quarta-feira, 5 de março de 2014

ACADÊMICO MARCOS NICODEMUS CYSNE - DISCURSO DE POSSE


 Discurso de Posse na AMALETRAS.        
São Mateus-ES, 22 de Fevereiro de 2014      

Boa noite, 

Gostaria de cumprimentar toda a mesa diretora da Academia Mateense de Letras -AMALETRAS, em nome da Dra. Marlusse Pestana Daher, Presidente; Eliezer Nardoto, vice presidente e Jonas Bonomo, 1º secretário; e demais membros desta casa, dizendo da grata satisfação e o orgulho de estar hoje aqui nesta noite participando com vocês e sendo empossado como novo membro desta confraria, em um dia tão especial, quando acontece uma combinação de números sugerindo bons ventos na roda da fortuna: estou ocupando a cadeira 13, nasci no dia 13 e a Academia completa 13 anos de atividades. Parabéns a todos! Estou realmente muito feliz e grato pelo convite. Também gostaria de cumprimentar todos os presentes na plateia.
 
Queria dizer que a vida é feita de estreias, de princípios, de inícios. Não há nada na vida que se termine sem que haja o começo, a estreia. E toda estreia é precedida de um trabalho de ensaios. Ensaios se assemelham com o “antes do nada”. A Vida é assim, se permeia entre o “antes do nada” e o “depois do tudo”. É nesse meio que realizamos as nossas estreias, os nossos princípios.

Talvez seja hoje uma das mais importantes estreias da minha vida, ou pelo menos a que liquida a fatura de vez: estou imortal. Isso me dá a ligeira sensação de uma eterna estreia. Isso é sensacional! 

Obrigo pela oportunidade.

Mas muito desse sentimento vem justamente porque foi aqui nessa cidade que de fato tudo começou, aqui fiz minha vital estreia, uma nova era se iniciava: nasci numa manhã de sol, quase primavera, numa quarta-feira de lua nova, no Hospital Maternidade de São Mateus, pelas mãos parturientes do Dr Nelson Gomes. 

Aqui me iniciei na luz, estreei meu primeiro facho de luz, meu primeiro suspiro, meu primeiro choro e meu primeiro sorriso. 

Desde então não parei mais com isso: sorrir, chorar, respirar, ver a luz. E quis mais: aprendi a falar, andar, escrever, ouvir e me indignar, acreditando na vida, na melhor vida pra mim e para homem do meu tempo. 

Certamente aqui, durante a minha infância, eu preparei, ensaieI minhas canções, meus cantos ou meus poemas. Estava tudo pronto, na ânsia de um dia ser. Combinei as minhas primeiras letras, desenhando palavras que tinham som e semântica, textura e cor, sob a batuta enérgica e doce da minha saudosa mãe e professorinha, D. Olivia Guedes Cysne. 

Tenho certeza que a infância que São Mateus me deu foi o sentido que trago e levo pela vida afora. Então vejam como tudo se faz sentido por mim. Realmente esta noite re-marca meu princípio, minhas primeiras estreias. 

Poderia detalhar as façanhas de uma criança deslumbrada por tantas aventuras que aqui viveu um dia, e que ainda sinto o cheiro e a carranca das pedras quando ando pelas ruas e calçadas dessa cidade. Foi aqui nessa praça de são Benedito que até aos 13 anos de idade eu morei, eu corri, brinquei, estudei, briguei, sorri e chorei, e que fiz eternas amizades. E onde aprendi a gostar do Botafogo, meu time do coração. Tudo isso foram ensaios onde aprendi a não esquecer que sou um orgulhoso mateense. 

Queria dizer pra vocês que estive estudando durante este tempo até me formar em Letras pela Universidade Federal do RJ, em 1984, quando, neste momento, já moço pronto, poeta de alguns trabalhos publicados, me encontro totalmente dividido entre ficar no Rio, entrar numa sala de aula ou numa redação de jornal, ou voltar pra minha terra em busca de uma identidade que se perdia, ou poderia se perder, ou ainda que desejava se formar enquanto unidade estruturante na personalidade do poeta que se forjava em mim. O sentimento pela minha terra natal falou mais alto. 

Eu sentia saudade da cidade que crescia desenfreada, da minha infância que havia ficado pra traz, da minha gente crioula, das histórias do meu povo heroico, do rico folclore que vivia aqui ameaçado pela modernidade. Eu ainda não entendia que as manifestações populares eram dinâmicas e tinham vida própria.

Aprendi muito a gostar de Folclore com meus amigos mais velhos, Maciel de Aguiar, Rogério Medeiros e Hermógenes Lima da Fonseca. Passei a minha infância ouvindo todo ano o batuque do Jongo aqui na Praça S Bendito. Não foi difícil me influenciar, me tornar embriagado e guiado pelas algazarras dos Tambores. Hoje tenho o maior orgulho de ter um poema, de minha autoria, que virou canção na voz do Jongo de São Benedito, capitaneado pela mestre Nêga. Na seqüência, o videoasta Cloves Mendes o transformou em um vídeo-muiscal-poema, “TAMBORES Tambores”.

Ainda morando no RJ me tornei sócio fundador do CCP- Centro Cultural Porto de São Mates e, logo, no ano seguinte, voltaria a morar em terras capixabas, exatamente em Montanha, na fazenda da minha família, mas preocupado e engajado na luta pela restauração e revitalização do Porto de São Mateus. Fizemos uma verdadeira cruzada para realizar este intento. Muitas aventuras e muito trabalho. Participei ativamente dos Festivais que promoviam esta reforma. Aqui, nesta casa, tenho o deleite de encontrar com alguns companheiros desta travessia: Tunico, Jonas, Luiz Costa e outros.

Que bom a estreia do reencontro!!!

Eu realmente amo as letras, e agora só tenho a dizer: AMALETRAS, sou apenas mais um nessa caminhadura para mostrar que vale a pena ver o mundo pelas janelas da literatura.


Obrigado e boa noite!