quinta-feira, 5 de setembro de 2013

SOBRE LIMA BARRETO

Salvador Bonomo
Afonso Henriques de Lima Barreto  (1881-1922), carioca, jornalista e escritor, dentre cujas obras destaco “Triste fim de Policarpo Quarema” (de 1915). Foi severo crítico de certas
características negativas dos costumes da Socieade de então, ressaltando o clientelismo na administração pública, mais precisamente, relevando o habitual e persistente apadrinhamento político: o famoso “pistolão”.

Parece-nos que tais características negativas da nossa Sociedade não foram sanadas, porquanto, através de superficial pesquisa, vislumbramos inúmeras expressões idiomáticas que evidenciam desvios de conduta social, conforme o demonstram, irretorquivelmente, os frisantes exemplos seguintes: “malandro”, “vivo”, “esperto”, “sagaz”, “jeitinho brasileiro”, “quebra galho”, rouba, mas faz”, “vista grossa”, “sujeito otário”, “gato”, “gambiarra”, etc., que se inserem no contexto do clientelismo, do fisiologismo, do nepotismo, do corporativismo, da corrupção, enfim, do famigerado patrimonialismo, que consiste na fusão, na confusão, na mistura dos interesses públicios com os interesses privados, sempre em detrimento dos interesses públicos.

Aliás, em razão de tais desvios ilícitos de conduta, o espírito criativo e irônico do brasileiro idealizou a famosa e popular Lei de Gérson, que regula as condutas dos que, malandramente, espertamente, sagazmente, almejam levar vantagem em tudo. Em face ao exposto, parece-nos ilustrativo o fragmento da lavra do citado escritor Lima Barreto, que, retratando a Sociedade do seu tempo, lecionou:

“Vem disto a nossa esterilidade mental, a nossa falta de originalidade intelectual, a pobreza da nossa paisagem moral. Ninguém quer discutir, ninguém quer agitar ideias. Todos querem comer. Comem os juristas, comem os filósofos, comem os médicos, comem os advogados, comem os poetas, comem os romancistas, comem os engenheiros, comem os jornalistas: o Brasil é uma vasta comilança.”

Não resta dúvida de que, de simples leitura do texto acima transcrito, extrai-se que o seu autor laborou em generalização, na medida em que, nele, elencou juristas, filósofos, médicos, advogados, poetas, romancistas, engenheiros e jornalistas. Nessa linha de raciocínio, prevaleceria a dicção de Bezerra da Silva: Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão (...).
A propósito, porque toda definição é vista como temerária, temerária, também, é toda e qualquer generalização, porquanto, assim procedendo-se, corre-se enorme risco de cometer-se grave e irreparável injustiça, em virtude do que se justifica fazermos, aqui, esta ressalva.

Secular é a confusão que há entre ética e moral. A ética, proveniente do grego (“ethos”), significa o modo de ser das pessoas; a moral, oriunda do latim (mores), significa costumes. A ética é teórica e reflexiva, ao passo que a moral é eminentemente prática. A diferença prática entre moral e ética consiste em a ética ser o comportamento moral das pessoas.

Concluindo, sustentamos que não basta sermos honestos e dizermos que somos honestos; é preciso, ainda, combatermos a desonestidade, sob pena de sermos coniventes com tais condutas alheias, que, com frequência, ocorrem entorno de nós. Por fim, conferimos a palavra a Jô Soares, cuja dicção consiste no que segue: "A corrupção não é uma invenção brasileira, mas a impunidade é uma coisa muito nossa".

Salvador Bonomo
Ex Deputado Estadual e Promotor de Justiça aposentado.

Vitória, ES, 04.09.2013.