quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

FELIZ ANO NOVO



FELIZ ANO NOVO

Estamos sendo soterrados por uma avalanche de “feliz ano novo” que chega pelo “zap,zap”, pelo nosso perfil no facebook, à viva voz.

Eu sei que brotam do mais profundo do coração, como percebi a que foi manifestada por Ângela Lino, em comentário à minha publicação de hoje no face,  neste sentido.  As pessoas provam quanta bondade têm no coração, quanto gostam umas das outras, como é gratificante se comunicar, como vale a pena desfrutar da companhia do outro. Sabe-se que é coisa que faz muito bem.

Enquanto isso meu celular está dando sinais de que mais mensagens estão chegando. Ficamos ali, lendo tudo, concordamos, até porque são verdades indesmentíveis. Contêm mensagens como aquela que justifica a brevidade da vida dos animais, no caso era um cão e depois relembra como agem esses queridos companheiros de tanta gente: todas as vezes que você chega à casa, vai-lhe ao encontro fazendo grande festa, estica-se antes de levantar, vive pulando, gosta de sombra, tira um coxilinho, etc.

Achamos todas muito bonitas, mas a repercussão que causam podem acabar ficando por ali mesmo onde aconteceram, repercutem na emoção, poucas vezes na vontade principalmente, de protagonizar todos os atos indispensáveis para que o ano novo seja de fato feliz para todos.

E de repente, mas... eu, eu mesmo? Não sou governante, não sou autoridade, não detenho mandato político... o que fazer?

Há uma unanimidade em todos os credos no sentido de que a Bíblia é o livro onde se encontra a Palavra de Deus. Palavra que era no princípio, que era Deus, Deus é a própria Palavra. (Jo. 1). Temos ali, que quando Jesus fundou sua Igreja constituiu Pedro, um dos seus escolhidos para chefiar os demais. Assegurou-lhe as chaves do reino dos céus e entre muito mais, esclareceu “quem vos ouvir, a mim ouvirá”.

Assim como outrora, Javé fez nascer João, o precursor, de uma velha mãe cujo corpo perdera as propriedades de gerar filhos, para que mesmo no deserto, proclamasse que o Senhor estava perto. Para Deus o impossível não existe.
Foi Deus que suscitou em Luther King, a forma com que se houve,  para defender o negro do preconceito de raça que ainda vitima tantos.  Foi Deus que suscitou no coração da Madre Teresa de Calcutá a forma exemplar de mostrar ao mundo que “o pior dos males é a sensação de não ser querido, de não ser amado”. É sempre Deus que ao longo da vida e da história faz brilhar pessoas que nunca procuraram holofotes e são procuradas por eles, porque entenderam por inteiro o grande mandamento do amor, o amar ao próximo como a si mesmo, com o sacrifício da própria vida tantas vezes.

Nesse diapasão, foi Deus que através do Colégio que elege Pontífices, deitou seu olhar sobre um cardeal argentino e fez com que fosse escolhido como novo Papa. Inspirado em Francisco, o pobrezinho de Assis, Francisco diz SIM e parte no sentido de produzir na Igreja as transformações esperadas. Sobretudo, passa a ter um comportamento sem precedentes no sentido de acolher todos sem distinção de qualquer sorte, demonstrando que o amor transforma, que ao Papa compete “ir aonde o povo está”.

Fiz esse desvio no curso do que ia dizendo porque estou convencida de que o Papa Francisco com a autoridade que lhe vem do alto,  nos municiou com um programa eficiente, verdadeiramente capaz de nos ajudar a tornar o novo ano, muito feliz. Refiro-me à carta que enviou ao mundo, pelo Dia Mundial da Paz, depois de amanhã, 1° de janeiro.

Logo de início escreveu o Papa: “Deus não é indiferente; importa-Lhe a humanidade! Deus não a abandona! Com esta minha profunda convicção, quero, no início do novo ano, formular votos de paz e bênçãos abundantes, sob o signo da esperança, para o futuro de cada homem e mulher, de cada família, povo e nação do mundo, e também dos chefes de Estado e de governo e dos responsáveis das religiões. Com efeito, não perdemos a esperança de que o ano de 2016 nos veja a todos, firme e confiadamente empenhados, nos diferentes níveis, a realizar a justiça e a trabalhar pela paz. Na verdade, esta é dom de Deus e trabalho dos homens; a paz é dom de Deus, mas confiado a todos os homens e a todas as mulheres, que são chamados a realizá-lo”.

A Deus importa a humanidade. O Papa assegura que o ano será melhor e que haverá paz, mas lembra a indispensabilidade no sentido, do concurso de todos os homens e de todas as mulheres.

Bastaria esse preâmbulo. Mas a carta prossegue com subtítulos explicativos. É imprescindível que se conservem as razões da esperança, que a humanidade aja em consonância com a dignidade humana, com solidariedade, para vencer a indiferença e conquistar a paz.

Acusa a indiferença que fecha o coração em relação a Deus, ao próximo, para com a realidade que nos circunda e causa a ausência de paz. Prossegue falando da indiferença, que como tudo se tornou globalizada, a nível individual e comunitário, coisas que acabam por desembocar mais tarde em violência e insegurança.

Alonga-se quando enfatiza a indiferença pela misericórdia e “Deus intervém para chamar o homem à responsabilidade para com o seu semelhante  ... Onde está teu irmão”?

Pugna pelo fomentar de uma cultura de solidariedade, de misericórdia cujo fruto é a paz. Busquemo-la sob “o signo do jubileu da misericórdia”.

É um carta longa, não a ponto de não poder ser lida por qualquer pessoa. Pode ser encontrada na internet, adquirida em livraria católica. O que acima transcrevi são apenas pequenos detalhes.

Teremos sim um feliz ano novo, temos um ótimo mapa constituído pela carta e que podemos seguir sem medos. A propósito, celebrativa do XLIX dia Mundial da Paz.

E nós queremos, porque nos convencemos de que “somos chamados a fazer do amor, da compaixão, da misericórdia e da solidariedade um verdadeiro programa de vida, um estilo de comportamento nas relações de uns com os outros”.





Comentários para:
marlusse2010@gmail.com

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

ALEGREMO-NOS É VERDADE, JESUS NASCEU!

O Menino Deus chegou, veio para os que eram seus e os seus não o receberam. Estava concluída a sequência dos fatos como descreve este canto tão bonito: “da cepa brotou a rama, da rama brotou a flor, da flor nasceu Maria, de Maria o Salvador”.

Chegara a plenitude dos tempos, dos tempos em plenitude. Nada de mais extraordinário aconteceria a partir de então e exatamente na forma que brota da oração do Velho Simeão: “Agora, Senhor, podeis deixar partir o vosso servo, porque meu solhos viram a salvação de Israel”.

O profeta que servira abnegadamente a Deus como que considera que a partir daquele instante, tornou-se prescindível o seu ministério. Aquele que anunciava às pessoas estava ai diante dele “em corpo, alma e divindade”.

Bastava abrirem os olhos e os ouvidos para verem naquela criança o Deus que despojou-se de si mesmo e como todo homem comum, nasceu de uma mulher.
Que nos seus sussurros de bebê, captassem os discursos inflamados  com que mais tarde anunciaria a boa nova do Reino do Pai.

É Natal, Jesus está conosco, Jesus é um de nós, quis ser um de nós. Está entre nós que o recebemos, que O adoramos, que O louvamos e sirvamos no irmão necessitado, com a consciência de quem sabe que “tudo aquilo que fizermos ao menor dos nossos irmãos, é a Ele que o fazemos”.


Santa Maria, Mãe de Deus e Mãe dos homens, contemplamos tua solicitude nos mínimos detalhes em que os cuidados com um recém nascido requerem. Intercede por nós e que os glórias que entoamos nestes dias, sejam de fato, plenos e intensos e que chegando aos céus como nuvens, se revertam em chuva de bênçãos para o mundo inteiro.


E não receberam Jesus. 





quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

A CARAVANA PROSSEGUE

Coloquemo-nos ao lado de Maria e José na caravana que ruma para Belém. Caminhada que começou desde as primeiras horas da manhã e que exatamente por volta destes instantes vai chegando a termo. Já se começa a divisar ao longe, as primeiras casas, os primeiros sinais de que chegavam à cidade de Belém (Davi).

Maria está cansada, mas não arrefece o passo. José olha pra ela, com a serenidade de quem sabe a intensidade do mistério que viviam, não é que fique preocupado, sabia que o Deus da vida jamais falta com sua ajuda e com sua graça e até mais, precede cada necessidade de quem como eles, José e Maria, se entrega à sua ação, se  disponibiliza por inteiro ao cumprimento de Sua vontade.

Eis Belém, alguns se dirigem para casas de parentes ou amigos e se acomodam o melhor que podem, outros se dirigem às hospedarias e pagam o que pedem os donos que aproveitaram da oportunidade para elevar os preços e ganhar mais. Outros ainda, se arrumam em tendas bem poucos não terão de ficar como o Filho de Deus que desde já demonstrava que ”não tinha onde reclinar a cabeça”.


Santa Maria, Mãe de Deus e Mãe dos homens, contemplamos teu despojamento e mais uma vez, queremos aprender de ti o desapego pelas coisas que passam; contemplamos tua simplicidade, o teu contentar-se  com o que foi possível ter no maior  momento da história protagonizada por ti. Intercede por nós para que tenhamos  um coração de pobre, porque é assim, que possuiremos a terra. 

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

PORQUE ERAM POBRES

Porque eram pobres e não tinham dinheiro para pagar a hospedagem, Maria e José ante a constatação da iminência do nascimento de Jesus, se arrumam como podem, nos arredores da cidade de Belém de Judá, que jamais seria chamada de novo desprezível, porque nela havia de nascer, como nasceu, o Salvador. 

O único lugar disponível era uma gruta na rocha e ali se foram abrigar. Arrumaram o lugar, limpando-o e tornando-o o mais digno possível de recepcionar o Salvador.

De repente, um suspiro de criança se faz ouvir, uma luz diferente brilhou, uma presença singular encheu o ambiente se espargiu por toda parte. Anjos descem prodigiosamente do céu cantando glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados.

Dirigem-se aos pastores que por perto cuidavam de seus rebanhos e eles se aproximam e inspirados, entendem que o menino que viam, não obstante a aparência do entorno era o Salvador prometido, o esperado das nações.

Aproximam-se e cheios de respeito o reverenciam e adoram. E ficam ali, tocados pelo mistério de  tal presença, inundados pela aura de amor  que os contagiava e envolvia imensamente.  Tinham certeza da importância do que representava aquele menino!.

Quem dera que nós pudéssemos provar o mesmo, talvez nos decidíssemos definitivamente a estar para sempre unicamente a serviço de Jesus, servindo aos nossos irmãos, plenamente convencidos de que Natal é isto, sermos para os outros, presença de Jesus, via de consequência, amarmos a todos como Jesus amou.


Houve uma pessoa que comparou esta situação ao milhares de refugiados.... 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A CAMINHO DE BELÉM

Nestes dias que antecedem o Santo Natal, coloquemo-nos a refletir como foi o comportamento de Nossa Senhora. 
Foto atual de Belém 

Ela sabia que estava chegando a hora do nascimento de seu Filho que era também Filho de Deus. Que sentimento materno e piedade envolviam o coração da Mãe. Com que ternura mas sem ansiedade, se colocava a imaginar o momento certo do nascimento.

E eis que chega a ordem do Imperador que determina que todas se dirigissem a Belém para que fossem recenseados. Também Maria se põe a caminho ao lado do esposo. Não se queixa, não protesta, obedece porque se deveriam cumprir todas as coisas que da parte do Senhor lhe haviam sido reveladas.

Quantos transtornos causados naquele nono mês de gravidez. Ter que fazer um deslocamento daquele tipo. Mas a mãe não se queixa, previa que o Filho pudesse nascer em tais circunstâncias, coloca apenas o que tinha ou algumas faixas em uma sacola, para envolvê-lo.

Os que marchavam ao seu lado, talvez sequer tenham percebido o suficiente. 

Não se tem notícia de que alguém se tenha compadecido de vê-la naquele estado, fazendo uma tal caminhada. A prova disto está em que, na chegada de Belém se viram sós, batendo de porta em porta e em cada porta ouvindo a mesma resposta: “não temos mais vaga” Não porque realmente não tivesse, mas porque a aparência de pobreza daquele casal era prova de que não tinha como pagar as diárias dos dias que ali passassem.

Nossa Senhora, a mãe, no entanto, ouve silenciosa e resignada, aquelas pessoas não sabiam a quem deixavam de acolher, cegos pelo egoísmo e sede de riqueza, tinham os olhos vendados, incapazes de recepcionar o amor.


Que sejamos livres de tal cegueira e saibamos acolher Jesus, o Salvador que vem libertar todos da morte e do pecado. 


Mande seu comentário para:
 marlusse2010@gmail.com 

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

RAZÕES DE ALEGRIA




Neste terceiro domingo do advento, quando as leituras, objeto de reflexão em todas as Celebrações Eucarísticas, nos convidam à alegria, alegramo-nos também pelo fato de ter-se oficializado em todo o mundo católico, a abertura do Ano Jubilar da Misericórdia. Ideal do Papa Francisco foi instalado no último dia 8 deste mês de dezembro, dia da Imaculada Conceição da Virgem Maria.


Foram abertas as portas santas, assim chamadas por representarem a passagem que faremos para o mundo da graça, desde que nos tenhamos dispostos à pratica de obras de misericórdia e nos reconciliemos mediante o respectivo sacramento. E teremos o perdão de todos os nossos pecados.

Jubileu na tradição hebraica era celebrado a cada cinquenta anos quando eram perdoadas dívidas e penas e libertados escravos. Entre os católicos passou a ser celebrado a cada vinte e cinco anos.

Os últimos Papas viram na ocorrência, oportunidade e utilidade de proceder-se a jubileus focalizando um tema necessário. O Papa Francisco escolheu a misericórdia. Neste sentido afirmou: "O perdão de Deus não pode ser negado a quem quer que seja e que esteja arrependido, sobretudo quando, com coração sincero, se aproxima do sacramento da confissão para obter a reconciliação com o Pai. [...] O perdão deve alcançar todos, pessoas doentes, idosas e sós, nem que seja através dos meios de comunicação social, todos podem alcançar a indulgência”. 

O Papa sabe como são grandes os danos causados pelo pecado que prolifera cada vez mais entre os homens. A cada dia perde-se a consciência da luz, a maldade brota de todo lado e ninguém se exclui.

Jesus já veio e já morreu pelos nossos pecados, mas não conservamos os benefícios da redenção por Ele operada, emporcalhados das pontas dos dedos dos pés aos fios de cabelo do alto da cabeça, carecemos de novo perdão, carecemos de reconciliação, que a misericórdia de Deus se derrame sobre nós.

O tempo é propício. Peçamos a Nossa Senhora que seja companhia das nossas jornadas, que aprendamos com seu exemplo a amar a Deus como convém, a entendermos sempre mais a importância de termos para com a criação e para com as criaturas todo carinho, dispensemos a todos, todo cuidado  e busquemos para todos o que estivermos buscando para nós mesmos.
Dá-nos, Senhor, um coração misericordioso!


                                                  Vitória,14/12/2015                                                                                                                 

Entenda o sentido do jubileu da misericórdia: 

http://noticias.cancaonova.com/entenda-o-significado-do-jubileu-da-misericordia/

domingo, 13 de dezembro de 2015

NENHUM INDIVIDUO É DETENTOR DO PODER.

Nenhum indivíduo é detentor do poder.

Sucessivamente à constatação de que o homem se afigura tal qual lobo em confronto com outro homem, Tomas Hobbes concluiu que “cada homem tinha direito a tudo” do que resultou um estado de guerra permanente entre eles. Todos queriam ao mesmo tempo tudo, apoderar-se de tudo. Acabaram por ser capazes de pagar qualquer preço, inclusive matar, para tanto.

Diante da impossibilidade de viver nessa condição, a saída foi buscar a dimensão social do sossego em favor da sobrevivência. Então, estabeleceram-se contratos com a transferência mútua de direitos, dando vez ao surgimento da sociedade civil, assim considerada, toda aquela “politicamente organizada que se orienta pelos preceitos de uma Constituição a qual dita o relacionamento entre governantes e governados”.

Nossa Constituição e outras esclarecem: “todo poder emana do povo”. E aqui, ao sentido de povo equivale uma entidade jurídica. Difere de Nação. Esta, mais forte, é uma comunidade de consciência, no dizer de Azambuja, unida por um sentimento complexo, indefinível e poderosíssimo: o Patriotismo!

Fiquemos com o sentido de povo como o adotou nossa Carta, ou seja, no sentido político. É formado de pessoas que convivem em determinado espaço físico sob um sistema de organização política e administrativa.

É dessa coletividade o poder que vai-se manifestar na forma legislativa, executiva e judiciária. Para sua efetivação, no primeiro e no segundo caso, o povo escolhe pelo voto secreto e universal aqueles que quer como seus representantes. Para o terceiro, inicialmente por meio de concurso de provas e títulos, depois através dos sufragados, quando se tratar de outras instâncias.

No papel, está tudo muito bem explicado, o contrato prevê tudo e não contempla surpresas. Mas implica em estudar, ao menos ler, refletir, coisas das quais tem quem não goste. E da ignorância, advêm desastres imensuráveis, com resultados impagáveis.

Ao menos se aprendesse com os fatos ou pelo subir das consequências. Segue-se indiferente ao ponto de acabar por ter a própria alma vendida ao inimigo, “a preço de banana” que não vai dar sequer para satisfazer necessidades primárias pessoais e da família.

Crê-se em discursos populistas. Ignoram-se as fortunas despendidas em campanhas políticas tocadas por terceiros, cuja cara não se vê e cujos bolsos se enchem. Insiste-se na não adoção de critérios nas escolhas em quem votar, deixando-se levar por promessas, não há sentido de bem comum e a própria visão de si é empobrecida.

É preciso educar, forçar o entendimento, despertar para o coletivo, para a dimensão social de uma única e de todas as vidas, sem o que nunca será.
  

Vitória, 7 de dezembo de 2015
                                                              01:25


Comentário para marlusse2010@gmail.com. 

domingo, 6 de dezembro de 2015

E DEPOIS NOS AFLIGIMOS



São fatos dos quais já se falava há muitos anos. Trechos do pensamento de Cícero (107 a.C.), de Roosevelt (1882) e outros grandes reverenciados pela história, se afiguram por vezes atualíssimos, portanto, aplicados ao cenário de hoje, sem nenhuma necessidade de serem reescritos. Assim, se atesta que quase nada ou nada tem mudado, a não ser a degradação dos atingidos, sejam humanos ou não, a humilhação e o sofrimento que lhes são impostos, enfim, tudo o que diminui e até esquece os direitos fundamentais.

Se alguém disser que analfabeto não deve votar ou coisa semelhante, receberá uma avalanche de críticas de uma outra parte da sociedade que numa interpretação errônea do que são direitos coloca tudo no mesmo patamar e ainda que seja mero “militante de poltrona”, sente-se recompensado pela defesa feita. Tal qual acontece com os que são complacentes com o adultério, por exemplo, “que perdeu a conotação de proibição ética ou normativa, não obstante ficar de pé o questionamento sobre a relevância moral da fidelidade como propriedade do matrimônio autêntico”. (Luiz Feracine).

A indiferença com que a sociedade se comporta perante quase tudo que lhe diz respeito é verdadeiramente uma lástima. Entra neste detalhe, o ato de votar que se determina por muitas outras razões, muito pouco pela importância que tem, pelas consequências que traz.  O ato quase isolado dos estudantes de São Paulo, dos “gatos pingados” paranaenses, que agiram por antecipação, difere da facilidade com que a sociedade brasileira costuma aceitar as decisões dos executivos entre resignados, ou como melhor se pode dizer, em consequência de ignorância que dá pena.

Indubitavelmente, é muito preocupante e ergue questionamento sobre o analfabetismo funcional – dos que até podem ler, mas não entendem - que assola nosso país. Portanto não se pergunte, como é que se pôde fazer vista grossa para as denúncias de corrupção (havidas em outros tempos como inicialmente se disse), escancaradas desde que o PT assumiu o poder, do que são exemplos entre tantos, o enriquecimento do tal Lulinha, o empoderamento incrível de empresas que elegem maiorias no Congresso Nacional, os empréstimos do BNDES, mensalão, petrolão e muitos outros “ão”.

E a Nação entra em estado de choque na hora em que uma barreira de mineradora se rompe e projeta 35 milhões de metros cúbicos de rejeitos sobre a terra onde vivia uma gente simples ali arraigada por tantas razões, matando os seus, destruindo tudo o que tinha.

Não se dá suficiente atenção aos ditames legais, temos a melhor legislação ambiental do mundo, mas o poder sempre encontra uma forma de driblá-la para satisfazer a cobiça neoliberal, a que não tem em conta que o pensamento primeiro deve ser direcionado ao humano. Nunca me esqueço do desalento de Beatriz Abaurre, então presidente do Conselho Estadual de Cultura, referindo-se àquela decisão judicial que autorizou o desrespeito pela integridade do “Penedo” na Baia de Vitória, simplesmente afirmando: “não turvará a contemplação do Penedo nas tardes de domingo”.  Que fundamentação foi essa, quando se tratou do meio ambiente e mediante desprezo por um patrimônio cuja importância lhe imprimiu o caráter de tombado? Falou mais alto o interesse da empresa.

Urge que tomemos as rédeas do governo. Governo equivale a poder, poder não existe em uma pessoa, está na Nação, portanto no povo que dele investe governantes cujos  nomes são sufragados pelo voto universal e secreto em eleições democráticas.

Se o governo é ruim a responsabilidade é do povo, que vota em pessoas erradas.

É hora de amadurecermos, de aprendermos, de não sermos subservientes, de protagonizarmos nossa história. 

Vitória, 6 de dezembro de 2015. 16:16


quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

ACREDITÁVAMOS POR RESPEITO


“Era assim mesmo, acreditávamos por respeito e confiança nos mais velhos, muito carinho e amor por nossos pais... Onde foram parar todos esses valores”?
Exatamente, estas são as palavras com as quais minha amiga, Ady Gomes Lencastre, comentou a crônica que escrevi ontem: “Crendices mateenses”. Citando várias, disse que acreditávamos sem perguntar, por exemplo, “por que beber leite e comer manga faz mal”?

Certamente, sentíamo-nos amadas. Jamais duvidamos do que ouvimos dos
lábios de mamãe. Era sempre dela a autoria das narrativas. Ainda que não enfatizássemos, é certo que ao nosso inconsciente não passava despercebido tudo que fazia, as diversas mulheres em que ela cotidianamente se desdobrava para que tivéssemos o essencial sempre a tempo e a hora. Ela nos defendia dos castigos de papai. Ela brigava se fosse preciso, com quem ousasse nos atingir.

E o carinho que dispensava a cada uma das irmãzinhas que nascia, até chegar a oitava. Ao irmãozinho, o sexto da constelação. Sem sentir nenhum ciúme, porque toda por quem era menor, não era menos em favor de quem já estava crescidinha. 

Uma vez fiz fogueira do montinho de lixo que o varredor deixou na rua. O carroceiro que recolhia, deu a maior bronca ao passar, só por isto. E vovó quis me bater. Sai correndo, entrava pela porta da frente, saia pela dos fundos, rodando pelo terreno vazio ao lado, vovó atrás. Ao passar por dentro de casa ouvia sua voz que me animava: corre! E claro, eu corria.  Acho que vovó se deu por vencida e quando voltei mais tarde, nada aconteceu.

Éramos mais inocentes? Claro que sim. Eu tinha perto de dez anos, quando Hilda nasceu. Estava conversando com umas coleguinhas, na frente da casa de Marivete. Nesse tempo, morávamos em Linhares. Marilene atacou a conversa da cegonha com repercussão entre todas nós, o que deixou aquele papo ainda mais animado.

Uma delas saiu-se com essa. “Tem vezes que é cegonha que traz o nenê, tem vezes que é uma garça”. Em seguida, afirmei convencidíssima: eu nasci com garça! Até hoje, não se apagou da minha lembrança o sorriso de Marilene, num rosto emoldurado por cabelos negros e lisos e que pegando nos meus, disse: “é por isto que seus cabelos são louros”...

Quem disse que não existia Papai Noel? Certa feita, começamos a escrever cartas para o bom velhinho. Mamãe assegurou que se colocássemos em determinado lugar, era dentro de casa mesmo, ele passaria para apanhar. Assim fizemos e ela dizia que era preciso que nós estivéssemos fora da casa. Claro que saíamos.

Passados alguns instantes, realmente, Papai Noel havia passado e levado as cartas. Encantadas com o prodígio, minhas irmãzinhas e eu redigimos outras cartas, colocávamos no local indicado por mamãe, saiamos, quando voltávamos, Papai Noel recolhera também essas outras.  

Nossa! Ficamos em estado de êxtase.

Pois é, a criança que fomos era assim. Não tínhamos discernimento aguçado por tantos apelos, nem sempre salutares, do mundo que não é mais aquele. Jogávamos peteca, cantávamos roda em noite de lua cheia, descalças, na rua de terra, sujava os pés de poeira... Nunca concluímos em verdade, onde foi parar a “bela condessa, língua de França, onde nasceu”.
Não tinha televisão. As estórias contadas à voz eram afazer típico das vovós. Se não tivesse tanta variedade não nos importava, ouvíamos as mesmas sem qualquer objeção.

Bem se vê que o mundo em torno do qual giravam nossos sonhos era pleno de mistérios, de figuras misteriosas nunca vistas, de personagens criados pela imaginação ou transmitido de geração após geração.

O lobisomem, gente, era o bicho da sexta-feira. Que aparecia, aparecia. Nunca o vi, mas quem disse que não o concebi: grande, feio, olhos pretos, peludo, dentes enormes, garras incríveis, aquela mão horrorosa de dedos longos demais. Estremecia só de pensar. 

À mãe só tratávamos de a senhora. A ela todo respeito, admiração, gratidão.
Experimente dizer que mentia, que não era o símbolo de tudo que de bom e melhor Deus nos podia dar. Ia dar briga, das feias.

Prosseguimos, uma vez sucessores, seremos sucedidos. E a vida continua, mesmo sem dar resposta ao que minha amiga perguntou: “Onde foram parar todos esses valores”?

Hum... foram substituídos por outros, não foram?


Vitória, 2 de dezembro de 2015 17:55


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

CRENDICES MATEENSES


Eu sei que são praticamente as mesmas, seja de onde quer que tenham vindo ou fato do qual se originaram. O certo é que, como eu as conheço, são crendices mateenses.

Sempre foram transmitidas, como se diz de pai ou mãe para filhos, de geração à geração e faziam parte dos próprios costumes. Contadas pelos pais então, revestiram-se de indesmentível veracidade. Eu que o diga. Devia ter lá pelos meus oito para nove anos de idade e vi minha mãe espantadíssima depois de uma noite em que o vento uivou com toda força. Disse que não havia dormido, porque o Saci assobiou toda a noite rodando a nossa casa.

Saci não era então este moleque travesso e simpático de quem as crianças não têm medo e até correm atrás, onde quer que ele apareça, imitando-lhe os pulos ou o que mais fizer.  De capuz, cachimbo do lado da boca e tudo.

Tudo para concluir muitos anos depois, que o que realmente acontecera foi o uivar do vento penetrando por gretas existentes em janelas de madeira, então sem suficiente vedação.

Ai, ai, quem me convenceria de tomar banho depois de uma refeição? Bastou que me tenham dito: faz mal, nunca me disseram o mal que faz. Nunca me disseram, nem eu perguntei.

Nem morta eu tomaria um copo de leite se tivesse comido abacaxi ou chupado uma manga, quanto mais, comeria uma banana à noite.

Coitado daquele nenê, filho de uma prima, com o qual me deparei com forte soluço. Dei um grito perto do “bichinho”. Tomou um susto tal – como foi meu propósito – que disparou a chorar convulsivamente, mais prejudicado que antes. Levar susto para acabar com soluço? E dai que quem mais se assustou fui eu.

Ai, ai, ai, encontrar um gato preto em dia de sexta-feira, quanto mais se for um 13, o azar vai bater na sua vida e fazer estrago. De jeito nenhum, deixe um chinelo ou sapato com a sola virada para cima, “sinal de morte certa para sua mãe”. Que horror!

Você trabalhou o dia todo, depois do jantar, era a hora mais propícia, aparecia aquela visita na sua casa, marido, mulher, os filhos e conversa, conversa... lá se vai chegando a meia noite... Rápido, pegue uma vassoura e coloque-a virada atrás de uma porta. É tiro e queda, os visitantes se despendem e vão-se.

O número sete ligado a maravilhas do mundo antigo e outras virtudes, é a conta do mentiroso. Agosto é o mês do desgosto, não se case nele, o casamento não vai vingar. Sua sorte pode ser ainda qualificada de má, se cantar na quaresma, pois vai virar mula-de-padre. Passar debaixo do arco-íris? nem pensar, vira mula-sem- cabeça. Corra e vá se benzer urgente, não antes sem jogar fora o espelho quebrado, pois lhe causará sete anos de mau agouro.

Não, por favor, não coloque sua bolsa no chão, seu dinheiro vai acabar. Coma sete sementes de romã e verá quão grande será sua posteridade. Ou ainda, achando uma ferradura, pegue-a, leve para casa, pregue um prego atrás da porta de entrada e a pendure, com ela chega a sorte. Igualmente, bons resultados podem ser obtidos, se você carregar um pé de coelho no bolso, ou encontrar um trevo de quatro folhas.

Chi, você comeu muito chocolate, a prova está no seu rosto cheio de espinhas. Não por favor, não revire os olhos porque está ventando e você pode ficar caolho. Garanto que você apontou estrela com o dedo, olha a berruga (com b mesmo) do seu dedo. Tá doida, criatura, não arranque esse fio de cabelo branco da sua cabeça, no lugar dele, vão nascer dois.

A enumeração iria ainda mais longe, por enquanto, fiquemos por aqui.

Não. Só mais uma para completar. Não sabe aquela figa? Constituída de uma mãozinha fechada com uma parte do braço? Nossa, usar uma era obter muita sorte. Em ouro, adornaram desde colos enormes de madames até peito de criancinhas. Pouca gente sabe sua verdade.

Diz-se que superstições e crendices foram trazidas pelo colonizador, pelo negro escravizado, enfim é tudo coisa importada... Incrustou-se na nossa cultura, fez parte da vida de muitos no papel de ingênuos ou dos que os manipulavam como é o caso do senhor de escravos que dizia a estes para não comer manga, porque tinham jantando (apenas) um copo de leite. Podiam “assaltar” as mangueiras, por exemplo. Ufa!

Acho que fiz um registro e se quem ler se sentir de qualquer forma ameaçado, não se perturbe, não me queira mal, o remédio é simples, basta bater três vezes com os dedos de sua mão fechada em qualquer madeira e diga: isola.

Boa sorte.


Vitória, 1° de dezembro de 2015 23:30