sábado, 7 de janeiro de 2017

RECORDANDO ELZA CUNHA E SEUS VERSOS

A alegria de ser  bisa.

Luar na Fazenda

( Início de minha vida literária e correspondência com intelectuais )

Noite, poesia, ebúrnea claridade,

queda o ser embevecido ao luar.

Analiso enleada a sublimidade

da natureza muda a desfilar.

 

Ameno cenário de soledade,

bois na relva tranqüilos a pastar,

habitações brancas em paridade

em pratarias se tornam ao luar.

 

Longe, fica o rio, depois da cachoeira

em desenfreado amor, a murmurar

canções, unificam-se em alva esteira.

 

Apaixonada, ponho-me a cismar.

Fugir não se pode, por mais se queira

à apoteose onírica do Luar.

 

( “ Fazenda Cachoeiro do Cravo”, fundada por meus ancestrais, que passou de Pais para filhos, até minha geração, bisneta que sou do seu fundador Antônio Rodrigues da Cunha, Barão dos Aimorés.

Como uma de suas herdeiras, para não discordar da maioria dos meus irmãos concordei sensibilizada até às lágrimas, com a venda da mesma, a José Maria Fontana ).

 

Amizade e Gratidão

(Ofereço em memória a minha querida sogra: Olívia Carneiro Pires)

 

Sogras, dizem comumente,

querem dela longe estar.

Eu penso bem diferente:

- Benvinda seja a meu lar.

 

                  Minha sogra, minha amiga,

                  foste a Mãe que reencontrei.

                  O “falar”, reles intriga.

                  Sempre e sempre te amarei.

 

Encontrei na minha sogra,

conforto, amor e carinho

a felicidade logra:

- Na morte, saudade, espinho.

 

  

Tão Só

( Em memória a minha sogra-mãe: Olívia Carneiro Pires )

 

Palavras de angústia que perpetuam

no meu dorido ser cansado e triste.

No lúgubre cortejo tumultuam

recordações em que o sofrer persiste.

 

Tão só, lá no caixa desamparada,

semblante calmo, visão enternecida;

os cabelos, de neve banhados,

da sua longevidade, ó mãe querida!

 

Tão só, frase sutil e pequenina,

extravasa a alma, fere o coração.

Brota, treme a lágrima cristalina.

 

Geme, desliza e suaviza a aflição.

Tão só?! - Não creio! Á morada Divina,

seguir-lhe-ão atos nobres de sua missão.

 

 


A Gaivota

( a mim mesma, Elza Cunha Pires )

 
 
Eu sou a gaivota,

que voa singrando os mares,

em busca de bonança

que aplaque o coração

de revividas dores.

 

Eu sou a gaivota,

calma, inteligível,

que se banha qual criança,

plaina na imensidão,

pasma do imponderável!...

 

Eu sou a gaivota,

irisada, fugidia,

em busca da esperança

que ilumine a razão

no viver de seus dias.

 

Eu sou a gaivota,

sonhadora, esgotada,

que treme, que se cansa,

bate as asas em vão,

no Oceano ( das ilusões ) sepultadas.