domingo, 31 de dezembro de 2017

RECOHEÇAMOS. GRANDES COISAS FEZ O SENHOR

Marlusse Pestana Daher

Cada ano que passa representa uma etapa da vida que se viveu e os sentimentos que provamos variam de pessoa para pessoa, passa pelas circunstâncias pelas quais cada um querendo ou não teve que vivenciar, deliberadamente ou por aquela impossibilidade que se assemelha a do “rio que estremece quando se avizinha do mar e lembrando de sua trajetória teme a própria sorte, mas como não tem jeito de voltar, ingressa oceano a dentro e quando dá conta de si, virou oceano também” e entra no bailado das ondas e já não se lembra do passado ainda que muito  próximo.

Centenas de votos de feliz ano novo, com prosperidade, com alegria, com sucesso e tudo que há de bom, chegaram-nos de amigos mais ou menos íntimos, de amigos virtuais que sequer conhecemos os rostos, expressados do mais profundo do coração ou simplesmente por mera formalidade, mas todos formulados lá no fundo do coração onde tem uma sementinha geradora de sensiblidade, da  maior qualidade.

Inúmeros são os protestos de que devemos crer em Deus, de que a fé nos deve acompanhar, que Deus nos conduz, que é Pai e Mãe para nós, que nos amou tanto que deixou de lado sua natureza e vestiu-se da nossa, para dar a maior prova de “amor que pode ser dada de um amigo a outro: a entrega da própria vida”.

Mas também não se pode dizer que apesar de termos absoluta a mais profunda certeza de que tudo isto é verdade, quando a dor chega e certas vezes tão forte, se duvida, ainda que ao mesmo tempo nos consolando ao lembrar: “que quando Jesus sentiu que chegou a sua hora, sofreu profundamente e ainda que condicionando o que pedia à vontade do Pai se fosse da vontade dele, pediu: “Pai, afasta de mim este cálice”.

O mundo caminha a passos largos para sua autodestruição, é desenfreada a ganância de mandatários investidos das funções governamentais, legislativas e judiciárias cujo poder não  lhes é próprio, pertence ao povo em nome do qual deve ser exercido. Mas também  um povo que  “não está nem ai” e candidato bom é aquele “que lhe der mais”

Houve sofrimento derivado das estruturas, houve muito, no âmbito das famílias existindo as que tiveram que chorar perdas dolorosas dos seus amados. Como dói, como custa a passar, dói tanto que a sua expressão maior, a lágrima, jorra aos borbotões a ponto de quanto a gente se apercebe já molharam o chão que se está pisando. Por que a morte tem que chegar deixando ainda insolúveis tantos pequenas questões...
 
Rita de Cássia Pestana Daher
Irmã querida,  há 23 dias voltou para o Pai.
Saudades.

Mas como se diz, a vida continua, em horas ai estará o novo ano a ser vivido. Deve ser encarado com coragem, sem prantos, de frente, pois são 365 dias para fazer com que as coisas mudem e a vida seja melhor.

O que não deu certo no ano passado que seja lição a ser estudada e usada para não repetir erros. Os sofrimentos devem mudar de cor que sejam brilhantes e nos encham os olhos. As alegrias, redobradas e multiplicadas, os talentos recebidos tais e quais os confiados por aquele Senhor aos empregados já que empreenderia longa viagem, não podem ser enterrados, mas usados da melhor forma para que se multipliquem.

Pensando bem, muito foi recebido, tudo que nos deram nossos semelhantes deve ser agradecido, as mágoas mandadas para longe. É preciso reconhecer as graças recebidas e que certamente, estas sim, foram muito e muito mais numerosas. Em 2017, abrimos os olhos 365 vezes e pudemos ver tudo, houve um pedaço de pão para comer, pessoas que nos disseram “gosto de você” e ainda muito mais que de tantos se torna  impossível elencar.

Juntemos todos os nossos sentimentos e ofereçamos em oblação ao Pai, será um sacrifício agradável e a recompensa  abundante constituída dos melhores frutos.


Feliz Ano Novo.


Vitória, 31 dedezembro de  2017                                                                                       10:25

domingo, 24 de dezembro de 2017

Feliz Natal

A todos que dispensaram seu tempo lendo meus escritos, pela atenção e pelo carinho, muito obrigada.

Que tenham todos um
Feliz Natal e um Ano Novo cheio de realizações.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

A VIDA NÃO É PICADEIRO


Marlusse Pestana Daher

Quem está levando a melhor são os donos de farmácia. Em Vitória, em apenas dois quarteirões contam-se quatro farmácias, fora as outras nas ruas
adjacentes ou paralelas, nos bairros vizinhos, muitas vezes ligados apenas por uma ponte. E todas estão vendendo e muito. É impressionante ver a velocidade com que se derruba uma casa e logo em seguida surge ali, uma charmosa farmácia. Raramente, você não vê ao menos uma pessoa comprando remédios, somos uma população de doentes.

Está suficientemente comprovado, programas específicos, médicos, outros profissionais da saúde, repetem exaustivamente que a causa maior de todos os males são as aflições que sentimos, os medos, as incertezas, os sofrimentos, a violência generalizada e já não é só poético cantar: “o que será o amanhã, responda quem souber, o que irá me acontecer... ninguém sabe responder”.

Depois de ter posto o país a serviço do seu partido político, de ter privilegiado obras faraônicas em outras terras, como se diz: “tirando o pão da boca dos próprios filhos”, Lula e seus correligionários se mobilizam para tirar o sossego da população com ameaça de guerra civil acrescentando como o cabeça deles já o fez: “vocês não sabem do que somos capazes”. Sabemos sim, não esquecemos a inconsequente mobilização de presas fáceis que agem tal como lhes é  determinado em troca  “de pão com salame”.

Desatinado, Lula não reconhece o vexame pelo qual, sua frustrada  caravana passou nas andanças pelo nordeste, onde ao invés de ser aclamado ouviu vaias, foi chamado de ladrão e gritos em coro de “fora Lula”. E ainda quer mais: “jogar de goela abaixo” dos  incautos, dos menos esclarecidos que os processos a que está respondendo, num deles foi condenado,  não passa de perseguição política. As asneiras que já se ouviu desse senhor não têm medida e ainda tem quem o apoie. Com as devidas desculpas, tenho gente que amo no meio,  não posso calar o velho adágio “o pior cego é aquele que tem olhos e se recusa a ver, tem ouvidos e se recusa ouvir”

Entre “loucuras” o ridículo acontece como foi a eleição e reeleição de um palhaço que arrimou sua plataforma política na televisão, com ar de deboche: “vote no Tiririca, pior do que está, não fica”. Ficou sim. Você leva para os shows Brasil a fora, seu talento de humorista, mas leva também a imagem de um ex-político que poderia ser menos desastrosa.  Mentindo, você que nunca proferiu um discurso, o fez já que se constitui em requisito do que você queria. Mentiu ao dizer  que renunciava ao seu mandato desiludido com a política, ao mesmo tempo em que na verdade leva  para o resto da vida sua polpuda aposentadoria com  apenas sete anos “de (de)serviço”. Queria ver a cara de cada um dos seus eleitores, mas estou certa de que encontraria muitos na atitude de que “não estou nem ai”, não dando a menor importância e rindo mais uma vez. O desfecho? O por quê? Ceder a vaga para um corrupto desta e de outras eras.

Não estamos num picadeiro e a vida não é palhaçada, cada uma das nossas ações ou omissões têm consequências inimagináveis. É preciso começar a faxina de dentro de nós, para que ao nos apresentarmos tentando preservar direitos, como no caso da previdência, sejamos respeitados pelo que somos e não destratados como reles ignorantes.

Só mostrando a dimensão do nosso poder e da nossa estatura moral, provaremos ou não permitiremos a quem está no poder esquecer que ele deve ser exercido em nome do povo, em favor do povo. Em nosso nome, em nosso favor.

Escrevo com coração trepidante, não sabemos o que vem por ai,  não sabemos a que ponto chegará a loucura dos lulistas,  no dia de sua  inevitável prisão.  Quem já assistiu a tantos desatinos perpetrados, tem ciência das atitudes inconsequentes dos tais “militantes”, dos sem terra. expressão incabível para a liderança que habita palácios.

Rezar só não resolve. Deus alimenta as aves do céu, mas não joga os grãos nos seus ninhos, eles têm que buscar. Igualmente nós e neste sentido oportuno lembrar aquele outro velho adágio que diz: “Faça por onde que eu te ajudarei”. (Deus).



Vitória, 19 de dezembro de 2017 18:27

domingo, 17 de dezembro de 2017

ADVENTO - JESUS ESTÁ PERTO - DOMINGO DA ALEGRIA

O ADVENTO DES-VELA NOSSA IDENTIDADE ORIGINAL

“Perguntaram então: ‘Quem és, afinal? Temos que levar uma resposta para aqueles que nos enviaram. O que dizes de ti mesmo? (Jo1,22)

Quem és? Quem sou? Quê dizes de ti mesmo? Que digo de mim mesmo?
Às vezes, o mais evidente e o mais próximo termina sendo o que menos conhecemos.  Talvez acreditamos conhecer melhor os outros que a nós mesmos.
É possível que os enviados a João Batista tampouco pudessem dar razão de si mesmos, mas queriam saber quem era João e o que ele pensava de si mesmo. É possível que ninguém tenha ousado perguntar aos sacerdotes do Templo: “E vocês, quem são e que dizem de si mesmos?”

E, no entanto, é o Templo que se sente incomodado com a presença desse estranho homem do deserto: sem ornamentos luxuosos, vestido de pele de camelo e levando uma vida de austeridade. Mas, uma vida que por si só fala de algo diferente, de algo novo.
João, nas areias do deserto, despertava inquietações e preocupações nos sacerdotes do Templo.
Esta é a verdadeira identidade de João; uma identidade expansiva e original que, ao mesmo tempo, era expressão de sua dimensão mais profunda e o movia a ser presença provocativa junto aos outros. Ele foi um homem inquieto, que passou a vida buscando e preparando o ambiente para acolher uma outra presença surpreendente: “no meio de vós está aquele que vós não conheceis”.

Todo ser humano é aventureiro por essência; com ardor, ele anseia por uma causa última pela qual viver, um valor supremo que unifique a multiplicidade caótica de suas vivências e experiências, um projeto que mereça sua entrega radical. Para dar sentido à sua vida e realizar-se como pessoa, o ser humano necessita da auto-transcendência, isto é, viver para além de si mesmo, de seus impulsos, caprichos, desejos...

Carrega dentro de si a sede do infinito, a criatividade, a capacidade de romper fronteiras, os sonhos, a luz...

Portador de uma força que o arrasta para algo maior que ele... não se limita ao próprio mundo; traz uma aspiração profunda de ser pleno, de realização, de busca do “mais”...

Nesse sentido, o tempo do Advento vem ao encontro desse nosso desejo profundo e se apresenta como uma mediação para ajudar-nos nessa longa travessia em direção à própria identidade expansiva, deixando nosso estreito território e enveredando pelas terras desconhecidas do além-Jordão, onde João Batista também deixa transparecer sua verdadeira identidade: “eu sou a voz que grita no deserto”.

Ao ler o evangelho deste domingo e inspirando-nos na figura de João Batista, que revela quem ele é, pode-mos, também nós, reservar um tempo para nos contemplar por dentro; provavelmente nos sentiremos um grande desconhecido para nós mesmos.

Nossa existência não pode ser de anonimato e indefinição. Ela exige identidade clara e bem definida.
Normalmente confundimos a identidade com certas “marcas distintivas”: o nome, a profissão, a posição social, política ou religiosa, a função...
A identidade, no entanto, é dinâmica, histórica, fecunda, aberta ao desconhecido, aventureira...; é a capa-cidade de ir além de si e adiante de si. É poder ser invenção contínua de si mesmo, infinita trans-cendência.  É ter projeto, ter futuro, sair de si...
Só transcende quem se aproxima da própria interioridade, do próprio coração.

 “Descobrir-se a si mesmo” é ter consciência que no próprio interior há um movimento infinito de construção de si, de identidade em movimento... que se torna possível graças a um constante arrancar-se do imobilismo e da paralisia existencial, que impedem o fluxo da vida.
Só consegue aproximar-se da própria interioridade quem se desprende de defesas e projeções.

A Palavra de Deus, pronunciada sobre cada um de nós, des-vela e re-vela a nossa verdadeira e plena identidade: única, irrepetível, original. Essa identidade vai sendo gestada ao longo de nossa história pessoal com os avanços e recuos, vitórias e fracassos, alegrias e sofrimentos... que vão pontilhando nossa existência e constituindo esse ser único, que somos cada um de nós.

Vivemos um contínuo chamado na vida e para a vida. A experiência de sentir que estamos insatisfeitos, o impulso em ativar desejos, cultivar aspirações sempre novas, procurar entender quem somos, o que devemos fazer, o que nos torna realmente felizes..., no fundo, tudo isso, é um contínuo desvelamento de nossa identidade. Nós realizaremos nossa vocação, sendo nós mesmos, com nosso modo de ser, nossas possibilidades, nossa originalidade. Ninguém poderá realizá-la por nós.
Ser fiel à própria identidade é ser fiel à nossa vocação.

Isso é identidade, ou seja, mergulhar no “fluxo da vida”, colocar-nos em movimento, caminhar para o nosso próprio interior. Afinal, somos um “ser de caminho”, um ser em marcha, em contínua peregrina-ção. Ter identidade é viver em contato com as raízes que nos sustentam. No percurso para dentro, clareia-se a visão sobre nós mesmos, sobre nossa originalidade e dignidade.
Há uma força de gravidade que nos atrai progressivamente para a interioridade, onde Deus nos espera e nos acolhe, e onde encontraremos a nossa própria identidade e a verdadeira paz.

“Que eu me conheça e que te conheça, Senhor! Quantas riquezas entesoura o homem em seu interior!
 Mas de que lhe servem, se não se sondam e investigam?” (S. Agostinho)

Quem é que pode nos fazer acreditar que chegamos ao fim do caminho, que finalmente adquirimos uma identidade definitiva? Quem pode nos fazer dizer “eu sou?”.

Para a mentalidade bíblica, o ser humano é uma criação contínua, um processo permanente de “tornar-se pessoa”, passando por uma transfiguração, cada vez mais nova, de si e do mundo. O ser humano descobre a “existência” como identidade dinâmica, invenção constante de novas possibilidades de ser.

A identidade vai se des-velando à medida que do interior de cada um brota esta certeza: “Sou um tesouro, para mim e para os outros, e que não conseguia encontrar; sou um mistério da graça e do amor de Deus; sou alguém que se sentia vazio por dentro e descubro que estou habitado por Ele; sou alguém chamado, preferido de Deus; sou alguém que sente as mesmas fragilidades de todos e que, no entanto, sinto a fortaleza de Deus em mim; sou alguém que cada manhã pode desfrutar de um novo dia, posso sorrir para os demais; sou alguém que não sou a luz, mas posso ser testemunha da luz e indicar aos outros onde encontrá-la; sou alguém que ama profundamente a vida”...
Sem dar-nos conta, vamos encontrando verdadeiras maravilhas dentro de nós.
E enquanto buscamos reencontrar-nos interiormente, podemos nos sentir como o garimpeiro que, em meio ao cascalho e à profundidade da terra, esbarra-se com o veio de ouro.
Texto bíblico:  Jo 1,6-8.19-28

Na oração: Deus garante a nossa identidade: podemos serr nós mesmos. Deus investiu pesado em cada um de nós. Mais ainda, fez do nosso coração sua morada.
Ter uma identidade significa assumir um lugar na história, uma missão a cumprir.
- Agora, sabendo o que Deus-Pai pensa de ti, poderias descobrir o teu nome? a tua identidade?
                Quais os teus “sinais digitais divinos”?
- Que resposta darias de ti mesmo, agora, se um repórter te entrevistasse e te perguntasse: “Quem és tu?”
- O que colocarias na tua carteira de identidade que te diferenciasse de todas as outras pessoas?
- Quais seriam os teus sinais digitais mais originais?
   Ser “João” é ser graça amorosa de Deus na vida e na história de tantas pessoas.

Pe.Adroaldo SJ


quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

POESIAS CLASSIFICADAS

A M A L E T R A S
POESIAS CLASSIFICADAS NO CONCURSO “Elza Cunha” Edição 2017


ODE AOS AFLITOS

Mônica da Silva Costa de Jacarezinho PR
1° lugar, categoria poesias.

Quando olho para o mundo 
tomado por sofrimento, 
meu coração, apertado, 
chora a todo momento! 

Pessoas e animais sofrem 
tanta desventura que, com eles, 
também sofro 
toda a dor dessa amargura!

O ser humano é quem causa 
quase todas as aflições, 
por maldade, egoísmo 
e por tantas ambições.

Quando vejo a violência 
que se faz com uma criança, 
minh’alma, despedaçada, 
é pura desesperança!

Relembrando o infortúnio 
dos que estão a padecer, 
muitos nem sequer tiveram 
o direito de viver... 

Como posso ser feliz 
onde há tanta tristeza,
 tantas guerras, violências 
e agressão à natureza?

O sofrimento alheio 
eu não consigo ignorar;
 elevo o meu pensamento e, 
aos céus, vou suplicar: 
Ó meu Deus, eu só Te peço 
proteção aos inocentes, 
segurança aos animais 
e Justiça aos delinquentes!


15 de outubro

Manoel Francisco Filho 2° lugar,

Sou professor, muito prazer 
Não vou te esquecer 
Mas, se você me lembrar
Vou lhe agradecer ‘
Pois muita criança na minha lembrança 
não pode ficar

Tentei ensinar, 
mais sei que aprendi, 
chorei e sorri 
Sem medo de errar, 
vou te explicar minha lição 

Insista e não se deixe abater 
Quem quer aprender terá que lutar 
Saber guerrear Sem soldo, sem arma
Usando as palavras eu posso ferir, 
acolher “ se omitir” 
Só não posso fingir 
que não sou responsável por seu armamento

Não fiz juramento, 
mas peço perdão 
Se falhei na missão, 
não é vocação 
Mas sim profissão, que forma a Nação

Sem ser bem formada,
registro minha fala
pra não te esquecer 
Com muito prazer seguimos tentando 
Criar outro plano, 
que possa alterar o quadro do mar 
Que carrega o descaso e devolve em pedaços


Poesia

Robson Silva Alves, 3° lugar
Coaraci BA

Palavras nascem 
Feito magia 
Em noites longas
Madrugadas vadias

Os versos brotam 
Batem na porta
 Feito veias Irrigam a aorta
Espalham ao mundo 
A forte semente 

Desafia poderosos 
Transforma mentes
Sonhos viram poemas 
Que nascem do coração

Vivem amores 
Impossível paixão
Inspiração é caminho 
A verdade estrada 

Letras conduzem 
Na grande jornada
Amada eterna 
Singela simetria 
Poesia é vida 
Vida é poesia.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

DOS AMORES DIVIDIDOS E MULTIPLICADOS

                   

Regina Ruth Rincon Caires
2° Lugar - Prosa



Arroz, feijão, mexido de ovo e farofa de torresmo. 

Tudo misturado, amassado. Isso era feito dia após dia, sempre nos mesmos velhos e descascados pratos de ágata. Cada neto era servido com esse manjar dos deuses, carinhosamente temperado de generosidade, doação, amor.

A avó compactava a comida no círculo central de cada prato, borrifava algumas gotas de limão-cravo, e com a lateral do garfo fazia uma cruz no centro, dividindo a porção em quatro partes. Dizia que cada parte era dedicada a um dos quatro grandes amores da vida: mãe, pai, avó e avô.

E, comprometidos com esses amores, cada um de nós escolhia a parte mais amada para iniciar a refeição. Quase sempre a sequência lógica prevalecia: mãe, pai, avó e avô. Raras vezes essa harmonia era quebrada, e quando isso acontecia nem precisava investigar: havia uma surra atrelada a isso. Uma surra dada ou uma surra prometida. Se bem que isso era muito particular. Se havia alguma inversão, ninguém comentava. Acontecia dentro das cabecinhas. Sei que acontecia isso porque inverti algumas vezes.

Enquanto comíamos, a avó, de longe, sempre atarefada com a lida da casa, cautelosamente controlava a nossa alimentação. Era comum ouvir:  Quem já comeu uma parte? Didi, você está sem fome? Lúcia, a comida não está boa? Faltou sal?

Ela sabia que a comida estava sempre boa. Nunca faltou sal e nem sobrou. Nunca errou a mão em nada. Ali estava o amor mais saboroso que uma criança poderia receber. Era uma cumplicidade de afetos tamanha que espantava qualquer insegurança, qualquer medo, qualquer tristeza. Era um porto seguro.

Com o passar do tempo, fui percebendo que naquela divisão faltavam partes. Havia mais dois amores a serem colocados ali, no meu prato. Meu irmão e minha irmã.

Então, sem alarde, comecei a repartir as porções do pai e da mãe, de modo a serem quatro. Ali estavam os dois que faltavam. E eu ficava feliz assim...

Fiz isso por algum tempo sem ser notada. Quero dizer, pensando não ser notada. Imagina se isso seria possível! Nada escapava da tenência sempre zelosa da avó. E um dia, enquanto eu multiplicava as minhas divisões, ela aproximou-se de mansinho e, com aquele olhar que jorrava ternura, me disse: Existem outros amores, não é mesmo, menina?!

Depois do susto, sentindo o afluxo do sangue ruborizando o meu rosto por perceber que ela havia descoberto o meu feito, e não querendo que ela se sentisse afrontada pela minha iniciativa, prontamente coloquei-me de pé. E ela, no intuito de me tranquilizar, passou as mãos pelos meus cabelos e, com a maior serenidade do mundo, me disse: Ao longo da vida, minha neta, você irá encontrar muitos amores. Alguns serão somados, outros nascerão...  Serão tantos, mas tantos, que não caberão nem no maior prato do mundo!

E ela estava com a razão...





RIVÂNIA


                               Elton Romero
3° lugar - Prosa

No país em que querem nos impingir como heróis as pessoas reclusas dentro de uma casa disputando “reality show”, é natural que não se dê o merecido destaque para quem realmente mereça assim ser chamado. Basta acompanharmos as notícias dos telejornais ou buscarmos as matérias de capa dos veículos de comunicação impressos. Deparamos com manchetes, textos e fotos deprimentes, afinal, miséria e violência ajudam a vender.

Um dia, porém, foi diferente, e despertou minha atenção. Uma imagem captada de um grande infortúnio mostrava uma linda história no meio de tamanha desgraça. Sentada em um barco e fugindo da enchente, uma menina de oito anos abraçava e salvava seus livros escolares, por ser, na pobreza em que vive, o seu único bem. Vivenciando um momento de desconforto sabia ela que o tesouro que protegia era o seu passaporte para um futuro mais digno.

        Rivânia é o nome da garota. Brasileirinha de Pernambuco, é muito pobre, tem os braços mirrados, um sorriso bonito, mora em um local constantemente açoitado por adversidades, mas nada disso impede sua ânsia de aprender. E com sua atitude a pequenina ensinou muita gente grande, despertou solidariedade, provou que nas desgraças também é possível enxergarmos grandezas. Aqueles bracinhos guardaram o seu patrimônio com tamanha devoção, que certamente o cofre forte de uma agência bancária não ofereceria maior segurança.

        Nunca mais deixei de pensar na valentia de Rivânia.

        Já se passaram meses e nada mais se falou. Na matéria da época algumas pessoas se propuseram a ajuda-la de alguma forma, uns pela comoção, outros por esperteza ou interesse político. A única verdade que temos é que no próximo ano, ou ainda neste, a cena se repetirá. Já virou rotina na vida daqueles desassistidos. Ainda veremos por muitos anos novas enchentes, novas promessas, novas tristezas, novas emoções e comoções.

        Enquanto alguns pregam mudanças através de revoluções que nunca acontecerão, resta-nos a esperança de que, futuramente, a menina ribeirinha se torne uma profissional altamente capacitada, e ajude, dentro da área escolhida como profissão, a minimizar os tormentos do seu povo sofrido. Na sua inocência mostrou a todos que revolução deve ser feita com livros para mudar as pessoas, jamais com armas para mudar regimes de governo.

        Agora é torcer para que um imenso contingente de brasileiros a imite e faça cada um, a sua revolução pacífica, sem gritos de ordem, mas com muitas palavras escritas.



 AMALETRAS 

CONCURSO LITERÁRIO "ELZA CUNHA" - EDIÇÃO 2017


segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

O TREM DA MEIA-NOITE

Amaletras 1° lugar no Concurso Literário "Elza Cunha"
Edição 2017

        Era possível ouvir quando ele passava, sempre por volta da meia-noite.
Quando criança, Richard ficava acordado em sua cama até ouvir o apito, e imaginava como era o trem, para onde iria, que carga levava, e quem estaria a bordo. Durante o dia, ele ia brincar perto dos trilhos, mas nunca viu a locomotiva. O único horário em que ela passava era tarde demais para se estar por ali. "Um dia quero ficar ao lado da linha para vê-lo soltando fumaça", pensava. Mas acabava nunca indo. Apenas ouvia aquele som agudo, ao longe, na hora de dormir.
        Assim foi durante anos, até que o trem parou de apitar. Foi de repente, numa noite qualquer. O relógio marcou meia-noite, depois uma da manhã, duas, e nada. Ele simplesmente não passou pela cidade, e isso aconteceu nas noites seguintes. E então nunca mais...                                                                                                                                     
        Richard lamentou ter perdido a chance de ver o trem que sempre tivera papel importante em sua imaginação. Mas aos poucos ele foi esquecendo que um dia tinha ouvido os apitos. O menino cresceu, começou a trabalhar, casou, teve filhos, eles cresceram, teve netos, enviuvou...
        Na velhice, Richard passou a escutar cada vez menos. Tinha sempre que perguntar duas ou três vezes antes de responder a uma pergunta, o que irritava os menos pacientes. Sentia-se um velho triste e sem utilidade, cujas antigas histórias não interessavam a mais ninguém.
        E foi numa noite de nostalgia que, pouco antes de adormecer, ele o ouviu. Começou baixinho, muito distante, e então foi crescendo. O trem estava passando por lá outra vez.
        "Não é possível!", pensou.
        Depois de setenta anos a locomotiva estava novamente nos trilhos. O som ia ficando cada vez mais forte, e ele não quis mais esperar. Levantou-se da cama, calçou os chinelos e saiu de casa.  Caminhou até a linha de trem. Não havia ninguém na rua para estranhar um senhor da sua idade andando de pijamas. O apito ia ficando cada vez mais forte à medida que Richard se aproximava da linha de ferro... Até que eles se encontraram. Pela primeira vez Richard viu aquele enorme dragão de ferro vindo em sua direção, cantarolando e soltando fumaça pela chaminé. O trem foi diminuindo a velocidade e parou exatamente onde Richard esperava.
        - Viemos especialmente para buscá-lo, Richard - disse o maquinista.
        Convertido novamente em um menino, ele subiu os degraus da locomotiva.
        - Eu posso puxar a corda que faz apitar? - perguntou o garoto.
        Apesar de a ferrovia estar desativada há décadas, todos os moradores da cidade juravam que, na noite em que o velho Richard se foi, ouviram um animado apito de trem chegar aos seus ouvidos.


                                                  Marina Fecchio Rincon Caires de 17  anos. 
São Paulo - Capital.    

terça-feira, 28 de novembro de 2017

SOBRE POLITICA


Devido à publicidade, devido à globalização, devido à disponibilidade na mão de todos, do poder saber de tudo e de todas as coisas que acontecem – se são divulgados - cada um começa a falar de praticamente tudo, fala como entende, de política com todas os seus adereços, da pobreza e da miséria, do mal, nada do bem porque este não faz barulho, e presenciamos e sentimos um stress generalizado acometendo todos. Não conheço exceção a menos que façam parte daqueles que dando de ombro dizem: “Não estou nem ai”
Congresso Nacional

Se já não “sabíamos o que será o amanhã”, agora ainda muito menos e curiosamente, a certeza de que é assim nos vem dos contínuos subtrair dos direitos sociais garantidos constitucionalmente, do querer desigualar iguais, do efeito continuado propiciado pela corrupção sem precedentes que minguou nosso desenvolvimento, da redução sem precedente do salário mínimo. O rosário de penas não tem fim...

Mas o dinheiro surgiu (e em situações análogas sempre surge) aos borbotões, quando se tratou da compra milionária de votos dos parlamentares da Câmara Federal, ou melhor dizendo, de suas consciências, para poupar o Presidente Temer de duas ações penais (ainda que depois do mandato possa responder por elas).

Não há dinheiro para boas escolas onde se precisa, ou em todos os lugares onde se fazem necessárias, não há dinheiro para prestação de saúde e o espetáculo de doentes em corredores, até pelo chão, é diário e é  dantesco. Salvar vidas de  adultos e de crianças, como daquele garoto que tinha um câncer na boca que lhe avolumava o rosto e condenou a morte, mas que era benigno e não foi tratado a tempo. Estremecemos, sofremos, mas não podemos perder nossa capacidade de indignação, não nos podemos omitir em nada que pudermos fazer.

Por exemplo, uma solução vem sendo de todos os modos proclamada: não votemos em nenhum desses que hoje estão no poder. Não creiam nas mentiras que nunca param de contar. Mesmo que seja seu “ente” ou “parente” e até nele
você crê, não vote, ele pertence ao número dos que devem sair de cena, compôs o vandalismo atual, bem semelhante ao de ontem, na política brasileira. Ou na expressão de Eça de Queirós: “políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos, pelo mesmo motivo”

É preciso ser radical. A luta é grande até porque nenhum desses fatos se repetiram só recentemente ou pela primeira vez. A leitura do que escreveram pessoas de bem nos atestam que já diziam estar vivendo em uma espécie de inferno. É terrível.

Todos os dias novas facadas. Todos os dias imposição de novos sacrifícios. Busca-se reformar a previdência sob alegação de déficit, mas não são cobrados os valores de quem deve a ela em cifras impensadas. 

Sabe-se quem deve ao Banco Central, por que não cobrar já que tão bem se sabe que o patrimônio do qual dispõem o autoriza. Os conchavos inibem, “fala de mim que eu falo de ti...”  Não se pode ter “rabo preso”. Nem se penalize o povo que já está massacrado.  

Mas honestidade não consiste só no que diz respeito à política depende de inúmeras práticas diárias da lavra do povão que pensa que não fazem a diferença. E como fazem!

Mentira: quem mente no pouco, acaba mentindo no muito. Furtinhos daqui e dali. Pequenas omissões. Preguiça de não ir à luta. Deixar para depois, etc. Aqui e agora sejamos absolutamente honestos, absolutamente verdadeiros, nem nos esqueçamos de que “as grandes coisas se fazem com as pequenas” e que os políticos que recebem mandatos, é de nossa parte que recebem e enquanto entre nós, conosco são “farinha do mesmo saco”. Já pensou?

Marlusse Pestana Daher
Vitória, 28 de novembro de 2017


segunda-feira, 27 de novembro de 2017

NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS


Queridos amigas e amigos,

Se for por questão de gosto, entre todas a de que gosto mais, é dessa imagem: Maria tem uma face infinitamente serena, Jesus dorme enquanto ela olha para o céu e caminha. Tenho um quadro na minha sala. Para onde vai? Para onde Deus a chama, para onde Ele quiser, como Ele quiser, quanto Ele quiser.

Sendo sua, assim como Seu Filho é o Verbo de Deus por natureza, Maria se fez, tornou-se Verbo de Deus e não quer outra coisa. Neste modo, não lhe causa nenhuma fadiga, continuar repetindo o “Sim” da Anunciação, pequena Palavra, para pronunciá-la é suficiente um entreabrir de lábios,  “mas transforma a vida”.

Quem sabe seja assim tão pequena para nos advertir que o Senhor não quer nada mais que o conjunto de todas as pequeníssimas coisas que podemos fazer, para que possa realizar seu propósito: Uma vez que “fez-se homem como nós”, para que “nos tornemos como Ele”.

Pensei em fazer esta reflexão escrevendo, é um costume que tenho, como fazia Santo Agostnho, guardadas as devidas proporções, é claro. 

Mas a Nossa Senhora de hoje, 27 de novembro, é a das Graças, da medalha milagrosa, com a qual, não obstante a consciência de que é única com os diversos títulos que lhe foram dados, todos na minha família, como que a preferem, conservam mais no coração.
Nossa Senhora das Graças

Considero como motivação para tanto, aquele dia, eu ainda era bem pequena, mas me lembro com detalhes. Papai chegou em casa com um “embruho” envolto em muito papel. Começou a desembrulhar e  finalmente, os nossos olhares curiosos contemplaram  uma imagem de “Nossa Senhora das Graças"! que foi colocada sobre um velho móvel  - etagéo que tínhamos na nossa velha casa. E ali, rezávamos, e ali, Ela se tornou para sempre Nossa Senhora

A tanto, soma-se o fato de Rachid, a quarta entre nós,  ter custodiado a imagem, depois da dispersão da família, por motivos normais da vida, e acabou recebendo, o que consideramos uma graça, há onze anos, nasceu, exatamente neste dia, seu primeiro neto, o Daniel.

Olhar Maria é beber sem fim água boa que cura todos os males da nossa vida, tê-la como Mãe é riqueza imensurável, poder chamá-la de mãe traduz a verdade de que somos todos irmãs e irmãos do seu filho, o Filho do homem.

Valho-me desta oportunidade para desejar que todos a imitemos sempre, certos de que não existe um modelo de vida mais perfeito a seguir, pelo quanto amou Jesus e O deseja fazer amado.  

Ela estará conosco para todo o sempre. Deixemos quem não pensar como nós por conta dela, deixe-a fazer o que nós não podemos.