terça-feira, 24 de novembro de 2015

FRAUTA AGRESTE

Apresentação

Anualmente, a Academia Mateense de Letras vem realizando atividades literárias para as quais tem escolhido um nome a destacar ou homenagear, fazer lembrado.

Em 2013, foi Ruben Braga, no centenário do nascimento desse tão ilustre cronista capixaba. Em 2014, Cecília Meireles foi a escolhida. Cumpriam-se cinquenta anos desde que ela se calou. E neste ano, 2015, foi a vez de Maria Antonieta Tatagiba, uma poetisa de produção intensa que, apesar de ser aclamada por seus pares, em sua época, o silêncio da história insistia em se fazer ouvir sobre sua voz de tempos em tempos.

Esta publicação resulta da obstinação com que a ideia foi perseguida porque importa dar voz novamente a essa mulher escritora, que não precisou como outras de sua época, driblar a crítica e os leitores utilizando-se de pseudônimos, nem enfrentou o descaso de sua família em relação ao que escrevia. Casada, obteve o aval do marido, também escritor, que sempre a apoiou e admirou. Em sua cidade natal, conheceu o apreço de todos não somente porque era uma das professoras locais ou porque era a esposa do prefeito, mas por estar sempre um passo a frente do seu tempo.

Nosso tempo é também um tempo de conquistas para as mulheres. Realçar a importância e o valor daquelas que nos precederam nos afazeres dos quais nos ocupamos é um colaborar com a história.

O Mestrado da UFES tem contribuído no sentido de resgatar obras de escritoras capixabas graças à eficiente orientação de professores que reconhecem a importância de fazê-lo. Anima as mulheres e lhes dá certeza de que também ocupam lugar de muito destaque no cenário literário capixaba, brasileiro e quiçá além fronteiras, levando-as a repetir o que outras já fizeram e hoje graças à evolução dos meios, com bem melhores condições de produzir e publicar.

Foi frequentando o seu mestrado na UFES que Karina Fleury (autora das informações em itálico que aqui vão transcritas) realçou ainda mais a obra de Tatagiba, valendo-se, é verdade, do que outros disseram e reunindo preciosidades como foto da placa da rua que tinha o nome de Tatagiba no bairro de Jucutuquara, sua certidão de óbito que elucida controvérsias sobre o lugar onde teria morrido nossa homenageada, poesia, que também publicamos e  que não compôs “Frauta Agreste”, visto que a morte a colheu no verdor dos anos, antes que se pudesse alegrar com a edição de um segundo livro.

Graças à pesquisa de Fleury podemos citar o que disseram de Tatagiba expressivos nomes da nossa Literatura. Vale a pena citar:

Em 14 de março de 1959, (Dia Nacional da Poesia) Mesquita Neto registrou seus sentimentos pelo trigésimo primeiro ano de falecimento da que chamou “maior poetisa capixaba”. Acrescentou: Frauta Agreste deve ser reeditado para conhecimento das novas gerações de intelectuais e amantes da boa poesia. É possível que um dia, quem sabe”? (Mesquita Neto é patrono da cadeira n° 5 da Amaletras que foi ocupada pelo saudoso acadêmico Roberto de Souza Lé que para tanto, o escolheu).

Seis anos depois, (1959) Annette de Castro Mattos resgata a obra da autora em conferência proferida em São Paulo, com o título: “Uma poetisa capixaba”. Como presidente da Academia Feminina Espírito-santense de Letras, Annete também propôs com acatamento da parte das outras acadêmicas, que Tatagiba se tornasse “Patrona espiritual da AFESL”. Tem-na como patrona ainda a cadeira 32 do mesmo silogeu e de uma de correspondente na Amaletras.

Outro nome de peso da nossa literatura, Maria Stella de Novaes, poetisa e historiadora, lembrou-se saudosa da homenageada considerando-a um “nome de prestígio nas letras espírito-santenses, que para surpresa dos pessimistas, daqueles que tudo sabem e se julgam detentores da cultura, surgiu em 1927, com um delicioso livro de poesias, “Frauta Agreste”.

Contamos com outras referências de expressivas estrelas da literatura que com suas opiniões respaldam nossa quase obstinação em querer reeditar “Frauta Agreste”. Além de lances históricos encontráveis nos versos, não haverá quem não se comova lendo a poesia “Ruyzinho” que restitui à atualidade o sentido de poesia, mais do que palavras que compõem o texto, é a emoção que exala do verso inspirado e emociona.  O texto equivale à flor, poesia é o aroma que dela emana.

Publica-se na íntegra o Frauta Agreste. Reformulamos a capa, guardando sua inspiração. Acrescentamos o único conto publicado pela autora e a carta que Fleury lhe escreveu, lida no dia da abertura do ano literário.

É assim que na sua modéstia, a Academia Mateense de Letras, Amaletras, orgulhosamente, confessa, oferece aos leitores “Frauta Agreste”, para que Maria Antonieta Tatagiba continue lembrada e para que seus versos continuem enriquecendo nosso mundo poético.

São Mateus, primavera de 2015.
                                                            
 Marlusse Pestana Daher 
Presidente da Amaletras