Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)
Continua a angústia com a situação da Síria, envolvida em complicada
guerra civil que vem se prolongando, sem perspectivas de solução.
Por mais justa que possa parecer, a guerra traz sempre consigo graves
equívocos, que desautorizam sua opção. E quando se trata de guerra civil, as
circunstâncias são ainda mais trágicas, pois coloca em confronto cidadãos do mesmo
país, apelando para a força das armas, em vez de apostar no diálogo que a
democracia possibilita.
A complexidade de uma guerra civil, coloca a difícil questão de
discernir como e quando seria conveniente uma intervenção com garantia da
neutralidade, e com ascendência moral para levar as partes em conflito a
deporem as armas, e retomarem as negociações.
Em princípio, caberia às Nações Unidas tomar a iniciativa de persuadir
as partes a abdicarem das armas, e instaurarem um processo de reconciliação
nacional.
O organismo previsto nos próprios estatutos das Nações Unidas para estas
hipóteses seria o Conselho de Segurança. Mas de novo assistimos ao triste
espetáculo da incapacidade deste organismo, que foi pensado para ser um
primeiro esboço de uma espécie de “governança global” de que a humanidade há
mais tempo necessitaria.
Por sua vez, quanto mais complicada a situação do país envolvido em
guerra civil, mais difícil se torna uma ação externa com vistas a cessar os
combates e providenciar a indispensável ação de mediadores, com a garantia de
neutralidade diante das posições contrastantes das forças em combate.
A recente experiência de diversas guerras ocorridas na complexa situação
do Oriente Médio, a lição mais clara parece ser esta: a intervenção militar estrangeira
em nada ajuda a solucionar os problemas. Ao contrário, acaba acirrando os
ânimos e radicalizando sempre pais as posições. Uma intervenção militar
significaria colocar lenha na fogueira. Ainda mais na complicadas situação dos
países próximos à Síria.
O que não significa que todas as ações externas sejam vedadas. Mas todas
elas, devem ter o claro propósito de dissuadir as partes a continuarem o
confronto militar. Se possível, uma mediação que ajude a superar impasses,
deveria garantir a todas as partes envolvidas no conflito, que serão
respeitadas, e poderão contar com o efetivo apoio das outras nações para a
consecução da paz.
Uma mediação muito importante e imprescindível, para a situação atual da
Síria, é continuar o esforço iniciado pelo Papa Francisco, procurando envolver
a todos no esforço de garantir as condições de paz para a Síria.
Para isto, é bom colocar o peso da instituição à qual cada um está
integrado. Mas em casos tão complicados e delicados com este que o povo sírio
está vivendo, mais que as instituições, vale o testemunho pessoal de quem goza
de autoridade moral, que precisa ser sempre preservada como patrimônio comum da
humanidade.
Todos nos damos conta de quanto foi preciosa a iniciativa do Papa
Francisco, de promover um dia de oração e de jejum pela paz na Síria. Esta
iniciativa deteve o ímpeto belicista do Governo dos Estados Unidos, e conseguiu
ao menos que a hipótese de uma mesa de negociações se torne possível e seja
assumida pelas partes envolvidas, como caminho de diálogo e de superação das
desavenças acontecidas.
A solução deste difícil conflito é um desafio que poderá significar a
superação das causas que o produziram, e a confirmação do Papa Francisco como
personalidade de ascendência moral importante, de que a humanidade tanto
precisa hoje.
Não podemos ficar em paz, enquanto povos irmãos se digladiam em guerra.
Que Deus atenda nossas preces, e ajude o povo sírio a experimentar a
nobreza de espírito das atitudes de perdão mútuo, de reconciliação fraterna e
de paz duradoura!