O
navio apitou ao longe
e
a cidade se agitou.
O
Miranda ou o “Loid”,
fosse
o que fosse,
sua
chegada
era
sempre uma festa.
Âncora
ao fundo,
atracou
a nave.
Surge
o comandante,
alguém
da tripulação.
Surgem
também os Senhores,
ternos
de linho branco
vestidos.
Damas
em “taieur”,
chapéus
na cabeça,
saltos
finos de sapatos,
impecáveis.
Em
terra, os Coronéis,
Alferes,
Majores,
Intendentes,
Por
seu turno, os Prefeitos,
Interventores
talvez.
Naquele tempo...
E
dos porões,
emergem
primeiro,
odores,
suores,
clamores
do
negro que subsistiu.
Traz
na pele,
A
cor da não esperança,
Na
cabeça,
A
lembrança da terra de África,
dos
gongos,
dos maculelês,
do tambor,
do tocador,
do estupor,
da terra árida,
causticante
e deslumbrante,
sedenta,
avarenta...
mas
sua terra!
Estão
acorrentados pelo pescoço,
ligados,
manietados.
Vão
servir na plantação,
Nas
casas dos Senhores,
Às
Sinhás, às Aiás.
Mas
há sempre luz,
Mesmo
nas trevas.
E
num recanto
de
rio,
ou
de fonte,
como
astro,
nasceu
Zoroastro.
Como nasceu?
na casa de farinha?
no paiol, quem sabe?
Na
cabana,
nasceu
Zé de Ana.
Seus
avós foram escravos,
escravos
seus pais,
eles
mesmos escravos seriam
não
fosse a bondade
(hodiernamente
posta em dúvida),
de
candidata a Rainha,
que
assinando a Lei Áurea,
à
sua raça inteira
liberdade
deu.
E
Zoroastro cresceu,
e
Zé de Ana cresceu
e
dos seus,
cada
um aprendeu,
o
folguedo da marujada.
E
saíram cantando,
ensinando
aos de depois,
embaixadas,
prisões,
repetem
até versos
de
Gil a Camões.
Um
tanto mais novo,
canta
jongo o Geraldino,
pelas
ruas desertas
do
velho porto,
de
ruas estreitinhas,
de
casarões a morrer,
onde
passeia meu pensamento
que
exulta em rever
reabrir-se
o largo do chafariz
de
um menino
que
permanentemente vela
e
carrega
lata
d’água na cabeça...
dias
se foram,
mas
dias virão
e
o comércio vai fervilhar de novo,
de
novo, a população vai descer
e
na curva do rio,
vai
aparecer,
a
mesma esperança
daquela
de
quem espera e sempre alcança:
a meta,
a vitória,
a glória,
dos casarões,
dos luares,
dos lugares,
porque
voltarão a soar hinos
e
fará de novo a história,
o
PORTO DE SÃO MATEUS[1].