Bom
dia, querida leitora! A vida, apesar dos últimos terríveis e constantes
acontecimentos, continua fluindo a toda velocidade. Tal qual a janela de uma
locomotiva em movimento, onde as paisagens passam sucessivas, sucedem as
efemérides e chegamos a março.
Shila sorri no dia de sua posse na Amaletras |
Mês
das mulheres!
Chegou
o mês de sermos torturadas pelos chavões, clichês e tudo quanto é m* que esta
sociedade machista e hipócrita cultua como imagem de mulher ideal.
No
cardápio haverá o de sempre; rosas vermelhas distribuídas nas lojas, cartazes
com mulheres de meia idade satisfeitas por terem ganhado uma bugiganga qualquer-
afinal, dizem que nossa felicidade é consumir, poesia “água com açúcar” com cunho
machista exaltando a maternidade, homenagens oportunistas em vários lugares,
muitas frases propalando como somos
doces e meigas, femininas, lindas,
delicadas, santinhas, mães perfeitas- até porque ser mãe é a nossa finalidade e
a mulher que não pensa assim tem algo de muito errado! Será o mesmo blá, blá,
blá chatíssimo, conservador, sem imaginação e cruel! Tem objetivo de
invisibilizar a mulher cidadã, autônoma, dona de suas escolhas, independente,
multi e diversa...
O
que acontece é que é preciso vender. Vender tudo e depois continuar vendendo
mais. Não são somente objetos e produtos, é preciso vender a idéia de uma
mulher frágil, consumista, imbecilizada, adocicada e alienada. Essa idéia está
embutida nas ações da sociedade brasileira cujo índice de mortalidade feminina
é assustadoramente alto. Essa idéia vagueia nos lares onde as meninas são
ensinadas a servirem os homens da casa e onde mães que trabalham fora cuidam sozinhas
dos afazeres domésticos até porque esse
serviço é destinado somente às mulheres. Idéia que habita as ruas e onde é
comum uma mulher ouvir toda sorte de despautérios ao passar por um grupo de
homens... Se for estuprada, com certeza, fez por merecer. Se tivesse em casa
quieta isso não teria acontecido, alguns dizem. Entretanto são os mais
próximos que abusam, molestam. Essa idéia cria uma estética, que dá vida a
códigos de conduta, apadrinha estereótipos, inventa linguagens e essas
linguagens se metamorfoseiam em arte.
Como
não se incomodar com a Globeleza? Todo ano uma mulher negra e nua promove o
carnaval brasileiro. Sempre negra e sempre nua. E eu pergunto, qual é a
mercadoria ai?
Luciano
Huck, pessoa que tem até trabalho social, faz da seleção de passista que
promove um show de perguntas constrangedoras e desrespeito à mulher e todo
mundo acha tudo engraçado!
E
essa novela Regra do Jogo? E sim, quando eu quero assisto, leio, bisbilhoto
tudo... Tudo mesmo! Esse é o meu mundo e sabendo que tudo posso, vejo tudo e
depois escolho o que me convêm.
Voltando
a novela que é assistida por milhões de família de todas as classes sociais e
que serve de modelo... Prestem atenção às personagens femininas... Não há uma
personagem com personalidade autônoma. Na casa senhorial todas as gerações de
mulheres são submissas. Até a que tem dupla personalidade, somando as duas
personalidades não dá uma opinião própria.
Todas
elas se deixam enganar pelos canalhas o tempo todo e das formas menos criveis.
Estão sempre servindo, correndo, chorando ou tem ataques histéricos. Não há em
nenhum núcleo nenhuma mulher independente. É lamentável!
Até mesmo mulheres que deveriam se confrontar
diante das convenções; a ex-prostituta dona do morro e bandida com todo sex appeal
têm como sonho dourado casarem-se de véu e grinalda.
Não
sugiro que a Globo seja baluarte da Arte Brasileira, longe disso. Mas ainda é o
que maioria tem acesso, infelizmente e isso é preciso ser considerado.
Mas
para piorar, em 2015, aqui na Terra Brasilis, pelas bancadas religiosas e com o
respaldo das bancadas evangélicas e católica, deputados de ao menos oito
Estados retiraram dos Planos Estaduais de Educação referências a identidade de
gênero, diversidade e orientação sexual. Esses planos traçam diretrizes para o
ensino nos próximos dez anos. Segundo a Folha, dos 13 Estados onde já foi
aprovado, 8 eliminaram trechos que faziam referências à discussão de gênero,
como Pernambuco, Espírito Santo, Paraná e Distrito Federal.
A
situação é séria, difícil e é preciso que as mulheres se preparem e se informem.
Então, não me dêem flores, leve-as aos cemitérios e as entreguem às mulheres e
meninas mortas por essa sociedade machista.
É
isso que penso e declaro.