães, em igual circunstância, até pela forma trágica com que aconteceu. Mas se afirma que foi exatamente tal tempo de dor a despertar nela, a excelente escritora e poetisa que se revelou e que desde então não parou de produzir.

Com Wanda Alckmin e sua biógrafa,
Maria do Carmo Schneider
Falava sempre com orgulho das três filhas, Marta, Heloisa e Patrícia. Bem custodiada pelo marido, embora não se caracterizasse como aquele tipo de mulher que carece de tanto, antes, era muito bem senhora de si, independente no intelecto e até financeiramente.

Ao lado dela, ingressei na Academia Feminina Espírito-santense de Letras. Desde então, nosso convívio foi muito próximo, ao ponto de me sentir particularmente distinguida com particular afeto seu. Antes, na sua plena forma, depois, quando foi sucumbindo aos poucos, o que ela mesma contava. O longo período, que a manteve sob tenso cuidado médico, impediu-me de vê-la o que não aconteceu sem sentido lamento da minha parte. Tivemos apenas uma conversa ao telefone. Agora, se é possível saber, ela bem o sabe que não foi porque não quis.

Permanece lá bem no alto, no alto da Ladeira “Sagrado Coração de Maria”, um apartamento, mirante de esplêndida paisagem, na qual se incluem, as barcas ancoradas no Iate, a ponte e a Ilha do Frade, a Ilha do Boi, a Terceira ponte, o contorno do canal com seus edifícios de apartamentos, a Curva da Jurema, todos, agora privados de um olhar cotidiano que lhes era projetado em êxtase, mas que também enchiam de beleza a alma de Beatriz. Naquela mesma morada, um piano na sala se calou, a viola não saiu mais do seu estojo, debruçada sobre aquela mesa, não se vê mais aquela mulher inteligente que disparava versos e escrevia contos e crônicas, estruturava e editava livros, depois publicava.

Não se disque mais aquele número de telefone que emudeceu, não se conte mais com o concurso daquela personalidade bem dotada, capaz de fazer tanta coisa acontecer, não a chamemos mais pelo nome, não virá nenhuma resposta, mas seu legado grande e valioso nunca deixará de ser subsídio, de modo que tudo o que sabia permanece à disposição de quantos precisarem e dele se quiserem valer.

É assim, tudo tem seu tempo, as pessoas também. À sua hora, cada pessoa é a única capaz de dizer, já vou, sejam quais forem as circunstâncias, o fato que a determinou.

Elza Souza Lima será titular da Cadeira 11 AMALETRAS
que tem como Patrona Beatriz Abaurre


Crônica de Marlusse Pestana Daher

PATRONA DA CADEIRA 12 AMALETRAS

Doralice de Oliveira Neves

Hoje, 26 de janeiro de 2011, faz trinta e um anos do falecimento de minha avó, Doralice de Oliveira Neves. Constato, com alegria, que o site “Morro do Moreno”, administrado por Walter Aguiar Filho, da Casa da Memória de Vila Velha e da nossa Academia de Letras Humberto de Campos, publicou alguns escritos de autoria dela. O que é uma bela divulgação, porque desde aqui de Vila Velha o site http://www.morrodomoreno.com.br/ presta excelente serviço na divulgação das coisas e tradições locais.

A propósito de minha avó, escrevi sobre ela dois textos: um publicado na Revista da Academia Espírito-santense de Letras, edição de 2006, (“Doralice de Oliveira Neves, literata, educadora”); o outro ("As Lendas Capixabas de Doralice de Oliveira Neves"), publicado no meu Estudos de Cultura Espírito-santense, de 2005 - livro este que, aliás, dediquei a ela e que vem a ser a fonte do Walter. Neste último texto, após um estudo que tem intenções de crítica literária, reproduzi alguns de seus escritos que tenho em meu poder. Estes mesmos que agora estão sendo divulgados.

Minha avó, nascida em Cambuci (São Fidélis), no Rio de Janeiro, em 1900. Professora formada, veio mocinha para o Espírito Santo onde, em Santa Leopoldina, na casa de seu irmão Sebastião de Oliveira, coletor federal, conheceu meu avô Getúlio Neves. Casaram-se, tiveram filhos, enviuvou depois de dezoito anos de matrimônio (meu pai tinha então de sete para oito anos de idade), e aqui mesmo veio a falecer, em Vitória, em 26 de janeiro de 1980. Nesse meio tempo uma curta passagem por Belo Horizonte/MG, para onde se mudara o filho mais velho logo após o casamento.

Foi educadora e foi literata. Ajudou a organizar a Academia Feminina Espírito-santense de Letras, que por diversas vezes reuniu-se em sua casa. Quando da reorganização do grêmio, em 1992, foi homenageada com sua indicação para patrona da cadeira n.º 10, hoje ocupada pela Acadêmica Jô Drumond, minha confreira na Academia Espírito-santense de Letras.

Deixou muita coisa escrita, pouco publicou – só textos em jornais locais. Quando tomei contato com alguns de seus escritos, que me vieram ter às mãos, dediquei-lhe o primeiro texto que publiquei na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, no n.º 54, de 2000, chamado “Tentação e Virtude: os costumes da terra nas palavras dos primeiros Jesuítas”. Na dedicatória, à guisa de epígrafe, registrei: “À minha avó Doralice de Oliveira Neves, cujas ‘Lendas Capixabas’, infelizmente inéditas, referem-se também a padres e índias. No ano do centenário de seu nascimento, e dos vinte anos de sua morte”.

Essas lendas e mitos, como disse, teci-lhes um bosquejo de intenção crítico-literária naquele “Lendas Capixabas de Doralice de Oliveira Neves”. Constatei que a autora lançava mão delas como instrumento para instrução de jovens (expediente que usava comigo também); constatei se tratar, essas lendas e mitos, de estilo literário de uso raro por aqui. Referi seu interesse pelo protagonismo feminino e esmiucei o caráter psicológico das suas personagens, sempre vergadas pelo fardo pesado da existência, metamorfoseadas pela paixão, por sucumbir a um amor proibido. É o caso, por exemplo, das passagens referentes à “Primeira Mãe Capixaba”, ao “Urutau”, ao “Frade e a Freira” - esta última de domínio público. Até sobre recursos de estilo de que a autora lança mão para compor suas histórias comento naquele texto:

“A orientação mítica que Doralice imprime a seus textos é externada não só pela citação de entes a que empresta um caráter sobrenatural – Céu, Divina Morada, Mosteiro – que substantiva; Senhora do Céu, Virgem da Terra da Cruz, Gênio Criador, mas também pela atribuição de um caráter absoluto a emoções e sentimentos, tais como o amor e o ciúme que, por isto mesmo, grafa em seus textos com maiúsculas, numa verdadeira alusão a recursos do Simbolismo. Na verdade, tais emoções e sentimentos os faz quase como se não fossem forças psíquicas, atuando de maneira determinística na condução do destino de suas personagens que, nos exemplos estudados, estão sempre vergadas sob o fardo pesado da existência. Quase como o titanismo atemporal de um Miguel Torga, que não deixa de lançar mão de um moralismo medievalesco na construção narrativa do destino de suas personagens.”

Mas todos esses comentários podem ser consultados, de forma aprofundada, nos textos a que me referi acima, que aqui não é o que pretendo desenvolver. Um dos fatos de que me orgulho com relação a ela é que minha avó era uma educadora nata, coisa que vai ficando rara hoje em dia, e toda sua vida foi devotada a essa tarefa. À educação como ocupação, à criação e ao encaminhamento dos filhos como missão - empreendimento este que, pela morte de meu avô, coube a ela sozinha.

Gostava muito quando vínhamos de Colatina, onde eu morava na época, à sua casa em Vitória. A de que me lembro era na Ilha de Santa Maria. Era uma casa de vários cômodos, com direito a mangueira no quintal, e que dava fundos para um modesto curso d’água. Ali eu tentava pescar escondido, no que era sempre impedido pelos mais velhos, ao argumento – corretíssimo - de poluição das águas (a CESAN ainda não cuidava fazer de Vitória, à custa do trânsito, a primeira capital com 100% de esgoto tratado). Gostava também de ir desde a casa dela, margeando o mesmo curso d’água, ladeando moitas de mato, até a casa de meu tio Sylvio, atrás do Colégio Salesiano. Como as coisas eram longe então...

Na casa de minha avó havia livros, que eu, criança, gostava de folhear. E quando ela estava por perto, sempre com explicações a respeito de tudo, de um jeito que tornava atraentes os fatos. Lembram-me, também, as conversas que tínhamos nas tardes então calmas na varanda de nossa casa em Guarapari. Ali trocávamos idéias sobre história, sobre mitologia, sobre literatura infanto-juvenil, que era o que eu conhecia na época. Acho que foi assim que travei o primeiro contato com o padre Anchieta, com o frei Pedro Palácios, com as festas religiosas e populares daqui, com os piratas na baía de Vitória, com os tesouros do subterrâneo do colégio dos jesuítas, até com alguns rudimentos do dialeto pomerano, de que ela se lembrava ainda, de suas aulas nas escolas do interior.

Crianças, tínhamos queixas dela sim, e ela de nós. De fato não gostávamos que ela comesse só as puãs dos caranguejos, deixando as pernas para nós - o que meu pai, de forma irritante, relevava; não gostávamos que ela, jogando buraco, escondesse cartas debaixo da almofada da cadeira para dizer que tinha batido. Eu até que deixava para lá, mas minha irmã, que era mais nova, roubava dela também...

Minha avó é hoje em dia nome de rua, no Bairro Maria Ortiz, em Vitória. A cidade em que viveu quase toda a vida e em que veio a falecer, faz trinta e um anos, a homenageou há tempos, dando seu nome a um logradouro público. Registro aqui o CEP da rua, para quem eventualmente querendo passar por lá possa se localizar: 29070-690.

Deixo, também, os links para o site Morro do Moreno, que foi o pretexto inicial para todas essas lembranças. Com um agradecimento ao amigo Walter Aguiar Filho e a certeza de que um pouco de beleza, de leveza e de encantamento, como minha avó sabia passar com as histórias que contava, tudo isso nunca é demais. 

Pelo neto Acadêmico Getúlio Pereira Neves, da Academia Espirito-santense
 de Letras, Presidente  do IHGES

Na cadeira 12, tomará posse a Advogada e escritora, Tânia Mara Silva Neves, neta da homenageada. 

domingo, 16 de fevereiro de 2014

PATRONO DA CADEIRA 13

Marcos N Cysne


Caderira 13 AMALETRAS, MARCOS NICODEMUS CYSNE 
 

Hermógenes Fonseca, cidadão universal


e Denise Machado, a guardiã da imagem de seu ex-companheiro
São Binidito falô pra nóis prestá atenção.
Nóis pobre só tem valô quando rico tem precisão.
Nóis já prestemo atenção no que são Binidito falô
Só quando rico tem precisão é que nóis pobre tem valô.

Versos do Ticumbi, Conceição da Barra, 1978.

João Guimarães Rosa dizia que “uma pessoa não morre, fica encantada”.
Hernógenes Fonseca
Guimarães Rosa era pessoa iluminada que criava a imagem existente. Qualquer criança, aliás, até os adultos compreendem essa sua constatação. Ma nem ele esclareceu como é que fica uma criatura que já nasce “encantada”. Talvez porque sejam tão poucas as que nascem especiais. Mas acontece. Não fosse assim o mundo não seria nem possível. São essas fontes de luz que fornecem a energia para a volta do mundo, das penas e dores de nós outros, pobres mortais necessitados de beber do alimento servido por esses sábios, sempre e eternamente para não secarmos sob o sol do deserto da ignorância. E uma dessas translúcidas almas humanas era o Seu Armojo.

Armojo, nascido Hermógenes Lima Fonseca, caboclo resistente, amava, sobretudo, o prazer da vida e de transitar suave e íntegro pelas belezas que ele via inteiras, na essência das manifestações dos homens e da natureza. Ele próprio um elemento anelado no encadeamento de suas descobertas e na alegria radiante de desfrutar com todas as revelações do seu conhecimento. Pródigo em expandir amizades, não criava limites ou fronteiras e vibrava com a conversa pura da mesma forma como se emocionava com o movimento do vento balançando as folhas das árvores e o perfume de apetite das fumaças evaporadas das panelas de barro ungidas pelo descoberto Sargento, mestre na feijoada gorda e de todos os quitutes da magia do sítio Pixingolê, panelas que deslumbravam, também, pela multiplicação de suas dádivas, porque nunca ficavam vazias, mesmo quando a multidão de chegantes ultrapassava todas as expectativas. Hermógenes não era especialista em nada, ele era tudo. Universal, em seus movimentos desabrochava a cultura. Não andava com uma lanterna na mão, era ele a própria lanterna, independente e viva, a realçar e apresentar a alegria sem culpa de estar vivo.

Nunca ouvi Hermógenes fazer qualquer comentário sobre Epicuro, o filósofo grego nascido em Samos ou Atenas, 341 a. C., mas, certamente, ambos fizeram a mesma descoberta e Mestre Armojo andava carregado de filosofia de vida, pleno da idéia de felicidade e do prazer pelo simples reconhecimento de estar vivo e em comunhão com tudo o mais. Ele, de certa forma, tentou e conseguiu criar entre nós o “Jardim de Epicuro”, uma confraria que em Atenas de 306 a. C. reúne, revolucionariamente – além de homens -, mulheres, escravos e estrangeiros que difundem em livros, panfletos e cartas, as concepções de que a vida pode e deve ser vivida em alegria e felicidade mesmo que os problemas sejam mentalmente e fisicamente duros e difíceis. Através da luta de Armojo, a “Vila dos Confins”, um sítio por ele concebido para ser erigido na periferia de Vitória, de preferência na chapada do contorno, próximo ao aeroporto, contendo sínteses das principais edificações das vilas, lugarejos e seus equipamentos, como a moenda, a roda d’água, os quitungos, etc., ficou marcada indelevelmente em nossas mentes e corações, De muitos já ouvi referências a ela como se sua concretude fosse mais que uma vontade mas um fato passível, até mesmo, de ser comprovado pela fotografia e filmagem. Eis que sua necessidade, como ele previa, é mais forte que sua inexistência.

Hermógenes pugnou incansavelmente para, pelo seu próprio exemplo, difundir uma saudável crítica ética que buscava discernir entre o verdadeiro e o falso, buscando sedimentos eficazes para que pudéssemos compreender a sua máxima de que a vida pode ser vivida com paz e alegria. Essa era, no fundo, a sua revelação do mundo. Como diria Epicuro, 300 anos antes de Cristo, e Hermógenes, hoje e em qualquer data, “a sensação deve servir-nos para proceder, raciocinando, à indução de verdade que não são acessíveis aos sentidos”. Hermógenes Lima Fonseca nasceu em Conceição da Barra e se apaixonou pelo mundo. Cidadão íntegro, a luta pela justiça social o conduziu à política partidária e, em Vitória, onde já residia desde os nove anos, realizou um feito jamais alcançado por qualquer outro político; filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), se candidatou à Câmara Municipal e, num eleitorado de 17 mil votantes, se elegeu com 6 mil votos, o que seria, hoje, mais do que o obtido pelos deputados federais mais votados. Mas esse feito memorável não o impressionou, indiferente ao poder, que não cultuava, muito pelo contrário, logo, logo se entregou com mais vigor nas lides culturais que ele entendia ser a base da formação dos homens e o caminho para a ampliação de suas satisfações. E aí, mais uma vez, sua estrela o acompanhou. Foi incansável e brilhante. Seus trabalhos correram mundo, Seu nome é legenda. Nada o perturbou. Seguiu vivendo na esteira das alegrias que plantava. Pesquisar o folclore, viajar pelas trilhas da cultura popular é tarefa para sábios. 

Os agentes dessas manifestações têm a prudência de não ir entregando seus conhecimentos a qualquer um que chega buscando suas luzes. É preciso ser transparente e puro para aliviar as resistências e perceber as sutilezas das primeiras notícias. Andar com Armojo pelos ermos das roças era um prazer indescritível. Parando nos botecos de madeira com balcão oferecendo um ou dois tipos de biscoitos em dois dedos de prosa mais do que todos os pesquisadores e antropólogos que tinham visitado aquele vilarejo ou cercania da fazenda até aquele dia. E assim ele ia se completando de energia bruta e lapidava tudo com os doces relatos de suas histórias. Armojo, que nasceu encantado, sempre morou na estrela-mãe que o recebe agora para todo o sempre, para que possamos recordá-lo com alegria que ele soube aflorar e nos oferecer com o coração aberto e a mente sempre ativa e lúcida dos sábios que justificam a existência do mundo humano. Obrigado e até breve, amigo.


Por: Orlando Bonfim Netto
Livro: Escritos de Vitória. 15 – Personalidades de Vitória, 1996
Compilação: Walter de Aguiar Filho, março/2012 

sábado, 15 de fevereiro de 2014

AMALETRAS - PATRONOS, ACADÊMICOS E CORRESPONDENTES


Academia Mateense de Letras


Fundada em 16 de fevereiro de 2001


A C A D Ê M I C O S


Cadeira           Patrono(a)                                        OCUPANTE    
01                    Machado de Assis                             Antônio Eduardo Barbosa

02                    Monteiro Lobato                              Eliezer Ortolani Nardoto


03                    Graciano Neves                                Eduardo Durão Cunha (1° ocupante)
                                                                                  Luiz Costa (2° ocupante)


04                    Elza Cunha                                        Herinea Lima de Oliveira (1ª ocupante)
                                                                                  Iluzinilda Neves Martins (2ª ocupante)
05                    Mesquita Neto                                 Roberto de Souza Lé            (1° ocupante)


                                                                                  Eliane Auer                (2° ocupante)


06                    Cora Coralina                                    Marlusse Pestana Daher


07                    Clarice Lispector                               Sebastião Pereira


08                    Bartolomeu Campos Queirós          Beatriz Barbosa Pirola


09                    Antônio Castro Alves                                   Jonas Bonomo




Tomarão posse no dia 22 de fevereiro 2014


10                    Rodolfo Coelho Cavalcante             César Domiciano                  


11                    M. Beatriz de F. Abarurre                Elza Souza Lima


12                Doralice Oliveira Neves                       Tânia Mara  Silva Neves

13                Hermoenes Fonseca                            Marcos Nicodemus Cysne




Com posse adiada.


14               Edith Rios Pessaha                              Maria Nazareth Tunholi


C O R R E S P O N D E N T E S


01                    Jorge Amado                                     Nágila Moraes Rabelo


02                    Herinea  L. Oliveira                           Adriana Pin


03                    Henriqueta  Lisboa                           Gilsea Rosa de Souza                       


04                   João Felicio dos Santos                    Isabela Basílio de Souza Zon


05                    M Antonietta Tatagiba                    M. Dolores de Rezende


06                    Rachel de Queiroz                            Bárbara Pérez           


07                   Virginia Tamanini                             Laury Esteves Barbosa Almeira


O8                   Chiquinha Gonzaga                          Wanda Alckmin


09                    Vaga


10                    Francisco Antunes de Siqueira        Andra Mara Valladares


11                    Afonso Cláudio                                 Clério José Borges


12                    Rubem Braga                                    André Luiz Soares


13                    Cecilia  Meirelles                              Fabianni Taylor Rodrigues Costa   


14                    Nara Leão                                          Kátia Bobbio


Tomarão posse no dia 22 de fevereiro 2014


04                    João Felicio dos Santos                    Isabela Basilio  de Souza  Zon


07                    Virginia Tamanini                             Laury Esteves Barbosa Almeida


15                    Nelson Abel de Almeida                  Lea Brígida Alvarenga Rosa            


 17                    Janete Clair                                       João Andrade

 19                    Patricia Rehder Galvão                    Shila Francisco         


20                    Graciliano Ramos                             Ângela Lino de Jesus Veríssimo  

21                    Paulo Leminski                                 Vinicius de Oliveira Souza

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A MULHER QUE CATAVA FLORES



 Dona Maria Tatagiba,  virtuosa senhora  que viveu em São José 

 Seu nome era Maria Tatagiba. Usava um véu preto de renda grossa sobre os cabelos brancos esfarelados e embaraçados. Passava o dia no árduo trabalho de colher flores e catar mudas de plantas diversas no entorno da pacata cidade.
Ninguém ao certo, sabia a finalidade de tantos ramalhetes de flores e da grande quantidade de mudas diversas. Suas mãos eram ágeis para apanhar as mais belas flores em tons diversificados. Ia formando lindas braçadas de flores. Todas catadas dos jardins alheios.
Aos poucos, todos os moradores da pequena cidade percebiam que Dona Maria Tatagiba apanhava as flores coloridas e perfumadas e depositava-as bem arrumadas, em jarras com água fresca e límpida nos altares das diversas igrejas. As mudas de flores eram distribuídas para quem primeiro as elogiasse em seus braços enrugados.
Em alguns dias, certamente diferenciados, flores aveludadas, macias e cheirosas iam enfeitar alguns túmulos no cemitério local. Era rotina na vida misteriosa dessa velhinha simpática, catar nos quintais vizinhos e muros alheios as mais belas flores e suas mudas, aparentemente fresquinhas. No quintal de sua humilde casa era enorme o acúmulo de plantio de flores.
As noites eram sempre seguidas ou de muito sono ou de rezas no velho rosário de contas de madeira já envelhecidas e desgastadas pelo vasto tempo de uso. Ela imaginava-se rodeada por imenso jardim de flores!
Em toda cidade montanhosa todos se acostumaram com a velha senhora, as pessoas iam e vinham, apressadas, em suas rotinas corriqueiras, ninguém mais a observava. Assim, longos anos de vida teve Dona Maria, catando flores e mudas diversas, a enfeitar os altares das igrejas de todas as religiões, a depositar carinhosamente nos túmulos alheios flores com pingos do sereno da noite e a distribuir sorridente e feliz, as mudas catadas dos quintais da cidade entre montanhas e flores.
A vida foi passando... Décadas e mais décadas ocorreram naquele povoado feliz, hospitaleiro e rodeado de flores encantadas e montanhas azuladas entre rochas centenárias herdadas de “São José”, o padroeiro da cidade. Dona Maria viveu catando flores por mais cem anos!
As crianças alegravam-se com a velhinha de vestido preto e coberta com o véu negro de renda grossa, carregando as braçadas de flores perfumadas, com seu rosário de longas contas pendurado na cintura do vestido. Ela era misteriosamente feliz e a todos encantava!
Certa manhã coberta pelo cântico dos canários soltos entre os “eucaliptos” da cidade, Dona Maria não mais apareceu para catar flores alheias, nem enfeitar altares e túmulos, nem ao menos trazer alegria à garotada que corria atrás dela, em algazarra, rindo e enfeitando as ruas de pedras antigas do povoado. Reinava um triste silêncio sem a velhinha simpática que sobrevivia feliz, catando flores, distribuindo amor e felicidade. Ela havia morrido entre ramalhetes de flores em seu pequeno quarto, solitária. Soube-se que ao tentar catar flores em um muro alto, teve uma súbita queda e ausentou-se por um longo tempo enquanto era cuidada por uma parenta zelosa.
Sabe-se que ela é de uma tradicional família, mas não se sabe do mistério que envolveu sua caminhada vivida aqui no planeta terra. Seu velório foi emocionante! O caixão foi coberto de flores de todas as cores, qualidades diversas, todas trazidas pelas crianças que as catavam dos quintais alheios. Preces e muitas preces... As pessoas de diversas religiões vieram dar o último adeus à mulher que ornava de rosas os altares silenciosos.
Passaram-se os anos... Ninguém mais teve seu jardim furtado, nem se vê mais rosário longo de contas grandes. As flores permanecem vivas e coloridas. Porém, há na cidade um grande vazio, uma ausência de perfume de flores exalando pelas ruas de pedras antigas. As crianças por certo, estão nascendo e crescendo mais infelizes, pois não conheceram como as de aurora, a mulher que roubava flores.
Dona Maria Tatagiba jaz num túmulo com flores secas ao sol das montanhas, pois todas estão secas pelo tempo, como secas e tristes estão as ruas e as vidas das pessoas que  deixam perpetuar nas almas uma angustia sem esperanças e sem as loucuras essenciais da VIDA!
A cidade interiorana necessita de suas personagens misteriosas. as que compõem o cenário típico e obviamente cultuam a história de sua gente. Hoje, os fiéis moradores (sem rosários, preces e furtos de rosas) prosseguem com suas rotinas monótonas sem mistérios pelas ruas, sem perspectivas de sonhos, oucuras e liberdade!