quinta-feira, 6 de novembro de 2014

CONFORMAR-SE É MORRER



        A vida sempre se encarrega de nos oferecer  oportunidades de voltarmos a nos surpreender, por exemplo, ao constatar que há quem seja capaz de partindo do absolutamente nada, dirigir acusações infundadas a outrem, infligir maus tratos,  pior ainda, torturar.

        Na Auditoria Militar, foi ouvido o depoimento de uma vítima, demonstrando o resultado deprimente do quanto pôde ser aniquilada e como conseqüência ter perdido todas as forças de ainda acreditar que haja esperança, de que possa ser diferente nesta terra. No final, não obstante sua infinita simplicidade e detenção de poucas letras, presenciamo-la se refugiar na certeza da existência de Deus e afirmar que Sua justiça sim, não falha!
        Revelou com minúcias tudo, mas recusou-se a assinar o termo, afirmou que de nada adiantaria.  Ante os argumentos que usava, quando foi tentado convencê-la de que o fizesse, vergaram-se todos, só restando  “engolir em seco”,  o seu protesto. Tem toda razão. Dois anos depois, seus algozes ainda não foram punidos.

        Terminada esta cena, (não sua lembrança), uma jovem advogada vem ter comigo e pedir apoio para resolver um problema sério. Impetrara um Mandado de Segurança em favor de um seu cliente e não obstante tê-la conseguido, mediante sentença, a autoridade coatora, recusa-se a cumprir a ordem. Já se dirigira a todos quantos é possível e atônita, vê os dias passarem sem que a solução que urge, venha.

        Como se diz frequentemente:  as coisas estão piorando  a cada  dia. E como é grave!

Fica muito difícil conviver num mundo em que a crise de autoridade se demonstra de tal forma sensível e palpável.  O suceder de tais fatos  somado à  leitura de um artigo de Nicolau Sevcenko, que acabou de publicar “A corrida para o Século 21”, me levou à busca do panfleto “A Desobediência Civil”, escrito de Henry D. Thoreau (1817-1862).

Nele, Thoreau, que inspirou a luta anticolonial do Mahatma (grande alma) Ghandi” “firmou seu pensamento político e resumiu sua proposta  de  “resistência não violenta”,  o anseio de “não se conformar nunca, porque conformar-se é morrer”. 

Conformar-se é morrer me vai repetindo uma voz lá dentro... Já é bastante grave a situação em que nos encontramos. Mas é absolutamente certo que ainda podemos reconstruir. Disponhamo-nos a remover os destroços.

Uma grande iniciativa passa, por exemplo, pelo dar vida às universidades, motivando seus docentes. De tal forma, que o entusiasmo pelo que é o ambiente onde militam, retenha-os entre seus umbrais durante todo o tempo que for de trabalho.  Igual tratamento seja dispensado a todas as  escolas indistintamente,  desde a pré. 

Um povo educado, será um povo mais esclarecido e  tangido por todas as veras da própria alma saberá responder ao convite feito pelo poeta à criança, mas  que se  pode  estender a todos os demais:  imita na grandeza, a terra em que nasceste!
        
Marlusse Pestana Daher

  Publicado: A GAZETA 26/11/01