Na Praia da Costa, debaixo de uma
sombrinha azul marinho, estava sentado um casal de idosos. Enquanto o senhor
lia o jornal, a senhora fazia caça-palavra. De repente, algo lhes chamou a
atenção.
-É vero. A mulher é uma belezura.
-E os filhos também. Nossa! Que
homem lindo! Um pão! – como falávamos antigamente.
-Ihhhhh... O pai de família, tão
garboso, está usando brinco.
-Meu velho, brinco se coloca na
ponta. Mais em cima é piercing.
-Que trem é esse?!
-É uma argolinha de metal. Coisa
de jovens. Uns colocam no nariz, outros na sobrancelha e, as mulheres, no
umbigo.
-Credo! Estão imitando os índios.
-Pois é, meu velho. Que coisa
feia para um chefe de família, né?
-É vero. Os filhos devem ter
vergonha do pai.
-Engraçado. Tatuagem, que é uma
febre aqui na praia, eles não têm.
-Quem exibi um negócio esquisito
na orelha, tem coragem de fazer tatuagem. Vai ver que está bem escondida.
-Olha, meu velho. A mulher passou
a mão na orelha do marido.
-Será que ela não gosta do troço
e quer tirar?
-Acho que não. Espia. Ela passou
o dedo de novo e limpou na toalha. Espera aí. Deixa-me colocar os óculos. Agora
vi direito. Não é piercing.
-Então, o que é?
-É uma bola de filtro solar.
-Minha velha, vamos deixar essa família
pra lá. Você quer trocar comigo?
-Trocar o quê?
-O jornal pelo caça-palavra.
Anna Célia Dias Curtinhas