A invocação e os sete pedidos do Pai Nosso resumem
o Evangelho, condensam a pregação de Jesus sobre nossa relação com Deus e entre
nós guiando-nos na fé e na vida. Os três primeiros pedidos movem a filiação
divina adotiva, recebida no batismo em Cristo ressuscitado, a inserir-nos no
projeto de Deus para toda a humanidade: vosso Nome, vosso Reino, vossa Vontade. Os
quatro seguintes abrangem o sustento da vida na carne(pão) e no espírito (cura
do pecado). Nessa oração universal das religiões cristãs, o possessivo “nosso”
já irmana os discípulos de Jesus na unidade com Ele, por Ele e nele. Superado o
individualismo, queremos que haja “um só coração e uma só alma” (Atos 4,32) na
comunhão dos homens com Deus, o abbá, o papai
querido da relação íntima de Jesus. Na súplica: santificado seja o vosso Nome,
já pedimos que a santidade de Deus esteja em todo o nosso modo de viver. Ele
nos consagrou para o serviço da sua glória. Por isso, o segundo pedido: venha a
nós o vosso reino, é como “por mãos à obra”.
Reino de Deus ou dos céus é a palavra-chave da
pregação de Jesus. Ele indicou nas bem aventuranças seu código básico. Elas
começam e terminam com a promessa da posse do Reino de Deus já na terra: deles é o reino dos céus! Esse não consiste nas
leis de conduta religiosa, na prática fiel e observante do culto, no domínio
territorial ou político, no poderio econômico, em ideologias de esquerda ou
direita, num projeto ou qualquer aparato de poder social. Trata-se da
substância, o alicerce da vida, da história, do mundo, sal da terra, agentes
das boas obras que glorificam o Pai perante os outros. O
pedido-desejo-anseio-empenho para que Venha a nós o vosso reino, nos
afasta de outros reinados. Devem sair da convivência: pecado, injustiça,
exploração, maldades humanas.
Se Deus é descartado e trocado pelo poder, o
dinheiro, o partido político, não se construirá em paz. Prevalecerão privilégios
de classe, prepotência, ambições, interesses corporativos, e não as atitudes
fraternas de serviço conforme o amor do lava-pés. Já se definiu, por exemplo, o
que serão as eleições neste ano: “vai ser o diabo!” Eis aí uma expressão do anti-reino. Para evitar a incoerência de rezar o
Pai Nosso sem a consciência viva que o Pai nos reúne como irmãos na mesma
dignidade e com os mesmos direitos humanos de cidadania e moral só há um
caminho: o da conversão no amor. O Reino dele vem até nós enquanto vamos mudando
a mentalidade, a escala de valores, a busca fiel da justiça, a rejeição a todo
esquema de corrupção política, fraude, abuso do poder etc. Ele está próximo!
todas as situações do convívio social podem abrir-nos a chance real da
invocação: Venha a nós o vosso Reino!
Pe. Antonio Clayton Sant’Anna – CSsR
Revista de aparecida – maio/2014