domingo, 6 de dezembro de 2015

E DEPOIS NOS AFLIGIMOS



São fatos dos quais já se falava há muitos anos. Trechos do pensamento de Cícero (107 a.C.), de Roosevelt (1882) e outros grandes reverenciados pela história, se afiguram por vezes atualíssimos, portanto, aplicados ao cenário de hoje, sem nenhuma necessidade de serem reescritos. Assim, se atesta que quase nada ou nada tem mudado, a não ser a degradação dos atingidos, sejam humanos ou não, a humilhação e o sofrimento que lhes são impostos, enfim, tudo o que diminui e até esquece os direitos fundamentais.

Se alguém disser que analfabeto não deve votar ou coisa semelhante, receberá uma avalanche de críticas de uma outra parte da sociedade que numa interpretação errônea do que são direitos coloca tudo no mesmo patamar e ainda que seja mero “militante de poltrona”, sente-se recompensado pela defesa feita. Tal qual acontece com os que são complacentes com o adultério, por exemplo, “que perdeu a conotação de proibição ética ou normativa, não obstante ficar de pé o questionamento sobre a relevância moral da fidelidade como propriedade do matrimônio autêntico”. (Luiz Feracine).

A indiferença com que a sociedade se comporta perante quase tudo que lhe diz respeito é verdadeiramente uma lástima. Entra neste detalhe, o ato de votar que se determina por muitas outras razões, muito pouco pela importância que tem, pelas consequências que traz.  O ato quase isolado dos estudantes de São Paulo, dos “gatos pingados” paranaenses, que agiram por antecipação, difere da facilidade com que a sociedade brasileira costuma aceitar as decisões dos executivos entre resignados, ou como melhor se pode dizer, em consequência de ignorância que dá pena.

Indubitavelmente, é muito preocupante e ergue questionamento sobre o analfabetismo funcional – dos que até podem ler, mas não entendem - que assola nosso país. Portanto não se pergunte, como é que se pôde fazer vista grossa para as denúncias de corrupção (havidas em outros tempos como inicialmente se disse), escancaradas desde que o PT assumiu o poder, do que são exemplos entre tantos, o enriquecimento do tal Lulinha, o empoderamento incrível de empresas que elegem maiorias no Congresso Nacional, os empréstimos do BNDES, mensalão, petrolão e muitos outros “ão”.

E a Nação entra em estado de choque na hora em que uma barreira de mineradora se rompe e projeta 35 milhões de metros cúbicos de rejeitos sobre a terra onde vivia uma gente simples ali arraigada por tantas razões, matando os seus, destruindo tudo o que tinha.

Não se dá suficiente atenção aos ditames legais, temos a melhor legislação ambiental do mundo, mas o poder sempre encontra uma forma de driblá-la para satisfazer a cobiça neoliberal, a que não tem em conta que o pensamento primeiro deve ser direcionado ao humano. Nunca me esqueço do desalento de Beatriz Abaurre, então presidente do Conselho Estadual de Cultura, referindo-se àquela decisão judicial que autorizou o desrespeito pela integridade do “Penedo” na Baia de Vitória, simplesmente afirmando: “não turvará a contemplação do Penedo nas tardes de domingo”.  Que fundamentação foi essa, quando se tratou do meio ambiente e mediante desprezo por um patrimônio cuja importância lhe imprimiu o caráter de tombado? Falou mais alto o interesse da empresa.

Urge que tomemos as rédeas do governo. Governo equivale a poder, poder não existe em uma pessoa, está na Nação, portanto no povo que dele investe governantes cujos  nomes são sufragados pelo voto universal e secreto em eleições democráticas.

Se o governo é ruim a responsabilidade é do povo, que vota em pessoas erradas.

É hora de amadurecermos, de aprendermos, de não sermos subservientes, de protagonizarmos nossa história. 

Vitória, 6 de dezembro de 2015. 16:16