quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A POETISA DE SÃO MATEUS

ELZA CUNHA, A POETISA DE SÃO MATEUS


Eu me lembro de um dia ter tido oportunidade de entrar na “Casa do Barão”, (Barão do Aimoré) na Cachoeira do Cravo, “nos quilômetros” (estrada São Mateus x Nova Venécia) e ter visto no alto de uma parede em quadro, um soneto de autoria de Elza Cunha. Gostaria de tê-lo como tesouro da nossa Academia. A não ser que esteja em família o que considero ainda melhor.

Quando da fundação da Academia Mateense de Letras (Amaletras), Herinea Lima de Oliveira, cofundadora, escolheu como patrona da cadeira que veio a ocupar, Elza Cunha de quem ela decantava os méritos poéticos. Tivera oportunidade de conhecer sua obra e além de tudo, tratava-se de uma mateense.

A ternura de Herinea pela conterrânea, contaminou-me e no ano passado, decidimos que o Ano Literário que comemoramos seria dedicado a Elza Cunha - que passou a ser Elza Cunha Pires com o casamento, mas que nós, por uma certa originalidade, decidimos ficar só com o seu nome de família.

Transcorria o ano de 1914, quando no lar de Silvio Moreira da Cunha e Otília de Almeida Cunha, da quarta geração do Barão, nasceu Elza.   Esperta e inteligente como seus poemas nos atestam.

A leitura atenta dos seus mesmos poemas, o que pretendemos ouvir à voz de parentes, quem sabe conhecidos,  nos permitirão captar um pouco da alma da nossa homenageada.

Um dia

No início do mês de junho, casualmente, encontrei-me com Vera Flores da Cunha, filha de Flores da Cunha, um irmão de Elza, falecido muito novo. Falei-lhe do nosso projeto.

Prontificou-se com a maior boa vontade, dizendo que tinha contribuição para nossa pesquisa. Logo entrou em contato com Marcia, uma neta de Elza, que mobilizou lindamente os familiares.

Detalhes vamos revelando aos poucos, mas a família inteira que mora em Belo Horizonte, principalmente os netos, como sobredito, reuniu um maravilhoso acervo o qual nos ajudará imensamente, a fazer com que São Mateus conheça a poeta que teve como filha amante, bem como sentirá orgulho de tão ilustre filha.

Lembro-me de que Hilda, minha inesquecível irmã, que foi casada com Marilton, filho de Otívio Almeira Cunha, irmão de Elza, voltou certa feita de Belo Horizonte encantada com a hospitalidade de tia Elza. A carta escrita a Vera, quando bacharelou-se em direito, também atesta a alma carinhosa e atenciosa de Elza com sua família e naturalmente com os outros.  

Os amantes da literatura podem ir guardando nossas publicações. Os que participarem do Concurso Literário “Elza Cunha” não terão dificuldade com a prova de que passaram a conhecê-la.

Um dos seus sonetos.

                      
Meu torrão natal

(Cidade de São Mateus – Espírito Santo)

De meus queridos pais histórico berço,                                                             feliz, minha terra envaidecida vejo. 
Panorama divino, um sentir diverso, 
casarões colônias, cópia do Alentejo.

As verdes margens de teu rio canto em verso, 
do “S” de tuas curvas escrever desejo: 
Ó “Sétima maravilha do Universo”! 

Ao grito do coração, o ímpeto, o ensejo
de, comovida, olhar o esplendor do teu céu, 
planícies orladas de esguias palmeiras, 
teu rio, refletindo ao luar da noiva o véu.

Recordo, então, minhas ilusões primeiras... 
Sinto no balouçar das palmeira o “Adeus”!... 
A esta filha distante do seu – São Mateus.