terça-feira, 18 de março de 2014

TESE APRESENTADA NO XI ENCONTRO INTERNACIONAL DE ESCRITORAS


A DINÂMICA DA LÓGICA NA EXPRESSÃO

POÉTICA DA ATUALIDADE

 

INTRODUÇÃO


A escolha do tema para esse trabalho constituiu-se acima de tudo, em desafio, mas também na forma de proceder a um autêntico desabafo considerando os sinuosos caminhos que na atualidade, vêm sendo percorridos pela poesia, considerando ainda, o como ela vem sendo produzida, verdadeiramente outra coisa do que ela realmente é, o que é poeticamente constrangedor.

Assim, inicia-se por considerações que se afiguraram como oportunas, mediante constatações frequentes com as quais vem-se deparando a autora, aliada ao seu não querer negar a liberdade de expressão que chega à literatura, da parte de quem quer que seja,  enquanto, igualmente, se reserva adotar sua pessoal concepção de poesia e igual direito de distinguir poesia do que é mero poema, ou disposição em linhas, de pensamentos, ora sim, ora não conexos, por vezes nem convexos, mas que quem compõe denomina poesia.

Todo o esforço é concentrado em defender a poesia enquanto essência, enquanto no ato de manifestar-se ou fazer-se comunicação, permanece com suas raízes fincadas no mais íntimo poético do eu, quando não importa a cor da qual se revista o sentimento inspirador.

O tema se destina a debate no “XI Congresso Internacional de Escritoras”, como tal, todo esforço envidado será no sentido de comprovar que o poema é um gênero de composição que consiste na manifestação do pensamento em versos, pode-se ater aos ditames da “versificação” ou serem vazados de forma livre. Ao mesmo tempo, será sustentado que para ser poesia tem que tocar profundamente a sensibilidade do leitor ou ouvinte.

Com a conclusão “toda poesia é poema, mas nem todo poema é poesia” encerra a derrubada da lógica na poética da atualidade.

CONSIDERAÇÕES

Tenho sido despertada, ou melhor dizendo, sacudida de uma forma cuja reação é a surpresa, pelas expressões, ou pela nomenclatura que vem sendo usada por afeitos ao universo literário, no que diz respeito à produção que associa o desabrochar de emoções de diferentes matizes ou variados quilates, como poesias, crônicas, outras composições literárias.

Exemplifica-se com o que foi ouvido recentemente. Tratava-se de um Debate-Papo[1], na “Biblioteca Pública Estadual do Espírito Santo”. O debatedor do poeta que se apresentava, falou em “marco zero da poesia”. Sem sombra de dúvida, um “neologismo”, em se tratando de tal universo. Desde aquele momento, passou-se a analisar a expressão, contudo, ou apesar de ter encontrado possível resposta, não é que a tenha aceitado.

Semelhante sensação balançou a autora ao ler o elenco dos temas sugeridos pela organização do “XI Encontro Internacional de Escritoras” para apresentações na oportunidade, encabeçado exatamente por este aqui: A Dinâmica da Lógica na Expressão Poética da Atualidade.

A escolha se deu por conhecê-lo mesmo que de forma ainda não tão profunda? Não. Porque já tenha encontrado subsídios suficientes para enfrentá-lo? Também não. Porque foi ouvido ou lido algo? E mais uma vez a resposta é negativa.  Então, qual é a motivação? Nada menos que o desafio que suscitou o querer interpretar o que se quis dizer, por parecer que realmente, nada tem a ver com o que se pensa ou com o que é, aquilo que a autora concebe a respeito de poesia.

Usa o verbo escandir, porque este sim, tem relação com poesia, e diz: passemos a escandir o estranho título ou tema.

DINÂMICA DA LÓGICA NA EXPRESSÃO POÉTICA.

Trazer a palavra “dinâmica” para o contexto poético, ao menos aos ouvidos da autora, soa quase como profanação do templo sagrado onde a lira que emite poesia esparge versos de beleza inaudível, lira do amor, da beleza, dos encantos, da própria sensação magistral da dor cujo martírio assume sentido outro, quando é por poesia que se o traduz. Tem conotação com um universo que nenhum outro ajuntamento de palavras tem ou pode assumir e se assumir, vira poesia, mesmo que o texto não se apresente na forma consagrada ou em versos que se juntam formando estrofes, mas em prosa.

Ou que só pode ser, ou se justifica, por não se querer alijar a poesia do mundo da globalização, que tudo e todos integra, um mundo em que tudo que existe se interliga, demonstra como todos os seres são interdependendentes e como há um pouco de cada um individualmente, em todos os demais.

A poesia é beleza e como tal, provavelmente, quem é poeta em verdade, em verdade, jamais, se terá preocupado com o que acontece entre a primeira e a última palavra em um verso poético, senão pelo sentimento mais profundo que traduz, pelo enleio do qual é apossado enquanto compõe. Não se chame “dinâmica” a evolução dos suspiros que sucedem traduzidos pela coincidência da rima ou pela musicalidade da linguagem, nem se atribua o suor que emana dos poros aquecidos pelos afagos dos sentimentos que cada expressão traduz, senão àquele toque de magia que só a poesia tem.

Recusa-se, pois,  falar em dinâmica da lógica em versos inspirados ou poesia e se há de defender poesia em sua essência, reconhecendo-lhe a possibilidade de ser encontrada no que for, desde que, nada menos, arrepie quem lê ou ouve poesia. Tal qual a expressão de Bandeira: “A poesia está em tudo – tanto nos amores quanto nos chinelos, tanto nas coisas lógicas como nas disparatadas”.

Aprofundando tema: a expressão é comentada por Norte que cognominou Bandeira de um rompedor de convenções porque:     

Dissolveu modelos tradicionais, criou estética própria, brasileira. Doente, teimou em viver e construiu obra marcante da literatura universal.           (...) Queria o falar do povo, a língua errada do povo / Língua certa do povo / Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil (Evocação do Recife). [2] 

 

Assim, pode-se dizer que a poesia até por tudo que encerra em beleza, sutileza, seus correlatos, absolutamente e sempre, há de ser livre, deve voar solta enquanto organiza ou ajunta palavras e será nesse momento, que exatamente mais fulge em toda sua plenitude e se faz potencialmente beleza.

Quanto à lógica

Ninguém falará de lógica sem reportar-se à sua origem e invariavelmente vai citar o silogismo adotado por Aristóteles, no qual se tem “a forma mais adequada para estruturar a lógica”. Neste sentido, leia-se o que segue:

A MORTE DA LÓGICA NA POESIA  

A tradição filosófica tem a lógica como seu lado mais impositivo, pois as discussões acadêmicas a utilizam como garantia de êxito na defesa de uma tese. A lógica parece insinuar a existência de certa ordem, a qual nos livraria da desordem e, por conseguinte, do caos. Tudo se resolveria se agíssemos conforme a lógica.

O silogismo é para Aristóteles a forma mais adequada para se estruturar a lógica. O silogismo é uma forma de argumentação, pois, a princípio, apresenta uma ideia geral e em seguida apresenta outra ideia de sentido particular, para, na sequência, encaminhar a uma conclusão. Vejamos um exemplo: Todo ser humano é mortal. /  Pedro é ser humano. / Logo, Pedro é mortal.

Uma vez colocadas as premissas, a lógica nos leva a obrigatoriedade das conclusões. A esse tipo de raciocínio chamamos de método “dedutivo”, pois parte do geral para o particular.[3]

Agora, fica-se a imaginar se um silogismo pode engessar a poesia. Ainda assim, por concessão, conclui-se, que em todo discurso e todo uso do discurso no qual a poesia se inclui, para que seja intelegível é mister partir de premissa que por sua vez só desfecha em comunicação efetiva, se houver conclusão.

Poesia-comunicação como tal, não pode nem ela fugir ao debate ao qual toda idéia ou conceito se exporá. Por si, a poesia é enlevante, sem poder descambar no sentido do êxtase, não passando do mero deleite, posto que se insere na literatura vigente, no tempo em que todos os componentes que a integram devem dizer presente.

Insere-se ainda, na realidade acadêmica cujo universo contempla na diversidade, volver-se para as interpelações do mundo exterior dando respostas satisfatórias às necessidades expostas.

Já a lógica implica na organização do pensamento, em ordená-lo de tal forma que denuncie os descompassos vigentes onde estiverem. Resolve a desordem e mais que isto, contribui para melhor entendimento do que se ouve, poupando, sim, poupando tempo que no mundo atual, é deveras de ser poupado.

Um olhar sobre o passado

A proposição de um olhar sobre o passado não diz respeito ao tempo em si, como mensuração de todas as vidas, mas à produção poética em outro momento, outra época.

A poesia de ontem ainda que atracada à rigidez da métrica e da coincidênca da rima manifestou-se sempre de forma lógica. Colocado um pressuposto, vinha seu desenvolvimento e conclusão. O exemplo maior fica por conta da “chave de ouro” como se denominou o último verso da espécie soneto. Tal verso se encarrega de sintetizar o tema abordado e revestir-se da melhor linguagem.

Para concretizar o que foi dito, exemplifica-se com os autores a seguir citados de forma sequencial:

1.   Com o soneto do parnasiano Raimundo Correia:

As Pombas

Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
Das pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada.

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam
Os sonhos, um a um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,                                    Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.[4]

2.   Com a poesia cheia de lirismo de Antônio Gonçalves Dias

Canção do Exílio

"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;     
Minha terra tem palmeiras,     
Onde canta o Sabiá.      

Minha terra tem primores,       
Que tais não encontro eu cá;  
Em cismar — sozinho, à noite —       
Mais prazer encontro eu lá;     
Minha terra tem palmeiras,     
Onde canta o Sabiá.      

Não permita Deus que eu morra,      
Sem que eu volte para lá;       
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;       
Sem qu’inda aviste as palmeiras,      
Onde canta o Sabiá."[5]

3.   E só mais, um naturalista. Apesar de mais recente que os dois outros citados, verifica-se o uso aprimorado da lógica assecuratória de percepção mais clara da mensagem a ser transmitida, um dos presentes mais expressivos do auto didata Machado de Assis. 

Círculo Vicioso

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
- Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
que arde no eterno azul, como uma eterna vela!
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

- Pudesse eu copiar o transparente lume,
que, da grega coluna à gótica janela,
contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

- Misera! tivesse eu aquela enorme, aquela
claridade imortal, que toda a luz resume !
Mas o sol, inclinando a rútila capela:

- Pesa-me esta brilhante aureola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Porque não nasci eu um simples vaga-lume?[6]

MODERNISMO

Não significa distanciamento do tema, falar do modernismo, antes porque foi o movimento que se considerou como marco e do qual adveio a permissão da tantas vezes verdadeira morte da lógica na poesia. Passa-se à abordagem específica, chega-se ao que se firmará como modernismo que nada tem a ver com aquela época, denominada Idade Moderna.[7]

Data de 1922, quando entre 13 e 18 de fevereiro se realizou no Teatro Municipal de São Paulo, a Primeira Semana de Arte Moderna considerada o marco inicial do Modernismo brasileiro.

Como leciona Cabral:

Com participação de artistas de São Paulo e do Rio de Janeiro. O evento contou com apresentação de conferências, leitura de poemas, dança e música. O Grupo dos Cinco, integrado pelas pintoras Tarsila do Amaral e Anita Malfatti e pelos escritores Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia, liderou o movimento que contou com a participação de dezenas de intelectuais e artistas, como Manuel Bandeira, Di Cavalcanti, Graça Aranha, Guilherme de Almeida, entre muitos outros.

Os modernistas ridicularizavam o parnasianismo, movimento artístico em voga na época que cultivava uma poesia formal. Propunham uma renovação radical na linguagem e nos formatos, marcando a ruptura definitiva com a arte tradicional. Cansados da mesmice na arte brasileira e empolgados com inovações que conheceram em suas viagens à Europa, os artistas romperam as regras preestabelecidas na cultura.[8]

Apesar de não ter participado da semana de arte moderna, Bandeira a influenciou muito, sendo a mais lídima expressão do que se diz, seu dizer:

Estou farto do lirismo comedido / Do lirismo bem comportado / Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor / Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo / Abaixo os puristas / [...] – Não quero mais saber do lirismo que não é libertação..[9]

 

Confirmando o sobredito, constata-se o reflexo da nova concepção em literatura, traduzida em versos do próprio Bandeira e de Andrade:

1.   Manuel Bandeira

Arte de amar
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

2 Mario de Andrade

Quando eu morrer quero ficar


Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.

 

Como se observa, o rigor da rima e da métrica ficou reservado aos que particularmente às mesmas, consciente ou inconscientemente, não renunciam. Verifica-se a tendência de um cometer ou disparar de versos de forma absolutamente livre, uma preferência apenas pela coincidência de sons no meio do verso ou ainda, mais que tudo, com a musicalidade da linguagem.

Com a devida vênia, sem falsa modéstia, nesse grupo se inclui a autora e comprova com a seguinte poesia, inspirada por sugestão:

 Mares e Marias

Mares, marés, maresia, mar pia,

Mar que se espraia,

Mar que se agita,

Mar que vem e mar que vai.

Mar na aurora,

Mar na madrugada,

Mar do amanhecer,

Mar do sol a pino,

Mar do entardecer,                                                         Mares bravios do nosso país altaneiro.

Mar trigueiro,

Mar brasileiro,

Mar do silêncio,

Mar que em repouso,

Mar adormeceu.

Maria que mar ias,

Maria que vinhas,

Marias vendo chegar

Marias partirem-se indo,

Marias na saudade,

Marias na lealdade,

Maria do coração de santas,

da Penha,

do Carmo,

Auxiliadora,

da Conceição,

das Graças,

da Consolação,

do Socorro,

Helena,

Teresa,

de todas as Marias.

Mar inicia Maria,

Maria mulher,

plebeia e de toda sorte,

todas as Marias.

Como o Mar,

imensas e fortes

todos os mares são Marias,

todas  as Marias são mares,

mares e Marias,

Marias e mares.

Em cada Maria, o início de um MAR!!!

 
Mania de modernidade

Ainda se verifica que do modernismo, passou-se ao que se chamará de “mania de modernidade”, pelo que, a exemplo do que aconteceu a partir do próprio modo de vestir, na produção da arte, chegou às letras e de modo particular à poesia, resultando na ausência de lógica em tantos textos denominados poesias que fogem de qualquer regra, mas no entanto aceitas,  caos poético-literário?

Se falta lógica, quanto mais de dinâmica se fale.

Mas foi forçoso recepcionar o aparecimento da poesia concreta (1950), um tipo de poesia vanguardista, de caráter experimental, basicamente visual, que procura estruturar o texto poético escrito a partir do espaço do seu suporte, sendo ele a página de um livro ou não, buscando a superação do verso como unidade rítmico-formal.

E ainda, a poesia visual: tipo de poesia em que, são abolidas todas e quaisquer outras características do gênero e ficam as imagens e os símbolos de tal forma distribuídos, que o elemento visual pode assumir a principal função organizacional da obra, não dependendo da existência de símbolos de escrita para sua caracterização como poesia, embora não os excluindo.

Por fim, para caracterizar a ausência absoluta de lógica no que se denomina poesia, depara-se com um tipo que, a prevalecer a tese esposada pela autora, se constituiriam em “não poesias”. São resultado de inspiração profunda de quem se sente poeta, mas ao transferir para o papel, sua inspiração, o fazem de forma que resulta em não poesia.

Por exemplo:

POESIA SEM NEXO
 
Visões duplicadas em videoclipe.
Calço um sapato de verniz vermelho.
Danço no sossego da trilha sonora.
Violetas azuis! Toco meu clarinete.
 
Sonho de um modo exclusivo.
Tudo isso para seu deleite.
De repente a lua vem assim.
Vem de repente! O som e a canção.
 
Faço poesias sem rimas! Que graça.
Rimo meu papel! Mas não rimo o céu.
Entrego-te versos! Entrego-te um anexo.
Amplexos! Sinta o reflexo do sol.
 
Visões! Vídeos! Clipes! Palavras.
Meus passos não vão a lugar nenhum.
Minha dança mal começou.
 
A lua tenta dizer algo para você.
Essa mesma lua me traz seu desejo.
Mesmo assim, não vejo o querubim.
 
Reflexões! Essa poesia não tem nexo.
Eu recomeço a ousar novamente.
Para frente há de ter um olhar;[10]
 
Soraia

 Não obstante a restrição que a autora deste trabalho faz, os prefaciadores das publicações de tais versos, ainda que mediante uma linguagem deveras abstrata, pungente esforço literário, dizem maravilhas a respeito dos mesmos, o que dá sensação de que não lhes falta alguma beleza, invisível a alguns sentidos, como o da autora.

Podem-se configurar em autorização do repetir: em poesia, não há lógica.  Por concordar por inteiro com o que escreveu Almeida, transcreve-se seu pensamento sobre o tema abordado:

“A poesia é uma arte da linguagem; certas combinações de palavras podem produzir uma emoção que outras não produzem, e que denominamos poética.”  Valery

O poeta vive num canteiro de obras. A musa, o acaso, a razão, o sentimento, os pensamentos abstratos são matérias primas para a sua poesia. Ele produz a partir da leitura de textos alheios, articulando ideias e costurando a linguagem. A poesia é um trabalho que exige de quem faz uma quantidade de reflexões, de decisões, de escolhas e de combinações. (...). A linguagem cotidiana desaparece ao ser vivida, é substituída por um sentido. A poesia não, ela é feita expressamente para renascer de suas cinzas e vir a ser indefinidamente o que acabou de ser. Numa época marcada pelo desaparecimento do durável, transmutação rápida dos valores, sem tradição poética, a poesia retorna como um lugar de experiências contraditórias, para atender uma necessidade de lazer e divertimento, do que uma vontade de saber. ...[11].

 

CONCLUSÃO


Segundo concepção pessoal, constituindo-se no que a autora defende neste trabalho, poesia tem que continuar sendo aquele toque mágico de luz, som, mistério, amor, mesmo quando se refira a simples chinelos.  Tem que arrepiar quem escreve, quem ouve, quem lê.

O que aqui se diz, é dito como compromisso de tese ou para debate. De fato, para tal tem destino no “XXI Congresso Internacional de Escritoras”, dai reforça-se o que se tem como fundamental: poema é um gênero de composição que consiste na manifestação do pensamento em versos, pode-se ater aos ditames da “versificação” ou serem vazados de forma livre.

Mas com a devida licença de quem diversamente, possa pensar, o poema para ser poesia deve ser eivado do ingrediente que produz êxtase, ao revelar uma visão do poeta, transmite emoção que ressoa no íntimo do destinatário. Não sem razão, os poetas antigos revelaram notada preferência por histórias de deuses e heróis, quando recitavam suas poesias, dai concluir-se por fim: toda poesia é poema, mas nem todo poema é poesia.
  
Marlusse Pestana Daher
Brasília, 14 de março de 2014

 

 Poetas, não se inibam com o que disse, continuem cometendo seus versos. 
 
 

[1] Trata-se de uma parte da programação que é desenvolvida pela Biblioteca Pública Estadual em Vitória – ES, às terças-feiras.
3] Disponível em: http://usesualingua.com/a-morte-da-logica-na-poesia-do-dia-a-dia/
 [4] Época: O período em que este texto foi escrito é chamado, no Brasil, Parnasianismo, ou seja, uma época em que os poetas procuravam escrever buscando a perfeição na forma, ou seja, na maneira de criar a poesia.
Características: Os escritores parnasianistas buscavam escrever na linguagem mais elaborada possível, a linguagem castiça, com vocabulário rico, escrevendo de acordo com a norma culta. Eram clássicos e procuravam sempre o alto padrão de linguagem, escolhiam a melhor palavra, a forma mais perfeita para expor as ideias.
O autor: Raimundo da Mota Azevedo Correia (1859-1911) nasceu a bordo do navio São Luís na costa maranhense e faleceu em Paris. Foi juiz em Minas Gerais e foi chamado o “Poeta das pombas“. Escreveu: Primeiros sonhos, Versos e versões, Sinfonias e Aleluias.
Tudo o que estudarmos ou dissermos sobre o poema ” As pombas ” deverá ser fundamentado no texto; nada que não esteja baseado no texto deve ser interpretado ou  analisado.   É muito importante levarmos para esse estudo a nossa experiência de leitores e a nossa visão de mundo.  Devemos ser criativos e refletir sobre o conteúdo poético do que lemos.
[5] A “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias, texto-matriz, foi produzida no primeiro momento do Romantismo Brasileiro, época na qual se vivia uma forte onda de nacionalismo, que se devia ao recente rompimento do Brasil-colônia com Portugal. O poeta trata, neste sentido, de demonstrar aversão aos valores portugueses e ressaltar os valores naturais do Brasil.                                                                                       Apesar de ser um texto de profunda exaltação à pátria, o poema possui total ausência de adjetivos qualificativos. São os advérbios “lá, cá, aqui” que nos localizam geograficamente no poema. Formalmente, o poema apresenta redondilhas maiores (sete sílabas em cada verso) e rimas oxítonas (lá, cá sabiá), menos na segunda estrofe.                                                                                                    Quando Gonçalves Dias escreveu este poema, cursava Faculdade de Direito em Coimbra, em Julho de 1843. Vivia, desta forma, um exílio físico e geográfico. Tradicionalmente, esta é a situação do exílio. Não foi o primeiro a falar de exílio. Nos textos bíblicos, temos inúmeros relatos referentes a esse assunto. Destacamos abaixo uma passagem, cantada elo salmista Davi, que refere-se aos judeus cativos em Babilônia. O texto bíblico revela a tristeza e o choro dos judeus, que têm seus instrumentos de música pendurados nos salgueiros, à beira dos rios de Babilônia. Quando os opressores lhes pedem que cantem uma canção de sua terra, eles indagam: “Como entoaremos o cântico do Senhor em terra estranha? (…) Apegue-se me a língua ao paladar, se me não lembrar de ti, se não preferir Jerusalém à minha maior alegria”. (Salmos 137:4-6)                                                                                      A “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias inspirou vários poetas de diversas épocas. Casimiro de Abreu, poeta contemporâneo de Dias, Compôs uma “Canção do Exílio” seguindo a mesma temática do texto matriz, apenas acrescentando ao poema uma referência à sua infância, à figura materna e substituiu “palmeiras” por “laranjeiras”. Disponível em: http://www.infoescola.com/livros/cancao-do-exilio/. Acesso: 11/07/2013.              
 
[6] Colocar comentário
[7] A Idade Moderna é um período específico da História do Ocidente. Destaca-se das demais por ter sido um período de transição por excelência. Tradicionalmente aceita-se o início estabelecido pelos historiadores franceses, em 29 de maio de 1453 quando ocorreu a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos, e o término com a Revolução Francesa, em 14 de julho de 1789.
Entretanto, apesar de a queda de Constantinopla ser o evento mais aceito, não é o único. Têm sido propostas outras datas para o início deste período, como a Conquista de Ceuta pelos portugueses em 1415, a viagem de Cristóvão Colombo ao continente americano em 1492 ou a viagem à Índia de Vasco da Gama em 1498.
[8] http://www.brasilescola.com/literatura/o-modernismo-no-brasil.htm
[9] Assim dizia no poema-manifesto Poética (1930), um símbolo do Modernismo.         Na conferência de abertura da Flip 2009, o crítico e professor Davi Arrigucci Jr. falou da formação poética de Manuel Bandeira, que tem no alumbramento uma de suas principais forças. Espécie de epifania, ou êxtase diante do sublime “que nos abre para o insondável”, esta emoção diante das coisas miúdas do cotidiano é tomada, na obra bandeiriana, por enorme profundidade, revelando uma capacidade única de colher da vida concreta grandes experiências humanas. “A poesia pode estar nos amores e nos chinelos”, dizia o poeta.
[10] Disponível em http://sitedepoesias.com/poesias/45183. Acesso em 1 de maio 2013. Obs. A própria autora a chama de poesia sem nexo. Termina com um “ponto e vírgula”.