sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

ASSIM É SE LHE PARECE


  Mateus Pires - Concorrente do Concurso Literário Poetisa Elza Cunha



Pirandello conseguiu em um título dizer muito, o que raramente um autor consegue. E todos os dias vemos pessoas que vêem o que lhes interessa, independentemente da cultura que tenham amealhado durante a vida, ou da inteligência com que foram distinguidas. 

Nas relações de amor, ou de família, então as ações são deturpadas e cada participante julga da forma que lhe interessa. Vi várias vezes o mesmo fato ocorrer de forma semelhante, já que igualdades totais são difíceis, ou impossíveis, como preferia Voltaire e a forma de ver, interpretar, ficava absolutamente diferente. 

Vou, com os riscos inerentes à conduta, exemplificar. Quando algo acontece com o filho, o entendimento é um, quando ocorre com o genro, é completamente diferente. E a situação de vida era semelhante em gênero, número e grau. E o julgamento não era feito por tolos, ou primitivos. Como era desencadeado por pessoas de nível de cogitações elevado e estou usando uma daquelas locuções da moda, havia argumentos, fracos, sofísticos, perante os verdadeiros acontecimentos da vida! 

E estes argumentos pueris, que serviam de base ao julgamento esdrúxulo, vinham recobertos por razões inconsistentes, repetidas até a náusea, para ver se a repetição daria respaldo às distorcidas interpretações. Será que assim era, se lhe parecia, ou não lhe parecia e queria que aos outros parecesse? A vontade era chamar o interlocutor à realidade, mostrando ações semelhantes, sendo julgadas por critérios díspares e injustos. Mudemos de sexo. 

Se a filha é gastadeira, não há comentários desfavoráveis, ou conselhos. Se a nora gasta até um pouco menos que a filha, o fato é anotado e pequenos abalos nas relações familiares podem ocorrer. Em contrapartida se a mãe faz um comentário, se aceita, pois de fato foi pertinente, educado, oportuno, só que se a sogra, uma boa sogra por hipótese, bem educada, gentil, aborda o mesmo assunto com maestria e oportunidade, a deixa não é bem recebida e o filho da sogra, o marido, ouve poucas e boas. 

Minha dúvida sempre é pirandeliana, julgaram-se as ocorrências, errando intencionalmente, ou se viu o que gostaria de ser visto. E se ao menos as pessoas, nas relações mais íntimas, amorosas, ou familiares, procurassem ver com absoluto sentido de justiça e bondade, muitos desacertos seriam evitados e os imprescindíveis relacionamentos, no amor e na família e mesmo no trabalho e na sociedade, correriam em caminhos mais ensombrados e calmos. Assim é, se lhe parece, acredito.