quarta-feira, 31 de agosto de 2016

CUIDADO COM O UFANISMO

Os que pedimos a saída de Dilma Rousseff podemos dizer que nosso objetivo foi colimado. A ex-presidente perdeu o comando do governo, mergulhou o país numa crise econômica sem precedentes, contribuiu para o desemprego, foi generosa com quem não devia ser, conquistou a hostilidade do congresso, não esteve atenta ao que acontecia nos bastidores, não ouso dizer o motivo, enfim, enveredou por um caminho sem volta, ou melhor, sem alternativa ou possibilidade de encontro por outros, por onde se pudesse buscar melhor sorte.

Por três quartos dos senadores votantes, foi afastada do mais alto posto da República Brasileira, ainda que tenha sido poupada da perda dos direitos políticos por alguns considerada consequência inseparável, mas não pegou.

Os que a ela se opunham, "juram de pé junto" que cumpriram os ditames constitucionais.   

Mas sobre o que eu quero comentar é mais exatamente, sobre o cuidado que se impõe de não nos pautarmos pelo ufanismo, como se o  histórico fato deste 31 de agosto de 2016 seja/fosse a solução dos nossos problemas ou a redenção do povo brasileiro com a chegada do nosso país aos píncaros entre as nações prósperas e como num toque de mágica todos os nossos graves problemas tivessem sido resolvidos.

Ainda não desfrutamos dos direitos fundamentais, dos direitos sociais que a constituição prevê.  Podemos estar às portas do agravamento da crise hídrica, porque se atravessa o Rio Doce a pé, porque o Cricaré vira córrego em diversos pontos além de ser invadido pelo mar que salga suas águas, coitado do Santa Maria, não é diferente a situação de outros mananciais. Ainda contamos com doze milhões de desempregados, a fome ronda. A criminalidade não tem freios, continua desafiando as medidas de segurança adotadas. O tráfico campeia. Crianças crescem sem a assistência que a lei lhes garante. Por tantas irregularidades, que do alto do seu pedestal ele pratica, foi pedido até o impeachment do Governador.

Se no caminho encontramos uma pedra nos impedindo prosseguir em frente, a solução é removê-la e assim se faz. Mas ninguém fica brigando com a pedra, ou querendo mais é que ela se dane. Prossegue-se.

Dos atletas olímpicos vencedores nas olimpíadas do Rio, ouvimos com frequência que  se prepararam para o momento, dando o melhor de si, cada dia,  não esmorecendo, acreditando. Já  não foi dito que “todos somos olímpicos”? Mais que como assistentes ou meros torcedores, impõe-se já, mais do quanto possamos imaginar ser preciso, que todos deveras, sejamos olímpicos.

Não tripudiemos os vencidos, conquistemos nosso “Ouro” com bravura, o ouro da moralidade, da honestidade, com disposição para o trabalho, convencidos que a redenção da Pátria não depende só de medidas políticas e econômicas, mas do cumprimento do dever por parte de cada um, onde quer que deva atuar, sem esmorecimento, sem se omitir ou deixar para depois.  

Se um só esmorecer ou fizer por menos, aumenta o peso sobre os ombros do outro e desacelera o passo.

O Brasil não são eles, somos todos e tudo que desejamos, tudo de que precisamos, como  nação que formamos, depende de nós.

Marlusse Pestana Daher

    31 de agosto de 2016 
22:12

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

ANJOS


Entre outras inverdades, 
que quando criança,
de adultos ouvi,
está a de que os anjos
habitam nas nuvens. 

E não é que subi,
subi e até as ultrapassei
para desolada me encontrar
porque sequer um deles eu vi. 

Ao invés.
adentrando aquela porta de sala
sentada, quase deitada naquela poltrona, 
deparo com uma senhora,
cabelos alvos como a neve
que já não se rege,
o tempo passou e
não demora lhe marcará 100 anos. 

Não precisei subir às alturas
Este anjo de quem agora eu falo
sempre esteve ao meu lado,
sempre lutou por  mim e me defendeu
contra tudo e até o impossível,
não mediu esforços 
e as vezes crendo que ainda pode
promete coisas e sempre me abençoa.
Minha mãe!




27/06/2016

domingo, 28 de agosto de 2016

NOSSO PECULIAR ABRAÇO

Com 1 ano. 
Chamei-te para o abraço, 
como tantas vezes faço
E como outras iguais tantas, 
deixando o brinquedo de lado,          
vieste.

Aliás, é sempre assim,
tu nunca te negas vir,
nem nunca recusas receber. 

E aconchegando-te
ainda mais
de encontro ao meu peito,
envolvi-te por inteiro
ou até quanto os meus abraços puderam.

O mesmo fizeste tu,
aconchegas-te sempre um pouco mais
"Tô ingaçado"?
e também no teu abraço
me enlaçaste
ou até quanto os teus braços puderam.  

Cobrindo-te de beijos
senti que como sempre
te deliciavas 
e tanto verdade é
que ouvi teus lábios dizerem:
"'eu nunca mais vou sair deste abraço".

Sorri enlevada,
ante tal declaração de amor,
brotada do quanto sei que 
por ti sou amada
e a recíproca,
ah! quanto é muito verdadeira!

Até porque tantas vezes
quantas te repito,
eu te amo mais que o céu,
que a terra, que o mar.
Ouço em resposta:
eu também te amo, mais que océu, 
que a terra, que o mar. 

E se replico, mas eu te amo
mais, mais e mais,
Maio de 2015.
que a terra, 
que o céu, 
que o mar!
Tu vens a tréplica
e me fazes ouvir:
sou eu que te amo,
mais, mais e mais
que a terra,
que o céu,
que o mar.

Tu vais crescer, tens que crescer.
Será difícil  envolver-te
nos meus abraços,
nem sera fácil 
te dar tantos beijos.
Mas de uma coisa tenhas certeza:
não se apagará de tua cabecinha, 
o amor que tantas vezes,
um ao outro confessamos. 

Ninguém destrói nossa amizade,
O amor que nos une vem de Deus
e é deveras muito grande, 
meu querido Daniel!


27 de junho de 2016
16:54  Voo Rio X P

FAMÍLIA, NOSSO PORTO SEGURO

Soraya Tyndall 
Elza e os filhos Pedro e José
evoca lembrança de sua avó,
Elza Cunha 


Falar dos meus avós é ter recordações felizes.

Lembro-me de minha  infância em Bocaiuva, onde passávamos férias.  A casa da vovó e do Dedén, meu avô, era indescritível... Resumindo, uma delicia!!! Acordávamos todos os dias, com um mingauzinho na beirada do fogão, em pratinhos desenhados. Cada um tinha o seu. Com  cuidado, comíamos pelas beiradas, para não queimar a boca. O sabor... ahhh.. com gostinho de quero mais, me recordo até hoje.

A casa de tantas lembranças.
O quintal era gigantesco. Pés de manga, parreiras carregadas e muitas, muitas plantas, com vasos feitos de cacos de louça pelo Dendén, (mosaico).

A praça em frente da casa dos meus avós era o ponto de encontro da criançada. Recordo-me das palmeiras que com a brisa da noite bailavam à luz do luar. Na mesma praça, havia uma árvore gigantesca, de cuja copa desprendiam “pequenos piões” que  Dendén nos ensinava a girar... era pura alegria e vejam só, brincadeira de criança que levei pela vida.

Nos passeios de Kombi, eu grudava no vidro da gente, só para  ver os paralelepípedos passarem. Nosso destino era o mercado para comprar rapadura, requeijão escuro e geleia de mocotó. Também estava na nossa programação, visita à “Fundação Graciema” para curtirmos a Banda de Música.

Mas nada era comparado à nossa ida à chácara onde chupávamos manga até empaturrar... um sabor delicioso que hoje não encontramos mais. 

Ah! Ir ao encontro do Sr. Gentil, amigo do Dendén, tamém era destino certo.
Depois que o Dendén e a vovó mudaram para Belo  Horizonte, passaram a morar na casa onde resido até hoje. Recordo-me que no alpendre os netos ficavam  em volta da vovó, tirando cabelos brancos enfatizando sua vaidade.
No almoço, o feijão era para mim o prato principal,  ao comer sempre pensava: “como consegue fazer um feijão tão gostoso assim? (KKK... crianças!).

Aos domingos, era sagrado o encontro da família. A casa dos nossos avós chegava a ser um cerimonial, onde pai, mãe, tios, tias, irmãos, primos, prestavam um agradecimento pela oportunidade de estarmos todos juntos. A casa ficava cheia e era um local de muita alegria. Com isto, carrego o legado pra a vida: Família é o nosso porto seguro.

Dendén foi embora... e D. Elza (vovó) tornou-se a matriarca da família. Mulher forte, sensata, generosa, humana, de um coração enorme. Foi boa filha, irmã, esposa, mãe, avó, bisavó e sogra.

Num mundo em que sempre ouvimos piadas de sogra, nossa Dona Elza não se enquadrou. Sempre ouvi, vi e senti da minha avó muita sabedoria. Elogios à minha avó era uma consequência natural. Tive muita sorte por tê-la por perto, graças a Deus.

Os anos foram passando e a vida nos esvaziou com a partida de Vovó, mas ela sempre estará entre nós. Tudo nos remete a sua história de vida, ao seu legado que sempre foi sua memória, onde passado e presente se misturam.


                                                              AINDA FOTOS DO DIA                                                                "que se transformou em festa".







terça-feira, 23 de agosto de 2016

PERMITA-SE

Ela me escreveu:
Quitilane Pinheiro

Bom dia! Acordei inspirada e produzi esta pequena poesia. 


Permita-se

Permita-se conhecer o desconhecido,
Três, quatro, cinco dias ou anos não o conhecem.


A entender que o ideal não é ideal.
Que rio é só saudade e nada mais...
E a margem... terra firme?

Em uma sociedade de amores líquidos?
Permita-se
Degustar e vivenciar a busca
de companheirismo, 
das indiferenças, 
dos laços,
da liberdade...

Permita-se.  


AVE, Ó MARIA

Ave ó Maria

Senhora, Senhora minha,
Pietá. 
É hora da ladainha,
de rezar ave-Maria, 
o Ângelus no meu Brasil.

Porque a tarde caiu
o sino toca na Igreja,
e todo joelho se dobra
suplicando favores teus.

Ave, ó Maria,
porque és mãe terna e boa,
Cheia de graça
foi como Senhor te encontrou!
O Senhor é contigo,
por isto,  
Bendita entre as mulheres
te tornaste.
Mas muito mais ainda
é bendito o fruto do ventre teu

Estamos absolutamenete
possuídos desta certeza
privilégio que te deu
teu filho divino Jesus

Santa Maria,
muitas vezes santa.
Mãe de Deus e nossa,
mãe dos pobres,
mãe dos pequenos,
mãe de quem a mãe perdeu.

Roga por nós, pecadores
inveterados,
mas também certos
da misericórdia,
dom do Filho que  geraste.

Agora, para que não tarde
a conversão a ser operada
e na hora de nossa morte,
hora última, hora extrema
de arrepender-nos 
em espírito e em verdade
de todos os nossos pecados,
sejamos conduzidos 
por teu rogo, nos teus braços,
à Pátria do amor sem fim, 
que todo amor contém.
Amém


27/06/2016  18:07
Além das nuvens. SP X RM.


Fátima - Portugal 

Ângelus oração de saudação e prece à Virgem Maria e que se reza ao amanhecer, ao meio-dia e ao anoitecer. 



O Ângelus (e o Regina Coeli, no Tempo Pascal) é uma oração muito antiga que faz memória da Anunciação do Anjo Gabriel à Nossa Senhora. É costume rezá-lo às 6h, 12h e 18h. Quem não puder guardar este horário, pode rezá-lo ao levantar, na hora do almoço e ao deitar.  

V. O Anjo do Senhor anunciou a Maria,
R. E Ela concebeu do Espírito Santo.
Ave Maria...

V. Eis a escrava do Senhor.
R. Faça-se em mim segundo a Vossa palavra.
Ave Maria...

V. E o Verbo se fez Carne,
R. E habitou entre nós.
Ave Maria...

V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus,
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.


OREMOS:

Infundi, Senhor, em nossos corações, a Vossa Graça, Vo-lo suplicamos, a fim de que, tendo conhecido pela Anunciação do Anjo, a encarnação de Jesus Cristo, Vosso Filho, pelos merecimentos da Sua Paixão e Morte na Cruz, sejamos conduzidos à glória da Ressurreição. Isso Vos Pedimos Ó PAI, Por Jesus Cristo, Vosso Filho e nosso Senhor. Amém.




segunda-feira, 22 de agosto de 2016

CONCURSO LITERÁRIO ELZA CUNHA

  Como as fontes   

                             
ACADEMIA MATEENSE DE LETRAS      ANO LITERÁRIO ELZA CUNHA

EDITAL 01/2016

A Academia Mateense de Letras – Amaletras – São Mateus – ES – Brasil) comemorando o Ano Literário 2016, em homenagem a  “ELZA CUNHA”, a poetisa de São Mateus, torna público que se encontram abertas até o dia 31 de outubro do corrente ano, concurso de prosa (conto ou crônica) e poesia. Tema livre, não preconceituoso, obedecidos princípios morais.

Poderão concorrer pessoas de todo o Brasil ou do exterior desde que falem português.

Uma comissão qualificada fará avaliação dos trabalhos. Não haverá recurso dos resultados.

Os textos deverão ser apresentados em fonte Verdana, espaço 1,5, folha A4 e podem ser enviados para o e-mail  dahermp@hotmail.com, identificados apenas por pseudônimo.

Alunos do ensino médio e fundamental devem colocar ao lado do respectivo pseudônimo, idade e ano que cursa.

Em envelope será remetido via postal, nome completo, endereço e pseudônimo do concorrente para: Ano Literário “Elza Cunha”  - Rua Afonso Cláudio 244/901 – Praia do Canto – Vitória – ES 29055-570. Anexo ainda deverá constar comprovação de que o concorrente buscou conhecer  nossa homenageada o que será facilitado pelas nossas publicações.

Serão classificados três trabalhos em cada gênero. Os primeiros classificados receberão a Comenda “Elza Cunha” com respectivo diploma, além do Certificado de participação. Os segundos, receberão uma medalha de mérito e Certificado de participação. Os terceiros lugares receberão Certificados de participação. Todos terão seus trabalhos publicados na Amaletras – Antologia II, ano 2016. Receberão ainda respectivamente: quatro, três e dois exemplares da antologia.

São Mateus, 31 de julho de 2016

Marlusse Pestana Daher                                                                                      Presidente






ESTAÇÕES DA VIDA


Adriana Gusmão Antunes

Houve um tempo em que eu não computava as estações.
Horas, dias, meses e anos eram duvidosos crepúsculos em minha existência.
Vivia eu, sem tempo, sem pressa, numa solidão de gêneses!
E nesse tempo, só o ouvir e o sentir eram suficientes para existir!
Mesmo estando só, crescia feliz, contentava-me com o maná materno de cada dia.
Cresci por demais e, um dia, já sem espaço, quis ir mais além...
Fui expelido para longe do meu mundo pueril, navegante.
Pela primeira vez, chorei, senti a dor da perda, o frio do inverno...

Houve um tempo em que contavam os meus dias,
Marcavam as horas, os meses, os anos e até meus centímetros!
Vivia eu, todo o tempo, cerceado por uma atenção familiar...
E, nesse tempo, descobri que além do ouvir, o sentir era mais intenso.
Senti as primeiras: dores, sensação de fome, de saciedade,
O prazer da alegria, da afetuosidade, aprendi a ouvir e ser ouvido...
Foram para mim dias, noites e tempos a fio a atenção dos meus amantes...
Pela primeira vez, percebi toda a profundidade e ternura de um olhar...

Houve um tempo em que precisei aprender a contar os meus dias,
Em que esperei ansioso pela volta à habitação para abraçar meus amados...
Não entendia o porquê deixavam-me só, aos cuidados de outros olhares.
Olhares rasos, frios, desprovidos de familiaridade em plena primavera!
Por anos a fio fizeram-me conhecedor de símbolos, signos, números, palavras...
Aprendi a ser só, mesmo estando junto; conheci a solidão para aprender ouvir os pássaros!
Cresci por demais e, um dia, caminhante entre uma estranha multidão,
Fui expelido para longe do meu mundo infanto-juvenil, para o calor do verão.
Houve um tempo em que o tempo fugia de mim... corria, corríamos!
Nesse tempo, nasceu em tão bucólico peito a persistência de um perene amor...
Pela primeira vez, aprendi a olhar para dizer sem palavras, signos e símbolos.
Evoquei poesia, aprendi também a sentir e evocar o amar,
Aprendi a buscar meu lugar ao sol, que juntos havia completude, satisfação, paixão.
Fiz-me conhecedor de corpos, toques, afagos, afetos, um amante!
Dividir, compartilhar, renunciar, entender foram árduas lições de outono!
Produtividade, responsabilidade, família e foco, estandartes conflitantes...

Houve uma estação em que uma forte tempestade fez-me parar durante uma longa temporada...
E, quando o meu amor partiu, entendi que fora enganado pelo tempo...
Já sem ele, sem ela, me detive no caminho, questionei a razão da jornada!
Só então percebi que houvera ocasiões em que as pessoas não se lembravam de mim.
Sucessivos aniversários sem presentes, sem presenças, sem a ternura de um olhar;
E foi nesse tempo que descobri que a vida era: ou colheita ou profunda lembrança!
Negligenciara a semeadura, não cultivara herança, agora, homem sem frutos!
Amadureci com o peso da solidão, do abandono, a dor da perda, o passar dos anos!

Agora, vivo uma temporada em que eu mesmo conto o meu tempo!
Dias sucessivos sem a presença de amados ou de uma amante, sinto o inverno nos ossos.
O sol esqueceu-se de me aquecer, a brisa já não balança meus grisalhos cabelos...
A chuva temporã não mais ensopava minhas vestes em meios às estações.
Sinto-me novamente sem espaço, querendo esticar-me um pouco mais...
Não, já não cresço. Nessa solidão pereço, penso, escrevo, espero!
Pressinto que aos poucos sou expelido para longe do meu mundo varonil...

E, pela ultima vez, prantearei, sentindo a felicidade de renascer para uma nova 

estação da vida...


Adriana Gusmão Antunes, professora,
                                                                                                    é coordenadora da área de Língua Portuguesa; Coordenadora Municipal da OLP/2016. 
Compõe a Academia Mateense de Letras.

domingo, 21 de agosto de 2016

ASSUNÇÃO DE MARIA AO CÉU




Maria chegando ao céu.


Quem vai a Éfeso, na Turquia, pode visitar a Casa da Virgem Maria, reconhecida como aquela em que a Mãe viveu os últimos dias de sua vida, levada para lá por João, após a morte de Jesus, por medo de perseguições que pudessem atingi-la também.

Já tive tamanha alegria. É uma sensação indescritível de paz que se prova, doce a sensação de estar pisando o mesmo solo que ela pisou, poder entrar na casa onde ela viveu.

Entre as pessoas do meu grupo, uma, a certa altura, me perguntou: “mas se ela viveu aqui seus últimos dias e não se vê um sinal de sepultura, nada que ateste o que é dito, parece estranho...”

Em Jerusalém, também existe um túmulo considerado como de Maria, na chamada “Abadia da Dormição”, um túmulo vazio, porque aquele corpo onde foi gestado o Filho de Deus, não poderia sofrer as consequências de estar na terra. Maria subiu de corpo e alma ao céu pelos méritos e com a força do seu divino filho Jesus.

Apesar da fé que desde sempre acreditou que a Mãe de Jesus foi assunta ao céu, a Igreja reservou-se o direito de deixar passar os anos, fortalecerem-se as certezas, para proclamar o dogma, isto é, uma verdade sobre a qual já não cabe mais cogitações ou dúvidas: Maria subiu de corpo e alma ao céu.

Foi no dia 15 de agosto de 1950, (há 66 anos) que o Papa Pio XII, o pastor angélico, solenemente o proclamou. É dia santo de guarda, como os domingos. No Brasil, entretanto, as comemorações foram transferidas para o domingo seguinte. Este ano, dia 22, hoje, que coincide com outra sua festa: ”O Nome de Maria”. 

Se pela Igreja esse acontecimento aconteceu muito tempo depois a  assunção ou “dormição” de Maria com a transferência de seu corpo para o céu, era reconhecido desde o século VI,  inclusive fazia-se uma procissão até o túmulo vazio de Nossa Senhora.

Santo Agostinho ensina que a carne de Jesus é carne de Maria, logo o privilegio da assunção decorre do fato de no corpo de Maria, o filho de Deus ter-se encarnado, ter-se feito da natureza humana como nós. O DNA de Jesus era DNA de Maria.

Jesus ressuscitou, deixou o sepulcro ao terceiro dia,  o mesmo tinha que acontecer com o corpo  de Maria. O trono de Deus, o leito nupcial do Senhor, o sacrário crístico,  devia estar onde Ele próprio está. É mais digno conservar este tesouro no céu. A terra não era seu lugar.

A celebração da festa de hoje, a Igreja como faz em todo mês de agosto de cada ano, coincide com as comemorações do dia do Religioso, aquelas pessoas que mediante os conselhos evangélicos entregam totalmente, suas vidas a Deus. Assim o fez Maria, com aquele Sim que mudou a face da terra.

Façamos desse acontecimento, objeto das nossas reflexões nesta semana apesar de tantas outras coisas com as quais nos teremos de ocupar.

E que vivamos a esperança: Maria subiu céu, o mesmo acontecerá com nossos corpos, um dia também ressuscitarão, pelos méritos de Jesus, da sua dolorosa paixão que se fez resgate e pagamento por todos os nossos pecados.

Sirvam-nos estes pensamentos de motivação para fazer crescer em nós nossa confiança, em Maria, nossa Mãe, nossa estrela e guia. Só temos a ganhar.

Marlusse Pestana Daher
22 de agosto de 2016  11:54





Fotos da Casa da Virgem Maria em Éfeso. 


quarta-feira, 17 de agosto de 2016

FANTASIA


Conto de Elza Cunha,  
publicado Escritores do Brasil, 1981.

Numa clareira imensa, formada por relva macia e verdejante, que cintila sob tênue luz solar, Ninfas, vestidas em suas túnicas diáfanas, bailam suavemente ao som de harpas eólias. Contemplando-as, nosso olhar paira, perturbado, pelos meneios sensuais daqueles corpos esculturais, visto através da transparência das gases de suas vestes esvoaçantes. Ao bailar, possuem o encanto, leveza e elegância dos cisnes, em seus vôos sutis. Formam, por assim dizer, um grupo harmonioso, misto de encantamento, volúpia e pureza. A comoção, o deslumbramento transportam-nos a paragens incógnitas!...

As Ninfas se voltam surpresas à aproximação de Eólo que, em galanteios, voluteia até roçar em suas leves túnicas. De soslaio, acena para uma das beldades. Esta, sem perder o ritmo da música, sempre a bailar, acompanha-o. Suas companheiras, entretidas, magnetizadas pelo bailar sonhador, não percebem seu afastamento.

A certa distância, Eólo, confiante, profere: - “Vem comigo! Não temas os ciúmes de Fauno, ele compreenderá. Não quero arrebatar-te. Sou apenas o amante incondicional da natureza, no que se concebe de mais altruístico. Para realizar o meu desejo, necessito da contribuição de tua imarcescível beleza! Vou conduzir-te a um lugar de grande encanto, talvez ainda por ti desconhecido. Encontro em ti a parte integrante, insofismável, para a perfeição do painel consagrado à nossa mãe: A Natureza.”

Enlaçando-a pela cintura, levou-a, qual pluma, a voar, a voar...

Neste voo esplendoroso, tudo lhe causa admiração. Vê miríades de borboletas de variegadas cores, refulgentes ao sol. Tão juntas voam, que formam uma nuvem irisada, qual pálio divino, a proteger-lhes as cabeças. Ela sorri encantada, enquanto sua longa cabeleira tremula ao vento, para depois cair em cascatas sobre os níveos ombros nus. Chispas eletrizantes, desprendiam-se de seus cabelos, quais partículas de ouro, confundindo-se com o brilho singular do diadema de pérolas, que lhe cingia a fronte, dando majestade e realce àquele rosto de linhas tão puras!...

Chegaram, enfim, ao lugar colimado, no alto do monte. Uma árvore frondosa e solitária, de ramos flexíveis, parecia aguardá-los, acolhendo-os na sua sombra encantada. Entrementes, ouve-se gorjeios de repassada melodia. Eram pássaros que, pousados nas árvores, entoavam hinos de amor e louvor aos recém-chegados. Ficam ali parados, enlevados, a ouvir aqueles cantos de ternura e magia, embevecidos também ante a paisagem que se descortinava.

Depois, já refeitos, notam as múltiplas borboletas dispersas, que assentadas, se misturam com as flores silvestres, formando um tapete de colorido indescritível. Era como se fora a réplica do paraíso!

Eólo, entre soberbo e comovido, dirige-se à Ninfa que, cada vez mais atônita, tem os olhos ávidos, como a querer abranger tudo a um só tempo. – “Aqui, nos sentimos mais próximos do céu! A nossos pés, tens a pródiga e fascinante natureza! Repara lá embaixo. O rio corre a marulhar colóquios de amor, tendo como leito raros nenúfares, e como proteção a sombra desta majestosa e milenária floresta. Que artista poderia dar, com o seu pincel, o toque mágico ao verde intenso destas folhagens? Àqueloutras, folhas novas de cor avermelhada...”

A Ninfa exclama: “É tudo extremamente belo!...”

Retorquiu Eólo: - “Ainda não é tudo. Contempla o porte altaneiro daquele jequitibá à distância, qual sentinela do infinito! Não analisaste um detalhe. As nuances que a vista nos ofererece derivam, por certo, das incontáveis variedades de árvores componentes desta floresta. Entre outras, destacam-se os jequitibás, jacarandás, braúnas, perobas, sucupiras, cerejeiras, vináticos, guaribus, e os ipês, cuja a floração multicor empresta à paisagem uma dimensão de  maior encantamento.

Dizem que duendes, em busca de mistérios, se transportaram de suas casas, para divertirem-se com seus risinhos e travessuras, assustando os desavisados caçadores no seio da floresta. E mais , que, em noite de luar, brincam de “esconde-esconde”, com os sacis-pererês. Interessante essa lenda, não achas?”
-“Sinto-me no mundo da fantasia”, disse a Ninfa, quase inaudível.

Prossegue Eólo: - “Analisando esta harmonia que nos deslumbra, ela se coaduna com a orquestração da natureza em festa. Ouve o canto mavioso do uirapuru, das graúnas e de muitos outros pássaros. Este tom agudo, estridente, é peculiar da araponga, que forma certa balbúrdia com o grasnar das araras, no magnífico colorido de suas plumagens. Seguem os papagaios, as jandaias, nos seus vaivéns de festiva algazarra. Tudo isto faz parte do orquestrar que nos desperta para o belo da vida!...

Atenta ainda, à distância, o pio triste do macuco, que se aproxima do roncar soturno do mutum. Este, em compensação, semelhante a um grande pato selvagem, de rara beleza, sua plumagem tem cor preta com reflexos metálicos. Arrogante no porte, tem sobre a cabeça um topete altivo, qual coroa a indicar sua espécie imperial.
Por último, vê acolá. São os astutos macacos que não faltariam. Soltam gritos sibilinos, em intermináveis acrobacias, e estão a gangorrar no imenso cipoal pendente das árvores. Admiro-os na destreza e inteligência.”
A Ninfa suspira profundamente, estática e possuída por respeito místico que a deslumbra e confunde.

-“Agora, que tomaste conhecimento de tantas magnificências, compreenderás o por que transportei-te a este lugar.

Este cenário, de perturbadora beleza, quero que se complete, por inteiro, no expoente máximo da natureza: A tua escultural figura de mulher!...

Fauno não tardará vir a teu encontro. Obrigado! Adeus!...”. Acenou-lhe, comovido.

A Ninfa ficou , também, emocionada. Depois entrega-se ao embevecimento e êxtase. Senta-se e, de mansinho inclina-se, lateralmente, apoiando o corpo divinal sobre os cotovelos, numa postura meditativa, tendo o queixo firmado na palma da mão. Ao acomodar-se, de seu amplo decote surge o inesperado. Seus lindos e voluptosos seios, quais pomos divinos, saltam e , ao sentirem o contacto leve, nos pequeninos seixos, tornam-se repentinamente, excitados e tesos. Um frêmito de volúpia intensa estremece-lhe todo os corpo. Repete aquele roçar suave, como uma carícia. Sua boca rubra é toda  sensualidade! Tem os lábios carnudos entreabertos, hálito quente, respiração curta e seus olhos semicerrados brilham estranhos, mas infinitamente amorosos e provocantes. Em gestos lentos, desfaz-se de sua leve túnica. Fica nua!
Os zéfiros que passam percorrer seu corpo em esplêndida carícia. A sensualidade de seu corpo em flor aproxima-se ao clímax. Quanto maior era a ansiedade e pertubação, vê  Fauno. Este, ao vê-la , titubeia, a vista ofusca-se-lhe ante aquele quadro onírico, provocante e belo. Chega, de mansinho, receoso de tresmudar aquele cenário, em que a grandiosidade e apoteose da natureza estavam prestes à sublimação.

A Ninfa estende-lhe as mãos súplices, em alucinante tentação.

Dois corpos abraçados, tombam, amorosamente...

Aquela árvore solitária, de ramos flexíveis, dobra-se qual cortina misteriosa, em respeito ao ato máximo da natureza: “O Amor!...”

Ao som mavioso de uma lira sonhadora, a Ninfa abre, graciosamente, seus olhos garços e de seus úmidos lábios desprende o mais suave e inolvidável sorriso. Eis ai um quadro digno de modelo a um Canova.

Fauno, possuído de extremo carinho e compreensão, apresenta-lhe a túnica.
Com gestos lentos, já vestida, deixa-se enlaçar pelos braços de seu amado, que a conduz às suas companheiras. Ao deixá-la , Fauno beija-a, com ternura, e se afasta para a sua eterna vigilância de seus domínios.

À aproximação de alguém, as Ninfas se voltam pasmadas pela tocante beleza e felicidade que transparece no rosto de sua companheira. Depois, sorridentes e brejeiras, dão sequência ao bailado imutável de suas vidas nômades.