À medida que fui buscando informações desde segunda
cedo, 28/01, sobre a tragédia de Santa Maria, entre consternado, abalado como
milhares de pessoas, particularmente as famílias das vítimas, procurava
compreender os fatos e confesso que foi difícil. A imprensa cumpre o seu papel.
Repete à exaustão os motivos mais evidentes que provocaram a desgraça. Agora,
começa a focar o noticiário na urgente e necessária fiscalização de casas
noturnas, teatros e outros locais públicos que irão passar por rigorosas
inspeções. Isto é uma boa notícia, apesar de toda a tristeza e do verdadeiro
calvário por que passam as famílias que começaram a sepultar filhas e filhos,
enquanto outras aguardam vigilantes, exaustas, mas cheias de fé e esperança,
que os sobreviventes nos hospitais se recuperem e possam, com o tempo, voltar à
vida de estudos e sonhos.
Uma palavra, porém, me chamou especial atenção no
artigo escrito por Martha Medeiros, palavra que a invadiu desde a madrugada de
domingo:compaixão. É bom dizer logo que não se trata de pieguice, ter
pena, lamentar simplesmente. Compaixão é algo muito mais forte, profundo,
singular. Diz respeito à capacidade humana de se identificar com ador do
outro e, na medida do possível, amenizá-la, participando de atos de
solidariedade, escutando a revolta de quem perdeu a filha querida, abraçando as
pessoas, compartilhando recursos sem segundas intenções, dando a mão
literalmente para que as pessoas atingidas não caiam completamente prostradas.
Concordo com Martha Medeiros. Ela encontrou uma
joia no meio da tragédia, do fogo e da fumaça preta que cegou os jovens, o
ambiente, e lhes obrigou a inalar o beijo da morte. Compaixão é um
conceito bíblico central, que aparece de modo especial nos profetas. Deus tem
compaixão do seu povo. Ele o levanta do solo como uma mãe ergue seu filho para
lhe dar de mamar ou para protegê-lo (Oséias). A compaixão é algo tão sagrado
que no profeta Isaías se torna um atributo exclusivo, em sua mais alta
acepção, da ação de Deus para com o ser humano.
Nesse momento em que tantas famílias sofrem um luto
desesperado, quase sem volta, como falar de esperança? Como acompanhar estas
pessoas de modo a respeitar sua dor, mas ao mesmo tempo inspirar-lhes amor,
carinho, esperança, verdadeiro consolo e conforto? Como não sucumbir diante da
desgraça?
Temos muito pela frente nas próximas semanas. Esta
dor provocada da forma mais absurda e – deixem-me dizer – irresponsável ainda
irá nos acompanhar por muitos dias. Vamos precisar nos apoiar mutuamente,
familiares, amigos, amigas, sociedade civil, comunidades de fé, grupos
voluntários. A meu ver, será necessário exercitar acompaixão do modo
mais terno, concreto e criativo possível. Para que não venhamos a sucumbir como
se tudo fosse um castigo, de resto imerecido e brutal.
Texto: Professor Roberto Zwetsch (Faculdades EST –
São Leopoldo, RS – 30/01/2013).