quarta-feira, 30 de março de 2016

SINTO VERGONHA DE MIM


SINTO VERGONHA DE MIM
                                                                                

Sinto vergonha de mim por ter sido educador de parte deste povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade e por ver esse povo já chamado varonil.

Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a família, célula-mater da sociedade, a demasiada preocupação com o “eu” feliz a qualquer custo, buscando a tal “felicidade” em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo.

Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos “floreios” para justificar atos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre “contestar”, voltar atrás e mudar o futuro.

Tenho vergonha de mim pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço.

Não tenho para onde ir pois amo este meu chão, vibro ao ouvir meu Hino e jamais usei minha Bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade.

Ao lado da vergonha de mim, tenho pena de ti, povo brasileiro! De tanto triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.

Segue o João Amaury Belém...

Para onde caminha esse jovem país chamado Brasil, pois, como Advogado aos 53 anos com uma filha de 18 anos neste ano de 2014 cursando o 2º ano de Direito, tenho vergonha da minha impotência, das minhas desilusões e do meu cansaço em ver tanta mediocridade ao longo dos últimos doze anos, de ver triunfar as nulidades, de ver prosperar a desonra, de ver crescer a injustiça, de ver agigantarem-se os poderes nas mãos de uma corja de sindicalistas desonestos que em pleno século XXI, início do terceiro milênio tem a desfaçatez de querer enfiar goela abaixo dos homens de bem desse país que a única solução é o comunismo/socialismo.
Como Homem chego a desanimar da virtude, e choro por aqueles que riem da honra e têm vergonha de serem honestos.


João Amaury Belem
Advogado

Sinto vergonha de mim - Poema que erroneamente foi atribuído a Ruy Barbosa mas na verdade é a ele atribuído apenas os últimos versos desse poema que na sua grande é de autoria da poetisa Cleide Canton e Rolando Boldrin declama com grande emoção. Poema que descreve a realidade política e as maldades que essa gente gananciosa, mesquinha, desonesta e sem caracter aplica sobre o povo de nosso amado pais.

domingo, 27 de março de 2016

O QUE É A CNBB

O BISPO DE GUARULHOS AFIRMA: A CNBB NÃO TEM AUTORIDADE NENHUMA SOBRE OS BISPOS

André F. Falleiro Garcia

     O Bispo de Guarulhos, D. Luiz Gonzaga Bergonzini, fez recentemente esta declaração: "A CNBB não tem autoridade nenhuma sobre os bispos". Ele está coberto de razão. Já dissemos isto quandotratamos da natureza jurídica eclesiástica e limites de competência da CNBB, no artigo "A CNBB não é a Igreja Católica".
O Bispo de Guarulhos, D. Luiz Gonzaga Bergonzini 
     Com efeito, cada Bispo, Arcebispo ou Cardeal que compõe em nosso país a Sagrada Hierarquia da Igreja Católica, mantém relação de vinculação hierárquica direta com o Sumo Pontífice sem interposição de nenhuma instituição eclesiástica intermediária brasileira. Conforme o Decreto nº 7.107, de 11-2-2010, que regula o Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil, "a Santa Sé é a suprema autoridade da Igreja Católica, regida pelo Direito Canônico". E a CNBB é apenas um ente burocrático, um órgão de apoio, uma instituição eclesiástica sem nenhum poder de mando sobre os bispos.
     Mesmo estando a declaração de D. Bergonzini de acordo com a realidade do plano jurídico civil e eclesiástico, soou como se fosse uma afirmação surpreendente e inédita, como uma afronta ao que supostamente seria a chefia da Igreja Católica no Brasil. Até aqui nenhum dos integrantes ousara questionar tão abertamente as orientações do órgão colegial episcopal, que se valeu durante décadas de uma autoridade fictícia, de uma enorme capacidade de pressão sobre a maioria dos bispos, e de uma eficiente transmissão ao público brasileiro de uma imagem equivocada e supervalorizada. Vamos aos fatos.
     D. Bergonzini escreveu o artigo "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus (Mc 12,17)" que foi publicado na Folha Diocesanade Guarulhos do mês de julho/2010 e no site da CNBB. O mesmo foi depois censurado e retirado do site da CNBB. Nele D. Bergonzini afirmou que é dever da Igreja intervir no cenário político-eleitoral convidando os fiéis a não votar em partido ou candidato que desrespeite a vida (aborto) e os valores familiares.[1]
     E apontou o Partido dos Trabalhadores (PT) — que apoiou o péssimo 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) e puniu os deputados petistas Luiz Bassuma e Henrique Afonso por serem defensores da vida — como sendo um partido que se posicionou de modo público e notório contra os valores da vida e da família.[2]
     Por fim, D. Bergonzini ainda citou expressamente a candidata presidencial Dilma Roussef, do PT, recomendando que os católicos não apoiem sua candidatura nem a dos demais que proponham a liberação ou legalização do aborto.[3]
     Dilma Rousseff, ao saber da declaração do bispo, comentou que aquela não era a posição de neutralidade na campanha política que a CNBB recomendara aos bispos. Tanto Dilma quanto o presidente Lula da Silva entendem que o aborto deve ser tratado como uma questão de "saúde pública", modo ladino de esquivar a grave questão religiosa do assassinato dos nascituros: a clara afronta ao 5º mandamento da Lei de Deus — “Não matarás”.
     Mesmo depois de ter desafiado a CNBB e a candidatura Dilma, D. Bergonzini não se deixou dobrar pelas inevitáveis pressões e permaneceu irredutível. Em entrevista concedida ao jornal Folha de São Paulo, ao ser questionado sobre o contraste entre a recomendação da CNBB de adotar a neutralidade na campanha, e o seu pronunciamento contrário à candidata Dilma Rousseff, o bispo respondeu: "Em primeiro lugar, que recomendação é essa? A CNBB não tem autoridade nenhuma sobre os bispos. Eu segui a voz da minha consciência. Sou cristão de verdade e defendo o mandamento 'não matarás'. Não tem esse negócio de 'meio termo'."
     E sem manifestar temor por algum tipo de retaliação ou reação negativa da parte da CNBB ou de partidários da candidata Dilma, D. Bergonzini insistiu: "Eu não vou arredar o pé, não importa as consequências que eu venha sofrer, mas o que importa é minha consciência e seguir o Evangelho. Eu não tenho medo. O que pode acontecer? Deus saberá. [...] Como cidadão, tenho direito de expressar minha opinião e, como bispo, tenho a obrigação de orientar os fiéis."[4]
     É oportuno recordar que no caso recente da menina de Alagoinha (PE), que foi estuprada pelo padrasto e engravidou de gêmeos, o então arcebispo de Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, em defesa da cultura da vida anunciou publicamente que o Código Canônico previa a pena de excomunhão automática para todos os envolvidos. A CNBB encarregou-se de demolir o posicionamento dele. Por meio de seu secretário-geral, bispo Dom Dimas Lara Barbosa, desautorizou o anúncio da excomunhão. A CNBB atuou como se fosse a chefia da Igreja Católica no Brasil. Mesmo desacreditado, D. José Sobrinho não recuou. E venceu. Pois cumpriu o seu dever e combateu o bom combate. Também a intrepidez de D. Bergonzini ficou insculpida na história eclesiástica brasileira.
     O poder psicológico de pressão exercido pela cúpula da CNBB e suas 17 Regionais sobre o episcopado tem sido acachapante. Mas já se viu que a pedra se transforma em gelatina e surgem fendas na muralha quando a verdade católica é afirmada com ousadia e sem respeito humano.
     É alentadora a defesa postada no site da Diocese de Guarulhos, intitulada Vivas a Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, assinada pelo advogado João Carlos Biagini, na qualidade de membro do Departamento Jurídico da Mitra Diocesana. A licitude da ação pastoral em defesa da vida promovida por D. Bergonzini e, em consequência, de sua resistência à CNBB, transparecem nas palavras do referido jurista. Inclusive o bispo agiu segundo a lei da esfera civil, como jornalista e responsável pela Folha Diocesana, de acordo com o Código de Ética, e pautou seus escritos pela verdade. Como cidadão brasileiro, fez uso do direito de manifestação de opinião consagrado no art. 5º., inciso IV, da Constituição Federal em vigor.
     Ademais, D. Luiz Gonzaga Bergonzini agiu como verdadeiro bispo católico em consonância com as regras do Código Canônico, conforme as palavras do defensor jurídico da Mitra de Guarulhos, que apresentamos a seguir, como conclusão destas considerações:
     "Dom Luiz Gonzaga expediu uma orientação, a todos os católicos, para não votarem em partido e candidatos que são a favor do aborto. Dom Luiz, como pregador do evangelho de Cristo, não poderia se omitir, ou relativizar, contrariando a Doutrina Cristã e desobedecendo ao Papa Bento XVI. Não podemos imaginar nem admitir um bispo, um padre ou qualquer religioso católico apoiando partidos e candidatos favoráveis ao aborto. Se assim agissem, eles estariam negando o seu sacerdócio e a sua fé. Então, sob o ponto de vista pastoral, Dom Luiz cumpriu sua obrigação e orientou os fiéis para não votarem em quem ofende a Doutrina Cristã. No âmbito do Direito Canônico, Dom Luiz Gonzaga deu cumprimento ao cânon 386, §1 e §2, assim escritos: “§1. O Bispo diocesano é obrigado a propor e explicar aos fiéis as verdades que se devem crer e aplicar aos costumes...” §2. Defenda com firmeza a integridade e unidade da fé, empregando os meios que parecerem mais adequados...”. Temos, então, que o Direito Canônico autoriza o Bispo Dom Luiz Gonzaga a explicar as verdades e defender a integridade e unidade da fé. Dom Luiz cumpriu sua obrigação canônica."[5]
     _________
   
     NOTAS:
    [1] Disse D. Bergonzini: "[...] a Igreja não se posiciona nem faz campanha a favor de nenhum partido ou candidato, mas faz parte da sua missão zelar para que o que é de “Deus” não seja manipulado ou usurpado por “César” e vice-versa. Quando acontece essa usurpação ou manipulação, é dever da Igreja intervir convidando a não votar em partido ou candidato que torne perigosa a liberdade religiosa e de consciência ou desrespeito à vida humana e aos valores da família, pois tudo isso é de Deus e não de César." (Cf. artigo Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus (Mc 12,17).) 
    [2] Afirmou D. Bergonzini no artigo supra citado: "Na atual conjuntura política o Partido dos Trabalhadores (PT) através de seu IIIº e IVº Congressos Nacionais (2007 e 2010 respectivamente), ratificando o 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH3) através da punição dos deputados Luiz Bassuma e Henrique Afonso, por serem defensores da vida, se posicionou pública e abertamente a favor da legalização do aborto, contra os valores da família e contra a liberdade de consciência."
    [3] "Isto posto, recomendamos a todos verdadeiros cristãos e verdadeiros católicos a que não dêem seu voto à Senhora Dilma Rousseff e demais candidatos que aprovam tais “liberações”, independentemente do partido a que pertençam." (Idem, ibidem)  
    [4] Eis os principais trechos da entrevista concedida pelo bispo:
     Folha — Mesmo com a recomendação da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) pela neutralidade na campanha, o senhor decidiu explicitar sua posição contrária à candidata Dilma Rousseff. Por quê?

     D. Luiz Gonzaga Bergonzini — Em primeiro ligar, que recomendação é essa? A CNBB não tem autoridade nenhuma sobre os bispos. Eu segui a voz da minha consciência. Sou cristão de verdade e defendo o mandamento “não matarás”. Não tem esse negócio de “meio termo”.

     Folha — A candidata afirma que não defende a descriminalização do aborto. Mesmo assim, o senhor cita o nome dela no artigo.

     D. Luiz Gonzaga Bergonzini — Ela [Dilma] segue o partido, ela é a candidata. Então eu vou matar a cobra na cabeça. Pessoalmente não tenho nada contra ela. Mas o direito à vida é o maior direito humano. O aborto é atitude covarde e criminosa. Eu não arredo o pé, não.

     Folha — Como o senhor concluiu que ela tem essa posição? Isso nunca ficou claro e ela nega.

     D. Luiz Gonzaga Bergonzini — É o terceiro plano de governo que ela adota. Como percebeu que havia reação, foi mudando. Não vou recuar.

     Folha — O senhor pretende levar ao conhecimento dos fiéis da diocese essa recomendação de não votar na candidata Dilma?

     D. Luiz Gonzaga Bergonzini — Os padres devem notificar ao povo a orientação do bispo. Eu não vou arredar o pé, não importa as consequências que eu venha sofrer, mas o que importa é minha consciência e seguir o Evangelho. Eu não tenho medo. O que pode acontecer? Deus saberá.

     Folha — Inclusive nas missas, os padres vão tratar do tema? Vão citar o nome da candidata?

     D. Luiz Gonzaga Bergonzini — Tratar do tema, não. Podem citar o nome dela, porque vou mandar uma carta para os padres notificarem as pessoas da minha recomendação nas missas. Como cidadão, tenho direito de expressar minha opinião e, como bispo, tenho a obrigação de orientar os fiéis.

     Folha — O senhor teme algum tipo de retaliação ou reação negativa, seja por parte da CNBB ou de partidários da candidata Dilma?

     D. Luiz Gonzaga Bergonzini — Sempre tem alguma coisa. Tenho recebido muitos e-mails. Não sei se são ameaças, mas contestando. Mas posso te dizer que muitos de apoio. As pessoas dizem: “finalmente alguém que usa calça comprida resolveu reagir”. (Cf. 
Bispo de Guarulhos diz que não recuará em mobilização contra Dilma. FSP 23/07/2010) 
    [5] Cf. o artigo Vivas a Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, 03-08-2010, por João Carlos Biagini, advogado, Membro do Departamento Jurídico da Mitra Diocesana, postado no site da Diocese de Guarulhos.
     _________

segunda-feira, 7 de março de 2016

SIMPLESMENTE MULHER

Jô Drumond

No início o século XX, época em que ainda se cultuava a mulher com o epíteto de “rainha do lar”, ela era, na realidade, uma rainha-escrava, prisioneira de uma fortaleza calcada no concreto da moralidade e erguida com pilares de preconceitos. Aquelas que não se aclimatavam em seus domínios, fossem elas, mães, esposas ou filhas, e que ousavam se evadir, faziam-no qual borboleta triste abatida à saída do casulo, mesmo antes de criar asas. Preparadas desde tenra idade para atuar apenas dentro de seus domínios, mesmo que fossem detentoras de grandes pendores artísticos, franziam-se às minudências do cotidiano.

Quando uma delas se revoltava ou caía em tentações amorosas, era normalmente expulsa de casa, para não desonrar a família. Tais rainhas ou futuras rainhas tão logo abandonavam seus reinos, vislumbravam diante de si apenas duas vias: a da virtude, nos escuros claustros de um convento, ou a do pecado, nas brilhantes alcovas de um prostíbulo. Outros eventuais caminhos eram por demais temerosos, como os da personagem Dolores, do livro Esmaltes e camafeus, de Guilly Furtado. Ao perambular pelas invernosas ruas de Madri com um bebê pendurado no seio murcho, morreu de inanição e de frio, à porta de uma catedral, sem que nenhuma alma caridosa dela se apiedasse. Dolores não teve a mesma ventura de Georges Sand, que embora vivesse em Paris, considerada na época como capital cultural do mundo, viu-se obrigada a se trajar como homem, para frequentar os redutos literários e publicar suas obras sob um pseudônimo masculino.

Nesse contexto mundial, as filhas da burguesia brasileira, que ousavam romper a viseira doméstica e os dogmas religiosos, como fez Guilhermina Tesch Furtado, deveriam ser combatidas ou, pelo menos, contidas.

Foi o que ocorreu com a livre-pensadora capixaba, que conseguiu se destacar no meio intelectual e jornalístico paraense e transpor, em 1913, os “umbrais do templo dos imortais”, a Academia de Letras do Pará, reduto estritamente masculino. No ano seguinte, aos 24 anos, conseguiu publicar um livro de contos, por uma editora francesa (Garnier), e lançou seu alter ego aos quatro ventos, sob a máscara de personagens e narradores. Deixou registradas, em prosa-poética, idéias revolucionárias a respeito da condição da mulher, da infidelidade conjugal, dos anseios sexuais femininos, dos problemas das classes menos privilegiadas, das incongruências religiosas e dos desmandos políticos. No mesmo ano da publicação dessa obra casou-se com um militar (que certamente não havia lido o livro antes do matrimônio), e mudou-se para o Rio de Janeiro. Assim findou a carreira de uma mulher que poderia ter sido grande escritora. Talvez a circulação desse livro tenha sido impedida. Sabe-se que nem mesmo seus familiares têm o privilégio de possuir um exemplar de tal edição. Um único foi encontrado na Biblioteca Nacional, cuja edição fac símile foi providenciada pela Prefeitura de Vitória (ES), em 2011.

Segundo o pensamento medieval, o ser humano, tal qual um tonel de vinho, deve ter válvulas de escape para não explodir, devido à fermentação. Por conseguinte, no medievo, o clero permitia festividades profanas paralelamente às religiosas.

Uma válvula foi concedia à Guilly; a de publicar eventualmente suas crônicas na revista Vida Capichaba, criada por um primo seu. Não se vê nessas esparsas publicações a mesma verve da autora do livro. Até os 90 anos, foi escritora de um só livro, e viveu recuada, no seio da doxa, protegida contra os paradoxos do mundo, provavelmente sem grandes tristezas, sem grandes alegrias, mas com muito tédio, tema esse recorrente em seus contos. Como diria Cecília Meireles não foi alegre, nem foi triste: foi poeta.

Obs. A pioneira focalizada na crônica, Guilly Furtado, teve sua obra analisada por mim  e publicada em 2014, sob o título “Esmaltes de camafeus: retratos de mulher



DIA DAS MULHERES, O ESCAMBAU!


Bom dia, querida leitora! A vida, apesar dos últimos terríveis e constantes acontecimentos, continua fluindo a toda velocidade. Tal qual a janela de uma locomotiva em movimento, onde as paisagens passam sucessivas, sucedem as
Shila sorri no dia de sua posse na Amaletras
  efemérides e chegamos a março.

Mês das mulheres!

Chegou o mês de sermos torturadas pelos chavões, clichês e tudo quanto é m* que esta sociedade machista e hipócrita cultua como imagem de mulher ideal.
No cardápio haverá o de sempre; rosas vermelhas distribuídas nas lojas, cartazes com mulheres de meia idade satisfeitas por terem ganhado uma bugiganga qualquer- afinal, dizem que nossa felicidade é consumir, poesia “água com açúcar” com cunho machista exaltando a maternidade, homenagens oportunistas em vários lugares, muitas frases propalando  como somos doces e meigas,  femininas, lindas, delicadas, santinhas, mães perfeitas- até porque ser mãe é a nossa finalidade e a mulher que não pensa assim tem algo de muito errado! Será o mesmo blá, blá, blá chatíssimo, conservador, sem imaginação e cruel! Tem objetivo de invisibilizar a mulher cidadã, autônoma, dona de suas escolhas, independente, multi e diversa...

O que acontece é que é preciso vender. Vender tudo e depois continuar vendendo mais. Não são somente objetos e produtos, é preciso vender a idéia de uma mulher frágil, consumista, imbecilizada, adocicada e alienada. Essa idéia está embutida nas ações da sociedade brasileira cujo índice de mortalidade feminina é assustadoramente alto. Essa idéia vagueia nos lares onde as meninas são ensinadas a servirem os homens da casa e onde mães que trabalham fora cuidam sozinhas dos afazeres domésticos até porque esse serviço é destinado somente às mulheres. Idéia que habita as ruas e onde é comum uma mulher ouvir toda sorte de despautérios ao passar por um grupo de homens...  Se for estuprada, com certeza, fez por merecer. Se tivesse em casa quieta isso não teria acontecido, alguns dizem. Entretanto são os mais próximos que abusam, molestam. Essa idéia cria uma estética, que dá vida a códigos de conduta, apadrinha estereótipos, inventa linguagens e essas linguagens se metamorfoseiam em arte.

Como não se incomodar com a Globeleza? Todo ano uma mulher negra e nua promove o carnaval brasileiro. Sempre negra e sempre nua. E eu pergunto, qual é a mercadoria ai?

Luciano Huck, pessoa que tem até trabalho social, faz da seleção de passista que promove um show de perguntas constrangedoras e desrespeito à mulher e todo mundo acha tudo engraçado!

E essa novela Regra do Jogo? E sim, quando eu quero assisto, leio, bisbilhoto tudo... Tudo mesmo! Esse é o meu mundo e sabendo que tudo posso, vejo tudo e depois escolho o que me convêm.

Voltando a novela que é assistida por milhões de família de todas as classes sociais e que serve de modelo... Prestem atenção às personagens femininas... Não há uma personagem com personalidade autônoma. Na casa senhorial todas as gerações de mulheres são submissas. Até a que tem dupla personalidade, somando as duas personalidades não dá uma opinião própria.

Todas elas se deixam enganar pelos canalhas o tempo todo e das formas menos criveis. Estão sempre servindo, correndo, chorando ou tem ataques histéricos. Não há em nenhum núcleo nenhuma mulher independente. É lamentável!
 Até mesmo mulheres que deveriam se confrontar diante das convenções; a ex-prostituta dona do morro e bandida com todo sex appeal têm como sonho dourado casarem-se de véu e grinalda.

Não sugiro que a Globo seja baluarte da Arte Brasileira, longe disso. Mas ainda é o que maioria tem acesso, infelizmente e isso é preciso ser considerado.

Mas para piorar, em 2015, aqui na Terra Brasilis, pelas bancadas religiosas e com o respaldo das bancadas evangélicas e católica, deputados de ao menos oito Estados retiraram dos Planos Estaduais de Educação referências a identidade de gênero, diversidade e orientação sexual. Esses planos traçam diretrizes para o ensino nos próximos dez anos. Segundo a Folha, dos 13 Estados onde já foi aprovado, 8 eliminaram trechos que faziam referências à discussão de gênero, como Pernambuco, Espírito Santo, Paraná e Distrito Federal.

A situação é séria, difícil e é preciso que as mulheres se preparem e se informem. Então, não me dêem flores, leve-as aos cemitérios e as entreguem às mulheres e meninas mortas por essa sociedade machista.


É isso que penso e declaro.

domingo, 6 de março de 2016

SENSAÇÃO DE NÃO SER AMADO



Em um livro que sobre a Beata Teresa de Calcutá li que na oportunidade em que recebia um dos tantos prêmios com que foi agraciada em sua vida, (poucas vezes se soube de alguém que sem buscar nenhuma glória, recebeu tanta) teria dito: em todo esse tempo que trabalho com os mais pobres tenho entendido sempre mais que o pior dos males não é a lepra, nem a tuberculose, mas a sensação de não ser querido, de não ser amado.

Hoje, ela acrescentaria aids e drogas. Sabe-se da mais radical opção preferencial pelos pobres da parte dessa mulher. Foi na vivência do dia a dia ao procurar pelas vielas da Índia pobre, doentes, desabrigados, recolhê-los com amor, e dispensar-lhes cuidados dos quais só com a força do amor se é capaz, que  ela se credenciou a fazer tal afirmação.

Pensamos que podemos tudo, julgamos que com nossas próprias forças, com nosso poder de qualquer tipo, satisfazemos nossas necessidades, mas é impossível negar que, quando somos objeto de cuidado, portanto de amor, da parte de alguém, nos derretemos, entra-se em verdadeiro estado de graça e paz. O amor tem essa capacidade, o amor transforma, o amor é tudo.

Nessa manhã, o noticiário falava daquela doença que leva as pessoas, em geral adolescentes, a se mutilarem, produzirem cortes no próprio corpo, fazem-no, na busca de uma dor, forma de sufocar uma outra, que sentem e as atormentam. Dir-se-ia: incrível! mas vimos as cicatrizes em braços pernas, outras partes do corpo pelo que não se pode não acreditar.
Estudos levados a efeito, detectaram causas como violência sexual subida e sufocada, ou mesmo se denunciada, não o suficiente para aplacar o trauma causado. Desprezo dos semelhantes e congêneres, tudo se podendo sintetizar na mesma frase: sensação de não ser amado.

O amor é o mais perfeito dos sentimentos, o amor é antídoto da tristeza, o amor é pedestal da realização, o amor é bálsamo que perfuma e alimenta a vida; o amor é tudo que de melhor existe, só o amor tudo pode, tudo suporta, tudo.

Malgrado nosso, imprimimos em nossas vidas ritmo que nos absorve com muitas coisas, cansamo-nos correndo até sem necessidade e nessa condição só nos resta entregar-nos ao sono reparador, pelo que o amor fica sem vez, não se tem tempo de amar.

E o amor que não ama fica estéril, perde força, dissolve-se. Importa darmos vez ao amor em nossa vida. Amar se aprende amando, nem carece de grandes proezas, amar é dar bom dia, boa tarde, boa noite, amar é segurar a porta do elevador para alguém que surge ali e tem necessidade, amar é deixar passar alguém que dentro de um carro fica esperando a vez; amar é sorrir; amar é toda pequena coisa que se possa fazer, mesmo que pareça sem nenhuma importância.

Numa outra dimensão é repartir o pão, vestir o nu, distribuir bens com quem não tem.

Amar é imitar a Serva do Senhor, amar é seguir Jesus.

Enquanto de maiores proezas não formos capazes, amemos nas formas singelas, principalmente, tenhamos sempre os olhos muito abertos para as necessidades dos que estão por perto, vigiando o humor que apresentam, atentando para as oscilações do brilho do seu olhar, para não lhe faltarmos com um gesto concreto de amor e tanto quanto for possível proporcional a necessidade que expressa.

Marlusse Pestana Daher

19/10/2011 14:45:10

quarta-feira, 2 de março de 2016

IGUALDADE DE GÊNERO E EMPODERAMENTO DAS MULHRES.

ONU Mulheres

Sobre a ONU Mulheres Brasil e Cone Sul

ONU Mulheres - Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres


Numa decisão histórica, a Assembleia Geral da ONU votou por unanimidade em 2 de julho de 2010, em Nova York, pela criação de uma nova entidade para acelerar o progresso e o atendimento das demandas das mulheres e meninas em todo o mundo. A criação da ONU Mulheres - Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres é resultado de anos de negociações entre Estados-membros da ONU e pelo movimento de defesa das mulheres no mundo. Faz parte da agenda de reforma das Nações Unidas, reunindo recursos e de mandatos de maior impacto. 
 
ONU Mulheres está em pleno funcionamento desde 1º de janeiro de 2011 sob a coordenadoção da Dra. Michelle Bachelet, Subsecretária-Geral de ONU Mulheres.


A agência é uma instância forte e dinâmica voltada para as mulheres e meninas, proporcionando-lhes uma voz poderosa a nível global, regional e local. A entidade tem como funções principais:

1) apoiar os organismos intergovernamentais como a Comissão sobre o Status da Mulher na formulação de políticas, padrões e normas globais, e vai ajudar os Estados-membros a implementar estas normas, fornecendo apoio técnico e financeiro adequado para os países que o solicitem, bem como estabelecendo parcerias eficazes com a sociedade civil.

2) vai ajudar o Sistema ONU a ser responsável pelos seus próprios compromissos sobre a igualdade de gênero, incluindo o acompanhamento regular do progresso do Sistema. 


PERDÃO, FAXINA DA ALMA

Foto do perfil de Hernandes Dias Lopes
Rev. Hernandes Dias Lopes

O perdão é a cura das memórias, a assepsia do coração, a faxina da alma. O perdão é uma necessidade vital e uma condição indispensável para termos uma vida em paz com Deus, com nós mesmos e com o próximo. Uma vez que somos falhos e pecadores, estamos sujeitos a erros. Por essa razão, temos motivos de queixas uns contra os outros. As pessoas nos decepcionam e nós decepcionamos as pessoas.

É impossível termos uma vida cristã saudável sem o exercício do perdão. Quem não perdoa não pode adorar a Deus nem mesmo trazer sua oferta ao altar. Quem não perdoa tem suas orações interrompidas e nem mesmo pode receber o perdão de Deus. Quem não perdoa adoece física, emocional e espiritualmente. Quem não perdoa é entregue aos verdugos da consciência. O perdão, portanto, não é uma opção para o crente, mas uma necessidade imperativa.

O perdão é uma questão de bom senso. Quando nutrimos mágoa no coração, tornamo-nos escravos do ressentimento. A amargura alastra em nós suas raízes e produz dois frutos malditos: a perturbação e a contaminação. Uma pessoa magoada vive perturbada e ainda contamina as pessoas à sua volta. Quando guardamos algum ranço no coração e nutrimos mágoa por alguém, acabamos convivendo com essa pessoa de forma ininterrupta. Se vamos descansar, essa pessoa torna-se o nosso pesadelo. Se vamos nos assentar para tomar uma refeição, essa pessoa tira o nosso apetite. Se nosso propósito é sair de férias com a família, essa pessoa pega carona conosco e estraga as nossas férias. Por essa razão, perdoar não é apenas uma questão imperativa, mas, também, uma atitude de bom senso. O perdão alivia a bagagem, tira o fardo das costas e terapeutiza a alma.

Mas, o que é perdão? Perdão é alforriar o ofensor. Perdoar é não cobrar nem revidar a ofensa recebida. O perdão não exige justiça; exerce misericórdia. O perdão não faz registro das mágoas. Perdoar é lembrar sem sentir dor.

Até quando devemos perdoar? A Bíblia nos diz que devemos perdoar assim como Deus em Cristo nos perdoou. Devemos perdoar de forma ilimitada e incondicional. Devemos perdoar não apenas até sete vezes, mas até setenta vezes sete.

Por que devemos perdoar? Porque fomos perdoados por Deus. Os perdoados precisam ser perdoadores. No céu só entra aqueles que foram perdoados; e se não perdoarmos, não poderemos ser perdoados. Logo, todo crente em Cristo precisa praticar o perdão.

Quem deve tomar iniciativa no ato do perdão? Jesus disse que se nos lembrarmos que nosso irmão tem alguma coisa contra nós, devemos ir a ele. Não importa se somos o ofensor ou o ofendido. Sempre devemos tomar a iniciativa, e isso com humildade e espírito de mansidão. Precisamos entender que o tempo nem o silêncio são evidências de perdão. É preciso o confronto em amor. Há muitas pessoas doentes emocionalmente porque não liberam perdão. Há muitas pessoas fracas espiritualmente porque não têm a humildade de pedir e conceder perdão. Precisamos quebrar esses grilhões, a fim de vivermos a plenitude da liberdade cristã.

O perdão é a manifestação da graça de Deus em nós. Se nos afastarmos de Deus, nosso coração torna-se insensível. Porém, se nos aproximarmos de Deus, ele mesmo nos move e nos capacita a perdoar assim como ele em Cristo nos perdoou.


Fonte: www.hernandesdiaslopes.com.br

terça-feira, 1 de março de 2016

MULHER E DIREITOS HUMANOS







MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI
AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO
SOBRE O PAPEL DA MULHER NA
PROMOÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
(VATICANO, 20-21 DE MARÇO DE 2009)


Ao meu Venerável Irmão
Cardeal Renato Raffaele Martino

Estou feliz por transmitir as cordiais saudações a Vossa Excelência e a todos aqueles que participam na Conferência internacional sobre o tema: "Vida, família, desenvolvimento: o papel das mulheres na promoção dos direitos humanos". Este evento, patrocinado pelo Pontifício Conselho "Iustitia et Pax", com a cooperação da World Women's Alliance for Life and Family, a World Union of Catholic Women's Organizations e outras associações, constitui uma resposta exemplar ao apelo do meu predecessor, Papa João Paulo II, a favor de um "novo feminismo" com o poder de transformar a cultura, imbuindo-a com um respeito decisivo pela vida (cf. Evangelium vitae, 98-99).

Todos os dias descobrimos que a vida é ameaçada de novas formas, particularmente nas suas fases mais vulneráveis. Embora a justiça exija que sejam denunciadas como uma violação dos direitos humanos, elas devem também evocar uma resposta positiva e efectiva. O reconhecimento e o apreço pelo plano de Deus para as mulheres na transmissão da vida e na educação dos filhos é um passo construtivo nesta direcção. Além disso, considerando a importante influência das mulheres na sociedade, elas devem ser animadas a aproveitar a oportunidade para promover a dignidade da vida através do seu compromisso na educação e a sua participação na vida política e cívica. Efectivamente, dado que receberam do Criador uma singular "capacidade para o outro", as mulheres têm um papel crucial a desempenhar na promoção dos direitos humanos, pois sem a sua voz o tecido da sociedade permaneceria debilitado (cf. Carta aos Bispos da Igreja católica sobre a colaboração do homem e da mulher na Igreja e no mundo, Congregação para a Doutrina da Fé, n. 13).

Enquanto reflectis acerca do papel das mulheres na promoção dos direitos humanos, convido-vos a ter em mente uma tarefa para a qual chamei a atenção em diversas ocasiões: nomeadamente, a de corrigir qualquer mal-entendido de que a cristandade é simplesmente uma colectânea de mandamentos e proibições. O Evangelho é uma mensagem de alegria, que encoraja os homens e as mulheres a desfrutarem o amor esponsal; longe de o reprimir, a fé e a ética cristãs tonam-no sadio, vigoroso e verdadeiramente livre. este é o significado específico dos Dez Mandamentos: eles não constituem uma série de "nãos", mas um grandioso "sim" ao amor à vida (cf. Discurso aos participantes na assembleia eclesial da Diocese de Roma, 5 de Junho de 2006).

Sinceramente, espero que os vossos debates ao longo dos próximos dois dias se traduzam em iniciativas concretas que salvaguardem o papel indispensável da família no desenvolvimento integral da pessoa humana e da sociedade no seu conjunto. O génio das mulheres para mobilizar e organizar dota-as de capacidades e motivações para desenvolver redes em expansão permanente, em vista de compartilhar experiências e gerar novas ideias. As realizações da WWALF e das UMOFC/WUCWO constituem um exemplo extraordinário disto, e encorajo os seus membros a perseverarem no seu serviço generoso à sociedade. Que a esfera da vossa influência possa continuar a crescer nos planos regional, nacional e internacional, para o progresso de direitos humanos alicerçados no sólido fundamento do matrimónio e da família.

Mais uma vez, faço extensivos os melhores votos para o bom êxito desta conferência, e as minhas preces para a missão permanente das organizações participantes. Invocando a intercessão de Maria, "a figura e a mais perfeita realização da Igreja"(Catecismo da Igreja Católica, n. 507), concedo-vos cordialmente a minha Bênção apostólica.
BENTO PP. XVI




O GRANDE TAPA NA CARA


Iara Bernardi

Um dado triste sobre a violência contra a mulher diz respeito ao seguinte: na maioria absoluta dos casos, seus algozes têm algum laço de parentesco ou amizade com a vítima, incluindo marido, ex-marido, companheiro, namorado, etc.
Tal constatação chega a ser lugar-comum à maioria das pessoas, pois cotidianamente ficamos sabendo de alguma mulher que foi assassinada “em legítima defesa da honra”, ou estuprada ou espancada. Porém, essa realidade, que não chega a espantar de tão comum, infelizmente, vem sendo comprovada e analisada por várias pesquisas.
Um desses estudos, que resultou num livro chamado “Primavera já Partiu – Retrato dos homicídios femininos no Brasil”, patrocinado pelo Movimento Nacional dos Direitos Humanos, levantou informações sobre a violência contra a mulher em 15 Estados brasileiros.
Os números desse levantamento indicam que, enquanto nos casos de homicídios de homens, menos de 40% das vítimas tinham relação de parentesco com seus assassinos, nos assassinatos de mulheres esse índice supera os 70%. A agressão contra o sexo feminino, portanto, na grande maioria das vezes parte de quem é próximo, o que multiplica a insegurança feminina.
O livro aponta que metade dos crimes ocorre nos finais de semana. Quanto à agressão às mulheres nesses dias, talvez a explicação esteja nas palavras de um dos entrevistados pelos pesquisadores: “O homem tem compromisso de atender à esposa pelo menos uma vez por semana (...) isso sempre acontece durante o final de semana. Se, por acaso, ela não quiser é porque está te enganando (...) e se isso fica certo não saio para procurar outra, mas essa leva pelo menos uma boa surra.”
 Em linhas gerais, o que essa e outras pesquisas apontam é que a cultura que leva a comportamentos determinantes para a chamada violência de gênero é muito comum no Brasil e está presente em todas as classes sociais, independente de raça ou religião.
Por todas essas razões, tomei um susto quando, recentemente, ouvi no rádio músicas que vêm fazendo sucesso – e, ao que tudo indica, serão hits no próximo carnaval -  e que falam que “tapinha não dói” ou, então, que a mulher gosta de levar “tapa na cara”.
Ao contrário de parecerem apenas inocentes ritmos populares, tais músicas são reveladoras de um estado de coisas extremamente negativo para as mulheres. Quando veiculadas em larga escala pelos meios de comunicação de massa, configuram estímulo para legitimação e manutenção dessa situação degradante, especialmente para crianças, adolescentes e jovens, que ainda não têm formação suficiente para “filtrar” tais mensagens.
A existência desse tipo de música já é, em si, indicativo do atraso da nossa sociedade, pois, se compositores musicais fazem obras de um conteúdo tão baixo, é porque acreditam que têm mercado, no que são, aliás, ajudados pela falta de senso crítico daqueles que a veiculam e pela indiferença ou omissão dos demais quanto ao seu conteúdo. A questão que surge ainda, nesse e em outros casos, é saber se realmente há mercado para esse tipo de coisa ou, na verdade, falta de opção das camadas populares, entupidas e condenadas a conviver com lixo cultural da pior espécie, não só na música, no rádio, mas especialmente, na TV.
O que não podemos é deixar de lamentar e protestar que a violência contra a mulher, uma temática tão cara para todos aqueles/aquelas que lutam pela igualdade de gêneros no nosso país, tenha um estandarte negativo dessa magnitude. 
Fico pensando no enorme contingente de mulheres que convivem ou conviveram em ambiente de violência ou ameaças. Em meio a um ritmo alegre e dançante, tais músicas devem soar como um grande e irônico escárnio. Para elas, tais melodias, são isso sim, um tapa na cara desrespeitoso, injusto e lamentável.
O que se espera é que as rádios e tvs que têm compromisso e respeito com a nossa cultura e as mulheres brasileiras, não toquem e nem veiculem essas músicas preconceituosas e que tentam tornar a violência contra a mulher num lugar-comum.


Iara Bernardi é deputada federal (PT/SP), Vice-líder do PT na Câmara dos Deputados e 2º Vice-presidente Nacional do PT - Visite o site na internet: www.iarabernardi.org.br - 14.02.2001