segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

ÀS NETAS MARIA CELINA, MARIA MÁRCIA

ELZA CUNHA
 
 
 
 
 
 
 
À Minha Neta
( Oferecido à Maria Celina Pires Frattezi )
 
Completa hoje um aninho de idade,
lourinha, de encanto primaveril.
Para seus Pais, toda felicidade,
irmã do miosótis, florzinha anil.
 
Feição cândida, primor, suavidade,
resplendem a face meiga, infantil.
Olhar compassivo, olhar de bondade,
difícil traçar tão raro perfil.
 
Para o irmãozinho, é a “ Celina linda! “
Tapinhas dá-lhe no mimoso rostinho,
com atenção, garridice e carinho.
 
Para a Vovó, é mimo, ternura infinda.
Arrebatamento, amor do “ Dindinho “. (Avô)
Pedaço de céu, beleza de arminho!
 
 
Cumprimento
(À minha neta Maria Márcia Pires Frattezi)
 
Tão pura, meiga e insinuante,
assim, é minha Marcinha.
Transparece no semblante
o que no coração aninha.
 
A responsabilidade
integra, seus dotes mil.
Desprende toda bondade
no seu sorriso gentil.
 
Dos Pais, é toda esperança
de um futuro promissor.
Felicidade se alcança
com constância, fé e labor.
 
Foi para mim maior surpresa,
este “ Encontro Espiritual
Certo, busca a fortaleza
ao embate da vida atual.
 
Parabéns, a minha neta,
na resolução tomada.
Felicidade em sua meta.
Sinta-se revigorada.
 
Márcia
(Cartão de aniversário)
 
À minha neta querida,
com teu sorriso brejeiro,
felicidade na vida
é o meu sentir verdadeiro.
 
Para comprar um presente
Lembrando suas primaveras.
Da avó que aama e sempre sente
 
que se realize deveras.

sábado, 21 de janeiro de 2017

NAÇÃO ZUMBI, A CIDADE


“A cidade não para, a cidade só cresce.
O de cima sobe e o de baixo desce”
 

                                                       

 

Katherine Beauchamp, participante do Concurso ELZA CUNHA

 
 “Quando?” “Um dia”. “Mas que dia”? “Qualquer dia desses”. “Mas, quando?” “Já disse mulher, um dia”. O homem empurrou a esposa com brutalidade. A mulher caiu por cima de uma barraca de camelô. O autônomo irritado e temeroso de perder a mercadoria gritou: “aí, xará, você vai pagar pelo que quebrou”. A mulher chorava caída sobre os produtos de origem chinesa. Um menino de rua, aproveitando-se da confusão, agarrou uma das mercadorias que jazia no chão e correu. Apesar dos apelos do camelô, o menino sumiu entre as pessoas que assistiam ao espetáculo que se apresentava em plena tarde de segunda-feira entre o Conjunto Nacional e o Conic. Injuriado, o vendedor atacou o homem: “viu, culpa sua. Ah, mas você vai pagar por tudo. Nem que eu tenha de chamar a polícia”. “Vai chama a polícia, aproveita e chama a Agefis, também, seu ambulante”. “Sou sim, mas trabalho com o meu suor”. “O que mais você traz do Paraguai além dessas suas tralhas? Ein? O quê”? “Você está me insultando. Eu sou camelô, mas sou honesto...” “Ah, tá, vai lá senhor honestidade”. O homem levantou a esposa chorosa. “Vamos mulher e pare de chorar, que nem te bati nem nada”. “Ah, não vai não. Antes tem de pagar pelos meus danos”. O ambulante gritava. Em pouco tempo uma multidão reunia-se ao redor da cena. “Não vou pagar por nada. Você nem tinha de estar aí. A via é pública”. De repente, um grito soou ao longe: “olha o rapa”! O vendedor recolheu os seus produtos antes que o prejuízo fosse maior. Saiu correndo com uma multidão de ambulantes que temiam perder a mercadoria para os agentes da Agefis. A discussão teve fim. E o homem respirou aliviado. “Viu o que você me obriga a fazer”? A mulher murmurou algo de cabeça baixa. “O quê?  Repete para que eu possa ouvir”! “Nada não, desculpa”. “Ah bom. Pensava que queria me desafiar. Aí eu iria te ensinar a me respeitar. Sou o seu marido. E quem paga a sua comida e a dos seus filhos, sou eu”. “Nossos filhos”. Retrucou a mulher e um tapa estalou em sua face. “Quem te ensinou a me responder, sua vagabunda”? A mulher com as mãos na face em chamas, entre lágrimas sentidas, sibilou um pedido de perdão. O homem puxou-a violentamente pelo braço a caminho da Rodoviária. “Vamos, que só me falta agora é perder o ônibus por sua causa”.

“Chip da Tim, já vem com bônus e internet”. Gritava uma vendedora. Mendigos disputavam espaço com o comércio de produtos de procedência duvidosa e passageiros que transitavam de lá para cá. “Iphone novinho. Vai querer, moça”? “Ela não vai querer nada não, rapá. Ela não tem um pau para matar uma onça”. Zombou o marido. A mulher abaixou a cabeça ressentida. O homem continuou com os insultos. “Maldita hora em que fui casar com você. Mas, naquele tempo, você era até bonita. Agora está aí: cheia de varizes, estrias e com um buxo enorme”. Ela ouvia resignada todos os impropérios que o marido lhe dirigia. O homem puxava violentamente a esposa pelo braço. “Se tivesse escutado minha mãe... Ela dizia: “esta aí é uma imprestável, só vai dar prejuízo”. Dito e feito. Olha você. O que você é? Nada. Só faz cozinhar e limpar e ainda faz muito mal”. As pessoas já olhavam indignadas para a violência contra aquela pobre mulher. Uma senhora bloqueou-lhes o do caminho. “Pode parar, não vou deixar você maltratar mais a sua esposa”. “Sai da frente, velha, não se mete”. Respondeu o homem, grosseiramente. “Não vou permitir. Solte o braço dela. Vamos já para a delegacia da mulher”. Insistiu a senhora corajosamente. “Não te disseram que em briga de marido e mulher não se mete a colher”? Alertou o homem à idosa e voltando-se para a cônjuge: “Olha, sua vagabunda, pelo que me faz passar”! A idosa puxou a mulher para desvencilhá-la dos braços do marido. A mulher não sabia o que fazer. Queria a salvaguarda da senhora, mas temia apanhar quando voltasse para casa. Afinal, tinha momentos que ele era bom com ela. Ficaram mais raros porque estava desempregado. E a falta de dinheiro era ruim para todo mundo. Por isso estava tão nervoso. Mas, tão logo encontrasse um trabalho fixo e não tivesse de viver de bicos, tudo iria melhorar. Pelo menos era o que, à noite, ele a prometia entre lágrimas sentidas. Não tinha coragem de abandoná-lo neste momento tão difícil. Ele precisava do auxílio dela, só não conseguia admitir frente as outras pessoas.

A mulher, então, se pronunciou. “Ele é meu marido. Está nervoso, mas, normalmente, não é assim”. A senhora ficou atônita. Não tinha como convencer à vítima da perversidade de seu algoz. E a mulher continuou, ao lado do marido, o seu caminho. “Ah, se você desse só um pio contra mim, só queria ver. Iria deixar você toda roxa”. A mulher respondeu apenas que: “nunca faria nada contra ti. Sei que os tempos estão difíceis. Eu não deveria ter insistido para saber quando você levaria a Pauliane ao médico. É que ela está tão doentinha. Dói o coração ver minha filha tão fraquinha naquela cama”. “Mulher, eu já não disse que estou sem dinheiro? O médico vai mandar eu comprar remédios. E não tenho o suficiente nem para o pão de cada dia, imagina para ir na farmácia com uma lista enorme de medicamentos...” “Eu... Eu tenho medo que ela morra...” Disse a mulher com a voz embargada. “Ela não vai morrer. Não aguentou até agora? Ela suporta mais um pouquinho. Agora corre que o ônibus está saindo. Viu, no que dá as suas confusões? Se a gente perder o ônibus, você vai ver”. Correram até o veículo que já manobrava para sair da baia. Mas o motorista parou e as portas abriram-se para que o casal embarcasse. Sentaram ambos, lado a lado, em um banco frente ao cobrador. “Tomara que eu consiga aquela vaga de servente naquela empresa. Se conseguir, vou levar a sua filha ao médico. Você entende, não é? Tenho medo de não sobrar nada para nós todos. São oito pessoas naquela casa. Você prefere ficar sem comer? Pois é isso que vai ocorrer. Então, vai morrer todo mundo, não só a Pauliane...” A mulher de olhos baixos, murmurou: “ela não vai morrer. Deus não vai deixar”. “Seu Deus é muito poderoso, não é? Manda ele me arranjar um emprego. Então, toda a nossa situação muda de figura. Não vou precisar mendigar pelo auxílio dos outros. Nem mesmo, aguentar insulto na rua por causa de você”. “Eu rezo todos os dias, peço que Deus nos ajude e que salve a minha menininha”. “Deus não faz nada por nós. Fica rindo do sofrimento da gente aqui na Terra”. Resmungou o homem. “Não diga isto. Deus é tão bom para nós. Estamos conseguindo viver apesar das dificuldades e tenho fé que você vai ser chamado para aquele emprego” disse a esposa esperançosa.  “Fé não é o suficiente, mulher. Não é”. Por fim, completou o homem com olhos na paisagem que passava veloz pela janela do ônibus.

Após duas horas de viagem, o ônibus chegou à Santo Antônio do Descoberto. Ambos os cônjuges desceram no ponto e andaram por algum tempo até avistarem o barraco que alugavam. Entraram e cinco das seis crianças que possuíam correram para a porta. Todas a falar ao mesmo tempo. A mãe pediu calma e o mais velho pronunciou-se por todos. “A Pauliane não está bem. Ela não se mexe, nem respira. A gente tem que ir com ela para o hospital”. A mãe correu para o quarto onde menininha estava. E o que a mulher viu foi um o corpo hirto e arroxeado sobre a cama. Sem esperanças, ela abraçou o corpo da filha e chorou. Não questionou a vontade divina. Se tinha que ser daquele jeito, era porque Deus pensou ser o melhor. O homem entrou no quarto. “E aí, morreu”? A mulher balançou a cabeça, afirmativamente. “Porcaria, agora a gente tem que chamar a polícia. Vai, veste uma roupa nela. Vamos levá-la ao hospital e dizer que ela morreu quando procurávamos por socorro”. “Será que você não se ressente nem pela morte de sua filha”? Disse a mulher sem sequer levantar a cabeça “Vai agora agir cheia de sentimentalismos? Se a polícia pegar ela aqui, nós dois vamos para a cadeia”.  A mulher correu para a porta, tranco-a e jogou a chave fora entre as grades da janela do quarto das crianças. E gritou: “Edirlei, vá para a casa da vizinha e liga para a polícia”.  A mulher estava abraçada ao corpo da menininha. O pai dizia que iria matar a mulher para ela acompanhar à filha ao inferno. A mulher desafiou-o: “bate, vai, me bate, que além da morte de sua filha você vai responder ainda por agressão”. “Você ficou doida, mulher”? A mãe abraçada ao gélido corpinho da menina, disse: “eu e você matamos nossa filha. Eu, por esperar tempo demais e você, por considerar qualquer coisa mais importante que a sua família. Enquanto você só agredia a mim, estava tudo certo. Mas, ao desprezar a sua filha doente, você foi longe demais. É tempo de darmos um jeito nisso”. “E os seus outros filhos, o que será deles”? “Agora você pensa em NOSSOS filhos? Eles vão viver com a sua mãe. Está mais que na hora de dar para ela o prejuízo que tanto dizia”. O homem ainda tentou arrebentar a janela e a porta. Mas foi em vão. Em alguns minutos as viaturas estacionavam frente ao barraco. O homem sentou-se sob a janela, olhou o corpo da filha nos braços da mãe e chorou.   

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

ELZA BRINDA AMIGOS EM SUAS BODAS DE OURO

Ambas das terras do Cricaré
 
 
Elza Cunha e minha tia Idatília eram grandes amigas.
 
Quando minha tia  fez "Bodas de Ouro" recebeu este mimo da nossa homenageada.
 
12 de junho de 1986
 


quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

ELZA POETA FILHOS E NETOS


A Minha Filha

( Em memória de Daoulah Maria)

 

Cai chuva impiedosamente,

e o frio enregela o ser.

Em aconchego premente,

meus filhos à mim vêm ter.

 

Quando juntinhos à mim,

já quentes do amor materno,

eu recordo o Querubim,

que há dias levou-me o Eterno.

 

Mas, ó! Que duro contraste:

Tu, a minha caçulinha,

na fria tumba ficaste?!

 

Minha saudosa filhinha!

Desde quando me deixaste,

lamento a desdita minha.

 

Elza, a menor, com sua irmã Florita
no dia da 1ª Eucaristia.

 

Amargura

( Á memória de minha filha Daoulah Maria )

 

Estava tão doentinha, já nem sorria,

olhando-me triste e indiferente

meu coração despedaçado sofria

contemplando seu rostinho inocente.

 

A candura que irradiava me fazia

louca, impetuosa de amor fremente,

apertá-la contra meu seio, em ânsia,

sentindo a vida que se ia de repente.

 

Aflorou um sorriso por despedida.

Desvairada acreditei ser a vida.

Docemente chamei: “ - Minha filhinha ...”

 

Quatro anos são passados, eu me lembro

do triste 25 de setembro,

dilaceramento da alegria minha.

 

 

Vigília

(Oferecido à minha filha Dalza)

 

Noites de insônia, sofrimento intenso

marcam-me a face em lágrimas banhada;

tu, que és das filhas o modelo, penso:

como ficar sem ti, ó filha amada?!

 

Procurarás felicidade plena,

na concretização do amor sonhado

voando no esplendor, linda falena -

entregarás tua vida ao noivo amado.

 

A casa de teus Pais, fica vazia,

sem ter tua presença, o teu carinho.

A saudade me fere, como espinho.

 

Contudo, parte, filha, é a lei de Deus!

Que nunca o pranto chegue aos olhos teus.

E que haja no teu lar, paz e alegria.

 

 

Encantamento

( Oferecido ao meu 1º neto: José Tyndall Pires Frattezi )

 

É lindo e robusto meu netinho,

verdadeiro escrínio de ternura!

Nele concentro todo carinho,

deslumbramento de real ventura.

 

Vê-lo bater pernas e bracinhos,

em incontida alegria gutura,

suster não posso as emoções minhas,

e o coração enlevado perdura.

 

Debruço-me ao berço embevecida,

retirando áquela criaturinha

sacrário de amor da sua avozinha.

 

Meigamente afago envaidecida

aquele pimpolho róseo e louro,

síntese do belo, meu tesouro.

 

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

TYNDALL, O ESPOSO, NOS VERSOS DE ELZA


Tyndall
Tyndall, esposo de Elza Cunha

 

Quando um grande amor falece,

embota o estro, a poesia.

A saudade fortalece

sob o véu da nostalgia.

 

Tenho o coração aquecido

pelas saudades sem fim.

Ao lembra-te meu querido,

que tristeza vem a mim.

 

Agora que já partiste,

não tenho inspiração.

Meu viver é sempre triste.

Saudades no coração.

 

 

O Que me Restou

( Em memória de meu  esposo José Tyndall Pires )

 

O que me resta da vida?

Pergunto ao espaço afora.

De tua visão encanecida

resta a dor, que sinto agora.

 

O que me resta da vida

                             Se quero escutar-te  -Em vão.                                           

De tua voz estremecida.

,o que me resta? - Solidão.

 
O que me resta da vida?

- Sinto do inverno a estação.

Já não me sinto aquecida

juntinha ao teu coração.
 

O que me resta da vida?

Da nossa felicidade?

De tua imagem querida?

O que me resta - Saudade...
 

Dos longos anos vividos,

um consolo me restou:

Bondosos filhos queridos,

sendo que, tu, Deus levou.

 

Lamento (I)

( A meu esposo )

 

Irrequieta, tristonha, coração opresso,

vislumbro nos lares música e alegria,

enquanto eu, à passos a solidão meço,

possuída de tédio e dura nostalgia.

 
Ano-Velho, adeus!... Ano-Novo te peço:

-dá-me tuas mãos, livra-me desta agonia!

Reconduza o júbilo de mim egresso,

que, tento deter e mais se distancia...

 
Amargurada, em vão procuro esquecer

o teu ser ausente, à noite da esperança!

Uma página que se vira, lembrança.

 
Plena de alegria, também o sofrer,

este, o companheiro errante que não cansa

de se fazer presente, e a todos alcança.

 

Frustração (III)

 

A infelicidade que em mim existe

com as lágrimas sempre a tremular,

são filhas da desilusão, que insiste

em dominar meu ser, estrangular.

 
Em torno de mim, é tudo tão vazio

de estímulo, idealização e carinho.

A alegria do viver me distancio,

arruinando o que é belo em meu caminho.
 

Muitas vezes, desejo a paz na morte.

Triste, mas, solução definitiva,

pondo término à minha infeliz sorte.

 
A máscara do riso, tombaria

para sempre. Esta, arma caritativa

que, com a dor, comigo finaria.

 

 

Retalhos da Alma (IV)

( A meu esposo)
 

Se meu coração cansado do amargor,

marcar o compasso da vida que se vai,

desejo calma, não quero pranto, a dor,

que esta alma parte, qual perfume que se esvai.

 
Acenando adeus, a lágrima da agonia

deslizará suave, conduzindo a paz,

iluminando por momento a face fria

liberta da vida que, lhe foi falaz.

 
Peço a Deus que no meu sono derradeiro

encontre a ventura, que sonhei acordada.

Almejo a quietude da eterna morada.

 
No silêncio da campa, quisera o cheiro

das flores, ouvir os pássaros cantores,

risos de crianças, tríduo de meus amores!

 

 

Tarde Sombria

(  A meu esposo José Tyndall Pires )

 

Numa tarde tristonha e sombria,

vendo teu corpo baixar à campa,

as lágrimas o meu rosto cobria

em sulcos, que só na dor se estampa.

 
Surpresos, amigos e parentes

passo a passo sufocam os seus ais.

Tudo consumado... Entrementes,

punhados de terra, dor, nada mais.

 
O véu da noite cai. A tarde encobriu.

Da solidão me fiz companheira.

Eras meu tudo, a morte destruiu.
 

Conturbada pela dor, olho o céu,

e vejo a lua de certa maneira.

Ela também chorava, e se escondeu.