quarta-feira, 25 de novembro de 2015

FACES MÚLTIPLAS DE VITÓRIA


Ali, exsurge a cúpula da imponente basílica de Santo Antônio, sonho do religioso que um dia deixou pátria, mãe e família, para trazer a estas terras a mensagem do Evangelho, o conhecido Pe. Mateus, um passionista. Aqui, os espigões das torres da catedral, de estilo neogótico, inspirado na Catedral de Colônia, Alemanha. Ali, entre duas palmeiras, modestamente, também se pode ver a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, que vai testemunhando tempo a fora a existência daquelas irmandades, sonhadas primeiro como forma de libertação para  os escravos, ou em forma de  enlevo espiritual, permitir esquecer as agruras pelas quais cotidianamente passavam.

Por todos os lados, águas, às vezes menos, outras, mais revoltas, a certo ponto, cooperando generosamente com a vida existente em outros ecossistemas contíguos, marulham em acordes únicos produzindo sempre sinfonias inacabadas ou desenham na superfície, traços sempre novos que não permanecem, tocadas, momentaneamente se espalham e em seguida,  retornam ao conjunto inseparável. Beijam-lhe em rito permanente as extremidades, sem afetar-lhe as bordas.

Seu centro de geografia irregular é mesmo um sobe e desce. Experimente chegar nas imediações da Rua São Bento e prosseguir pela Graciano Neves. Lá, vire à direta, pode ser à esquerda, o que muito morador desconhece e se continua subindo, sem contudo chegar ao céu. Tem uma ladeirinha de inclinação respeitável se sua descida se der sobre rodas, pode sentir calafrio.

Por uma rua, você vai, por outra poderá vir, para chegar às extremidades. Se ao norte, dará de frente com o que foi o mais charmoso bairro da cidade, de casas que quase totalmente se foram, onde uma rua já não evoca a lembrança de Maria Antonieta Tatagiba, a poetisa de São Pedro de Itabapoana, onde se pegava um bonde que levava quem quisesse até a prainha no sopé do Convento da Penha – Vila Velha. Se ao sul, encontrará o bairro de Santo Antônio, onde está o grande dormitório no qual apesar de dor tirana, muitos ainda depõem os entes queridos que nos precedem, no aguardo do dia da eternidade.

Pela sua conformação ou aspecto com que aos olhos criativos de alguém se apresenta já recebeu diversos epítetos. Cidade presépio, visto que os morros que se mostram exuberantes por toda parte sempre guardaram inúmeros casebres que, à noite, iluminados pela luz elétrica sugeriam os arrabaldes de Belém onde Deus se fez homem como nós, ao nascer de uma Virgem que aceitou o projeto daquele em que depunha suas certezas e as consequências de uma gravidez tão pródiga, aos olhos de tantos, improvável. Cidade sol de um céu sempre azul. Pode ser este o mais próprio de todos, visto que ao sorriso do astro rei, como que raios se projetam nas águas do seu entorno e refletem por toda parte a magia da luz. Ilha do mel. Ilha sim, mas por que do mel um líquido doce que resulta do labor de numerosas colmeias. De onde vem o doce que sugeriu tal qualificativo? Talvez do resultado harmônico de tudo quanto sua beleza provoca em corações que adocicados só reste explodir em exclamativos ou dizeres de qualquer coisa.

O poeta a incrusta no seu verso inspirado, o compositor a amalgama nas notas melodiosas do seu canto, todos se apossam de ambos para externar o amor que lhe devotam.

E se é para falar de sabores capixabas, nem se olvide a frase mais célebre vazada da inspiração de Cacau Minijardim que definindo o que com peixes em toda parte se faz, saiu-se com esta: “moqueca só a capixaba, o resto é peixada”.

Todos usam coentro, cebolinha verde, uma cebola média, três dentes de alho, quatro tomates, pimenta malagueta, azeite de oliva, urucum e até azeite de dendê. Dispõem as postas de um badejo, dourado, outro bom peixe, mas o melhor mesmo de um robalo, em uma bela panela de barro, leva ao fogo e tal, mas se, enquanto vai cozinhando, não for recebendo ares de uma terra capixaba, a peixada pode até encher de água a boca, mas não será uma moqueca.

É uma cidade ilha esta Vitória! Pequenina, vestiu trajes de gente grande, abriga mais gente do que o recomendável para a tal qualidade de vida.
É berço de gentes de todo porte, de toda expressão, de qualquer sorte. É tudo e de tudo tem para quem a escolheu como morada. Viu-se constrangida pelo que já não detém, porque a modernidade roubou, ou em nome do desenvolvimento se fez.

Nem assim perdeu qualquer daqueles atributos, tal qual eternizada nos versos de Pedro Caetano: Cidade Sol, com o céu sempre azul / Tu és um sonho de luz norte a sul / Meu coração te namora e te quer / Tu és Vitória um sorriso de mulher / Do Espírito Santo, és a devoção / Mas para os olhos do mundo, és uma tentação / Milhões te adoram, e sem favor algum / Entre os milhões, eis aqui mais um.

                                
                           Marlusse Pestana Daher                                                                   21 de novembro de 2015  17:00

ETERNA PRIMEIRA DAMA

                     A ETERNA PRIMEIRA DAMA

                   Terezinha Abreu Ferreira de Rezende

A mulher foi criada por Deus para preencher e completar o mundo, dotada de sentidos, habilidades e uma magnífica complexidade, para representar alguns atributos do próprio Deus na Terra. Assim como o homem, não foi feita para estar sozinha, mas para constituir... Não apenas ao homem, e vice-versa, mas para completar a unidade de toda a Criação. Assim o é a “Nossa Eterna Primeira Dama”, Dona Terezinha Vieira de São José do Calçado. Com sua postura elegantíssima, desfila pelas ruas e ladeiras, todas as manhãs, como um pacto com Deus e a natureza das montanhas e das flores,  “desfilar” para completar a beleza da verde alma da cidade. 

Dona Terezinha Vieira, como todos a conhecem, nos seus oitenta e seis anos de plenitude e vitalidade, encarrega-se, ainda, dos cuidados e afazeres com as tarefas dos negócios e da casa com suas amigas servidoras. Ela seguia imponentemente a vida social e política do falecido marido Senhor José Vieira de Rezende, aquele que na política calçadense, foi o homem correto, justo, solidário, foi o político que durante décadas lutou pelas comunidades pobres, ajudando as pessoas fora e dentro da política.

Esteve, lindamente, ao seu lado por cinco vezes como vereador (mandatos em 1966-1970-1972-1976-1982) e uma vez prefeito, em 1988, com 2.750 votos pelo PTB, cargo que exerceu com amor e dignidade. Sendo ela a primeira dama, cuidou da creche “Tia Augusta”, cargo que, na época, não era renumerado. Porém, com sua elegância e bondade, nas manhãs ensolaradas com o perfume das rosas da Praça Pedro Vieira, subia as ladeiras, orgulhosa e sensível pela causa justa da colaboração com as crianças de sua “Calçado”. Ordenava carinhosamente as costureiras para a fabricação de roupinhas para as crianças e orientava as cozinheiras sobre o preparo dos alimentos. Nesta época, não existia profissionais tais como: assistentes sociais, nutricionistas e outros, como nos dias atuais. Estes ofícios eram designados às esposas dos prefeitos. Esta missão de Primeira Dama lhe fora confiado pelas mãos divinas, pois todos os ilustres calçadenses a têm com a Eterna Primeira Dama! 

Que nos perdoem todas as que, também, ocuparam o cargo ao lado de seus maridos eleitos, mas Dona Terezinha é um exemplo de beleza, elegância, jovialidade, e através de sua peculiar elegância e sensibilidade, que os munícipes a adotaram, como “Eterna” nos corações calçadenses. Ainda em 2000, esteve ao lado de seu marido como vice-prefeito eleito na gestão 2000/2004, com o prefeito Dr. Jefferson Spadarott Bullus.Com certeza o jovem prefeito,naquela época,aprendeu muito de política e de amor com o velho casal de amigos por quem  tem respeito como se fossem seus pais.

Dona Terezinha Abreu Ferreira de Rezende exerceu a bela profissão de Professora e foi no cargo de Diretora da Escola Jardim da Infância “Marieta Castro” CMEI, que se aposentou. Deixou, nesta escola, seu perfume de rosas, espalhado pelos corredores, pois foi através de seu pedido que aconteceu a primeira reforma da escola e a ela dedicou todo o tempo possível com amor e generosidade incomparável.

O casal “Zé Vieira e Dona Terezinha” está eternizado na rotina e cotidiano das pessoas. Eles, ritualmente, todos os dias, saiam de carro, pelas ruas, ambos com uma serenidade ímpar, saudando,ajudando e conversando com os munícipes. Ela, mesmo o acompanhando no antigo corcel bem vagaroso, nunca dispensou a caminhada a pé, sempre com sua elegância impecável e a postura jovial.

Dona Terezinha Vieira é o orgulho das mulheres e homens calçadenses e porque não dizer do Estado do Espírito Santo. Quando olhamos para a história das mulheres batalhadoras, reconhecemos grandes revoluções provocadas pela ação de mulheres fortemente frágeis, indissoluvelmente honestas, suavemente profundas, altruistamente compassivas e sensivelmente corajosas, na ordem do mundo, mas, principalmente no dia a dia, através dos braços, colo e sorriso das inúmeras mães, donas de casa, profissionais, empresárias, atletas, filósofas, poetisas, artistas, camponesas, professoras, escritoras, musicistas, teólogas, profetas, cozinheiras, crianças, tias, avós, sobrinhas, esposas, mártires, cientistas, doutoras, matriarcas, líderes, servas, viúvas... Delas, os nossos exemplos.

 Entre elas, Desfila “Terezinha Vieira” – contemporânea da vitalidade e amor, nas ladeiras da “Cidade Simpatia entre Montanhas e Flores”.

Para esta Virtuosa Senhora, que tornou São José do Calçado mais bela e um tanto mais amável, dedico este poema do escritor Francês Vitor Hugo:

“O homem é a mais elevada das criaturas;
A mulher é o mais sublime dos ideais.

O homem é o cérebro; A mulher é o coração.
O cérebro fabrica a luz;
O coração, o AMOR.
A luz fecunda,
O amor ressuscita.

O homem é forte pela razão; A mulher é invencível pelas lágrimas.
A razão convence,
As lágrimas comovem.

O homem é capaz de todos os heroísmos; A mulher, de todos os martírios.
O heroísmo enobrece,
O martírio sublima.

O homem é um código; A mulher é um evangelho.
O código corrige;
O evangelho aperfeiçoa.

O homem é um templo; A mulher é o sacrário.
Ante o templo nos descobrimos;
Ante o sacrário nos ajoelhamos.

O homem pensa; A mulher sonha.
Pensar é ter, no crânio, uma larva;
Sonhar é ter, na fronte, uma auréola.

O homem é um oceano; A mulher é um lago.
O oceano tem a pérola que adorna;
O lago, a poesia que deslumbra.

O homem é a águia que voa; A mulher é o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço;
Cantar é conquistar a alma.

Enfim, o homem está colocado onde termina a terra;
A mulher, onde começa o céu.”


Bárbara Pérez
Escrevinhadora.