segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

LEMBRANÇAS DE NAIARA



                            Marlusse Pestana Daher

Ao sopé daquele morro,
Onde aquele rio corria perto,
Transcorri os verdes anos
De uma infância feliz.

Se era pobre nossa morada
O amor de mamãe não nos faltava
De roupas limpas nos ornava
Chinelo de pneus nos calçava.

Ao sabor da brisa ora,
Ora ao toque de ventos uivantes,
Acima e abaixo corríamos,
Energia em nós, abundava.

E o espetáculo anual da enchente
Para meu deliciar, se repetia
Não pedia permissão para chegar,
Não dava adeus, quando partia.

Assim, em cada dia, eu lá estava,
Sentada no mesmo lugar
Horas e horas ainda eram poucas
Pra satisfazer meu contemplar.

Águas barrentas traziam
Tudo que em seu curso encontrassem,
Pedaço de cobertor, pedaço de pano velho,
Uma meia, uma saia de mulher.

Identificar era a alegria,
Cada qual a disputar quem mais?
Mas todas as vozes se calavam
Quando se tratava de restos
Ou corpos de animais.

E a água ia,
Célere como quem quer chegar
Ao seu destino certeiro,
Outro curso dágua ou o mar.

Disso não é que
Àquela altura eu já soubesse
Mas me encantava sempre,
A cada instante, um pouco mais
Ver água em abundância, rolar.

Chegava,
Inundava,
Passava,
Esvaziava,
Ia...

Só não foi de mim
E certamente jamais se irá,
Ela...
Sua lembrança,
Sob o azul do céu
Ao lado do verde da relva
Da altura do morro,
Daquela criança a sonhar,
...a enchente.



Em São Mateus - verão de 2015