quinta-feira, 6 de outubro de 2016

A POESIA DE EDITE ANGELI MEIRELES

Edite Angeli Meireles

Nasceu em Santa Teresa-ES e dedicou sua vida inteira ao magistério. As sequelas da grave poliomielite foram transformadas em flores e poesias. Desenha, pinta, monta peças teatrais, compõe. Simples e muito religiosa, é mãe de três filhas, plantou árvores e escreveu três livros, ganhou concursos e troféus. É autora do hino do Centenário de Santa Teresa-ES. Edite mora atualmente na mesma cidade em que viveu toda sua vida.

Pedaços da Infância

Saudade de nossa infância
Dos parreirais de uva rocha,
Das laranjeiras em flor,
Saudades das brincadeiras,
Brincadeiras de criança...

De mãos dadas, “Dona Mariquinha”,
Cantigas de roda a dançar.
O chicotinho queimado,
“Amarelinha” no chão,
No chão todo rabiscado.

O terço, na capelinha,
As mornas tardes, rezar
Rezar sempre a Ladainha
E doces hinos, cantar...

Saudade de nossa escola
Ond eaprendi o B + A = BA
Das merendas nas sacolas,
Das  frutinha nas angolas
Quanta gula a devorar!

Dos busca-pés, das estrelinhas
Dos foguetes e rojões,
Brilhando todo este céu,
Cai brilho por todo chão...

Na memória, as fantasias,
A inocência, a indagação,
E as respostas compreendidas,
Através de um doce olhar.

Saudade da professora
E das carteiras compridas
Do quadro das redações,
Doces momentos da vida!

Saudade de um hino triste
Que a professora ensinava
A meninada cantava
Cantava e até chorava
Porque as férias iam chegar.


Augusto Ruschi e sua Amante Natureza

Protegeste tanto a natureza, tanto...
Estudaste cada caule, cada flor.
Desfrutaste o aroma por encanto
Deste a ela o melhor do teu amor.

Admiraste-a grávida e nua,
E com ela viveste todos os momentos
Das contrações da dor e da esperança
Que a cada minuto surgem teus rebentos...

Verdes, rosas, azuis, todas as cores,
Que cobrem como manto o teu chão,
Inda mais cores do que eu pudesse ver,
Grande amor! Fruto da tua imaginação.

Um dia, com ela confundiste-te,
No fenômeno fotossíntese misturaste-te,
Para por encanto, desaparecer...
Aqui no nosso ser, tu aind avives,
No desabrochar das rosas no amanhecer.

Os acordes do bico de arara,
Gritos surdos inda clamam por ti
E na lâmina da orquídea,
O orvalho que chora, inda posso ouvir-te,
Oh! Pai do Colibri!

Não sofreste as críticas irônicas
Foste maior, compreendeste
Quão exíguo de espírito e importantes,
Os que riram do teu grande amor!

Peço a Deus que, de onde estiveres
O milagre possa permitir,
Que esta terra se cubra de flores
Que desperte em outra mais, os teus Amores,
Ressuscitem as sementes em ti.

Beija flores continuam a bailar...
É o balé da Ave Maria...
Que afinem os ouvidos e que ouçam...
Que canção! Que suave harmonia!

O teu marco deixaste na história,
Aqui e nas divisas desta imensidão
São os teus rastros de Amor que sussurram...
Consciência! Não destruas o chão...

Obrigada, grande naturalista.
Esteja na luz de Deus!


Doces momentos

Também audosa a alma gêmea
Lembranças doces e as fantasias
Doces lembranças da infância minha
Olhar no ocaso, o sol se escondia...

O peito em festa, esquecer os traumas
Volúpias, risos de ironia
Nos verdes campos botões de fecham,
Saudosa terra da infancia minha.

Das cicatrizes dos vendavais
Se foram os tempos, não voltam mais
Saudades infindas
De uma infância linda.

Cabelos longos, cabelos soltos,
Olhos azuis, descalços os pés
Vivendo sonhos, inocentes sonhos,
Infância linda, eu quero ainda
Te reviver...

Obrigada, Deus

Agradeço a Deus do Céu
Por eu ter nascido aqui.
Viver uma infância linda!
Da qual nunca me esqueci.

Uma hora, estava eu nos galhos,
Das fruteira do pomar.
Ah! Outras dentro dos rios,
Tomando banho ou boiar...

Às vezes nos terreiros,
Jogando a minha peteca,
Outras dentro da casinha
Fazendo dormir as bonecas.

Procurava os riachos,
Pedaços de louça quebradas
Ornamentava a Igrejinha,
Era ali que eu rezava.

Pelos campos ia correndo,
Sentindo o cheiro das flores.
Às vezes de boca aberta,
Chorava sem sentir dores.

Dentro das caixas vazias,
Isto é verdade, é um fato.
Muitas vezes lagartixa,
Outra o enterro dos sapos.

Colheita de manhãzinha,
Os morangos nas estradas,
Tirava pena dos frangos,
Para fazer almofadas.

Se a mamãe surpreendia,
Cortando os retalhos dela,
Eu fugia das chinelas
Pulando pelas janelas.

Brincava de cozinhado
De piquenique e de roda.
Gostava de usar as tintas
E também d epular cordas.

Fazia comédias e dramas
No palco das fantasias!
Onde eu era personagem
Daquela doce Magia.








DIA NACIONAL DA CIDADANIA


Fui satisfazer minha curiosidade e olhei na agenda “dia de quê é hoje”?  Entre outros, achei interessante que 05 de outubro é o “Dia Nacional da Cidadania”.

Curioso! o que será que moveu aqueles que quiseram enfatizar ou quiseram um dia para cidadania, que de resto passou em brancas nuvens. Pelo que observei, só pessoa como eu ou que quis fazer o que fiz tiveram presente a comemoração. Comemoração? Mas não houve comemoração. Nem as redes sociais que falam de tudo e de todos a mencionaram.

Mas imagino que a intenção tenha sido fazer lembrar às pessoas sua condição de cidadãs, homens e mulheres que moram na cidade.

Você sabe o que é uma cidade, claro! Um espaço, um território, onde moram pessoas, as quais em nome da boa convivência, são sujeitos de direito e de tantas outras obrigações ou deveres, de cuja fiel observância depende a paz.

Cidadania é o conjunto desses direitos e deveres que cada um deve cumprir e outro conjunto de deveres a observar.

Por mais simplórios que sejam cidadãos e cidadãs, todos são dotados de discernimento suficiente para distinguir o certo do errado. Na hora que deve praticar qualquer gesto ou ato, ou proferir palavra, uma espécie de sino toca na sua consciência. Acordes melódicos se de aprovação; insistentes, menos espaçados, irritantes até, se de reprovação. De modo que, seguindo o sino, não há chance de errar.

O cidadão respeita as regras da boa convivência na comunidade da qual faz parte. Ele é livre de uma liberdade que, no entanto acaba onde a do outro começa. Quem pensa que pode tudo, está redondamente  enganado.

Pagar impostos, taxas de luz, água, telefone, entrar com respeito e corretamente vestido em estabelecimentos diversos de acordo com o respectivo fim, estar na rua que é pública, não individual tem suas convenções e até lei e não se pode exatamente fazer tudo o que se quiser, “ou que na telha der.”

Neste dia da cidadania, vamos lembrar de tudo isto, tem a ver com a Oração de São Francisco que comentamos.

Tomara que mais do que de democracia, falemos de cidadania. Aquela sem esta, no mínimo é só fraqueza, ao passo que quem se sente cidadão não foge a luta, facilita a vida dos outros, cumpre exatamente a sua parte no que lhe é atribuído.

E não precisaremos de um dia, porque na verdade dia de cidadania é todo dia.


Marlusse Pestana Daher

Vitória, outubro de 2016