Decidi viajar. Coloquei algumas roupas
numa pequena mala e, não, não foi para nenhum lugar além de 215 quilômetros, Vitória X São Mateus. Entardecia, quando
superei a passagem por Linhares. Olhar atento a frente, quem dirige não pode
facilitar.
Mas eis que de repente, a cor do céu me
desperta atenção, o azul transformara-se em ouro, a minha esquerda, punha-se o
sol. A visão era esplendida!
A primeira, daquele por de sol se deu
através de uma estrada perpendicular que se desenhava como sobredito à
esquerda, o caminho que oferecia integrou-se à composição da paisagem,
acrescentando-lhe magia. Desde a entrada tudo se desenhava em harmonia, às
margens, árvores e outros componentes faziam alas, alguns animais como que
tudo compreendendo se deixavam ficar por ali, não passava nenhum humano. No
fundo, o sol distribuía entre as nuvens seu tom áureo limitando-se naquele
momento à exibição apenas de um quarto de sua grandeza. Quando pensei em
fotografar já me distanciara e curvar para voltar em uma BR tem suas
complicações, até porque um pouco mais a frente, caminhoneiros em manifestação
de protesto obstaculavam a passagem dos demais veículos.
Tanto quanto pude deixei-me contemplar.
Ora a miragem se mostrava apenas em reflexo sobre casas, mais a frente através
de coqueiros e o ápice daquele momento se fez, depois, pouco a pouco através de
galhos, delirantemente.
Como seria ver esse por de sol na Lagoa
Juparanã? Volta-me o assedio da contemplação e penso parar ali, mas como se
trata de momento único no dia, tão lindo quanto mais fugidio, ao divisar parte
do espelho de suas águas que se divisa da estrada, provei da melancolia da
saudade. O céu retomara quase por inteiro sua cor de fim de tarde depois que o
sol nos diz até amanhã.
Prossegui embalada pela lembrança que
seria substituída por outros pensamentos, quando o trânsito para e mais a
frente entendo porquê, havia uma manifestação dos caminhoneiros. O trabalho
deles é exaustivo e quem de direito resolveu condicionar seus horários a seis horas
diárias com um repouso de trinta. Protestavam pois não ganhariam o suficiente
para pagar as próprias contas. O que será, será.
O sol que nasceu para todos e a todos
aquece e cumpre sua jornada, despedindo-se em esplendor cumpre fielmente seu
horário, faz sua parte, mesmo quando as nuvens se fazem densas e ofuscam sua
luz, por sobre elas ele permanece a brilhar, registre-se, sempre intensamente.
Pobres homens que não se contentam,
querem sempre mais e quem mais alcança quer ainda mais e absorve com o excesso
a parte que já seria de um outro. É assim que caminha a humanidade entre lutas
e passividades, entre vitórias e fracassos, entre ambições e comodismos, entre
querer o que não pode ter e desfazer do que pode saborear.
Ah se fôssemos como o sol, que se já
não brilha aqui é porque, por ordem do giro da terra se foi para uma outra
parte dela onde, registre-se, continua a brilhar, persevera impávido e nunca
deixa de fazer o que deve fazer e de ser o que é.
Marlusse Pestana Daher
Mateenseando em 27 de julho de 2012