Apresentação
Anualmente, a Academia
Mateense de Letras vem realizando atividades literárias para as quais tem
escolhido um nome a destacar ou homenagear, fazer lembrado.
Em 2013, foi Ruben Braga,
no centenário do nascimento desse tão ilustre cronista capixaba. Em 2014, Cecília
Meireles foi a escolhida. Cumpriam-se cinquenta anos desde que ela se calou. E
neste ano, 2015, foi a vez de Maria Antonieta Tatagiba, uma poetisa de produção intensa que, apesar de ser aclamada por seus
pares, em sua época, o silêncio da história insistia em se fazer ouvir sobre
sua voz de tempos em tempos.
Esta publicação resulta da
obstinação com que a ideia foi perseguida porque importa dar voz novamente a essa mulher escritora, que não precisou como outras
de sua época, driblar a crítica e os leitores utilizando-se de pseudônimos, nem
enfrentou o descaso de sua família em relação ao que escrevia. Casada, obteve o
aval do marido, também escritor, que sempre a apoiou e admirou. Em sua cidade
natal, conheceu o apreço de todos não somente porque era uma das professoras
locais ou porque era a esposa do prefeito, mas por estar sempre um passo a
frente do seu tempo.
Nosso tempo é também um
tempo de conquistas para as mulheres. Realçar a importância e o valor daquelas
que nos precederam nos afazeres dos quais nos ocupamos é um colaborar com a
história.
O Mestrado da UFES tem
contribuído no sentido de resgatar obras de escritoras capixabas graças à
eficiente orientação de professores que reconhecem a importância de fazê-lo.
Anima as mulheres e lhes dá certeza de que também ocupam lugar de muito
destaque no cenário literário capixaba, brasileiro e quiçá além fronteiras,
levando-as a repetir o que outras já fizeram e hoje graças à evolução dos
meios, com bem melhores condições de produzir e publicar.
Foi frequentando o seu
mestrado na UFES que Karina Fleury (autora das informações em itálico que aqui
vão transcritas) realçou ainda mais a obra de Tatagiba, valendo-se, é verdade,
do que outros disseram e reunindo preciosidades como foto da placa da rua que
tinha o nome de Tatagiba no bairro de Jucutuquara, sua certidão de óbito que
elucida controvérsias sobre o lugar onde teria morrido nossa homenageada, poesia,
que também publicamos e que não compôs “Frauta
Agreste”, visto que a morte a colheu no verdor dos anos, antes que se pudesse
alegrar com a edição de um segundo livro.
Graças à pesquisa de
Fleury podemos citar o que disseram de Tatagiba expressivos nomes da nossa Literatura.
Vale a pena citar:
Em 14 de março de 1959,
(Dia Nacional da Poesia) Mesquita Neto registrou seus sentimentos pelo
trigésimo primeiro ano de falecimento da que chamou “maior poetisa capixaba”.
Acrescentou: Frauta Agreste deve ser
reeditado para conhecimento das novas gerações de intelectuais e amantes da boa
poesia. É possível que um dia, quem sabe”? (Mesquita Neto é patrono da
cadeira n° 5 da Amaletras que foi ocupada pelo saudoso acadêmico Roberto de
Souza Lé que para tanto, o escolheu).
Seis anos depois, (1959)
Annette de Castro Mattos resgata a obra da autora em conferência proferida em
São Paulo, com o título: “Uma poetisa capixaba”. Como presidente da Academia
Feminina Espírito-santense de Letras, Annete também propôs com acatamento da
parte das outras acadêmicas, que Tatagiba se tornasse “Patrona espiritual da
AFESL”. Tem-na como patrona ainda a cadeira 32 do mesmo silogeu e de uma de
correspondente na Amaletras.
Outro nome de peso da
nossa literatura, Maria Stella de Novaes, poetisa e historiadora, lembrou-se saudosa da homenageada considerando-a
um “nome de prestígio nas letras espírito-santenses, que para surpresa dos
pessimistas, daqueles que tudo sabem e se julgam detentores da cultura, surgiu
em 1927, com um delicioso livro de poesias, “Frauta Agreste”.
Contamos com outras
referências de expressivas estrelas da literatura que com suas opiniões
respaldam nossa quase obstinação em querer reeditar “Frauta Agreste”. Além de
lances históricos encontráveis nos versos, não haverá quem não se comova lendo
a poesia “Ruyzinho” que restitui à atualidade o sentido de poesia, mais do que
palavras que compõem o texto, é a emoção que exala do verso inspirado e
emociona. O texto equivale à flor,
poesia é o aroma que dela emana.
Publica-se na íntegra o
Frauta Agreste. Reformulamos a capa, guardando sua inspiração. Acrescentamos o
único conto publicado pela autora e a carta que Fleury lhe escreveu, lida no
dia da abertura do ano literário.
É assim que na sua
modéstia, a Academia Mateense de Letras, Amaletras, orgulhosamente, confessa,
oferece aos leitores “Frauta Agreste”, para que Maria Antonieta Tatagiba
continue lembrada e para que seus versos continuem enriquecendo nosso mundo
poético.
São Mateus,
primavera de 2015.
Marlusse
Pestana Daher
Presidente da Amaletras