É
o que se denomina de irrecusável, um convite que lhe chega nos seguintes termos: “diga
a Marlusse que estou esperando quero que ela venha ao meu aniversário”.
Portanto, só lhe resta deixar de lado quaisquer outras coisas que possa ter que fazer,
arrumar uma pequena mala, enfrentar os mais de duzentos quilômetros que separam
São Mateus de Vitória e na hora que foi designada estar presente, na casa
respectiva, para o aniversário dos 102 anos de D. Olindina (Rodrigues
Gonçalves).
Assim,
cheguei, apresentei os presentes que trouxe e crendo ter sido reconhecida
conversei com ela, cumprimentei as pessoas que também foram levar-lhe carinho e
criou-se entre nós um clima de camaradagem comum entre velhas amigas que se
encontram.
A
certa altura, estando eu sentada a sua frente, à chegada de Rachid, minha irmã,
que a cumprimenta e faz festa, imediatamente pergunta por mim e sorri ao lhe
ser mostrado que eu estava ali e chegara há bem uma meia hora antes.
A
festa prosseguiu. Vieram a tona muitas lembranças e cada qual querendo lembrar
os fatos antigos, acontecimentos e até as festas de Santo Antônio, como era
chamada uma ladainha, que seu Djalma, esposo de D. Olindina, fazia sempre, no
dia 13 de junho, dando sequência a um costume que também fora adotado por seu
pai.
Mais
uma vez lembrei os bolinhos do café das duas horas. É como se visse hoje, D.
Olindina, fritando uns bolinhos para o café da tarde dos filhos. Um tempo atrás
perguntei-lhe de que eram aqueles bolinhos tão gostosos que ela fazia para o
café. Primeiro ela riu muito e depois respondeu: “de água e farinha com um
pouco de açúcar e fritos no azeite quente em frigideira”.
Pois
não é que provoquei-lhe a lembrança e ela,
sorrindo, contou para as pessoas
que estavam perto a história dos bolinhos.
Foi
inevitável lembrar aqueles que se foram, mas sem dúvida para mim quem mais
estava fazendo falta era Vitorinha (Freitas Rampinelli).
Vitorinha
morou em frente a D. Olindina por bem uns cinquenta anos ou mais. Isto
facilitou uma amizade que nunca se estremeceu devido a serem ambas pessoas
muito boas que se ajudavam reciprocamente.
Não
é que estivesse doente, mas depois de uma queda ficou muito abalada, e na
verdade, era débole pelas muitas pancadas que levou pela vida. Mesmo assim,
levada pela filha cheguei a vê-la no mês de abril, entrar na igreja de São
Benedito, devoção de sempre, para assistir a Santa Missa.
Uma
estranha segunda queda, dentro de sua própria casa acabou por vir a se
constituir em sua causa morte e assim mudou-se para o lado de lá, mais uma
pessoa de todos nós tão querida.
Não
compareceu a festa de aniversário de D. Olindina, mas eu creio que bem que deu
uma passadinha por lá, já sabia que esse aniversário seria comemorado.
Assim
é a vida, uns que chegam outros partem... Em nossa família também já não tem
chegado para as habituais visitas a mamãe, nosso querido irmão Abdo, que seguiu
Vera e Hilda. Calou-se mais uma voz- entre nós.
Viver
é assim: nascer, crescer, viver em uma família, amar muito – embora pareça que
alguns não amem, fazer coisas, complexas
outras muito simples, escovar os dentes, fazer refeições...
E
um dia por qualquer causa, os olhos se fecham e não se abrem nunca mais.
5 de julho de 2015
Escrevi
esta crônica em homenagem a D. Olindina no dia 5 de julho do ano passado,
2015. Ontem, 16 de agosto de 2016, se cumpriu o que afirmado no último parágrafo.
Lá no céu mais uma santinha reza por nós.
Na foto, quatro gerações, faltou Rosa Olímpia, mãe de Ana Cláudia, a neta, para mostrar as cinco (gerações).